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CAPÍTULO II: ASPECTOS ESSENCIAIS DA TEORIA DOS DIREITOS

2.4. Geração de direitos fundamentais

A denominação de direitos fundamentais aplica-se para os direitos humanos positivados na Constituição de determinado Estado, enquanto o termo direitos humanos, em sentido genérico, guarda relação com os documentos de direito internacional que reconhecem direitos independentemente de positivação, objetivando uma validade universal de caráter supranacional.126

A partir da recepção nas primeiras constituições, os direitos fundamentais passaram por mudanças históricas que refletem dimensões diferentes de conteúdo e de eficácia. Fala-se na existência de três gerações de direitos.127

123

MARTÍNEZ, Gregorio Peces-Barba. Curso de Derechos Fundamentales. Madrid: Universidade Carlos III, 1999. p. 36/37.

124 Art. 1º, III, da Constituição Federal. 125 Art. 5º, § 2º, da Constituição Federal.

126 Perez Luño afirma existir uma tendência para reservar a denominação “direitos fundamentais” para os direitos humanos positivados em nível interno, enquanto a expressão “direitos humanos” tem sido mais usual no plano das declarações e convenções internacionais. LUÑO, Antonio E. Perez. Derechos Humanos, Estado

de Direito y Constitución. 4. ed. Mdrid: Tecnos, 1991. p. 31. SARLET, Ingo Wolfgan. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. p. 31.

127

Apontam-se também como três fases onde se afirmam primeiro os direitos de liberdade, aqueles que limitam o poder; segundo os direitos políticos que reconhecem uma liberdade como autonomia a representar uma participação generalizada dos membros da comunidade no poder político; e por terceiro os direitos sociais que revelam novas exigências de modo a assegurar bem-estar e igualdade não apenas formal, ou seja, a busca de uma liberdade através ou por meio do Estado. BOBBIO, Norberto. Presente e Futuro dos Direitos do Homem. A era dos direitos; tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campos, 1992. p. 32/33.

Os direitos fundamentais de primeira geração apresentam-se como direitos do indivíduo diante do Estado, forjados como direitos de defesa a marcar uma área de não- intervenção estatal na esfera individual.128 Configuram direitos de caráter negativo que exigem uma abstenção do Estado e não uma conduta de ordem positiva. Destacam-se, nesse particular, os direitos à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei, com complemento das liberdades de expressão coletiva, imprensa, manifestação, associação, etc., e pelos direitos de participação política, como o direito de votar e ser votado, a revelar a ligação dos direitos fundamentais com a democracia, além do direito de igualdade formal perante a lei e de algumas garantias processuais, a exemplo do devido processo legal, do Habeas corpus e do direito de petição.129

Os direitos fundamentais de segunda geração surgem da constatação de que a igualdade e liberdade formais consolidadas no Estado liberal não eram suficientes para assegurar o efetivo exercício dos direitos positivados, notadamente pelos problemas econômicos e sociais advindos da industrialização e que fez impulsionar elevados movimentos de reivindicação e reconhecimento de direitos de conteúdo diverso daqueles de mera abstenção, pautados pelo status negativus, para exigir-se posição ativa, de cunho positivo por parte do Estado. “São os direitos sociais, culturais, econômicos bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado Social”.130

Nesse contexto, as constituições outorgaram direitos de assistência social, saúde, educação, trabalho, etc., denotando uma forma de transição das liberdades formais abstratas para as liberdades materiais concretas. Em paralelo aos direitos caracterizados por prestações positivas, que fornecem a linha divisória dos direitos de segunda geração, também estão inseridas as mencionadas liberdades sociais, a exemplo do direito de greve, da liberdade de sindicalização, dos direitos dos trabalhadores, etc.131 Os direitos dessa geração, apesar da conotação diferenciada, têm por titular o indivíduo.

Os direitos fundamentais de terceira geração (de solidariedade e fraternidade) apontam para a proteção da coletividade, de grupos humanos como a família, a nação, saindo

128

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 517. 129

SARLET, Ingo Wolfgan. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. p. 48.

130

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 518. 131

SARLET, Ingo Wolfgan. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. p. 49/50.

da dimensão individualista das outras duas gerações para conceder uma titularidade difusa. Dentre estes estão o direito ao meio ambiente, à paz, à autodeterminação dos povos, etc.132

Diante do fenômeno da universalização dos direitos fundamentais representativos de uma globalização política, fala-se numa quarta geração de direitos que correspondem à última fase de institucionalização do Estado Social, com a afirmação dos direitos à democracia, à informação e ao pluralismo.133

Com efeito, o conceito de direitos fundamentais historicamente surge ligado à idéia de Direito Liberal, de onde extrai primeiramente a posição individualista abstrata e o primado da liberdade, da segurança e da propriedade, basicamente formada nos séculos XVIII e XIX.134

No século seguinte é que se dá a transição do Estado Liberal para o Social em que se enfatizam os direitos econômicos, sociais e culturais, passando a incluir no espectro dos direitos fundamentais não só a liberdade autonomia, mas essencialmente a liberdade participação que se confere também pela ampliação dos direitos políticos e pela tendência de universalização dos direitos do homem aliada ao fenômeno da universalização da Constituição.135

Como corolário dessas alterações, dentre outras conseqüências, aporta a “irradiação para todos os ramos de Direito”136 da teoria dos direitos fundamentais. Conforme enfatiza Perez Luño, a transição operada do Estado Liberal de Direito para o Estado Social de Direito pressupôs a extensão do alcance dos direitos fundamentais para todo o ordenamento jurídico.137

132

SARLET, Ingo Wolfgan. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 1998. p. 51.

133

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 6.ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 524/525. 134

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. (Direitos fundamentais). 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, t. 4, 2000. p. 22.

135

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. (Direitos fundamentais). 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, t. 4, 2000. p. 25.

136

MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. (Direitos fundamentais). 3. ed. Coimbra: Coimbra Editora, t. 4, 2000. p. 32.

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