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6. Método

6.2. Instrumentos e procedimentos

Incialmente foi realizado um momento de contato e exploração com os materiais produzidos pelas ONGs que tratam da temática das mudanças climáticas, tendo foco direcionado para os canais de divulgação de cada organização envolvida no trabalho. Este 15

momento não seguiu critérios fixos ou um roteiro pré-estabelecido, mas teve por base o objetivo de me familiarizar com as principais estratégias de comunicação utilizadas pelas ONGs, com foco especial em reconhecer aquelas estratégias que se fazem comuns para as diferentes organizações, permitindo uma maior familiarização com o campo. Nesse sentido, a estratégia foi inspirada em uma análise documental – com o conceito de documento 20

extrapolando a definição mais tradicional, indo além de textos escritos e abarcando qualquer forma de conteúdo produzido e divulgado nas diferentes plataformas, estando vinculado a uma noção de uma fonte de informação, que traz um conteúdo que elucide os questionamentos da pesquisa (Figueiredo, 2007, como citado em Sá-Silva et al., 2009).

O trabalho de Miranda (2017), realizado em nosso grupo de pesquisa sob minha co- orientação, se coloca como uma etapa inicial deste objetivo, embora não estivesse voltado especificamente para vídeos produzidos por ONGs. O trabalho teve como propósito investigar a linguagem audiovisual como estratégia de comunicação das mudanças climáticas, tendo como uma das fontes os vídeos que foram produzidos por ONGs e disponibilizados em canais 5

virtuais.

Após esse momento de familiarização com o campo, segui para o contato mais direto com os participantes, com a realização de entrevistas. A preparação para as entrevistas partiu dos convites iniciais que eram feitos aos possíveis participantes. Nesses convites, feitos por e- mail, foram apresentados os objetivos do trabalho, os aspectos éticos envolvidos na 10

participação (como o anonimato), os motivos pelos quais considerei a participação dele ou dela no estudo, bem como detalhes sobre os formatos em que se daria essa participação.

As entrevistas tiveram como intuito investigar, por meio de um contato direto com os participantes, aspectos como: características pessoais dos participantes vinculadas à sua atuação, pontos importantes do trabalho da sua organização no trato com o tema das 15

mudanças climáticas, o papel da comunicação em sua atuação (bem como de sua ONG), explorando também fatores que fossem, a partir do ponto de vista do participante, vinculados ao conceito de mudanças climáticas. Além disso, abriu espaço também para que fosse explorado como estes participantes percebem a atuação de suas organizações para a construção de um maior engajamento público com a causa. Decidi realizar uma consulta 20

direta aos participantes para permitir um contato mais autêntico no levantamento de demandas, expectativas e problemas que pudessem fazer parte do seu trabalho cotidiano – como exploram Carneiro e Caneparo (2010), em proposta metodológica semelhante.

A etapa teve como base a realização de entrevistas com representantes das ONGs previamente selecionadas. De acordo com Duarte (2004):

Entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados (...), elas permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa sua realidade. (p. 215)

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As entrevistas seguiram uma proposta semiestruturada, tendo como disparadores pontos e temas previamente selecionados. De acordo com a proposta semiestruturada, a entrevista não se caracterizou por seguir um roteiro fixo, mas manteve um constante princípio de abertura que possibilitou aos participantes terem espaço para invocar pontos de vista que 10

não haviam sido antecipados por mim, em um formato relativamente aberto que permitiu coletar reações e interpretações aos tópicos investigados (Hopf, 2004). Considerando ainda o papel que as experiências dos participantes têm, como fatores de influência em suas atuações ao comunicar sobre mudanças climáticas, a adoção de entrevistas semiestruturadas reafirma a importância do discurso como representante da experiência (Diniz, 2015).

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O roteiro da entrevista, que mesclou aspectos de uma entrevista focal com uma proposta narrativa, teve o processo de construção abarcado em dois momentos principais: no momento inicial, tendo como base o aprofundamento teórico tanto na área das mudanças climáticas, como em relação à atuação de ONGs ambientalistas no Brasil; seguido de um segundo momento de contato mais direto com o campo.

