Sobre o estabelecimento da ética nas atividades rela- cionadas ao Homem, depreendem-se algumas conclusões fundamentais.
Do ser humano, há de se fazer aflorar seu potencial de individualidade e autonomia. Para isso, precisa ser cul- tivado o limiar de sua auto-estima, que advém de uma conduta esmerada, por meio de uma disciplina individual e coletiva despertada pela consciência sobre o fundamen- to de cada coisa, do pontual para o todo e deste para o detalhe.
Incidentes traumáticos, decorrentes da falta de humanismo, do ódio, da fome, da corrupção ou da guer- ra, ameaçam toda a espécie humana. Sem dúvida, afe- tam a inteligência, o rendimento e a motivação para a vida.
Objetivamente, na superfície do planeta, todas as ações devem ter como prioridade a solução para a fome básica, ou seja, a preservação da sobrevivência. A seguir, deve-se levar em conta a supervivência (evolução humana).
Aliado a isso, o espaço e o território são instrumentos fundamentais à teoria e técnicas da ecologia humana. Por meio deles, descobre-se o “entorno” essencial, onde se de- senvolve o processo de mudança do ser humano. Consiste no alcance, em profundidade, do que é viver ecologicamen- te consigo mesmo, com os outros e com o universo.
O meio ambiente humano combina, assim, tanto os elementos naturais (orgânicos e inorgânicos) quanto os culturais, que dão suporte à vida humana nos diversos ambientes em que ela se desenvolve e pode ser observado nas mais diferentes escalas espaciais.
É fundamental a conscientização de que há uma sé- rie de atitudes não descritas nos códigos de todas as pro- fissões, mas que são inerentes a qualquer atividade.
Portanto, não se pode dissociar o sucesso contínuo do comportamento eticamente adequado.
CONCLUSÃO
Do exposto, conclui-se que a compreensão do fenô- meno humano, quanto ao atendimento a suas necessida- des e potencialidades, é fundamental à implementação de programas e projetos que disponham sobre os recur- sos da natureza, inclusive os da geodiversidade.
Tais programas e projetos precisam de interação e sobreposição analogamente a uma pirâmide, que vai do atendimento às necessidades básicas, na base, culminan- do, no topo, para as aspirações mais elevadas.
Em síntese, é preciso que os cientistas, os técnicos e a população em geral adquiram a consciência de que não há um futuro pronto que os espere. Ao contrário, o futu- ro, com relação ao ambiente natural e social-econômico, será conseqüência das ações no percurso de cada indiví- duo ou sociedade.
O homem, que é parte constituinte de um sistema ecológico, deve cingir-se segundo as relações evolutivas de seus subsistemas físico, mental e espiritual.
Do ponto de vista da avaliação e planejamento do uso e desenvolvimento do território (geodiversidade), é preciso conhecer adequadamente os componentes físicos e bióticos, bem como mapear os atores sociais, sua potência, motricidade, tendências e interações segundo o seu grau de incerteza, conjugados com os estados (hipóteses) críticos.
De posse de um modelo estruturado, construído por meio de uma conduta eticamente adequada, transformar- se-ão as incertezas em significativas probabilidades, pro- porcionando, assim, o máximo de felicidade ao maior nú- mero de pessoas.
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SUELY SERFATY-MARQUES
Graduada (1975) em Geologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Especialização em Petrologia e Engenharia do Meio Ambiente. Atualmente, trabalha como geóloga da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), onde exerce a função de assistente da chefia da Divisão de Gestão Territorial da Amazônia. Durante todo o período universitário, trabalhou como estagiária no Projeto RADAM. Nos primeiros 15 anos de carreira, dedicou- se à análise petrográfica e a estudos de Petrologia e Mineralogia, tendo atuado nos estados do Pará e Goiás em diversos órgãos geocientíficos governamentais, tais como: SUDAM, IDESP (POLAMAZÔNIA), UFPA/FADESP, NUCLEBRAS, DNPM/ CPRM. A partir de 1991, voltou-se para os estudos ambientais. De 1992 a 1997, dedicou-se ao abastecimento hídrico e à gestão municipal. A partir de 1997, vem-se envolvendo com o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia (Organização dos Estados Americanos – OEA), especialmente nas faixas de fronteiras com os países da Pan-Amazônia, onde atuou como assistente da coordenação brasileira nos projetos de cooperação com a Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Recentemente, vem direcionando seus esforços à divulgação do papel e aplicação do conhecimento da Ecologia Humana, na gestão territorial voltada para o desenvolvimento sustentável.
