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MOBILIZAÇÃO EÓLICA DE SEDIMENTOS: CAMPOS DE DUNAS COSTEIRAS

No documento geodiversidade brasil (páginas 96-98)

Ao longo do litoral brasileiro, os campos de dunas ocorrem, de maneira mais expressiva, nos seguintes tre- chos: costa norte-nordeste, principalmente entre a baía de São Marcos (Maranhão) e o cabo Calcanhar (Rio Gran- de do Norte), costa de Sergipe-Alagoas (planície costeira do rio São Francisco), costa do Rio de Janeiro (região de Cabo Frio) e costa meridional, entre a ilha de Santa Cata- rina e o extremo sul do Rio Grande do Sul. Atingem maior desenvolvimento no Parque Nacional dos Lençóis Mara- nhenses, reconhecido como o maior registro de sedimen- tação eólica quaternária da América do Sul.

As dunas costeiras são formadas pela acumulação de sedimentos arenosos removidos da face de praia pela ação dos ventos. Para que se desenvolvam, são neces- sárias as seguintes condições essenciais: (i) existência de estoque abundante de sedimentos, com textura ade- quada; (ii) atuação de ventos soprando costa adentro e com velocidades suficientes para movimentar os grãos

Figura 6.9 – – – – – Aspecto da intensa erosão costeira na localidade de Atafona, município de São João da Barra (RJ) (MUEHE, 2007).

de areia; (iii) existência de superfície adequada para a mobilização e deposição dos sedimentos; (iv) baixo teor de umidade, visto que areias mais úmidas necessitam de maior energia eólica para iniciar a movimentação dos grãos.

Migração de dunas ocorre quando o deslocamento contínuo dos grãos de areia provoca a movimentação de todo o corpo da duna. É um processo natural que depen- de, além do regime de ventos, de sua estruturação interna (baixa coesão dos grãos) e da ausência de vegetação fixa- dora ou estabilizadora. Essas dunas são classificadas como móveis, livres ou transgressivas. Quando as condições dos depósitos são mais estáveis, pela maior coesão dos grãos e pela presença de um revestimento vegetal que detém ou atenua os efeitos da ação dos ventos, as dunas são classificadas como fixas ou estacionárias. A migração ocorre predominantemente durante as estações secas, diminuin- do bastante, ou mesmo cessando, nos períodos chuvo- sos. GONÇALVES (1998) estudou a movimentação eólica de sedimentos nos Lençóis Maranhenses, observando que a taxa de transporte ao longo do primeiro se-

mestre do ano (maior pluviosidade) é signifi- cativamente menor que a do segundo semes- tre (menor pluviosidade). O regime de ventos é de baixa energia para os meses de fevereiro a julho e de alta energia para os meses de agosto a dezembro. O autor calculou uma taxa de migração das dunas de 10 a 15 m por ano, com um sentido de deslocamento entre

63o e 72oSW.

Dependendo da configuração da linha de costa, as dunas móveis podem exercer impor- tante função no aporte de sedimentos para a faixa praial, através de áreas de bypass. No Ceará, essas áreas são, em grande parte, rela- cionadas a zonas de promontórios. Após mi- grarem sobre essas feições, as areias alimen- tam as correntes de deriva litorânea, ou dire- tamente a faixa de estirâncio, contribuindo para manter o aporte regulador e o equilíbrio das praias. Observa-se que a ocupação desses se- tores, na maioria das vezes por casas de vera- neio, associada à utilização de técnicas para

fixação das dunas e/ou para desviar a trajetória do fluxo eólico, têm alterado os padrões naturais de circulação dos sedimentos, potencializando a ação erosiva nos trechos situados a jusante.

O transpasse de sedimentos eólicos para o fluxo li- torâneo se dá, também, através do avanço de dunas so- bre canais estuarinos. Dependendo das condições hidro- dinâmicas e do volume de sedimentos envolvidos, pode ocorrer o barramento da desembocadura, resultando na formação de lagoas costeiras, ou o transporte do materi- al arenoso pelo canal e sua posterior redistribuição pela deriva litorânea ao longo da linha de costa. Deve-se, por- tanto, nesses casos, preservar as dunas para que conti-

nuem migrando e participando da dinâmica sedimentar costeira.

Em algumas áreas, a migração de dunas ocasiona o assoreamento de ecossistemas aquáticos, como lago- as, banhados e mangues. Da mesma forma, áreas urbanizadas ou agricultadas, estabelecidas nas zonas de migração, podem ser lentamente soterradas pelas areias. A retirada da cobertura vegetal fixadora das du- nas, apesar de proibida pela legislação ambiental, é uma prática comum ao longo do litoral brasileiro, promo- vendo a transformação de dunas fixas em dunas mó- veis (Figura 6.10).

Construções de estradas, loteamentos e outros equi- pamentos públicos e privados, assim como as atividades de mineração de areia e minerais pesados em dunas, re- sultam na desestabilização e até mesmo no desmonte desses depósitos, alterando significativamente a dinâmica eólica dessas áreas, além de degradar um patrimônio paisagístico com elevado potencial para atividades de tu- rismo e lazer (Figura 6.11).

Figura 6.11 – – – – – Degradação ambiental causada pela mineração de areia em área de dunas (Sabiaguaba, Fortaleza, CE).

Figura 6.10 – – – – – Migração de dunas, causando o assoreamento da lagoa do Portinho (Parnaíba, PI) (disponível em: Google Earth).

Os campos de dunas (recentes e paleodunas) são aqüíferos superficiais livres, de elevado potencial, mere- cendo destaque na captação de água subterrânea de boa qualidade nas regiões litorâneas. Por outro lado, pelas mes- mas características que os tornam um excelente armazenador, ou seja, os elevados índices de porosidade e permeabilidade, representam ambientes altamente vul- neráveis à contaminação hídrica. Várias são as fontes po- tencialmente poluidoras, tais como: águas superficiais poluídas, lixões, fossas, cemitérios, postos de gasolina e poços construídos sem critérios técnicos. Além disso, a urbanização indiscriminada atinge as áreas de recarga, impermeabilizando os terrenos e comprometendo a potencialidade desses aqüíferos.

Observa-se também, em algumas cidades litorâne- as, a ocorrência de processos de favelização em dunas, ocasionando o aparecimento de áreas de risco associa- das a movimentos de massa, principalmente em perío- dos de pluviosidade elevada. A constituição arenosa dos morros (favorecendo uma alta taxa de infiltração das águas pluviais e, conseqüentemente, um elevado nível de satu- ração do solo), a declividade acentuada, a distribuição e pressão das habitações nas encostas, o acúmulo de lixo e entulho nos taludes, o lançamento das águas servidas em superfície ou em fossas (contribuindo para aumentar a saturação do solo), a remoção da cobertura vegetal e a ação dos ventos que promovem a remobilização dos se- dimentos, são os principais fatores que induzem as mo- vimentações gravitacionais nessas áreas, quase sempre

Figura 6.12 – – – – Ocupação por favela em duna (Morro de Santa Terezinha, Fortaleza, CE). –

com resultados desastrosos para seus habitantes (Figura 6.12).

PRESERVAÇÃO E GERENCIAMENTO DAS

No documento geodiversidade brasil (páginas 96-98)