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Para o primeiro momento, também foram consultados estudos da área e do meu próprio grupo de pesquisa. De início, a primeira pergunta do roteiro de entrevista, que buscava compreender melhor quem eram aqueles com quem estava conversando, se inspirou na estratégia usada por Fisher (2016), ao investigar a história de vida de jovens ativistas climáticos. Deste estudo, adotei o caráter narrativo ao buscar explorar a trajetória dos 25

participantes por meio da narração de sua própria história – “me conte a história de como você chegou a se envolver com as organizações não governamentais e com a pauta climática”. A proposta narrativa foi aqui adotada por dar a liberdade aos participantes de elencarem, a partir de seu próprio ponto de vista, quais os momentos e aspectos que se destacaram durante sua trajetória e que os levaram a ocupar os espaços em que se encontram atualmente, além de 5

contribuir para ser um momento mais fluido e confortável – especialmente tendo em vista ser a primeira questão da entrevista, essencial para o estabelecimento de uma boa relação durante a conversa.

A consulta a Barros (2011) e Cavalcanti (2014) resultou em inspiração para uma das questões direcionadas para a comunicação das mudanças climáticas, ao adotar um caráter 10

“projetivo”; o caráter imaginativo da questão também foi inspirado em Pinheiro e Farias (2015). Foi solicitado ao entrevistado que se imaginasse em um contexto em que estivesse atuando como comunicador do tema, no qual deveria apresentar uma definição do que são as mudanças climáticas. Assim como naqueles trabalhos, a questão adotando um viés projetivo facilitou a elaboração da resposta por parte dos respondentes, incluindo aspectos contextuais 15

que possivelmente não seriam levados em conta em um formato de pergunta mais direta e objetiva.

Como parte integrante das entrevistas, também inspirado em Pinheiro e Farias (2015), foi solicitado aos participantes que indicassem uma peça comunicacional que fosse considerada por eles como um modelo de comunicação eficiente sobre mudanças climáticas. 20

Foi deixado livre para o participante escolher o formato dessa peça comunicacional (campanha, slogan, artigo, vídeo, entre outros), bem como tendo a possibilidade de escolher um material que fosse fruto, ou não, do seu trabalho e/ou de sua organização.

Esta etapa do estudo teve como objetivo explorar aspectos da comunicação das mudanças climáticas a partir da análise de materiais que foram construídos com este intuito, 25

investigando também pontos que os participantes trouxeram como integrantes essenciais de uma comunicação eficiente. Seguindo os objetivos de melhor entender a comunicação das mudanças climáticas, considerando suas limitações e potencialidades, a solicitação de um material concreto possibilitou explorar uma visão mais prática dos participantes em relação a uma comunicação eficaz – indo além de uma discussão teórica e de uma mera idealização 5

abstrata.

A indicação dos materiais, bem como a indicação de outros possíveis entrevistados (como foi explicado anteriormente), foi sinalizada no convite inicial endereçado aos participantes. Com esta demanda em mente, na seção final das entrevistas retomei esta indicação aos entrevistados, momento em que apresentavam os materiais e justificavam suas 10

escolhas.

Em um segundo momento de elaboração das entrevistas, fui além da teoria e das consultas às referências bibliográficas, com a minha participação no Fórum Social Mundial (FSM) de 2018, que teve implicações importantes para o estudo – experiências de imersão em um campo com diversas ONGs, participação em diferentes atividades, conversas com ativistas 15

ambientais, climáticos, sociais. Somando-se a estes momentos, o próprio ambiente do Fórum, por si só, já trouxe impactos diretos em mim – e, por consequência, no momento de construção deste estudo. A minha vivência no Fórum está relatada como diário de campo no Apêndice B.

Foi realizada também uma entrevista piloto (melhor descrita na próxima seção) para 20

avaliar a sequência e pertinência das perguntas, bem como da fluidez da mesma. A versão inicial do roteiro de entrevista teve sua estrutura reformulada com o acréscimo de aspectos que anteriormente não haviam sido considerados. As etapas de construção da estrutura da entrevista, bem como os momentos de contato com o campo e a realização do piloto resultaram na versão final do roteiro, que pode ser consultado no Apêndice A.

Por fim, foi assegurado aos participantes a minha disponibilidade como pesquisadora para fornecer esclarecimentos e tirar quaisquer dúvidas que surgissem no momento da entrevista ou na posterioridade. Da mesma forma, ao final da entrevista também assegurei minha disposição e desejo de realizar uma devolutiva no momento de conclusão do meu estudo, em formato e momento que melhor se adequasse.

