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O videoclipe A cruza vazia (2014) de Kleber Lucas

No documento Download/Open (páginas 150-163)

O primeiro videoclipe que escolhemos para a análise de nossa pesquisa é do cantor Kleber Lucas. Ele é um dos cantores que começa sua carreira antes da consolidação da cultura gospel brasileira, que, entretanto, se adapta a ela. Kleber Lucas é fluminense da cidade de São Gonçalo, nasceu em 1968. Aos 17 anos tornou-se membro da Igreja Nova Vida de Niterói. Começou a participar do coral da igreja, até que em 1988 mudou-se para Goiânia e começou a frequentar a Comunidade Evangélica de Goiânia, onde estudou teologia e participou das gravações de alguns álbuns da comunidade. Sua carreira musical começou de fato em 1996, quando já estava morando em Brasília, foi lá que ele lançou seu primeiro álbum Rendei Graças (SOUSA, 2011). Segundo as informações de seu site oficial uma de suas maiores características encontra-se no fato de que ele é um cantor e compositor que consegue: “(...) transformar emoções em canções”32. De lá para cá sua

discografia conta com 15 álbuns.33 Sua videografia é composta por quatro trabalhos, dentre os quais um DVD dedicado a coleção de videoclipes produzidos pelo cantor34. Seu estilo musical transita entre o pop-rock, a balada romântica, ou seja, “louvor e adoração” a black music35 e o jazz. Podemos perceber que o videoclipe é uma parte importante de

32 Disponível em: < http://www.kleberlucas.com.br/perfil2/>. Acesso em 10 de janeiro de 2019.

33 Rendei Graças (1996), Meu Maior Prazer (1997); Deus Cuida de Mim (1999); Aos Pés da Cruz (2001); Pra Valer a Pena (2003); Casa de Davi, Casa de Oração (2005); Propósito (2006); Comunhão: Para Aqueles que Te Amam (2007); Comunhão: Para Aqueles que Te Amam Ao vivo (2009); Meu Alvo (2009); O Nosso Deus é Fiel (2011); Profeta da Esperança (2012); O Filho de Deus (2014); Pela Fé (2016); Live Session (2017).

34 O Show Kleber Lucas (2002); Propósito (2006) Comunhão: Para Aqueles que Te Amam (2009) e MK Clipes Collection Kleber Lucas (2012).

35Black music: A música negra ou black music, também conhecida como música afro-brasileira no Brasil,

é um termo dado a todo um grupo de gêneros musicais que emergiram ou foram influenciados pela cultura de descendentes africanos em países colonizados. Os gêneros principais incluem jazz, blues, rhythm and

blues, soul, rock and roll, e, mais recentemente o rap. A música foi usada como uma forma de expressar

divulgação do cantor, pois, além da coleção especial lançada com seus videoclipes, como pudemos ler na videografia, uma nota entre as novidades de destaque do seu site oficial discorre sobre uma notícia do videoclipe Aos pés da cruz. Essa nota foi publicada no dia 21 de setembro de 2018, às 15h:57’, e tinha a seguinte manchete: “Aos Pés da Cruz tem 10 milhões de views”. A notícia relatava que:

Uma das canções de maior sucesso do cantor Kleber Lucas fez 10 milhões de visualizações, no Youtube: "Aos Pés da Cruz" é considerada um hit e até hoje é relembrada nas igrejas pelo Brasil. Relembre este clipe pelo canal da MK Music, no Youtube.36

O videoclipe foi produzido em 2001, foi postado pelo canal oficial da gravadora MK Music no YouTube, em 27 de junho de 2014 e a notícia é de setembro de 2018. O que demonstra aas peculiaridades da fase da internet do videoclipe, que apesar de ser um audiovisual pensando para ter um prazo curto de apreciação, como já afirmamos no capítulo dois, possibilita no transcorrer do tempo que um videoclipe volte a ser visualizado e ainda que sua medida de alcance pode ser observada mesmo anos depois, graças a plataformas de audiovisuais como o YouTube. Em nosso mais recente acesso, observamos que o videoclipe já teve 16.383.503 visualizações37. O que também reforça nossa argumentação da importância de se estudar o videoclipe gospel brasileiro como uma maneira pela qual na pós-modernidade a linguagem religiosa é produzida e absorvida.

