• Nenhum resultado encontrado

6. Método

6.1. Participantes

15

O presente estudo teve como foco a atuação de organizações não-governamentais no cenário brasileiro no que se refere a um trabalho voltado para a questão das mudanças climáticas. As ONGs incluídas foram representadas neste estudo por trabalhadores (assalariados ou voluntários) das organizações, que possuíam experiência atuando dentro do contexto das mudanças climáticas e exercendo atividades que envolvessem a comunicação 20

sobre o tema. Desta forma, no contato com os participantes era explorados tanto aspectos de sua atuação individual, como de uma atuação em nome de sua organização.

Para a seleção das ONGs abarcadas no estudo, tive como ponto de partida a consulta ao site do Observatório do Clima – rede que reúne organizações da sociedade civil que tenham como objetivo discutir sobre as mudanças climáticas no contexto brasileiro. 25

Somando-se a isto, minha inserção prévia no campo de atuação foi um aspecto importante nesta etapa de seleção e contato com participantes, por possibilitar acesso a organizações e pessoas com atuação de destaque na área.

A partir destes meios disparadores para contatos, os participantes seguintes vieram como resultado de indicação dos entrevistados. Em proposta inspirada em Pinheiro e Diniz 5

(2013) e Diniz (2015), as indicações foram realizadas por meio de avaliação dos pares, buscando alcançar aqueles participantes que se destacam por uma atuação comprometida e reconhecida pelos demais. Nesse sentido, a avaliação por pares

é uma estratégia que se baseia no senso comum, pois as avaliações são feitas espontaneamente e sem o uso de critérios técnicos (como os que usamos em âmbito 10

acadêmico) e se aproxima do comportamento manifesto, visto que as pessoas são expectadoras das ações praticadas pelos companheiros e as utilizam como critérios em sua avaliação (Diniz, 2015, pp. 94).

A escolha dos participantes foi, também, baseada em um critério de seleção por conveniência, não existindo neste estudo objetivos de generalização explícita dos resultados 15

para além do grupo de ONGs estudado. Aspectos sociodemográficos como idade, gênero ou localização dos participantes não foram considerados como critérios de inclusão e/ ou exclusão. Demais decisões em relação ao grupo de participantes foram sendo tomadas ao longo do processo da pesquisa, chegando ao seu número final seguindo o critério de saturação teórica – a ser mais bem discutido em seguida.

20

6.1.1. Análise de saturação teórica

Diferente da amostragem calculada e representativa da população característica de uma pesquisa quantitativa, em estudos de natureza qualitativa existem diferentes critérios para

a definição do tamanho do grupo de participantes, que variam a depender dos objetivos propostos e das perguntas a serem respondidas.

Aqui, como mencionado anteriormente, foram pré-definidos alguns critérios para a seleção dos participantes que iriam compor o corpo do estudo – critérios que se referiam a suas experiencias e a suas áreas de atuação. Porém, ainda que houvesse alguns critérios 5

disparadores, não foi estabelecido a priori a quantidade de participantes ou de entrevistas a serem realizadas; ainda, esperou-se que no contato com o campo e no processo de realização das entrevistas, houvesse uma melhor compreensão dos demais critérios e sinalizadores que indicassem o momento em que deveria interromper a busca por mais participantes e assim, encerrar as entrevistas. Seguindo esse processo, o critério adotado foi o de fechamento por 10

saturação teórica, no qual se suspende a busca e inclusão de novos participantes ao se considerar que os dados e materiais obtidos até esse momento passam a apresentar uma certa redundância, tornando irrelevante seguir (Fontanella, Ricas, & Turato, 2008; Falqueto & Farias, 2016).

Visando a evitar a utilização da saturação teórica de maneira acrítica ou 15

excessivamente subjetiva, foi realizada a avaliação da saturação teórica inspirada no modelo de Fontanella et al. (2011). De acordo com a estratégia utilizada, o acompanhamento da saturação teórica seguiu uma dinâmica em que cada entrevista foi seguida por sua respectiva análise, na qual foi feita uma primeira exploração em relação aos conteúdos que ali emergiam e as respostas que se apresentavam como novas ou recorrentes.

20

Desta forma, a Tabela 1 indica as categorias centrais das respostas dos participantes (a serem discutidas em seção posterior) que emergiram durante as entrevistas, os momentos em que surgiram como novas ou se repetiram, bem como o ponto a partir do qual cessaram de surgir novas respostas significativas.

Tabela 1

Saturação teórica das respostas coletadas

Categorias Entrevistas

E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11

Desafios 3 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0

Caminhos 3 1 0 0 1 0 1 1 0 0 0

A Tabela 1, baseada no modelo de Falqueto e Farias (2016), apresenta a saturação teórica referente às categorias vinculadas aos desafios da comunicação climática e aos 5

caminhos apontados pelos entrevistados. Nela, a numeração indica a quantidade de novos anunciados que se manifestaram nas entrevistas, no qual “0” (zero) indica que não foi encontrada nenhuma nova informação na respectiva entrevista. Após encontrado o ponto em que novas respostas significativas pareciam não mais emergir (entrevista E9), foram realizadas mais duas entrevistas para dar uma maior margem de segurança. O código referente 10

a cada entrevista apresentado na tabela (E1 a E11) será adotado a partir de agora para me referir aos entrevistados, seguindo a ordem cronológica na qual as entrevistas ocorreram. A coluna “Categorias” será melhor aprofundada mais adiante em Análise de dados (tópico 6.3) e Resultados e Discussão (7).

15

6.1.2. Caracterização dos participantes

Colaboraram neste estudo 11 participantes, sendo 7 homens e 4 mulheres, com idades variando entre 25 e 49 anos. A estratégia metodológica utilizada permitiu uma maior facilidade no acesso aos participantes ao não ter a localidade dos mesmos como um fator de interferência negativa; assim, existiu uma certa variação no que se refere à localidade dos 20

entrevistados, mas sendo representada principalmente por São Paulo e Brasília – espaços representativos do polo econômico e político do país, portanto sendo sede também das ONGs aqui englobadas.

Dentre os 11 participantes, seis se encontravam na faixa etária abaixo dos 30 anos – idade limite, segundo critérios da ONU, que os coloca como pertencentes à população jovem (entre 15 e 29 anos). Este dado se torna relevante ao considerarmos o crescente movimento internacional de jovens ativistas climáticos e do emergente reconhecimento da juventude nas políticas de mudanças climáticas (Fisher, 2016), o que será aprofundado em Resultados. 5

Foi deixado claro para os participantes, desde o contato inicial, o caráter voluntário da participação na pesquisa, bem como a alternativa de que poderiam retirar sua participação do estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Para assegurar os pressupostos éticos, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP – UFRN), tendo sido aprovado pelo parecer de número 2.705.054.

10