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Núcleos de Apoio Técnico

No documento Direito à saúde baseada em evidências (páginas 110-115)

1. INTRODUÇÃO

1.18 Judicialização da saúde

1.18.6 Núcleos de Apoio Técnico

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério da Saúde em 23.08.2016 assinaram um Termo de Cooperação Técnica que permitiu a criação de um banco de dados com informações técnicas para subsidiar os magistrados de todo o país em ações judiciais na área da saúde. De acordo com dados do Ministério da Saúde, desde 2010 houve um aumento de 727% nos gastos da União com ações judiciais para aquisição de medicamentos, equipamentos, insumos, realização de cirurgias e depósitos judiciais.

De 2010 até julho de 2016, os custos da União totalizaram R$ 3,9 bilhões com o cumprimento das sentenças. Só naquele ano já haviam sido desembolsados R$ 730,6 milhões.

Somados os gastos da União, estados e municípios, a previsão é de que o montante chegue a R$ 7 bilhões em judicialização no ano de 2016. Em 2015 foram gastos R$ 5 bilhões.

Entre 2009 e 2013 os recursos financeiros alocados pelo MS passaram de 3,4 para 5,7 bilhões - aumento de 65,3%. A judicialização da saúde eleva os custos do sistema. Como exemplo, os gastos para fornecimento de medicamentos solicitados pela via judicial. Em 2005 custaram ao governo federal R$ 2,5 milhões; em 2007. R$ 15 milhões e em 2008 R$ 52 milhões de reais. Em 2015, o orçamento para adquirir medicamentos demandados judicialmente por compra direta foi de R$ 1,1 bilhão. (BRAGA; OLIVEIRA; FERREIRA. 2021)

De acordo com o Termo assinado o hospital Sírio Libanês comprometeu-se, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), cerca de R$ 15 milhões em três anos para criar a estrutura do banco de dados, que estará disponível na página eletrônica do CNJ. O banco conterá notas técnicas, análises de evidências científicas e pareceres técnico científicos consolidados, emitidos pelos Núcleos de Apoio Técnico do Poder Judiciário (NATJus), pelos Núcleos de Avaliação de Tecnologia em Saúde (NATS), pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (CONITEC), além de informações da biblioteca do Centro Cochrane do Brasil (instituição sem fins lucrativos) e outras fontes científicas (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2022).

Os Núcleos de Apoio Técnico (NATs) são compostos por profissionais das áreas médica, farmacêutica, assistência social e membros das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. A finalidade dos núcleos é auxiliar os magistrados na deliberação sobre processos envolvendo temas de saúde, manifestando-se sobre registro de medicamento na ANVISA;

eficácia e eficiência do tratamento solicitado; existência de medicamento genérico de menor preço, já fornecido administrativamente pelo SUS; custo efetividade do tratamento. O NAT auxilia o juiz na análise do pedido de liminar ou do pedido principal. Além dessas funções o NAT auxilia no cumprimento das decisões judiciais, devido a dificuldades e obstáculos muitas vezes criados pelos demandados, na facilitação da defesa dos entes públicos, na simplificação do atendimento de demandas na defensoria pública, na facilitação da celebração de acordos e na contribuição para produção de provas com participação em audiências e emissão de pareceres.

Com o objetivo de capacitar os profissionais da área médica que compõe os Núcleos de Apoio Técnico do Poder Judiciário – NATJus (criado pela Resolução 238/2016), destinados a subsidiar os magistrados com informações técnicas, o Conselho Nacional de

Justiça e o Ministério da Saúde celebraram o Termo de Cooperação n. 21/2016, cujo objeto é proporcionar aos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Tribunais Regionais Federais, subsídios técnicos para a tomada de decisão com base em evidência científica nas ações relacionadas com a saúde, pública e suplementar, visando, assim, aprimorar o conhecimento técnico dos magistrados para solução das demandas, bem como conferir maior celeridade no julgamento das ações judiciais.

O sistema e-NATJus é uma ferramenta desenvolvida pelo CNJ para servir de banco de dados de pareceres e notas técnicas dos NATJus dos tribunais brasileiros, e também tem a função de centralizar o trânsito de dados a respeito das solicitações e emissões desses pareceres, lastreados em medicina baseada em evidências, cujo objetivo é auxiliar os magistrados na prolação de decisões nas demandas pertinentes ao direito à saúde. Em outras palavras, o objetivo do e-NATJus, cadastro nacional de pareceres, notas e informações técnicas, é dar ao magistrado fundamentos científicos para decidir se concede ou não determinado medicamento ou tratamento médico a quem aciona a Justiça.

O sistema e-NATJus está a serviço do magistrado para que a sua decisão não seja tomada apenas diante da narrativa que apresenta o demandante na inicial. Com a plataforma digital, essas decisões poderão ser tomadas com base em informação técnica, ou seja, levando em conta a evidência científica, inclusive com abordagem sobre medicamentos similares já incorporados pela política pública, aptos a atender o autor da ação sem a necessidade de se buscar o fármaco requerido, mas ainda não incorporado pelo sistema:

a) objetivo: criar banco nacional de dados para abrigar pareceres técnico-científicos e notas técnicas elaboradas com base em evidências científicas na área da saúde, emitidos pelos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário (NATJus) e pelos Núcleos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (NATS);

b) finalidade: reduzir a possibilidade de decisões judiciais conflitantes em temas relacionados a medicamentos e tratamentos; concentrar em um único banco de dados notas técnicas e pareceres técnicos a respeito dos medicamentos e procedimentos; facilitar a obtenção de dados estatísticos pelos agentes (médicos, juízes, advogados, etc.) que atuam e acionam o sistema, permitindo a obtenção de relatórios circunstanciados sobre os vários temas da judicialização da saúde; e prevenir a judicialização da saúde, já que disponibilizará publicamente os pareceres e notas técnicas, evitando a formalização de pedidos cujos tratamentos não são recomendados;

c) desafio: ganhar a adesão e a confiança dos magistrados e atender a contento as demandas em termos de conteúdo e tempo, estabelecendo uma ferramenta útil e confiável para sistematizar as Notas Técnicas e Pareceres Técnicos-Científicos.