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6.2.1. Estudo piloto

Para conferir uma maior segurança no que se refere à estratégia metodológica utilizada, foi realizada uma entrevista piloto que abarcou a testagem e ensaio da entrevista em diferentes aspectos: desde o contato inicial e o convite por e-mail, a estrutura da entrevista e 10

solicitação das indicações, até aspectos de ordem mais técnica, como as ferramentas para realização e gravação da entrevista online.

Quanto ao conteúdo, o piloto teve como objetivo testar o roteiro da entrevista avaliando a pertinência e sequência das perguntas, dimensionar o tempo e a adequação dos critérios de inclusão dos participantes. Ademais, em se tratando de um método que foi 15

baseado em uma entrevista não presencial, com vínculo formado de maneira on-line e tendo suporte de ferramentas virtuais, o piloto foi uma etapa essencial para a verificação da adequação dos instrumentos e da viabilidade da construção dos dados no meio virtual.

Após a realização dessa entrevista, foram realizadas algumas adaptações quanto às ferramentas de gravação, sendo incluído adicionalmente à gravação de vídeo um recurso para 20

gravação exclusiva de áudio. Apesar de não terem sido necessárias mudanças quanto ao conteúdo das perguntas realizadas, foram feitos ajustes no que se refere aos disparadores de algumas questões específicas, bem como adequações na ordem das perguntas, no intuito de dotar uma maior fluidez à entrevista.

Para a análise da entrevista, foi considerado o conteúdo abordado e trazido pelo participante, mas sendo evidenciados dois fatores de influência importantes: os momentos de interrupções, tanto da minha parte, como entrevistadora, como por parte do participante (que foram feitos com o propósito de clarificar e/ou adequar perguntas) e a vinculação prévia com o participante – que apesar de cumprir os critérios de inclusão, faz parte da mesma 5

organização em que atuo, podendo assim incluir elementos não previstos que iriam enviesar os dados. Assim, ainda que a entrevista tenha sido produtiva no que se refere tanto ao formato como ao conteúdo, e não tenham sidos necessários grandes ajustes para o modelo final que foi utilizado com os demais participantes, esse material não fez parte do conjunto final de dados analisados neste estudo.

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Além dos pequenos ajustes sofridos no roteiro da entrevista após o piloto, dado o caráter aberto da entrevista e o contínuo crescer e aprender durante o fazer, a realização das entrevistas foi sempre acompanhada da liberdade de serem realizados ajustes e adequações para uma maior fluidez e dinamicidade. Considerando que era fundamental manter um clima de conforto e descontração durante as entrevistas, tomei a liberdade de alterar a ordem das 15

perguntas, adequar os disparadores e ainda me aprofundar em certas questões ou devolver respostas e/ ou reações (que serão melhor discutidas posteriormente) – que não eram feitas exatamente da mesma forma em todas as entrevistas.

6.2.2. Entrevistas em ambiente virtual 20

No que se refere à execução das entrevistas de forma virtual, foi anunciado anteriormente que o presente estudo buscaria também explorar a viabilidade desta estratégia metodológica. Segundo estudos da área, a maior dificuldade na realização da coleta e construção de dados no ambiente virtual é a dificuldade, ou até impossibilidade, de se alcançar uma comunicação rica, interativa e espontânea, pela insuficiência de pistas 25

transmitidas, como entonação de voz, expressões faciais e demais aspectos da comunicação não-verbal (Mann & Stewart, 2005). Entretanto, pela estratégia aqui utilizada, com as entrevistas sendo realizadas com acesso a áudio e vídeo para os dois lados participantes, houve informações suficientes (tanto verbais como não-verbais) para que fosse possível estabelecer uma boa relação com os entrevistados. Cuidados especiais foram necessários no 5

que se refere aos aspectos técnicos envolvidos, sendo parte do processo de preparação para as entrevistas a verificação da velocidade e estabilidade da internet bem como dos programas utilizados tanto para a realização da entrevista, como para a gravação das mesmas.

A construção de dados deste estudo foi realizada com base nos recursos metodológicos citados e discutidos até agora, em contato direto e individual com cada participante. O contato 10

inicial se dava por e-mail, no qual era feito o convite para a participação na pesquisa, acompanhado do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após esse contato inicial e agendamento de um horário, era realizada a entrevista por uma das plataformas utilizadas (Skype ou Google Hangouts). A entrevista se iniciava pela questão disparadora voltada para a apresentação e história de vida do participante, o que além de possibilitar um 15

melhor encadeamento para as questões posteriores, permitia que a entrevista ganhasse um tom de conversa, mais confortável e dinâmica.