• Nenhum resultado encontrado

3. Um recorte da questão ambiental: as mudanças climáticas

3.1. Mudanças Climáticas

As Mudanças Climáticas (MCs), fenômeno também conhecido por aquecimento global (AG), vêm se tornando assunto cada vez mais discutido em diferentes esferas. A Revolução Industrial pode ser colocada como o marco histórico que sinaliza o início das atividades que culminaram na atual conjuntura do planeta. Foi a partir daquele momento que a 5

sociedade começou a se organizar com base em um modelo de civilização do desenvolvimento que emprega o uso dos recursos de forma pouco solidária e pouco sustentável (Held, 2001).

Assim, com uma maior industrialização e maior exploração dos recursos naturais, vem à tona, gradativamente, a discussão acerca dos impactos dessas atividades – na qual se inclui a 10

discussão acerca das mudanças climáticas. Historicamente, o debate se deu em volta da conjunção de fatores que estariam gerando e agravando as mudanças climáticas, buscando responder: há uma interferência das ações humanas no quadro climático? Se sim, qual seria seu real peso? Ou se trata de um fenômeno estritamente natural e próprio da constituição do planeta – no qual não teríamos influência, seja para agravá-lo e/ ou para mitigá-lo?

15

Atualmente, apesar de não haver um consenso absoluto sobre as causas das mudanças climáticas, bem como do peso das ações humanas, essa polarização de ideias já não assume uma posição tão central nos debates. Com o desenvolvimento do fenômeno, assim como a progressiva realização de estudos e pesquisas na área, indica-se que 97% dos cientistas climáticos concordam que as mudanças climáticas são agravadas pelas ações humanas – o 20

chamado “aquecimento global antropogênico” (Cook et al., 2013; Australian Psychological Society, 2016); posição também defendida no presente trabalho. Tal concordância entre os cientistas da área se torna uma ferramenta fundamental na mitigação das mudanças climáticas, considerando que o grau de consenso é um elemento essencial para o apoio público a políticas direcionadas ao clima; ainda, comunicar esse consenso surge com uma via de acesso à 25

aceitação das pessoas em relação ao fenômeno (Cook et al., 2013). Em concordância com este posicionamento, o mais recente relatório do IPCC (o IPCC Special Report on Global Warming of 1.5°C) compreende as ações humanas como tendo uma parcela significativa de participação no aumento aproximado de 1ºC na temperatura média do planeta comparada aos níveis pré-industriais, com uma variação média de 0,8 a 1,2ºC, e com projeção de alcançar os 5

1,5ºC entre 2030 e 2052, caso se mantenha o ritmo de aumento.

De modo geral, então, as mudanças climáticas são compreendidas hoje como um fenômeno que vem como resultado de um conjunto de fatores, incluindo as variações climáticas naturais e próprias do planeta, mas que vem sendo agravada por fatores antropogênicos, especialmente após a Revolução Industrial. Tais elementos, em conjunto, 10

contribuem para o aumento do chamado Efeito Estufa – fenômeno de origem natural que permite o aquecimento da superfície terrestre e assim o desenvolvimento da vida (Casagrande et al., 2011) – que passa a ser agravado, especialmente pela maior concentração dos gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). O aumento da concentração dos GEE surge como resultado da intensificação das atividades humanas, 15

especialmente da indústria, transporte, mudança no uso da terra e exploração de combustíveis fósseis, o que deixa cada vez mais evidente a influência humana no problema.

Pelo aumento da temperatura e consequente aquecimento do planeta, as MCs passaram a ser conhecidas popularmente como aquecimento global (AG), termo que pode reduzir um fenômeno tão complexo e multifacetado como as mudanças climáticas ao simples aumento de 20

temperatura (Farias, 2017). Por esta redução, o uso dessa nomenclatura passa a ser cada vez menos hegemônico para se referir ao fenômeno.

