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Intercorrelações entre as Variáveis Descritivas e os vários Itens do Instrumento de

4. O CASO DA C-ITA: INVESTIGAÇÃO-AÇÃO (PLANIFICAÇÃO, AÇÃO E REFLEXÃO)

4.2. Planificação: Apresentação e Discussão dos Resultados

4.2.10. Intercorrelações entre as Variáveis Descritivas e os vários Itens do Instrumento de

De seguida, apresenta-se uma tabela (cf. Tabela 2) que sumaria as correlações entre as variáveis descritivas - idade, escolaridade, número de anos na empresa, número de anos na função, a formação frequentada nos últimos 5 anos - e os vários itens do instrumento de avaliação da formação.

Neste quadro é importante salientar correlações significativas entre todas as variáveis descritivas. Com exceção das correlações entre a escolaridade e as restantes variáveis (as quais são negativas), todas as outras correlações são positivas.

Assim, de acordo com os resultados do teste de Spearman, podemos concluir que quanto maior a escolaridade dos inquiridos, menores a idade (rsp=-.47, p<.001), o número de anos na

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empresa (rsp=-.45, p<.001), o número de anos na função (rsp=-.38, p<.001) e o número de

formações frequentadas nos últimos 5 anos (rsp=-.47, p<.01).

No que diz respeito à idade, verificamos que uma maior idade está associada a um maior número de anos na empresa (rsp=.66, p<.001) e na função (rsp=.49, p<.001) e a um maior

número de formações frequentadas nos últimos 5 anos (rsp=.33, p<.001).

Também se constata que as pessoas que estão há mais anos na empresa são aquelas que estão há mais anos na função (rsp=.64, p<.001) e que, por sua vez, as que estão há mais

anos na empresa e na função são também aquelas que relatam terem recebido mais formação nos últimos 5 anos (rsp=.45, p<.001; rsp=.31, p<.001).

No geral, as diferentes variáveis descritivas correlacionam-se de uma forma expectável. De salientar o facto de os colaboradores mais velhos e que estão há mais anos na empresa e na função serem aqueles que relatam terem frequentado mais formação nos últimos 5 anos. Serão estes resultados reflexos de um menor investimento na formação inicial dos colaboradores? Ou de um investimento menor em formação nos últimos anos? Ou serão apenas o reflexo da dificuldade dos colaboradores mais velhos em identificar apenas as formações que receberam nos últimos 5 anos? Recordemos que esta variável foi avaliada através de uma questão de carácter retrospetivo e, como tal, a sua resposta está dependente das capacidades de memória individuais, pelo que o número de formações apontado pelos colaboradores mais velhos poderá ter sido sobrestimado devido a dificuldades em distinguir a formação que foi frequentada nos últimos 5 anos da que frequentaram noutros anos. Por este motivo, todos os resultados que envolvam esta variável e todas as hipóteses explicativas que sejam avançadas para os mesmos, devem ter como pano de fundo esta limitação. Esta limitação não invalida, contudo, a utilidade dos dados recolhidos através desta variável na medida em que estes nos ajudam a distinguir quem frequentou mais ou menos formação (ainda que possa não ter sido dentro do limite temporal de 5 anos).

No que diz respeito à associação entre as variáveis descritivas em análise e os diferentes itens do instrumento de avaliação da formação, no geral as correlações não são significativas. As únicas exceções são os itens 1, 3, 7, 11 e 16.

De destacar, desde logo, correlações significativas entre todas as variáveis descritivas, com exceção do número de anos na empresa, e o item 11 (“Estou satisfeito(a) com a função profissional que desempenho”), embora se tratem de correlações baixas. O sentido da correlação é positivo no caso da escolaridade (rsp=.22, p<.05) e negativo no caso da idade (rsp=-

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.22, p<.05), número de anos na função (rsp=-.18, p<.05) e do número de formações

frequentadas nos últimos 5 anos (rsp=-.21, p<.05). Assim sendo, há uma tendência para

colaboradores com maior nível de escolaridade, mais jovens, há menos tempo na função e que frequentaram menos formação nos últimos 5 anos se sintam menos satisfeitos com a função profissional que desempenham.

A que se devem estes resultados? Em primeiro lugar, porque estarão os colaboradores com maior nível de escolaridade, mais jovens e há menos tempo na função mais insatisfeitos? Sabemos que a C-ITA tem, nos últimos anos, admitido um elevado número de colaboradores jovens e com, pelo menos, o 12º ano, existindo inclusivamente colaboradores licenciados a exercer funções de operadores. Tratar-se-ão de colaboradores que desejariam assumir outras funções mas, no contexto económico atual, tiveram que aceitar desempenhar uma função que os satisfaz pouco? Tratar-se-ão de colaboradores que, por serem mais jovens e com mais qualificações, têm aspirações de progredir mais na carreira? Possivelmente, os colaboradores mais velhos e com maior número de anos na função, já tiveram mais oportunidade de progredir até onde desejariam ou, mesmo que não tenham tido essas oportunidades, sentem-se resignados.

