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3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 As relações estabelecidas com a escola

3.1.4 A relação com as professoras

Da mesma forma que indagamos os participantes a respeito do papel que seus colegas exerciam em relação à sua aprendizagem, perguntamos a eles sobre o papel exercido pelas professoras de inglês, mais especificamente, se de acordo com a percepção deles, elas os ajudavam a aprender. Obtivemos 100% de respostas afirmativas, tanto dos alunos da escola A, quanto dos alunos da escola B.

Todos os alunos da escola A relataram que a professora os ajuda a aprender, por um motivo: ela explica a matéria quantas vezes forem necessárias para que eles compreendam:

Sim, quando ela passa alguma materia na losa ela fica explicando muito até os alunos entenderem bem. (A1)

Sim, porque se eu não entender ela explica de novo. (A3) Sim, pois ela explica varias vezes uma dúvida. (A6)

Dois alunos disseram que ela os ajuda a aprender, mas só que de vez em quando ela é

um pouco chata (A8) e às vezes começa a gritar (A9).

No questionário final, os alunos da escola A também fizeram comentários sobre a postura que teriam como professores, e que cabe aqui mencionar. Eles relataram que se fossem professores, seriam mais alegres, mais interessados, interagiriam mais com os alunos e optariam por um clima extrovertido nas aulas:

[...] A professora [...] tinha que ser mais alegre. (A9) [...] eu me interessaria mais daria jogos [...] (A2) Eu iria interagir mais com meus alunos [...]. (A11)

Sim, acho que as aulas deveriam ser em espaços alternados, diferentes, extrovertida [...] (A12)

A característica mencionada pelos alunos da escola A para justificar porque a professora os ajuda a aprender foi também citada por nove alunos da escola B, ou seja, do mesmo modo, eles veem o “explicar bem, repetidamente” como a ajuda que necessitam para aprender. Porém, os participantes dessa escola mencionam outros elementos que valorizam na professora: a paciência, o “querer bem” aos alunos, a demonstração de que ela “gosta do que faz”, o interesse

pelos alunos, a relação de proximidade com eles, a disponibilidade em ajudá-los a esclarecer suas dúvidas, o modo com que explica a matéria, o compromisso com o ensino, “pegando no pé” e sendo “exigente” para que eles aprendam:

Sim, é seu dever fazer isso mais não acho que ela se sinta obrigada ela também ensina porque ela gosta e eu acho isso legal e a aula fica mais gostosa e interessante. (B3)

Sim, porque ela gosta do que faz. (B12)

Sim, porque ela se enteressa com os alunos e eu quero que ela seja nossa professora para sempre. (B4)

[...] quando nos não entendemos ela vem na mesa ou nos vamos na mesa dela. (B9)

[...] ela explica usa exemplos e procura nos ensinar cada vez mais. (B10) [...] quando tenho duvidas ela me ajuda. (B16)

Sim ela me ajuda, ela me explica quando não entendo e pega no meu pé para mim aprender. (B11)

Muito. Ela é muito esigente para nois aprender. (B14)

Leontiev (1988) salienta a importância do papel da escola e do professor no processo de mudanças de motivos dos alunos. Verificamos, por meio das falas apresentadas, que a relação afetuosa, de proximidade, de interesse pela aprendizagem do aluno, pode ser um estímulo positivo, uma motivação para a aprendizagem, e se configura como elemento de extrema importância na relação que os alunos estabelecem com a escola e com o conhecimento. Consideramos que a motivação dos alunos para aprender, gerada, em princípio, pelo sentimento de afeto e empatia pelo professor (motivo-estímulo), pode se transformar em motivação geradora de sentido, operando positivamente na atividade de aprendizagem. Ressaltamos, porém, o papel fundamental do professor na produção desses novos motivos, na medida em que ele é responsável por organizar sua atividade de ensino, de modo a favorecer esse processo.

Na mesma linha de pensamento, Charlot (2000), como já mencionado, relata que certos alunos afirmam gostar muito de uma disciplina porque se identificam com o professor, ou justificam que não gostam de estudar certa matéria por não gostarem do docente. O autor conclui que a relação com a matéria escolar está na dependência da relação com o professor e da relação do aluno consigo mesmo. O sentido para a atividade surge na relação harmoniosa entre professor, aluno e objeto de saber, em um espaço intermediário construtivo, de uma prática

de saber (LOMONACO, 2008). Assim, concordamos com Charlot (2009b), que a falta de sentido, por mais enraizada que esteja em uma relação com o mundo, é também efeito das práticas escolares e de seus agentes.

Outra representação que os alunos têm do professor, pôde ser verificada nas respostas de dois participantes à primeira questão do questionário final. A aluna B15 destaca a função do professor como detentor e transmissor de saberes-objeto; para ela, aprender é uma atividade de apropriação de um saber que não possui, mas que está depositado no professor:

Escola é um lugar onde você tira todas as suas dúvidas com um professor. O professor é uma pessoa que te ensina a fazer coisas [...]. (B15)

Diferentemente, a aluna B11 visualiza o professor como alguém que a ajuda a aprender. Percebemos, aqui, a indicação de um aluno que é mais consciente de seu papel de agente no ato de aprendizagem: o professor, para ele não ensina, apenas; ele o ajuda na tarefa de aprender:

Escola é um lugar que é ensinado varias materias, como português, que ajuda a ler e escrever, matemática a resolver problemas no dia-a-dia, e outras como esporte, e outros tipos de aula, e isso tudo é com ajuda de adultos formados nessa profissão. (B11)

Nesta seção do trabalho, analisamos as relações estabelecidas pelos alunos com a escola. Nela, apresentamos as representações que os estudantes têm acerca da escola, e do que nela aprendem. Identificamos diferentes relações epistêmicas que eles estabelecem com o aprender e observamos o valor que os alunos atribuem à dimensão socializante da escola. Averiguamos que a maioria dos alunos pensa a escola em termos de futuro, mais do que de saber, e apontamos os motivos que os levam a gostar dela. Relacionamos o que os alunos gostam de fazer na escola e também o que não gostam. Refletimos sobre o papel que os colegas exercem em relação à aprendizagem dos educandos e, por fim, sobre o papel exercido pelo professor na atividade dos alunos.

Passaremos, em seguida, a analisar as relações que os alunos estabelecem com a língua inglesa.