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Imunidade dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado

CAPÍTULO III: DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRIBUINTES COMO

3.7. Direitos de liberdade

3.7.4. Imunidade dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado

O texto institui imunidade constitucional558 contra a cobrança de impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão, tendo por fundamento a garantia de liberdade de expressão.559

552

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de janeiro: Renovar, v. 3, 1999. p. 258.

553

XAVIER, Alberto. As entidades fechadas de previdência privada como instituições de assistência social.

Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, Dialética, n. 52, janeiro, 2000. p. 23/24.

554

Art. 150, VI, c, in fine, da Constituição Federal. 555

“O art. 150, VI, “c” da CF reporta-se à lei, pura e simplesmente. Não há dúvida, entretanto, entre os doutrinadores, quanto a que, no caso, esta referência é à lei complementar.” ATALIBA, Geraldo. Imunidade de instituições de educação e assistência . Revista de Direito Tributário, São Paulo, Malheiros, n. 52, jan/mar, 1991. p. 136.

556 Art. 146, II, da Constituição Federal. 557 Art. 150, § 4º, da Constituição Federal. 558 Art. 150, VI, d, da Constituição Federal. 559

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Imunidade constitucional de publicações (interpretação teleológica da norma maior – análise jurisprudencial). Revista de Direito Tributário, São Paulo, Dialética, n. 41, jul/set, 1987. p. 225. Para Ricardo Lôbo Torres, a previsão normativa tem a natureza de não-incidência qualificada constitucionalmente, por faltar-lhe o atributo dos direitos fundamentais, pois seu fundamento está na justiça ou utilidade. TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de Janeiro: Renovar, v. 3, 1999. p. 282/283. A liberdade de expressão envolve a publicação de notícias sobre a administração pública que, em muitas vezes, não são do agrado de governantes. Se passível de tributação sobre as formas expressas de liberdade de informação, decerto o reflexo do descontentamento poderia aparecer na represália pela elevação da carga tributária, de modo a dificultar ou até inviabilizar o exercício do direito de liberdade de expressão.

A imunidade é de caráter objetivo, pois visa proteger coisas e não pessoas. Em linhas gerais, disserta Aliomar Baleeiro que a proteção é quanto aos instrumentos de propagação de idéias no interesse social de melhora dos níveis intelectual, técnico, moral, político e humano da comunidade, inexistindo regime democrático se não houver livres debates e amplas informações sobre os interesses da coletividade. Para o autor, “livros, jornais e periódicos são todos os impressos ou gravados, por quaisquer processos tecnológicos, que transmitam aquelas idéias, informações, comentários, narrações reais ou fictícias sobre todos os interesses humanos, por meio de caracteres alfabéticos ou por imagens e, ainda, por signos Braille destinados a cegos”.560

Excluem-se da proteção as publicações meramente comerciais, sem finalidade cultural ou educativa. É como decidiu o Supremo Tribunal Federal em relação a encartes de propaganda distribuídos com jornais e periódicos, ao reconhecer índole eminentemente comercial na operação que não guarda relação com cultura ou educação, sendo, portanto, inaplicável a imunidade.561

Diante da evolução da informática, discute-se se o conceito de livro estende-se para as publicações acompanhadas de CD - Roms e os livros eletrônicos. Com base na distinção entre cultura tipográfica e cultura eletrônica, defende-se que a imunidade não alcança a reprodução dos instrumentos de divulgação de informações referenciados na Constituição quanto ao elemento eletrônico e que, na hipótese de haver acompanhamento de elementos eletrônicos, como a enciclopédia em forma de livros com CD Rom de consulta, deve apreciar-se o critério de preponderância econômica da publicação, onde o acessório segue o principal.562

Noutra óptica, colhe-se manifestação jurisprudencial que estende a imunidade para o livro em CD-ROM563 e, em igual sentido, posição exposta em voto vencido do Juiz Ricardo Regueira ao afirmar que, para “garantir a máxima efetividade das normas

560 BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense. 1999. p. 354.

561

RE n.º 213.094-0 – ES, relator Ministro Ilmar Galvão. 562

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de Janeiro: Renovar, v. 3, 1999. p. 286/ 297.

