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CAPÍTULO II – TEORIA GERAL DOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS

3. Juízo de mérito

O juízo de admissibilidade trata-se da verificação se estão satisfeitas as condições impostas pela lei para que se possa apreciar o conteúdo da postulação: o cabimento, a legitimação para recorrer, o interesse em recorrer, a

78 CAVALCANTE, Mantovanni Colares. A intervenção de terceiros nos recursos especial e

extraordinário e o prequestionamento, in DIDIER JR., Fredie e WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos e atuais sobre os terceiros no processo civil e assuntos afins. São Paulo: RT. 2004, p. 664 e 665.

79 OLIVEIRA, Pedro Miranda de. Recurso excepcional adesivo cruzado, in NERY JUNIOR, Nelson e

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Aspectos Polêmicos e Atuais dos Recursos Cíveis e de Outros Meios de Impugnação às Decisões Judiciais. São Paulo: RT. 2005. v. 8, p. 628.

80 “Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários

periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.”

inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer, a tempestividade, a regularidade formal, o preparo e o prequestionamento. Já o juízo de mérito, após a verificação de admissibilidade do recurso, trata-se da decisão quanto à matéria impugnada através deste para acolher ou rejeitar a impugnação. Conforme Nelson Nery Junior, a efetiva violação da Constituição Federal, um dos casos de recurso extraordinário (art. 102, III, a), é o próprio mérito do recurso. Para o professor, “a tão somente alegação da inconstitucionalidade já preenche o requisito de admissibilidade do recurso extraordinário. Basta, portanto, haver mera alegação de ofensa à Constituição para que seja vedado ao tribunal federal ou estadual proferir juízo de admissibilidade negativo ao apelo extremo”.81

José Carlos Barbosa Moreira afirma que o Supremo Tribunal Federal não está investido de cognição quanto à matéria de fato, a qual não comporta reexame, nem quanto a outras quaestiones iuris que não se contenham no âmbito demarcado pela Constituição. Afirma, de acordo com alguns julgados da Corte, ser possível conhecer-se de recurso extraordinário por fundamento diverso do invocado, desde que seja enquadrável também na moldura constitucional.82

Assim, a efetiva violação da Constituição Federal ou da lei federal é o mérito dos recursos excepcionais. Entretanto, é muito comum no âmbito de tribunais superiores, o julgamento de mérito negando provimento ao recurso, mas que vem declarado no acórdão como se fosse de não conhecimento. Esse acórdão que essencialmente conheceu do recurso substituiu (art. 512 CPC) o acórdão recorrido, ainda que formalmente haja declarado erroneamente que não conheceu do recurso.83

81 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. atual., ampl. e reform. São Paulo: RT. 2004,

p. 257 e 258.

82 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro: exposição sistemática do

procedimento. 22. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense. 2005, p. 162.

83 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e

Conforme Rodolfo de Camargo Mancuso, os recursos extraordinário e especial “não se prestam para o reexame da matéria de fato, presumindo-se ter esta sido dirimida pelas instâncias ordinárias, quando procederam à subsunção do fato à norma de regência”. O autor afirma que, caso ainda nesse ponto fossem cabíveis tais recursos, ter-se-ia o STF e o STJ convertidos em novas instâncias ordinárias e se teria despojado aqueles recursos da sua característica de excepcionalidade, observando que são vocacionados à preservação do direito federal, constitucional ou comum.84

Cassio Scarpinella Bueno aduz que o juízo de mérito deve ser entendido como o pedido que faz o recorrente ao órgão competente para o julgamento do recurso. Não se trata de um pedido de tutela jurisdicional, porém de um pedido de reexame de quaisquer decisões proferidas pelos órgãos jurisdicionais, para verificar em qual medida elas foram proferidas corretamente do ponto de vista processual e, ainda, mais especificamente, procedimental, e também material.85

O exame de mérito de recurso extraordinário ou de recurso especial não pode implicar em necessidade de reexame das provas, em si mesmas, o que incidirá na aplicação das Súmulas 279 do STF, “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário” e 7 do STJ “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.

Repercute tal questão no momento exato do trânsito em julgado da decisão recorrida, no prazo decadencial para o ajuizamento de ação rescisória, bem como na competência do ajuizamento e julgamento desta.

84 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recurso especial. 10. ed. rev., ampl. e

atual. São Paulo: RT. 2007, p. 162.

85 SCARPINELLA BUENO, Cassio. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos, processos

e incidentes nos tribunais, sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões jurisdicionais. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva. 2010. v. 5, p. 97 e 98.

A Súmula 249 do STF dispõe que “É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida”. Ao observar a Súmula 249, caso não fosse conhecido o recurso excepcional (à exceção de ser intempestivo), mas, na essência, houvesse sido examinado o mérito do recurso, teria ocorrido o efeito substitutivo (art. 512 do CPC), motivo pelo qual o STF seria competente para a ação rescisória desse acórdão de mérito que transitasse em julgado. Esse enunciado foi complementado pela Súmula 515 do STF,86 segundo a qual “A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”.