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APLICAÇÕES MÚLTIPLASDO CONHECIMENTO DA
GEODIVERSIDADE
Cassio Roberto da Silva (cassio@rj.cprm.gov.br) Valter José Marques (vmarques@be.cprm.gov.br) Marcelo Eduardo Dantas (mdantas@rj.cprm.gov.br) Edgar Shinzato (shinzato@rj.cprm.gov.br)
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
SUMÁRIO
Instrumento de Planejamento, Gestão e Ordenamento
Territorial ... 183
Ordenamento urbano ... 185
Ocupação e uso do território ... 186
Descoberta de concentrações minerais ... 188
Recursos Minerais do Mar ... 190
Grandes Obras de Engenharia... 191
Agricultura ... 191
Disponibilidade de Água e Adequada Utilização ... 192
Saúde ... 193
Evolução da Terra e da Vida ... 194
Meio Ambiente ... 196
Prevenção de Desastres Naturais ... 196
Avaliação e Monitoramento das Mudanças Climáticas ... 199
Geoconservação e Geoturismo ... 199
Educação ... 201
Políticas Públicas ... 201
A geodiversidade se manifesta, no ambiente natural, por meio das paisagens e das características do meio físi- co dos locais em que vivemos. Uma intervenção inade- quada na geodiversidade pode gerar problemas críticos para a nossa qualidade de vida e, também, para o meio ambiente. Somos, assim, bastante dependentes das ca- racterísticas geológicas dos ambientes naturais – a geodi- versidade –, na medida em que dela extraímos as matéri- as-primas vitais para a nossa sobrevivência e desenvolvi- mento social. É mister, assim, conhecer e entender seus significados, já que, uma vez modificados, removidos ou destruídos, quase sempre os aspectos da geodiversi- dade sofrerão mudanças irreversíveis. Devido à íntima relação entre os componentes do meio físico (suporte) – geodiversidade – e os componentes bióticos (biodiversi- dade), deve-se encarar de maneira sistêmica as relações de estabilidade entre esses dois grandes componentes ambientais.
Modernamente, veio a se ter a compreensão de que as relações mantidas entre o homem (meio social) e a natureza, em seus aspectos culturais e econômicos, de- vem estar inseridas em análises ambientais, configuran- do-se o que se convencionou denominar “ecologia pro- funda”. Para realizarmos intervenções no território, deve- mos adotar uma visão a mais abrangente possível, sistê- mica, integrando a geodiversidade (meio físico), a biodi- versidade (meio biótico), as questões sociais, culturais e econômicas (sociodiversidade).
A comunidade geológica ingressa nesse rico debate a partir da década de 1980, na medida em que busca apro- ximar a geologia das demandas da sociedade, com a emer- gência da “geologia social” (BERBERT, 1995), via estudos vinculados à geologia ambiental. A par-
tir de então, o conhecimento geológi- co passa a ser intensamente utilizado nas análises voltadas para estudos am- bientais, incorporando-se, ao domínio comum, conceitos fundamentais como os de exaustão dos recursos naturais e de ética e sustentabilidade ambiental (CORDANI, 2002; KELLER, 1996).
No que tange à demarcação do campo de atuação da denominada ge- ologia ambiental, esta congrega todas as aplicações da ciência geológica, em um enfoque sistêmico (o sistema Ter- ra), aos estudos de gestão ambiental e planejamento territorial (CORDANI, 2000; DOROTHY, 1998). Nesse senti- do, a geologia se revelou uma ciência profícua e de múltiplas aplicações, prin- cipalmente no que concerne ao desen- volvimento de alguns campos especí- ficos do conhecimento geológico, como: prospecção mineral, mapeamen- to geológico, geofísica, geologia de pla-
nejamento, geologia de engenharia, geotecnia, pedolo- gia, hidrologia; paleoclimatologia, paleontologia, espe- leologia, geoquímica prospectiva e ambiental, geologia urbana, riscos geológicos, geologia médica; geologia cos- teira e marinha, ordenamento territorial geomineiro, ge- oconservação, geoturismo, dentre outros (Figura 13.1). Dentre as múltiplas contribuições do profissional em geologia às esferas social, econômica, cultural e ambien- tal, destacam-se: análise de desastres naturais (deslizamen- tos, inundações, abalos sísmicos, colapso de terrenos etc.) em áreas de risco geológico; disponibilização e preserva- ção de água subterrânea oriunda de aqüíferos subterrâneos para abastecimento humano, industrial, irrigação, desse- dentação etc.; investigação de fatores que comprometem a saúde pública, decorrentes de excesso ou carência de determinados elementos químicos, ou a causas naturais (intemperismo ou contaminação natural a partir do subs- trato rochoso), ou a razões antrópicas (poluição doméstica ou industrial); aplicação dos estudos do meio físico, lato sensu, para subsidiar políticas de uso e ordenamento do território (BENNETT e DOYLE, 1997; CORRÊA e RAMOS, 1995; DANTAS et al., 2001; DINIZ et al., 2005; KELLER, 1996; SILVA, 2008; THEODOROVICZ et al., 1999).
A partir da elaboração do conceito de geodiversida- de, as geociências desenvolveram um novo e eficaz ins- trumento de análise da paisagem de forma integral, ou ecótopo (Figura 13.2), utilizando o conhecimento do meio físico a serviço da conservação do meio ambiente, em prol do planejamento territorial em bases sustentáveis, permitindo, assim, avaliar os impactos decorrentes da implantação das distintas atividades econômicas sobre o espaço geográfico.