Voltando para a análise da canção do videoclipe que escolhemos, Cruz Vazia, em termos melódicos a canção é uma balada romântica, estilo característico dos ministérios de louvor da música gospel, como já ressaltamos anteriormente. A letra é curta e de fácil assimilação, além do que a repetição das mesmas estrofes é um recurso comumente utilizado para despertar a emoção nos ouvintes. Recursos esses utilizados com frequência na linguagem musical na cultura gospel brasileira. A letra da canção, de composição do próprio Kleber Lucas, na versão do videoclipe tem as falas do cantor, e optamos transcrevê-las também entre parênteses:

< https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica_negra> Acesso 19 de junho de 2109.

36 Disponível em: < http://www.kleberlucas.com.br/noticias/aos-pes-da-cruz-tem-10-milhoes-de-views/> Acesso em 10 de janeiro de 2019.

37 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=GW3gAF1KPB4> Acesso em 25 de junho de 2019.

(A nossa esperança tem um nome. Aquela cruz está vazia. Ele ressuscitou! Tempo novo, se prepara para o seu melhor momento. Se prepara!)

Quando eu Te conheci, Jesus O meu caminho brilhou

Agora minha vida não é mais a mesma Eu acredito na Palavra

Eu acredito no poder do Teu sangue Que me libertou da morte para a vida Quando eu Te conheci, Jesus

O meu caminho brilhou

Agora minha vida não é mais a mesma

Eu acredito na Palavra, (eu acredito, eu acredito) Eu acredito no poder do Teu sangue

Que me libertou da morte para a vida (Agora eu quero ouvir vocês, cantem!)

E a vida que eu vou viver agora, agora É pra um motivo bem maior que o meu O poder do amor, da ressurreição E aquela velha cruz está vazia agora E a vida que eu vou viver agora, agora É pra um motivo bem maior que o meu O poder do amor, da ressurreição E aquela velha cruz está vazia agora

(Tem um futuro lindo chamando pelo teu nome. Então canta, comigo, canta!)

E a vida que eu vou viver agora É pra um motivo bem maior que o meu O poder do amor, da ressurreição E aquela velha cruz está vazia agora Está vazia agora

E a vida que eu vou viver agora É pra um motivo bem maior que o meu O poder do amor, da ressurreição E aquela velha cruz está vazia agora

(Se prepara para o seu melhor momento. É o agora de Deus na tua vida chegou. Faz barulho aí igreja!)

O eu-lírico da canção discorre sobre sua experiência de conversão, afirmando que ao conhecer Jesus tem sua caminhada transformada, ela agora “brilhou”, e não é mais a mesma. Que a partir desse encontro com Jesus ele começa a acreditar na “Palavra”, termo este comumente utilizado na linguagem evangélica para se referir a “Bíblia”. Ele acredita também no poder do sangue de Jesus, que traz libertação e vida. Na concepção cristã a morte de Jesus é que possibilita a salvação bem como o acesso dos fiéis a vida eterna, por isso, ao se referir ao “poder do sangue” de Jesus, o compositor refere-se metaforicamente a esse imaginário. Todavia, podemos entender que a relação de vida e morte não expressa um deslumbre da vida no porvir, e sim da felicidade terrena. Isso pode ser confirmado pelo número de repetições da palavra agora, que aparece 15 vezes na canção. Além disso, a felicidade na vida terrena é um tema característico da cultura gospel. Ao se encontrar com Jesus, o eu-lírico compromete-se a viver uma vida totalmente diferente, que a sua motivação é muito maior, não viverá apenas para si mesmo e sim pelo amor e pela ressurreição de Jesus. A “mistificação no discurso”, segundo as discussões de Orlandi, acontece porque essa pessoa ao se converter, o que por si só já é uma experiência mística, recebe o poder do transcendente, suas falas tornam-se dotadas de poder, porque a experiência com o espiritual lhe concede esse empoderamento. Ela se torna “ungida” outra característica da cultura gospel como proposta por Cunha.

Podemos afirmar que o tema da canção é a conversão, tema muito difundido na música evangélica brasileira desde a hinódia dos primeiros missionários, como já citamos anteriormente. Com ênfase na pessoa de Jesus, apesar da palavra Jesus só aparecer de forma direta duas vezes, e a palavra cruz cinco vezes, em termos de análise de discurso podemos afirmar que o não dito foi utilizado na letra com a intenção do não dizer implícito. Como é característico dos temas da cultura gospel, o antropocentrismo é bastante presente, pois, a palavra “eu” é repetida treze vezes, minha duas, e meu seis vezes, além do que as iniciativas e ações são do humano e não do divino.

