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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.3 Motivação e ensino-aprendizagem de língua estrangeira

1.3.2 Motivação intrínseca e motivação extrínseca

Apoiadas em Deci & Ryan (2000), Guimarães & Boruchovitch (2004) afirmam que nos anos 1970, principalmente nos Estados Unidos da América, ainda era grande a influência das abordagens comportamentais na psicologia empírica. Porém, por influência das ideias de White (1975) sobre o envolvimento das pessoas em atividades apenas pela busca de eficácia ou de competência, como também pelas proposições de deCharms (1984) a respeito da propensão natural do homem para ser agente causal das próprias ações, pesquisadores iniciaram a exploração do conceito de motivação intrínseca. Assim, em 1975, no livro Intrinsic Motivation, Deci apresenta a organização dessas concepções teóricas, sustentando que, para ser intrinsecamente motivado, o indivíduo necessita se sentir competente e autodeterminado. Segundo Deci & Ryan (2000), inúmeros estudos foram desenvolvidos a partir de então, sendo que, em sua maioria, buscam comparar a motivação intrínseca com a motivação extrínseca.

Esses dois conceitos têm sido usados, com muita frequência, no campo de ensino- aprendizagem de línguas. A motivação intrínseca é geralmente relacionada a um comportamento motivado pela atividade, ou seja, pela satisfação em realizá-la e a motivação extrínseca, é relacionada a um comportamento que busca fins instrumentais, tais como obter uma recompensa ou evitar punições. Nas palavras de Dörnyei (2001: 10-11), citando Deci & Ryan (1985):

A motivação intrínseca diz respeito ao comportamento executado em seu próprio interesse, a fim de proporcionar prazer e satisfação, como a alegria de fazer determinada atividade ou satisfazer a própria curiosidade. A motivação extrínseca envolve comportamento destinado a um fim determinado, ou seja, para receber alguma recompensa exterior (por exemplo, boas notas) ou para evitar a punição.25

Como esclarece Figueiredo (2011), referimo-nos à motivação intrínseca, quando a motivação para a aprendizagem tem como origem o interesse, o gosto e a curiosidade natural do aprendiz pela LE, ou seja, quando há interesse por parte do aluno em se comunicar com os falantes da língua-alvo devido à empatia com relação à língua e cultura do país onde ela é

25 No original: Intrinsic motivation concerns behaviour performed for its own sake in order to experience pleasure and satisfaction such as the joy of doing a particular activity or satisfying one's curiosity. Extrinsic motivation involves performing a behaviour as a means to an end, that is, to receive some extrinsic reward (e.g. good grades) or to avoid punishment.

falada, quando expressa desejo de aprender a língua-alvo pelo desafio em si mesmo, sem se importar com recompensas externas.

Para exemplificar os dois tipos de motivação, Labrador (2006) expõe que quando os alunos executam uma tarefa porque gostam dela – e muitas vezes não conseguem externar a razão porque a fizeram, a não ser com respostas vagas como “fiz porque adoro” ou “fiz porque é divertido” – o impulso é intrínseco. Quando dão explicações para seu comportamento como “Meus pais comprarão uma bicicleta para mim se eu passar de ano”, “Falar inglês será útil para minha carreira”, “Inglês é uma matéria obrigatória” ou “Eu gostaria de viajar para o exterior e vou precisar do inglês”, a motivação é extrínseca.

Contrariamente à motivação intrínseca, a motivação extrínseca é caracterizada como

um tipo de motivação que se rege por razões de foro exterior (FIGUEIREDO, 2011: 6). Nesse

caso, a ação é guiada não pelo interesse genuíno do aprendiz, mas por motivos que estão relacionados à obtenção de resultados que a aprendizagem da LE propicia. Ela é considerada

como um meio para se atingir um fim. Os motivos que guiam o aluno na aprendizagem podem

estar ligados à possibilidade de alcançar melhores notas, à vontade de agradar aos pais e professores ou à intenção de investir no seu futuro, numa carreira profissional.

A autora expõe que:

Estes dois tipos de motivação, embora considerados frequentemente como antagónicos, contribuem para a aprendizagem da língua estrangeira, na medida em que se constituem como um par complementar. No entanto, a motivação intrínseca é a mais valorizada e igualmente a mais difícil de alcançar, por se revestir como uma forma pura de motivação. As razões que condicionam a acção do aprendente podem ter simultaneamente características da motivação intrínseca e extrínseca, sendo que a aprendizagem, desta forma, é movida quer por factores de ordem integrativa quer de ordem instrumental. Os primeiros constituem a motivação integrativa (intrínseca) e os segundos a motivação instrumental (extrínseca). (FIGUEIREDO, 2011: 6)

Figueiredo (2011) ainda esclarece que se o aprendiz sente forte identificação com o país da língua-alvo e se o mesmo quer se comunicar com os seus falantes, o tipo de motivação é intrínseco e a orientação, integrativa. Por outro lado, se as razões que guiam o aluno estão relacionadas a recompensas, aprovação dos pais e professores, sucesso escolar e profissional, a motivação é extrínseca e a orientação é instrumental.

Assim, de acordo com a autora (FIGUEIREDO: 2011), ambas as orientações –

integrativa e instrumental – e tipos de motivação – intrínseca e extrínseca – podem estar

presentes no aprendiz, conferindo sucesso à sua aprendizagem. Porém, quando a motivação extrínseca e instrumental se sobrepõe à intrínseca e integrativa, o aluno encontra razões para aprender a LE que não emanam do seu interesse, gosto e afinidade pela língua alvo, mas que se regem pela utilidade que o idioma confere para a realização de objetivos exteriores. Ainda a esse respeito, Campos-Gonella (2007: 59) relata que a dicotomia motivação intrínseca versus motivação extrínseca é objeto de estudo de inúmeros autores, e estes em geral defendem a ideia de que a motivação intrínseca seja superior à extrínseca, uma vez que a primeira viabiliza melhores resultados no aprendizado do que a segunda.

Apresentaremos, a seguir, as variáveis motivacionais, propostas por Viana (1990).