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7. Resultados e Discussão

7.4. Por onde seguir?

7.4.3. Molde as mensagens

Considerando-se a variedade de áreas que estão conectadas ao tema das MCs, bem 5

como os diferentes públicos que podem ter relações e interesses em serem abarcados pela comunicação sobre a questão, percebe-se que é muito difícil (se não impossível) conceber uma mensagem ou uma peça de comunicação sobre as MCs que dê conta de toda essa abrangência. Nesse sentido, faz-se necessário compreender quais os objetivos da comunicação climática em seus diferentes contextos, para que assim a mensagem possa ecoar de forma 10

mais efetiva. Como apontado em uma das entrevistas,

Eu acho que uma boa estratégia de comunicação é: o que eu vou conversar, com quem vou conversar, quais as mensagens, a forma de desenhar essas mensagens... É essencial pra qualquer um que quer construir mudanças mais profundas (E4)

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A comunicação climática não existe no vácuo, sem objetivos, sem público e sem um meio. Assim, a ideia de moldar/ modelar a comunicação visando seus objetivos engloba um momento anterior de questionamento e investigação acerca do público com quem se fala e do meio em que esta comunicação irá tomar forma. Um conceito importante trazido pela 20

literatura e que se faz importante neste contexto é a ideia de modelos mentais. Um modelo mental faz referência ao processo de pensamento/ de raciocínio de uma pessoa, ou seja, o modelo pelo qual ocorre a aquisição e compreensão de novas informações (CRED, 2009). Ao se pensar em comunicação climática, este conceito traz importantes colaborações ao provocar, nos atores da comunicação, a levar em consideração o enquadramento no qual as pessoas (ou 25

seja, sua audiência) irão encaixar novas informações. Mais ainda, é necessário considerar que as pessoas tendem a buscar e absorver novas informações que combinem com seus modelos mentais (CRED, 2009), e que, especialmente para o público leigo, é importante que se transmitam mensagens claras, amplas e suficientemente fortes para que possam ser internalizadas de forma mais eficiente (Moser, 2010). Estes pontos reafirmam a importância 5

de que se conheçam o objetivo/ o público/ o meio da comunicação.

Como ponto de partida, tanto a teoria da comunicação em si como as discussões acerca da comunicação das MCs afirmam a importância de se ter em mente para quem se está comunicando: qual o seu público alvo? Com quem você está (ou quer estar) falando?

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Se fosse uma criança me perguntando, se fosse um idoso me perguntando, se fosse um cientista me perguntando, se fosse um jornalista, eu provavelmente responderia de uma forma diferente (...) Eu acho que tem uma preocupação crescente com isso, pelo menos nas ONGs em que eu circulo e converso. E eu acho que a missão de falar com públicos específicos é um trabalho que é fundamental, é o de você conectar com 15

pautas mais concretas do cotidiano e que dialogam mais com as pessoas (E4)

Vai depender de para quem estou explicando, importante saber se já tem alguma base do assunto (público universitário, por exemplo) ou se é a primeira vez que tem contato (E1)

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Assim como se mostra no trecho da fala de E4, a preocupação com os públicos atingidos pela comunicação climática vem aumentando nas ONGs. É um dado relevante de ser mencionado, uma vez que considerar a audiência durante o planejamento da comunicação, ainda que essencial, tem sido um passo historicamente limitado no trabalho de comunicadores 25

(Moser, 2010). Conhecer o público, seus valores, suas demandas e suas preocupações é um passo importante para que se alcance uma comunicação climática eficiente. Pensando nisto, quando se fala de MCs, os comunicadores devem levar em consideração e moldar suas mensagens de uma forma que possam combinar, ou se articular de alguma forma, com o que a audiência possa estar conectada (CRED, 2009).

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Ampliando a visão e indo além da esfera individual, é importante retomar que o público-alvo das mudanças climáticas não se restringe à população geral. Mais ainda, é nos espaços políticos que (ainda) se restringe uma grande parcela de responsabilidade na tomada de decisões quanto ao enfrentamento das MCs. Como apontado durante uma das entrevistas: 10

Não é justo você responsabilizar indivíduos por essa transformação, você precisa da ação de grande escala e de governos e empresas. Então assim, eu não descarto a relevância da ação individual, ela é importante, é um trabalho relevante, mas ele é claramente insuficiente (E4)

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Enquadrar a comunicação visando estes moldes é, também, essencial. Assim como no que se refere à proposta de construir pontes concretas que conectem as MCs a demandas mais imediatas e palpáveis, planejar a comunicação climática de forma que ela se molde a objetivos específicos é um caminho que facilitaria a absorção e inserção da pauta climática nos espaços de tomada de decisão.

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Estando atrelada à discussão voltada para o público, apresentou-se também durante as entrevistas a noção de uma comunicação adaptada sendo pensada com foco no ambiente/ no meio em que ela estaria ocorrendo. Tão importante quanto compreender os objetivos e adequar aos públicos-alvo é entender e escolher o canal certo de comunicação (Moser & Dilling, 2004).

Uma das coisas que eu comecei a fazer, que comecei a pesquisar, é identificar mudanças no discurso, verificando justamente os meios digitais, porque é aí onde a gente consegue a mais ampla gama de atores sociais - você tem mídia, você tem a opinião científica, você tem a população em geral, as celebridades… Todo mundo está 5

nas redes sociais, todo mundo está de alguma forma representado nessa esfera digital (...) Para campanhas isso é essencial, porque quanto mais informações sobre esse universo a gente tem, maior é a nossa chance de influenciar (E6)

O trecho acima exemplifica a discussão trazida na seção 4.2 desta dissertação, que 10

destaca o potencial de transformação que existe nos meios de comunicação, e sua possibilidade de estimular uma autonomia (Caprino, 2016). Tendo em mente este potencial apontado, é interessante perceber pelo trecho trazido acima que a autonomia pode ser gerada na possibilidade que os meios de comunicação (especialmente os que ocorrem via internet) oferecem, ao servirem também de meio para o reconhecimento do campo de atuação. 15

Considerando todo o material que se encontra disponível e de livre acesso na internet, é possível realizar um mapeamento, buscando entender quais pontos necessitam ser mais focados na comunicação climática. Ainda, a estratégia de mapeamento permite um acesso também à medição de impacto de mensagens/ campanhas/ projetos de comunicação das ONGs que já tenham sido aplicados, fornecendo um feedback dos pontos fortes e fracos das 20

estratégias utilizadas.

O que o público tem mais dificuldade de compreender? Quais os conflitos de ideias e interesses que podem estar surgindo nesse momento? Como também apontado anteriormente nas discussões teóricas, o processo de comunicação é compreendido como algo recursivo, sendo o feedback parte integrante da comunicação e seu (re)planejamento.

Por fim, a proposta de moldar a comunicação ao público (seja por suas características, seja pelo meio de acesso a ele) traz novamente a discussão acerca das diferentes esferas sociais envolvidas na questão das MCs. A comunicação climática que tradicionalmente tem como foco a esfera individual precisa abranger suas estratégias de contato para os diferentes públicos envolvidos, especialmente os macroatores sociais. Nesse sentido, uma comunicação 5

climática adaptada para que possa repercutir com diferentes públicos tem o potencial de trazer diferentes audiências para trabalhar em uma coalizão em direção a objetivos políticos em comum; esta tem sido reconhecida como uma escolha estratégica importante (Moser, 2010).

7.4.4. Fale fora da bolha