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3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.3 As relações estabelecidas com a aprendizagem da língua inglesa

3.3.2 A importância atribuída ao aprender

Ao serem questionados se consideravam importante aprender inglês, quase a totalidade dos alunos, isto é, vinte e oito participantes (97%), respondeu afirmativamente. Esses dados, somados àqueles obtidos em relação à representação que os alunos tinham sobre a LI (73% dos participantes disseram gostar da LI e 72% revelaram que escolheriam a LI para

estudar na escola, mesmo se pudessem optar por outra LE) e sobre suas expectativas em relação à aprendizagem da LI (83% dos alunos usaram descritores positivos para expressar seus sentimentos em relação ao início do aprendizado da LI e 90% tinham expectativas bastante favoráveis em relação ao modo como achavam que seriam suas aulas de inglês na escola), reforçam que os alunos ingressaram no 6º ano bastante motivados em relação à aprendizagem da LI. Autores como Almeida Filho (2005), Bernardo (2010), Campos-Gonella (2007), Cavenaghi (2009), Félix (1998), Jacob (2002) e Lima (2005) também apontam a existência de uma motivação inicial para a aprendizagem de LE entre alunos ingressantes no Ensino Fundamental II, em razão da curiosidade, expectativa e novidade associadas ao aprendizado. Em vinte e três respostas (80%) a razão dada para a importância da aprendizagem da LI está ligada ao seu uso no futuro, em termos de trabalho (“isso vai me ajudar a arrumar um emprego melhor”; “porque pode arranjar serviso bom”; “porquê isto serve para quando nós crescermos para o curicolo”), estudos (“porque se eu arranjar um curso, um emprego ou conhecer pessoas novas não vou me preocupar muito”, “inglês para fazer uma boa faculdade e ter um bom futuro”, “mas pra frente nos colegiais ou na faculdade agente presisa dessa língua”) e/ou viagens (“quando você for viaja para agum lugar você vai sabe falar em inglês”, “porque se você vai viajar para outro país você não intende nada que pessoas estrangeiras falam”, “porque se a pessoa ir ne outro pais já vai tar sabendo”, “agente pode viajar pró estados unitus”).

Identificamos que dois participantes – que não mencionam o futuro como justificativa para a importância da aprendizagem da LI –, estabelecem uma relação epistêmica com o aprender, na qual a apropriação do idioma faz sentido na medida em que proporciona acesso a um mundo novo, de descobertas, de somatória a outras aprendizagens adquiridas na escola:

Sim porque você começa a aprender uma nova língua descobrindo coisas novas. (A6)

Sim acho, porque é legal e eu posso aprender mais. (A12)

Três alunos expressam a relação identitária que estabelecem com a aprendizagem da LI, vinculando-a a um desejo, um sonho. Apesar de a aprendizagem ter orientação instrumental (o conhecimento da língua será útil nas suas futuras profissões), percebemos a existência de motivação intrínseca que os mobiliza em direção à aprendizagem do idioma, uma vez que ela faz sentido por referência às suas histórias, às suas expectativas, aos seus sonhos:

Eu acho importante porque o meu sonho é ser modelo e quando eu for para um lugar do mundo que fala inglês vou saber ler. (A7)

Sim, porque quando eu ser jogador de futebol, e for jogar num time fora do meu país, eu falo a língua inglesa. (B17)

O meu sonho e o goleiro eu pensei que comdo eu querser se um goleiro do time do estado unido seu não sabe inglês eu não vou comseguir falar com os jogadores. (B14)

A história do participante B14 é bastante significativa. No questionário inicial ele relatou que gostava muito da LI e se sentia muito feliz em começar a aprender o idioma, porque sonha ser goleiro em um time internacional e, segundo ele, vai precisar falar em inglês com os jogadores. Na entrevista, já no final do ano letivo, disse que aprender inglês estava sendo mais ou menos bom, e que não prestava muita atenção nas aulas; quando perguntamos o que ele se lembrava de ter aprendido durante o ano, mencionou apenas vocabulário referente a esportes. Continuava achando importante aprender inglês porque, de acordo com ele, “se eu tiver num time de fora vô tê que falá inglês”; diz que não tem usado o que aprendeu nas aulas, exceto quando joga no computador um game de futebol e tenta traduzir as palavras que vê, porque precisa “aprendê sobre futebol em inglês”.

Nota-se que B14 possuía uma motivação intrínseca para a aprendizagem da LI. Podemos dizer que essa motivação era o motivo-estímulo para a aprendizagem do idioma, podendo se transformar em motivo gerador de sentido, desde que as ações de aprendizagem (tarefas direcionadas à aprendizagem do idioma) correspondessem aos motivos da atividade (aprender inglês para se comunicar com os jogadores de outros países). Mas, de acordo com os registros obtidos, verifica-se que não foi isso o que aconteceu durante o ano, ou seja, os fins das ações de aprendizagem de B14 eram outros, que não se relacionavam aos motivos da atividade, impedindo a atribuição de sentido à mesma; e quando não há atribuição de sentido à atividade, ela se torna vazia, sem significação. Por sua vez, o que garante a conscientização do que foi estudado e a mobilização na atividade é o sentido que as ações de aprendizagem têm para o aluno. Em concordância com essa reflexão, Rochex (1995: 48 apud REIS, 2012: 649) afirma que

[...] as situações escolares, as atividades de aprendizagem e as interações que as envolvem [...] enraízam-se nos móbiles (motivos) de cada um dos seus protagonistas, nas suas trajetórias sociais, biográficas e nos aspectos de sua personalidade.

Essas reflexões nos ajudam a compreender a perda de interesse nas aulas e o fato de que B14 não se lembrava de nada do que aprendeu nelas, a não ser o vocabulário relacionado a esportes, pois isso fez sentido para ele.

Somente o participante B7 disse não ver importância na aprendizagem da LI, por não reconhecer a utilidade da língua, já que ela “não está no seu dia-a-dia”. No questionário final, B7 relatou que aprende inglês “porque é uma matéria de aula”, ou seja, ele só “aprende” o idioma porque este faz parte do currículo escolar. Dessa forma, entendemos que para B7 não há motivos geradores de sentido relacionados à aprendizagem da LI. Quando, no mesmo questionário, perguntamos se ele estava usando no dia-a-dia o que havia aprendido nas aulas, ele respondeu que não, porque “não havia aprendido nada”. Entendemos, portanto, que para esse aluno, as atividades de aprendizagem estavam no nível das operações, eram apenas rotinas,

ações esvaziadas de sentido.

Passemos, em seguida, a verificar quais são os significados relacionados à aprendizagem da LI, segundo a visão dos alunos.