d) nota técnica (NT): é um documento de caráter científico, elaborado pela equipe técnica dos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário (NATJus), que se propõe a responder, de modo preliminar, a uma questão clínica sobre os potenciais efeitos de uma tecnologia para uma condição de saúde vivenciada pelo indivíduo. A NT é produzida sob demanda, ou seja, após a solicitação do juiz como instrumento científico para auxílio da tomada de decisão judicial em um caso específico;

e) parecer técnico-científico (PTC): é, também, documento de caráter científico, elaborado pela equipe técnica dos Núcleos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (NATS), por força do Termo de Cooperação n. 21/2016, que se propõe a responder, de modo objetivo e com base nas melhores evidências científicas disponíveis, a uma questão clínica sobre os potenciais efeitos (benefícios e riscos) de uma tecnologia para uma condição de saúde. O PTC pode resultar em: (a) conclusões suficientes para indicar e embasar cientificamente o uso de uma tecnologia; (b) conclusões suficientes para contraindicar seu uso; (c) apenas identificar que as evidências disponíveis são insuficientes (em termos de quantidade e/ou qualidade) e sugerir que recomendações, para seu uso ou não, não podem ser levantadas considerando o conhecimento atual;

f) relação de pareceres técnicos-científicos disponíveis no sistema E-NATJus.

Provimento n. 84/2019 da Corregedoria Nacional de Justiça que Dispõe sobre o uso e o funcionamento do Sistema Nacional de Pareceres e Notas Técnicas (e-NATJus), em especial a ferramenta NATJus Nacional, bem como as formas de cadastro e acesso;

g) elaboração de Enunciados: estes contemplam resumos de práticas de sucesso e sugerem aos diversos atores do sistema judicial e do sistema de saúde;

h) edição de Cartilhas: alguns Comitês Estaduais do Fórum de Saúde passaram a editar cartilhas com síntese de pensamentos sobre o tema da saúde. Por exemplo, o Comitê do Rio Grande do Norte elaborou cartilha sobre oncologia no SUS, contendo informações sobre:

 política de dispensação de medicamentos oncológicos no SUS;

 eventos cobertos pela Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO);

 estrutura e organização da rede de atenção oncológica;

 credenciamento de clínicas e hospitais conveniados;

 protocolos e diretrizes terapêuticas do SUS;

 formas e procedimentos de pagamento pelos serviços prestados aos beneficiários do SUS, na área oncológica;

 oncologia e a Lei 12.732/2012;

 dispensação centralizada de medicamentos na área oncologia;

 termos técnicos utilizados em oncologia;

 mutirões de conciliação na área da saúde – processos específicos ou com pedidos idênticos são levados para tentativa de conciliação entre as partes envolvidas. Câmaras de conciliação podem ser criadas para atuar na resolução de problemas de saúde pública e também de saúde suplementar, inclusive previamente ao ajuizamento da ação judicial. Caso não se consiga a conciliação o juiz pode proferir decisão liminar ou definitiva na própria audiência;

i) especialização de varas de saúde pública: o CNJ faz recomendação aos tribunais dos Estados e aos Tribunais Regionais Federais para especialização de varas para processar e julgar processos cujo objeto tenha sido saúde pública e priorizar julgamento de processos relativos a demandas de saúde suplementar. O CNJ recomendou, ainda, sugerir à Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento (ENFAM) e ao Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores do Poder Judiciário (CEAJUD) do próprio CNJ, a inclusão do direito sanitário como disciplina obrigatória em concursos públicos de ingresso na magistratura e nos cursos de formação, vitaliciamento e aperfeiçoamento (Recomendação CNJ, nº 31, 2010).

j) jornada de Direito à Saúde do CNJ: com a finalidade de reunir autoridades das áreas da saúde e do direito para debater a judicialização da saúde, uniformizar entendimentos e auxiliar as decisões dos agentes de saúde e dos integrantes do sistema de saúde foram realizadas entre 2014 e 2019 três jornadas de direito à saúde pelo CNJ nas quais foram produzidos, aprovados e/ou modificados enunciados interpretativos que são reproduzidos abaixo.

Os enunciados apontam para a necessidade de se ampliar e fortalecer o diálogo entre os agentes públicos responsáveis pela concretização do direito fundamental à saúde. A atuação isolada do sistema de justiça e do sistema de saúde trava o progresso almejado pela sociedade. Operadores do direito e gestores de saúde precisam discutir e analisar, em conjunto, os fatores técnicos externos à teoria jurídica e, por isso, o conhecimento médico com base científica precisa ser observado na análise do processo judicial sobre o tema da saúde.

No documento Direito à saúde baseada em evidências (páginas 110-115)