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Quarta Turma do Tribunal do Regional Federal da Segunda Região. Ementa: Constitucional e Tributário. Imunidade. CD-Rom. Livros impressos em papel, ou em CD-Rom, são alcançados pela imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. A Portaria MF 181/89 – na qual se pretende amparado o ato impugnado – não determina a incidência de imposto de importação e IPI sobre disquetes, CD-Rom, nos quais tenha sido impresso livros, jornais ou periódicos. Remessa necessária improvida. Revista Dialética, n. 44, p. 190.

constitucionais, o intérprete não pode deixar de considerar a evolução histórica e social, nem esperar que o legislador derivado modifique as mesmas a cada alteração do contexto fático no qual se enquadram, devendo interpretá-las de acordo com nova realidade, a fim de garantir a rigidez e a supremacia da Constituição, em fenômeno conhecido como mutação constitucional”. Na seqüência, enaltece que a “Imunização do livro tem por finalidade a garantia da liberdade de expressão, prevista no art. 5º, IV, da Constituição Federal, por ser este um veículo de divulgação da livre manifestação do pensamento. Contudo, a forma dos livros não integra a sua essência, haja vista que a ratio do constituinte ordinário foi a de estimular a cultura e evitar possíveis arbitrariedades por parte do Poder Público, e não a de estimular a produção de papel, em nítida função extrafiscal”.564

Entendemos que a opinião lançada no voto em separado citado é irrepreensível. A interpretação que se deve empreender para a imunidade é de cunho ampliativo, de modo a imprimir-lhe máxima efetividade, o mandado de otimização que acompanha a carga eficacial dos direitos fundamentais dos contribuintes. Além disso, a vedação é de ordem objetiva, tem relação direta com a coisa e não com a forma em que impressa. De outra face, a forma em papel compõe uma tradição em tais veículos de comunicação que tem sofrido acentuada mutação para processos eletrônicos. Estender a imunidade para livro em CD-ROM não quer significar uma ampliação generalizada para outros produtos, mas apenas e tão-somente para livros, jornais e periódicos, sendo desnecessária, nesse particular, uma alteração normativa para acompanhar a evolução da cultura eletrônica, plenamente adaptável por uma interpretação evolutiva. Daí que procede a ampliação seja pela integração por analogia ou pela interpretação analógica ou ainda pela hermenêutica concretizadora.565

Pugnando também numa corrente de interpretação teleológica, Roque Carraza expõe que a “palavra livros há que ser entendida em sentido lato. São considerados livros não apenas os tradicionais feitos de papel, mas, também, os seus sucedâneos”.566

564 Voto vencido do Juiz Ricardo Regueira. Apelação em MS n.º 025212. Primeira Turma do TRF da 2ª Região.

Revista Dialética, n. 77, p. 217.

565

O pensamento em contrário traz uma séria contradição. Por exemplo, um jornal que tenha um nível de vendagem da ordem de mil exemplares a assinantes na sua feição impressa não seria objeto de tributação, porque a imunidade o alcançaria. No entanto, o mesmo jornal, quando disponibilizado a dez mil assinantes para leitura pela Internet, meio eletrônico, estaria sujeito à tributação por encontrar-se fora do ângulo de proteção da imunidade. Pensamos que a interpretação deve atinar para a finalidade do preceito que evidentemente não é a de criar uma situação contraditória desse porte.

566

CARRAZA, Roque Antonio. Importação de Bíblias em Fitas – sua Imunidade – Exegese do art. 150, VI, d, da Constituição Federal. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, Dialética, n. 26, novembro, 1997. p. 128.

A vedação constitucional impede, portanto, a cobrança do IPI, do ICMS, e também do ISS quanto às publicidades,567 não alcançando os tributos subjetivamente incidentes como o imposto de renda que recai sobre as disponibilidades financeiras de autores, editores, empresas jornalísticas568 e nem os impostos patrimoniais, a exemplo do IPTU e do IPVA.

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