Em segundo lugar, como se explica que os colaboradores que relatam ter frequentado menos formação se sintam também mais insatisfeitos com a sua função profissional? Como vimos, parece existir uma estreita relação entre o número de formações frequentadas, a escolaridade e a idade. Os colaboradores mais jovens e com maior nível de escolaridade são os que referem ter frequentado menos formação, de modo que a insatisfação pode não estar necessariamente relacionada com a formação per se, mas com as hipóteses previamente enunciadas. Há no entanto, outras explicações possíveis para estes resultados. Em primeiro lugar, considerando que a frequência de formação pode estar associada a uma maior valorização e envolvimento dos colaboradores (Salas et al., 2012; Pineda, 2010), é natural que aqueles que tenham menos formação se sintam mais insatisfeitos. Em segundo lugar, a insatisfação também pode dever-se ao facto de a falta de formação prejudicar o seu desempenho na função e, eventualmente, a sua possibilidade de progressão. Além disso, uma vez que não sabemos o sentido da relação entre as duas variáveis, temos que considerar a possibilidade de ser a insatisfação com a função a contribuir para um menor investimento em formação, e não o contrário, um pouco na lógica de pensamento “Porquê investir em formação para uma função que não me satisfaz?”.

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Constata-se também existência de correlações negativas entre a formação frequentada nos últimos 5 anos e os itens 1 (“A minha empresa dá importância à formação profissional”) (rsp=-.19, p<.05), 3 (“A minha opinião é tida em conta para a empresa determinar a formação

que eu vou frequentar”) (rsp=-.23, p<.05), 7 (“Os formadores costumam dar exemplos práticos e

exercícios de como aplicar a formação no trabalho”) (rsp=-.21, p<.05) e 16 (“Os meus colegas de

trabalho incentivam-me e ajudam-me a utilizar o que aprendo na formação”) (rsp=-.22, p<.05), o

que significa que quanto mais formação os colaboradores relatam ter frequentado nos últimos anos, mais estes concordam com estas afirmações.

Assumindo que os colaboradores que mais relatam ter frequentado formação tenham efetivamente frequentado mais formação (ainda que possa não ter sido exclusivamente nos últimos 5 anos), a explicação mais evidente para estes resultados parece ser a de que os colaboradores que mais frequentaram formação foram aqueles a quem lhes foram dadas mais oportunidades, pois as suas necessidades formativas foram discutidas com o superior e, nesse processo, a sua opinião foi tida em consideração. Por isso tudo, é natural que vejam a empresa como bastante valorizadora da formação. Por outro lado, tendo frequentado mais formação terão tido mais oportunidade de frequentar formação de cariz mais prático. Já no que diz respeito à perceção de maior apoio por parte dos pares, recordemos que os colaboradores que mais frequentaram formação são também os que estão há mais tempo na função, pelo que é provável que tenham tido oportunidade de estabelecer laços mais fortes com os seus colegas.

Tabela 2 - Resultados do Coeficiente do Correlação de Spearman entre as variáveis descritivas e os vários itens do instrumento de avaliação da formação, N=128.

Variáveis Idade Escolaridade Nº de anos

na empresa anos na Nº de função Nº de formações nos últimos 5 anos Idade Escolaridade -.47*** Nº de anos na empresa .66*** -.45*** Nº de anos na função .49*** -.38*** .64***

Nº de formações últimos 5 anos .33*** -.25** .45*** .31***

Item 1 -.12 .04 -.10 -.10 -.19* Item 2 -.04 .05 -.03 -.09 -.17 Item 3 -.12 .02 -.07 -.05 -.23* Item 4 -.02 -.02 -.08 -.14 -.10 Item 5 .11 -.15 .17 .16 -.02 Item 6 .05 .04 .14 .01 -.06 Item 7 .07 .01 -.09 -.10 -.21* Item 8 -.07 .10 -.08 -.06 -.10

118 Variáveis Idade Escolaridade Nº de anos

na empresa anos na Nº de função Nº de formações nos últimos 5 anos Item 9 -.03 .06 -.01 -06 -.04 Item 10 .03 .06 -.04 -.02 .15 Item 11 -.22* .22* -.06 -.18* -.21* Item 12 -.03 .06 .08 .01 -.05 Item 13 -.08 -.04 .03 .04 .06 Item 14 -.14 .12 -.03 .05 .07 Item 15 -.11 .05 -.02 -.08 -.02 Item 16 -.14 .05 -.07 -.15 -.22* Item 17 -.06 .02 .02 -.03 -.10 Item 18 -.09 -.03 .04 -.05 -.06 Item 19 -.10 -.01 -.05 -.05 -.05 Item 20 -.06 -.03 -.04 -.14 .01 Item 21 -.02 0.1 .16 -.08 -.15 Item 22 .07 -.02 .14 .05 .07 *p<.05; ** p<.01; ***p<.001