Tendo como base a própria nomenclatura – mudanças climáticas – entende-se que seus impactos são globais, ou seja, atingem a todas as escalas espaciais indiscriminadamente, não existindo localidade que esteja imune aos seus efeitos, nem sendo possível um enfrentamento 25

de caráter exclusivo por qualquer país (PBMC, 2014). Considerando a abrangência e gravidade das MCs, é crescente o interesse de diversas áreas de conhecimento sobre o tema, merecendo a atenção das ciências humanas e sociais.

O fortalecimento da concordância em torno da influência do fator humano nas origens das mudanças climáticas coincide com uma transição no enquadramento dos debates: o que 5

antes era foco de uma discussão voltada para as ciências ambientais tradicionais (físicas e naturais), atualmente se põe como forte interesse de pautas políticas e econômicas (Casagrande et al., 2011), sendo recorrente em discussões inseridas nas agendas políticas, convenções internacionais e frequentemente abordado pela mídia (Barros & Pinheiro, 2013) e, portanto, também merecendo a atenção das ciências humanas e sociais. A centralidade da 10

pauta na agenda internacional ambiental demonstra um gradativo e urgente aumento no interesse pelo tema, que se justifica principalmente pelos impactos já vivenciados na atualidade (Lima & Layrargues, 2014).

Pensando nesses fatores de impacto, não há como desconsiderar o efeito que uma mudança dessa magnitude irá provocar na forma com que as pessoas ocupam e se relacionam 15

com o espaço (Casagrande et al., 2011). A vida no planeta (incluindo os seres humanos) já sente agora, e irá sentir com intensidade ainda maior no futuro, as consequências das MCs. Segundo o mais recente relatório do IPCC (o IPCC Special Report on Global Warming of 1.5°C), já estamos presenciando agora as consequências de um aumento de 1ºC na temperatura média global comparada aos níveis pré-industriais, como um clima mais extremo, 20

aumento do nível do mar, diminuição do gelo marítimo do Ártico. Em concordância com estas afirmações, a ocorrência de eventos climáticos extremos vem se tornando cada vez mais frequente e com maior intensidade, sendo compreendidas como eventos decorrentes de impacto das alterações climáticas; nesse sentido, o acontecimento de vários furacões em um intervalo de menos de um mês, com intensidades que atingiram as categorias 4 e 5 na escala 25

Saffir-Simpson, são possíveis exemplos extremamente atuais desses eventos (BBC, 2017; Felipe, 2017).

Como projeção futura, um aumento de temperatura global variando entre 1.5ºC e 2ºC traria impactos como aumento médio de temperatura na maior parte das regiões de terra e oceanos e calores extremos na maior parte das regiões inabitadas, fatores que interagem e se 5

somam com a perda de grandes áreas de plantio, um aumento no risco de extinção de espécies, mudanças nos padrões pluviais acarretando chuvas intensas e secas prolongadas, derretimento de geleiras com consequente aumento do nível do mar (IPCC, 2018; Nobre et al., 2016; PBMC, 2014). No que se refere à abrangência das consequências das MCs, até mesmo a geração de energia por fontes renováveis (importante estratégia de mitigação do 10

problema) pode ser impactada, por dependerem das condições climáticas do ambiente e estarem vulneráveis ao fenômeno (Rosa, 2008).

Para além dos impactos à fauna e flora, as mudanças climáticas ameaçam também a saúde e bem-estar humano: o fenômeno traz como consequência sérios impactos nos sistemas humanos, criando refugiados climáticos, aumentando a mortalidade e amplificando a 15

gravidade e frequência de problemas de saúde física e mental (Australian Psychological Society, 2016), como o efeito direto do estresse por calor e problemas respiratórios (Nobre et al., 2016; PBMC, 2014).

Nesse sentido, considerando a abrangência, gravidade e urgência do fenômeno, especialmente o que evolve o ser humano, é necessária uma abrangência do campo de visão, 20

levando em conta os impactos concretos e iminentes das mudanças climáticas aos sistemas humanos, mas também compreendendo seu papel e responsabilidade tanto no estabelecimento do fenômeno como no enfrentamento deste.