• Nenhum resultado encontrado

3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 As relações estabelecidas com a escola

3.1.3 A relação com os colegas

Para que pudéssemos compreender, de forma abrangente, a relação que os alunos estabelecem com a escola, era essencial que procurássemos entender o sistema de relações sociais no qual os estudantes estão inseridos. Para tanto, indagamos os participantes a respeito do papel que seus colegas exerciam em relação à sua aprendizagem; perguntamos a eles se

os colegas os ajudavam a aprender, e caso a resposta fosse afirmativa, de que modo o faziam. As respostas a essa questão podem ser visualizadas no quadro a seguir:

Tabela 6: O papel dos colegas na aprendizagem Seus colegas o/a

ajudam a aprender? N° de respostas Escola A % N° de respostas Escola B % N° de respostas Escolas A + B % Sim 6 50% 2 12% 8 27% Alguns colegas ajudam 2 17% 2 12% 4 14% Mais ou menos - - 2 12% 2 7% Às vezes - - 2 12% 2 7% Não 4 33% 9 54% 13 45% TOTAL 12 100% 17 100% 29 100%

Embora seis alunos da escola A (50%) tenham declarado que os colegas os ajudam a aprender, cinco deles relataram que eles o fazem emprestando cadernos quando faltam (para que possam copiar a matéria), passando a lição, ou passando a resposta das atividades:

Sim, passando a resposta das atividades. (A3)

Sim, quando eu falto por exemplo, eles me emprestam o caderno para eu não ficar sem a matéria. (A7)

Sim, quando eu falto eles me emprestão o caderno, me passão a lição. (A5)

A justificativa da outra resposta afirmativa de uma participante da escola A foi a de que os colegas ajudam, sim, ficando quietos. Dois participantes da mesma turma disseram que apenas alguns colegas os ajudam: explicando e ajudando a terminar corretamente quando a

professora está muito ocupada ou com alguma palavra errada.

Dentre os quatro alunos da escola A que responderam negativamente à questão, dois disseram que os colegas não ajudam, pois não sabem de nada ou porque também não entendem

muito:

Não, nenhum modo porque eles não são tão legal, são chatos eles não sabe de nada nem tem como me ajudar. (A6)

Não muito, porque eles também não entendem muito. (A10)

O participante A8 disse que os colegas não o ajudam porque é ele quem os ajuda quando têm dúvidas; já A4 disse que eles não a ajudam a aprender, pois ela aprende se quiser.

Quanto à escola B, os alunos que afirmaram que os colegas os ajudam, disseram que eles o fazem explicando algo que não entenderam ou que não lembram:

Sim, alguns me explicam um exercício que eu não entendi. (B3) As vezes me ajudam na lição que eu não entendi. (B6)

As vezes, alguma coisa que eu não lembro [...] (B12)

Os alunos que responderam à questão negativamente (mais da metade dos participantes) apontaram os seguintes motivos:

Alguns ajudam ficando quietos, outros atrapalham fazendo bagunça, andando demais. (B11)

Não, eles bagunçam. (B2)

Não, porque nem eles se ajudam, eles preferem bagunça. (B16)

Nãoooo, não deixam o professor explicar, inritam e parencem um bichos do mato. (B4)

A participante B15 relata que em vez de ajudar, os colegas a fazem ser ainda pior:

Não, eles fazem eu ser mais ruim ainda. (B15)

Outros participantes deixaram clara a percepção que possuem acerca do individualismo, da falta de coletivismo da classe:

Não, porque só pensam neles. (B1) Não porque é cada um com o seu. (B13)

O aluno B10 diz que os colegas não o ajudam porque desconhecem suas dúvidas:

Não, eles não me ajudam porque não sabem minhas duvidas. (B10)

Verificamos, por meio dos relatos fornecidos pelos participantes, e pelas observações feitas em campo, que a mediação no contexto ensino-aprendizagem se limitava à relação professor-aluno; não foram criadas oportunidades que incentivassem mediação aluno-aluno.

que é por meio da linguagem e da interação com os outros que as crianças ampliam seus conhecimentos. A teoria histórico-cultural destaca a importância do papel do “outro” no desenvolvimento humano, e o modo como os processos cognitivos do indivíduo (pensamento, linguagem, comportamento, memória) têm origem nas relações sociais, ou seja, a maneira como estas auxiliam no desenvolvimento psicológico pela mediação/interação. Compartilhamos essa visão, e enfatizamos a importância do papel do professor em organizar atividades que possibilitem a mediação entre alunos – ao invés de atividades individuais e isoladas –, que propiciem interação significativa, para que os estudantes possam desenvolver funções mentais, pela mediação e colaboração.

Há, no diário de campo que elaboramos nesta pesquisa, uma passagem que se faz relevante aqui apresentar, por conter registro de ocasião que apresentou resultados bastante satisfatórios. Nela, embora a comunicação oral não tenha sido foco, os alunos que geralmente apresentavam dificuldade no cumprimento das tarefas propostas puderam interagir com colegas mais proficientes para a elaboração de uma atividade:

25/09/2012: A professora anunciou que vai finalizar a apostila 2 e os alunos devem fazer os exercícios 3 e 4. Desta vez, ela diz que os alunos podem se sentar em duplas para fazer os exercícios e organiza os pares: B10 e B14; B13 e B17; B7 e Bxx; B8 e Bxx; B15 e B1. Os alunos parecem gostar da “movimentação” e estar dispostos para a tarefa. Conversam só com os colegas ao lado e não há alunos andando pela sala, sem fazer nada, como geralmente acontece. A professora vem até mim, e chama a atenção para o fato de que alunos que geralmente não fazem nada estão fazendo os exercícios, e perguntando para os colegas o que não sabem. Talvez a professora possa usar dessa disposição de lugares mais vezes. Já havíamos percebido que quando os alunos que geralmente não participam, sentam-se com um par mais competente, eles participam da aula.

Como podemos perceber, na situação apresentada houve interação, e o colega mais capaz pôde auxiliar o outro na construção do conhecimento. Isso parece ter influenciado positivamente a atitude daqueles alunos que apresentavam mais dificuldade na execução das tarefas, dando-lhes oportunidade de participar da atividade de aprendizagem. É possível inferir que dessa forma, eles possam ter encontrado algum sentido nas suas ações.

Em seguida, passaremos a analisar a relação estabelecida pelos alunos com as professoras da disciplina Língua Inglesa.