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Isonomia nos títulos da dívida pública e nos vencimentos dos

CAPÍTULO III: DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRIBUINTES COMO

3.6. Direitos de igualdade

3.6.3. Isonomia nos títulos da dívida pública e nos vencimentos dos

Determina a Constituição que é "vedado à União tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, DF e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores ao que fixar para suas obrigações e para seus agentes".499

No tocante à renda das obrigações da dívida pública, o texto decorre da recepção no Brasil da evolução judicial nos Estados Unidos quanto ao reconhecimento da imunidade recíproca.500

498

DERZI, Misabel. In: BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar . 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 382. Na mesma obra, Misabel Derzi cita um exemplo criado com a Lei n.º 8. 393/91 que teria ofendido a unidade de tratamento tributário e ainda o contra-princípio que admite a extrafiscalidade. A lei referida submeteu as saídas do açúcar de cana ao IPI, numa alíquota máxima de 18% e abriu duas exceções à regra. A primeira, ao isentar as saídas na área de atuação da SUDENE e SUDAM e a segunda, ao autorizar o Poder Executivo reduzir em até 50% as alíquotas nas saídas efetuadas no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Consoante afirma, o Decreto n.º 420/92 manteve a alíquota máxima para as regiões Sul e Sudeste e reduziu para 9% a alíquota no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Em linhas gerais, a autora demonstra que a nossa Constituição explicitou a regra de igualdade e os parâmetros para as exceções e diferenciações que não foram observados. A lei não levou em conta a clássica divisão regional do país, sendo certo que SUDENE e SUDAM não são regiões. Por outro lado, não se confunde incentivo regional com incentivo setorial. O incentivo regional busca o desenvolvimento sócio-econômico de determinada região do país, enquanto o incentivo setorial refere-se tão-somente a certo ramo da indústria, comércio ou profissão, procurando estimular a produtividade independentemente do local em que se situe. E ainda que o art. 151, I, da Constituição Federal somente autoriza o incentivo regional. O que foi criado pela lei citada, porém, nem configura incentivo, pois criou tributação setorial antes inexistente, e nem obedece ao critério regional, pois criou exceções dentro da mesma região e, sem justificação, elegeu Estados da federação como regiões em detrimento dos demais e de outros ainda mais pobres. (Op. cit., p. 383-385).

499

Art. 151, II, da Constituição Federal. 500

Neste último país, primeiramente a Suprema Corte impediu um Estado-membro de cobrar imposto de banco nacional, ao argumento de que o povo de um Estado não poderia modificar a decisão do povo dos Estados Unidos, pois tal atuação estaria a ferir a soberania que se estende sobre. A proteção do Estado-membro, em recíproca, não foi reconhecida (1819). Em seqüência, a imunidade foi ampliada para atingir os funcionários da União (1842). Depois houve um reconhecimento da intributabilidade de vencimentos de juízes estaduais, em reciprocidade à imunidade dos funcionários federais, justificados pelo fato de os Estados possuírem poderes reservados em situação de independência do poder central (1871). A partir daí, a imunidade ampliou-

No Brasil, porém, a imunidade foi introduzida na Constituição de 1891 (art. 10), ao prescrever que é “proibido aos Estados tributar bens e rendas federais ou serviços a cargo da União, e reciprocamente”. A Constituição de 1934 ampliou a imunidade para estendê-la às concessionárias de serviço público, benefício revogado pela Constituição de 1937. Na Constituição de 1946 a orientação foi modificada para proibir apenas a incidência discriminatória,501 mantendo-se nos textos constitucionais seguintes.

O conceito de dívida pública abrange “os empréstimos captados no mercado financeiro interno ou externo, através de contratos assinados com bancos e instituições financeiras ou de oferecimento de títulos ao público em geral. Estende-se, ainda, à concessão de garantias e avais, que potencialmente podem gerar endividamento”.502

A parte que trata da remuneração e proventos dos agentes públicos interliga-se com a imunidade recíproca dos entes políticos. Seguindo orientação da jurisprudência americana entendeu-se no Brasil que ela se estendia aos servidores públicos desde o texto constitucional de 1891, somente sofrendo restrição com a Constituição de 1946 que não vedou a tributação, mas apenas proibiu a incidência discriminatória,503 o que permanece, com alguns contornos, na estrutura jurídica atual.

A limitação constitucional veda que a União estabeleça tratamento tributário privilegiado para seus títulos em detrimento daqueles emitidos pelos Estados e Municípios, assim como tribute a remuneração e os proventos dos servidores públicos estaduais e municipais em patamar superior ao que fixar para seus agentes. Tem por fundamento a isonomia entre os entes políticos para preservar o federalismo e a isonomia que protege os

se para impedir a tributação dos títulos e bônus emitidos pelo poder público e até a incidência de impostos indiretos (1920). Mudança essencial nessa orientação começou a efetivar-se com o reconhecimento da validade de impostos indiretos incidentes sobre aquisição de materiais para obras públicas (1937); com a decisão pela constitucionalidade de imposto sobre rendimentos de terra petrolífica arrendada (1938); com a admissão de imposto de renda federal sobre funcionários do Porto de Nova York (1938) e impostos estaduais sobre funcionários federais, se não discriminatórios (1939); com o acolhimento de tributação estadual incidente sobre banco nacional (1968); firmando-se, por fim, a orientação de cabimento da imunidade apenas para os casos em que a tributação atinge os próprios Estados Unidos, agência ou instrumentalidade intimamente ligada ao governo (1982). Referências históricas extraídas de relato feito por Ricardo Lobo Torres. Para maiores detalhes e indicações originais da jurisprudência e da doutrina americana consultar: TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de Janeiro: Renovar, v. 3, 1999. p. 214-217.

501

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 386.

502

TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 6.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 185.

503

TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário. (Os direitos humanos e a tributação: imunidades e isonomia). Rio de Janeiro: Renovar, v. 3, 1999. p. 390.

contribuintes que estão em situações idênticas contra discriminações, como é o caso da aquisição de títulos públicos de qualquer esfera estatal e daqueles que prestam serviço ao poder público.

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