Nota-se, entretanto um jogo de antítese não muito convencionar em músicas sobre conversão. Isso porque a palavra “velha” normalmente se refere a vida do cristão antes da conversão, da mudança de rota provocada pelo encontro com Jesus. Nessa letra a palavra “velha” refere-se a cruz, com ênfase de que ela está vazia agora. Estamos trabalhando com a hipótese de que a intenção do compositor tenha sido enfatizar que os evangélicos acreditam, e trabalham seus imaginários visuais com a cruz vazia, numa oposição ao catolicismo romano, que na linguagem visual dá ênfase a cruz com a figura de Jesus morto. Vale ressaltar que é muito comum no imaginário evangélico popular brasileiro, que foi construído durante os séculos, de que o católico romano distorceu os ensinamentos bíblicos e que seus adeptos precisam conhecer de fato o Jesus vivo e ressurreto. Em termos de tipo de discurso, segundo a classificação de Orlandi, a letra possui uma tendência para o “discurso lúdico”, pois, ao falar de conversão sua “polissemia fica aberta”, porque outros crentes podem lembrar-se de suas próprias conversões, e assim “o interlocutor se expõe aos efeitos dessa fala”, e para os que não são convertidos podem sentir através da “experiência do referente” podem sentir-se convidado a experimentá-la também. Cabe-nos aqui, discorrer alguns aspectos sobre as teorias da expiação, ou teorias da cruz. Durante os mais de dois mil anos de estabelecimento do cristianismo, e especialmente após sua institucionalização, que teorias sobre o significado da morte de Jesus fossem surgindo, ainda que o tema da expiação aparecesse desde as narrativas Bíblicas:

Tanto o AT quanto o NT afirmam que o pecado fez romper o relacionamento entre Deus e a humanidade. De acordo com a teologia cristã, Deus providenciou um meio de restauração por intermédio da morte de Cristo: a expiação, que cobre o pecado humano. Embora as Escrituras não expliquem claramente como essa expiação se efetua, entre as teorias da expiação temos: 1) pela influência moral – a morte de Cristo atua como exemplo positivo do amor em ação; 2) pelo resgate (Christus Victor) – Cristo é o resgate que compra os pecadores de Satanás ou que ganha a vitória sobre o mal; 3) pela compensação – a morte de Cristo restaurou a honra devida a Deus que foi usurpada pelo pecado humano e 4) pela substituição penal – juridicamente, Cristo ocupou o lugar dos pecadores, carregando a justa punição que merecíamos por quebrar

as leis divinas (GRENZ; GURETZKI ; NORDLING; 2001, p. 55- 56).

Assim, a morte de Jesus é a expiação sobre o pecado humano, essa relação pode ser pelo exemplo positivo do amor em ação; pelo resgate contra o pecado e Satanás, ou seja, o triunfo do bem sobre o mal; a da compensação, um homem peca e gera a morte, outro vence a morte e permite o acesso humano a vida eterna e a de que Jesus é aquele que cumpre a punição no lugar da humanidade. Renders esquematiza de forma cronológica as teorias da expiação no transcorrer dos séculos:

1) A expiação como conquista de méritos:

a) Por Cristo diante de Deus (Irineu de Lyon / 130-202 d.C.); b) Direitos do bem-estar e da prosperidade reclamáveis (Oral Roberts e Benny Hinn, etc.).

2) A expiação como resgate:

a) Modelo do pagamento de um resgate para o diabo (Orígenes / 185-243 d.C.);

b) Modelo do Christus Victor como resgate dos tiranos do mundo (Gustaf E. H. Aulen (1879-1977).

