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INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO, GESTÃO E ORDENAMENTO TERRITORIAL

No documento geodiversidade brasil (páginas 185-187)

De acordo com a metodologia adotada pela Compa- nhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), ao se proceder a um estudo da geodiver- sidade, os diversos componentes do meio abiótico que cons- tituem a paisagem do meio físico são analisados de acordo com um conjunto de parâmetros geológicos, geotécnicos, geomorfológicos, pedológicos e hidrológicos. Nesse senti- do, o mapa geológico reveste-se de fundamental importân- cia, por ser a infra-estrutura dos demais, os quais estão in- trinsecamente relacionados e dependentes deste.

Os resultados, mapas e textos caracterizam-se por uma linguagem simples e objetiva das informações sobre o meio

físico, objetivando subsidiar o planejamento e a gestão do território brasileiro em bases sustentáveis, principalmente quanto às obras de infra-estrutura, exploração do potencial mineral, práticas agrícolas, uso dos recursos hídricos e ris- cos de contaminação dos solos e águas subterrâneas frente a fontes poluidoras (THEODOROVICZ et al., 1999) e o apro- veitamento do potencial de geoturismo (geoparques, sítios geológicos, minas antigas, monumentos paleontológicos e espeleológicos), apontando as adequabilidades e limitações para o uso e ocupação dos territórios.

Essa abordagem vem sendo adotada por diversos pesquisadores de várias partes do Brasil e de outros paí- ses, sob a denominação de geologia ambiental ou geo- ambiental, a partir dos enfoques clássicos desenvolvidos pelas disciplinas do meio físico, tendo por objetivo a gera- ção de informações voltadas para o planejamento e de- senvolvimento sustentado do território.

Dessa forma, os estudos da geodiversidade têm-se re- velado um excelente instrumento de planejamento e orde- namento territorial, fornecendo subsídios técnicos para vá- rios setores como: mineração (recursos minerais); energia (petróleo, gás, carvão, turfa, hidrelétricas, nuclear, eólica, solar); agricultura (fertilidade do solo, fertilizantes, correti- vos de solos, disponibilidade hídrica); saúde pública (quali- dade das águas, solos, ar); urbanismo (indicação de limita- ção ou expansão); moradia (material de construção); defe- sa civil (escorregamentos, inundações, abalos sísmicos, abatimento de terrenos); transporte (obras viárias); turismo (áreas de belezas cênicas); meio ambiente (diagnóstico e recuperação de áreas degradadas) e planejamento, bem como para diversas instituições públicas, comitês de bacias hidrográficas, empresas privadas e também para progra- mas de governo, como zoneamento ecológico-econômi- co, ordenamento territorial, estudos da plataforma conti- nental e ambientes costeiros (Quadro 13.1).

Figura 13.2 – – – – – Ecótopos e níveis hierárquicos (adaptado de ZONNEVELD, 1989).

Quadro 13.1 – – – – – Quadro exemplificativo das interfaces do conhecimento geológico (geodiversidade) com setores produtivos, do conhecimento e planejamento

Setor Contribuição Resultados

MineraL Mapeamento geológico, geofísico, geoquímico, bancos de dados. Metalogênese. Mapeamento das variáveis ambientais

Aumento das reservas minerais e da produtividade do setor. Adoção de modelos sustentáveis.

Agricultura Hidrologia, hidrogeologia, hidrogeoquímica e geo-química ambiental, insumos agrícolas, erosão, moni- toramento de bacias

Melhoria da produtividade, adoção de modelos sustentáveis.

Política agrária Recursos minerais e hídricos para assentamentos; sustentabilidade ambiental, monitoramento. Melhoria da produtividade, adoção de modelos sustentáveis. Solução de problemas sociais. Urbanismo Hidrologia urbana, hidrogeologia, abastecimento hídrico, geotecnia. Melhoria da qualidade de vida, aumento da produti-vidade e adoção de modelos sustentáveis. Desenvolvimento

nacional

Hidrologia e hidrogeologia, recursos minerais, para apoiar os projetos de desenvolvimento, ao longo dos macroeixos de desenvolvimento. Modelamento e monitoramento de bacias.

Adoção de modelos sustentáveis. Redução dos custos de implantação e manutenção das condições ambien- tais.

Geopolítica e soberania nacional

Avaliação integrada dos recursos naturais, para o desenvolvimento sustentado. Modelamento de baci- as, geoquímica ambiental, modelos sedimentométri- cos, balanço de massa.

Adoção de modelos sustentáveis. Melhoria da ima- gem nacional, perante as demais nações.

Geomedicina Geoquímica ambiental, modelamento de bacias. Na análise sistêmica, aplicada à previsão de áreas de risco de endemias.

Melhoria da qualidade de vida e aumento da eficiên- cia dos recursos aplicados na área de saúde, sanita- rismo e urbanismo.

Como exemplo da utilidade das in- formações da geodiversidade para fins de uso e ocupação, apresenta-se o caso recente da Vila Pan-Americana do Rio de Janeiro – que sofreu episódios de afundamento de suas vias internas – e o afundamento de uma das pistas da Ave- nida Ayrton Senna, principal via de aces- so à Barra da Tijuca (RJ), a 10 dias do início dos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007 (Figura 13.3). O “Mapa Geoambi- ental do Estado do Rio de Janeiro” (DAN- TAS et al., 2001) contém informações de trabalhos de campo na escala 1:250.000, tendo sido disponibilizado, em 2000, na escala 1:500.000, para vários órgãos do estado, prefeituras e universidade. O mapa apontava para a unidade geoambiental 2b, onde se en- contram a Vila Pan-Americana e a Ave- nida Ayrton Senna, a ocorrência de so- los orgânicos de baixa capacidade de car- ga, constituídos por argilas moles, que

condicionaram o processo de recalque diferencial que afetou o arruamento e estruturas de um dos prédios da Vila Pan-Americana (Figura 13.4). O mapa indicava a ina- dequação daqueles materiais para a ocupação e constru-

Figura 13.3 – – – – – Reportagem do jornal “O Globo”, às vésperas do início dos XV Jogos Pan-Americanos Rio 2007.

Figura 13.4 – – – – – Detalhe do Mapa Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, escala 1:500.000, onde foi mapeada a Unidade Geoambiental Planícies Flúvio-Lagunares 2b, na qual está inserida a Vila Pan-Americana, na Barra da Tijuca (DANTAS et al., 2001).

ção, sem a devida adoção de métodos construtivos es- pecíficos das fundações, que atendessem às característi- cas dos riscos geológico-geotécnicos naquele local (Fi- gura 13.5).

No documento geodiversidade brasil (páginas 185-187)