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3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.3 As relações estabelecidas com a aprendizagem da língua inglesa

3.3.4 Os motivos geradores da atividade

Em resposta ao questionamento “Por que você aprende inglês?”, identificamos apenas quatro alunos cujos motivos poderiam ser classificados como motivos geradores de sentido ou motivos eficazes:

Eu aprendo inglês porque...

eu quero saber mais sobre essa lingua que eu não conhecia. (A6)

eu quero um dia visitar a america do norte e saber a linguagem e o cotidiano de lá. (A10)

eu gosto me enteresso na aula e gosto muito mesmo. (A12) gosto muito acho muito legal. (B1)

Nas demais respostas, encontramos motivos apenas compreendidos, que podem ser agrupados em três blocos: 1) porque é importante; 2) porque faz parte do currículo escolar e 3) porque será útil no futuro.

No primeiro bloco, vê-se, claramente, que os alunos reproduzem discursos recorrentes, baseados em concepções difundidas pelos professores e/ou veiculadas pela mídia, que propagam a importância de se saber uma “língua de prestígio mundial”:

Eu aprendo inglês porque... é necessário. (A1)

é bom saber uma língua diferente. (A2) eu sei como é importante. (A9)

porque é uma língua que se usa em relações de outro país ou em qualquer situação. (B6)

porque é a ligua mudialmente conhecida. (B8) é uma língua usada em todos os países. (B11)

No segundo bloco, os participantes versam sobre a obrigatoriedade da aprendizagem do idioma, por esse fazer parte do currículo escolar. Nota-se aqui o tom de abnegação com que os alunos expressam seus motivos:

Eu aprendo inglês porque...

porque estou na escola e na escola tem aula de inglês. (A7) porque é uma das matérias que eu aprendo na escola. (B3) porque tem na minha escola. (B10)

porque tem que aprende. (B13)

porque na escola tem essa matéria. (B16)

No terceiro bloco encontram-se os motivos relacionados aos benefícios que o conhecimento da LE lhes trará no futuro, em termos de trabalho, estudo ou viagens:

Eu aprendo inglês...

porque se um dia, quando eu for trabalhar e o trabalho precisar que eu fale inglês, é por isso. (A3)

porque quando for mais velho, posso viajar para outro país, assim já vou saber o inglês para me comunicar com os estrangeiros. (A8)

quando eu estiver ne um emprego eu vou precisar usar cada coisa que a minha professora me esplicou. (B9)

porque é muito bom para eu arumar empregos. (B10)

para lá na frente saber alguma coisa, se for viajar numa estrevista de trabalho nos U.S.A, saber algo. (B12)

Há alunos também que associam a aprendizagem da LI ao futuro, mas que não parecem compreender para quê, exatamente, a utilizarão:

Eu aprendo inglês...

porque pode me ajudar no futuro. (A2)

porque é uma língua que é muito usada e que eu vou precisar saber no meu futuro pois é muito usada. (A11)

porque no futuro eu vou precisar para algumas situações. (B5) para ter uma vida melhor. (B14)

porque á eu acho que é para eu poder procurar um trabalho ou sei lá. (B15)

porque talvez eu posso precisar. (B16)

Conforme apontamos anteriormente, nesta pesquisa aparece, muito frequentemente, a imagem do aprender associada ao futuro – tanto o aprender “genérico”, quanto o aprender relacionado à LI. Os benefícios que o conhecimento da LI poderá trazer no futuro apareceram nos dados coletados no questionário inicial, no questionário final e nas entrevistas, e em respostas a diferentes questões. A aprendizagem do idioma para utilização futura justifica a simpatia e o gosto pelo idioma, a importância dada a sua aprendizagem, e é, para muitos alunos, o motivo da aprendizagem. Há para os alunos, a forte representação de que, possuindo o conhecimento da LI, as oportunidades de estudos, de viagens, de acesso a uma vida melhor, e em especial as de trabalho serão surpreendentemente maiores. A percepção do inglês como “instrumento” que permitirá o acesso ao mundo do trabalho é, inclusive, reforçada em texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino – Língua Estrangeira:

[...] Para que as pessoas tenham acesso mais igualitário ao mundo acadêmico, ao mundo dos negócios e ao mundo da tecnologia etc., é indispensável que o ensino de Língua Estrangeira seja entendido e concretizado como o ensino que oferece instrumentos indispensáveis de trabalho. (BRASIL, 1998: 38 – grifos nossos)

Ao longo dos quatro anos do ensino fundamental, espera-se com o ensino de Língua Estrangeira que o aluno seja capaz de: [...] ler e valorizar a leitura como fonte de informação e prazer, utilizando-a como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avançados [...]. (BRASIL, 1998: 66-67 – grifos nossos)

Entendemos que para a maioria dos alunos, é uma motivação extrínseca, de orientação instrumental que os impulsiona ao aprendizado de inglês, ou seja, os alunos são motivados a aprender a LI por razões de foro exterior, por motivos relacionados à obtenção de resultados que podem ser alcançados via língua inglesa. A aprendizagem do idioma é, para esses alunos, um meio para se atingir um fim. Da mesma forma, inferimos que quando projetam para o futuro – em termos de trabalho, de estudo e de viagens – a razão de aprender inglês, a importância e o gosto por essa aprendizagem, os alunos estão, na verdade, expressando motivos apenas compreendidos, pois o objetivo de aprender inglês visando sua utilização futura – principalmente com vistas ao mercado de trabalho – ainda é muito distante de suas realidades,

não permitindo que a estrutura motivacional da atividade de aprendizagem seja dominada por interesse intrínseco no objeto de estudo.

Apoiada em Martins (2005), Asbahr (2011) reflete sobre como as atividades escolares podem ser alienantes quando dirigidas por motivos externos ao sujeito. Nessas condições, ocorre a desintegração entre o significado e o sentido das atividades. Estas passam a ter uma significação para o aluno, mas somente na medida em que podem ser necessárias para futuras operações de trabalho. Por consequência, os motivos encontram-se determinados pelos fins, ocasionando um esvaziamento da construção do sentido pessoal dessas atividades.

No caso deste estudo, quando analisamos a relação do motivo apresentado pelos alunos para aprender inglês (principalmente prepará-los para o mercado trabalho) e as ações realizadas em sala de aula (exercícios gramaticais estruturais e descontextualizados, tradução de diálogos, memorização de listas de vocabulário), vemos que elas não correspondem ao motivo expresso. Desse modo, a atividade não oferece condições para a formação de sentido, nem tampouco de mobilização do aluno, pois para haver mobilização, é preciso que a situação de aprendizagem faça sentido, possa produzir prazer, responder a um desejo (CHARLOT, 2005: 54).

Tendo analisado os motivos apresentados pelos alunos para aprender inglês, passamos, em seguida, a apresentar a visão dos alunos de como seriam as aulas de inglês, se estes fossem professores.