3) A expiação com ato jurídico:

a) O apagar da ira de Deus pelo sacrifício humano (Anselmo de Cantuária / 1093-1109);

b) A morte de um substituto apaga os pecados do substituído (Calvino / 1515-1565 d.C.);

c) Junto a este grupo ainda Hugo Grotius (1583-1645), especialista em negociação de contratos de paz internacionais, que afirmou que Cristo não morreu em lugar do ser humano, mas a seu favor. 4) A expiação como declaração performativa do amor e da amizade divina:

a) A teoria da influência moral (Abelardo / 1079-1142 d.C.); b) A teoria da declaração do amor (Albrecht Ritschl10 (1870/74); c) A compreensão da superação da inimizade pela amizade11. 5) A expiação como martírio12:

a) Teologia da Libertação;

b) Acidente da história (Albert Schweitzer) (RENDERS, 2017, p. 469-470).

Acreditamos que no sentindo atribuído pelo compositor na letra, duas teorias da expiação aparecem, a expiação como “resgate” e como “declaração performativa do amor e da amizade divina”. Isso porque o verso “ que me libertou da morte para a vida”, pode ser compreendido como um resgate do eu-lírico, de sua antiga vida, com sinais de morte, pois, não andava nos caminhos de Deus, tinha sua vida ligada ao “pecado” e a “satanás”, e foi resgatado pelo sacrifício de Jesus na cruz. Logo, o eu-lírico levava uma vida que pertenciam a Satanás, ao encontrar Jesus, foi resgatado, saiu das “trevas para a luz”, e no resgate de Jesus, que ressuscitou, ele também vai ressuscitar para uma nova vida, na terra, e posteriormente no porvir. E pelo amor através do verso “O poder do amor, da ressurreição”, entendendo o sacrifício de Jesus na cruz como expressão máxima e poderosa do amor e que possibilita uma vida de reconciliação com Deus e acesso a vida eterna através da ressurreição.

A versão do áudio da canção no videoclipe é de uma gravação ao vivo, nela é possível escutar as vozes do público, bem como algumas falas do cantor. Assim, optamos por transcrever a letra com as falas do cantor na apresentação ao vivo para realizarmos nossas considerações. Nessas falas de Kleber Lucas é possível constatar a ênfase no discurso de que os fiéis têm uma esperança, que irão viver um tempo novo em suas vidas, que resultará no melhor momento de sua existência. Que terão um futuro “lindo” a partir daquele dia, a partir do momento que escutam a canção terão as “promessas liberadas” por Deus através da “unção” do cantor. Podemos afirmar que o cantor e o espaço no qual aconteceu o show de gravação do álbum, são “intermediários entre o transcendente e os seres humanos”. E essa “intermediação” irá acontecer também para aqueles que escutam o álbum e assistem o videoclipe. O que enfatiza a “mistificação do discurso” religioso, como caracteriza a análise de discurso.

O videoclipe, A cruz vazia, faz parte do álbum Filho de Deus, gravado ao vivo em 2014. Tem como diretor Felipe Arcanjo, foi produzido pela MK Music Brasil. A duração da canção no álbum possuí 4’38” ao passo que o videoclipe tem 5’21”. O enredo da narrativa visual gira em torno de uma família, com aparente estilo burguês, composta, ao que parece ser por uma mãe, um pai e um filho, que saí de casa. Na sala da casa da família alguns amigos e amigas se reúnem para o que na linguagem religiosa é caracterizado como culto doméstico, e nesse há a presença do cantor Kleber Lucas. O Videoclipe começa com uma cena de um pôr do sol numa cidade praiana, conforme a luminosidade do sol vai baixando vai surgindo escrito com letras brancas o nome do cantor e o da música. Na cena seguinte pessoas conversam na sala de uma casa, nessa sala já é possível

observar que apesar de estar a meia luz existem muitas velas e luminárias, há uma ênfase nos closes nas velas. É visível também que na sala tem dois teclados, um baixo e uma guitarra. Conforme outras pessoas vão chegando nessa sala é possível notar que elas têm bíblias nas mãos, o que irá acontecer ali é o denominado “culto doméstico”. O cantor Kleber Lucas participa das cenas, também conversando com as pessoas. Uma senhora, que se subentende ser a dona da casa, aparece num outro cômodo da casa abraçando um porta-retratos com a foto de um rapaz, já fica claro também que ele é o filho dela. Nesse momento começa a aparecer cenas de flashback38, esse efeito é percebido pela diferença

