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Importância do método científico nas decisões judiciais

No documento Direito à saúde baseada em evidências (páginas 138-141)

1. INTRODUÇÃO

1.24 Importância do método científico nas decisões judiciais

Disponibilizar apoio técnico composto por médicos e farmacêuticos para auxiliar os magistrados na formação de um juízo de valor quanto à apreciação das questões clínicas apresentadas pelas partes das ações relativas à saúde, observadas as peculiaridades regionais (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019).

Na I Jornada do Fórum Nacional de Saúde, promovida pelo CNJ, foram aprovados os enunciados 18 e 31 que estabelecem a consulta ao NAT como ferramenta auxiliar e prévia à decisão judicial.

Enunciado nº 31 – “Recomenda-se ao Juiz a obtenção de informações do Núcleo de Apoio Técnico ou Câmara Técnica e, na sua ausência, de outros serviços de atendimento especializado, tais como instituições universitárias associações profissionais etc.”

(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2019).

Se bem colocada a moldura fática pelos operadores do direito, fica mais fácil encaminhar aos NATs a contextualização do problema e a resposta deverá ser rápida, porque não é necessário que que se realizem perícias, mas apenas um adequado parecer sobre o caso concreto. Por sua vez, o profissional do NAT que assinar o parecer, terá seu trabalho facilitado pelos estudos que a ferramenta da MBE possibilita sejam objetivados.

of Medicine. Outras organizações estão começando a usar esses formatos para disseminar revisões críticas na World Wide Web (WWW).

A DOE é uma revisão crítica de um estudo que mostra alteração em um marcador particular da doença, quando determinada intervenção é aplicada. Contudo, esse desfecho específico da doença pode ou não fazer a diferença para um paciente em particular. Por exemplo, está demonstrado que as estatinas diminuem o nível sanguíneo de colesterol. Porém não implica esse fato que essa droga diminui a mortalidade por doença cardíaca. Nesse caso é que entra em cena o POEM, que pode demonstrar correlação entre o uso de estatina e a diminuição de mortalidade por doença cardíaca um dos desfechos que interessa ao paciente mais do que apenas o desfecho orientado para a doença (hipercolesterolemia).

Outro exemplo é determinação do antígeno prostático específico (PSA) para detecção do câncer de próstata. Não cabe mais discussão que o PSA, na maioria das vezes, pode detectar câncer de próstata em estágio mais precoce do que seria detectado pelo exame médico. Assim é uma DOE positiva. Entretanto, ainda não está provado que a detecção precoce usando o teste do PSA, resulta em vida mais longa ou melhora da qualidade de vida para o paciente. Portanto, não é uma POEM positiva.

Outras fontes de evidência são os Clubes de Jornais da Sociedade Americana de Medicina Interna e do Colégio Americano de Médicos Publicados pela revista científica Annals of Internal Medicine e a Biblioteca Cochrane mantida pelo Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido. A próxima etapa para o uso futuro da MBE no processo de decisões médicas é tornando as evidências mais facilmente disponíveis à beira do leito. Isso tem sido tentado mantendo um computador conectado a uma fonte de MBE próximo ao leito do paciente e usado nas corridas de leito pelos médicos. Atualmente, assistentes digitais pessoais e outros equipamentos com base de dados conectados a eles têm sido utilizados para complementar a transmissão de dados relacionados ao caso do paciente específico (MAYER, 2004).

Direito é uma área na qual é mais difícil conduzir pesquisa empírica do que a medicina ou ciências econômicas. A falta de objetivos compartilhados torna muitas pesquisas irrelevantes como suporte para políticas legais. Pior, ainda, é a tendência política de tratar a ciência social como essencialmente sem sentido. As pessoas interpretam evidência em ciência social de uma forma que as faz defender as que coincidem com suas crenças, abraçando os trabalhos que suportam e rejeitando os trabalhos que são contrários às crenças.

O cenário parece relegar estudos legais empíricos que ficam restritos às discussões internas entre membros de grupos interessados, sem repercussão externa. Ademais a regulação legal não é sempre construída não sendo isenta do reflexo das influências políticas.

Agências administrativas e o corpo congressional são consumidores pesados da ciência e da ciência social, assim como muitos magistrados. Entidades que necessitam não serem subordinadas ao viés eleitoral e que defendem o objetivo profissional de conseguir a ciência podem ser abertas ao trabalho de estudos legais empíricos

Em consequência, o Office of Information and Regulatory Assessment americano solicitou a todas as agências federais para atentarem para os efeitos das leis sobre o mundo real. Porém, mesmo com a expansão dos movimentos legais empíricos, o direito baseado em evidências enfrenta muitos obstáculos. Estudos empíricos de fenômenos sociais importantes nem sempre trazem respostas claras devido às propostas conflitantes de muitas regras legais e a mensagem de estudo empírico frequentemente contrasta com crenças políticas sedimentadas, minando suas influências. Todavia, como os legisladores e governantes continuam expostos a maneiras de pensar sobre questões legais empíricas, pelo menos em alguns grupos, o direito baseado em evidências poderia começar a emergir como fenômeno social real.

A importância dos testes clínicos para a aprovação dos novos medicamentos é uma característica compartilhada com a indústria biotecnológica que as diferencia de outras indústrias: como ressaltado anteriormente, os mecanismos de seleção de inovações são altamente regulados e nenhuma inovação chega às estruturas de assistência médica sem antes passar por esses testes e pelas instituições de regulação. Para esses testes, os centros acadêmicos médicos e hospitais são importantes, buscando interação entre as instituições de regulação e as escolas médicas).

Evidências problematizando que as inovações tecnológicas seriam exclusivamente encarecedoras da assistência médica estão disponíveis na literatura. Documento da OCDE deixa em aberto essa questão, apresentando dúvidas “se as novas tecnologias são parte do problema, parte da solução ou as duas coisas” (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2016, p. 3).

Comparando os custos repercussões e respectivas demandas por inovações, em vacinas e transplantes pode-se utilizar como ponto de partida a elaboração do biólogo Lewis Thomas (1975), que distingue três estágios de desenvolvimento tecnológico na medicina:

a) No nível mais baixo, “não-tecnologia” (nontechnology), em que os vínculos entre o paciente e a doença são fracamente compreendidos. Pouco pode ser feito pelo paciente, apenas a hospitalização e serviços de enfermaria, com pequena esperança de recuperação (câncer não-tratável, artrite reumatoide severa, esclerose múltipla, cirrose avançada);

b) Um pouco acima, “tecnologias intermediárias” (halfway technology) que incluiriam lidar com a doença e com os seus efeitos incapacitantes depois de estabelecida.

Trata-se de tecnologias que ajustam o paciente à doença e adiam a morte (implantação de órgãos artificiais e transplante, tratamento de câncer por cirurgia, radiação e quimioterapia).

c) “Alta tecnologia”, exemplificada por imunização, antibióticos, prevenção de desordens nutricionais, trata as doenças cujos mecanismos são conhecidos e cujo tratamento ou prevenção é viável (WEISBROD, 1991).

1.25 Resumo: dezessete pontos sobre os sistemas de inovação do setor saúde e consequências

No documento Direito à saúde baseada em evidências (páginas 138-141)