na fotografia e no efeito de luzes. Nessa cena é possível observar a mesma sala, com menos iluminação, sem as velas e a luminárias, todavia, com a mesma ação, pessoas reunidas para um culto doméstico num número menor que no primeiro espaço, porém com a presença do rapaz da foto que animadamente conversa com uma bíblia na mão, vale destacar que o cantor Kleber Lucas também está nessa cena. O flashback termina, a mulher coloca novamente o porta-retratos no móvel e a frase cantada é: “Eu acredito no poder do seu sangue”, que nos dá a entender que o filho está com algum problema. Ela então retorna para a sala iluminada onde o culto se inicia com o Kleber Lucas cantando e seus músicos tocando. Apesar de estarem na sala de uma casa, os instrumentos e a disposição lembram uma apresentação num show. As cenas começam a se alternarem entre a sala iluminada com os personagens cantando, e o rapaz da foto andando pela rua sujo segurando um saco de lixo, com aparência de usuário de drogas, isso fica subentendido nas imagens e não explicitado. Numa das cenas da sala acontece uma sincronia entre a linguagem musical e a visual, que acontecerá em outros momentos do videoclipe. A cena mostra Kleber Lucas fazendo um gesto com a mão batendo no peito, em conjunto com o close up39 em duas bíblias que estão em cima da mesa de centro da

sala perto das velas ao passo que Kleber canta o trecho: “Eu acredito na Palavra”. Com uma ênfase na sincronia entre o que é cantando e o que é observado.

38 Flashback: Sendo a ordem dos planos de um filme indefinidamente modificável, é possível, em particular, em um filme narrativo, fazer suceder a uma sequência que relata acontecimentos anteriores; dir- se-á, então, que se “volta atrás” (no tempo). Essa figura narrativa (a palavra inglesa flashback conota a repentinidade dessa “volta” no tempo) é a mais banal e consiste em apresentar a narrativa em uma ordem que não é a da história (AUMONT; MARIE, 2006, p. 131).

39 Close up: Close up é uma expressão em inglês, que significa um plano onde a câmera está muito perto da pessoa ou objeto em questão, possibilitando uma visão próxima e detalhada. É "fechar" o dispositivo de captura de imagem em alguma pessoa ou objeto. Esta expressão revela uma aproximação em relação a alguma coisa. No contexto audiovisual, close up pode ser sinônimo de plano fechado ou grande plano. Disponível em: < https://www.significados.com.br/close-up/> Acesso em 05 de julho de 2019.

Nas cenas do rapaz andando pela rua, numa delas ele é quase atropelado. Ele está andando distraído em uma rua de terra, mexendo no seu saco de lixo quando as luzes de um carro aparecem em sua direção. O carro freia muito perto do rapaz, que assustado caí no chão, na sincronia entre as linguagens, o trecho cantado é: “Que me libertou da morte para a vida”. As cenas continuam se alternando entre o rapaz na rua e as pessoas na sala iluminada cantando junto com o cantor. Em outra cena, o rapaz que está sentado no chão em meio a peças velhas e lixo. Nesse lugar ele é abordado por um moço e uma moça que seguram uma bíblia e trazem comida numa sacola. Eles conversam com o rapaz enquanto ele come. No momento da conversa um close na Bíblia aberta que o moço que está aparentemente “evangelizando” segura na mão, com essa aproximação é possível identificar que ela está aberta no livro de Salmos, capítulo 75, 76 e 77. Acreditamos que a escolha da Bíblia aberta nesses versículos foi intencional, pois, eles discorrem sobre justiça, majestade, poder e misericórdia de Deus. Com versículos como: “Mas Deus é o juiz; a um abate e a outro exalta” (Sl 75.7); “(...) quando Deus se levantou para julgar, para livrar a todos os mansos da terra. (Sl 76.9); “Lembrava-me de Deus e me perturbava; queixava-me, e o meu espírito desfalecida” (Sl 77.3)40. Ou seja, com temas que se

relacionam com a história visual que é construída para o personagem principal. A cena na sequência é outro flashback, o efeito pode ser percebido pelo recurso das luzes e da mudança de fotografia. O rapaz lembra das pessoas na mesma sala, pouco iluminada em meio a um culto doméstico, com gestuais de que estão orando, enquanto ele atende um telefonema, e depois pega algo na bolsa de sua mãe e saí para a rua. O flashback acaba e a cena volta para a sala iluminada com as pessoas cantando.

Em seguida outro recurso estético começa a ser utilizado, a tela dividida em duas

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