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Levantamento de necessidades na assistência em saúde de média e alta complexidade

Não é objetivo do presente texto apresentar toda a complexidade do processo de planejamento em saúde. As observações que se seguem sobre o levantamento de necessidades de atenção em saúde e de utilização de parâmetros devem ser entendidas como alerta para alguns aspectos importantes relacionados ao tema, que, entretanto, não podem ser tomados isoladamente e devem estar inseridos no planejamento global de saúde dos estados ou das regiões.

Assim, pressupõe-se que a determinação das necessidades de serviços e ações de saúde de média e alta complexidade inicia-se com o levantamento geral de in- formações sobre a situação de saúde da área de interesse, com o conhecimento dos principais problemas de saúde e das necessidades da população, com a definição de prioridades, como referido por diversos autores que tratam do tema no Brasil.

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O planejamento e o gerenciamento de um sistema de saúde dependem de um conjunto de informações adequadas que orientem o planejador quanto às necessidades de saúde da população e a ordem de prioridade dessas necessidades, assim como da oferta de serviços existentes e sua capacidade de atendimento. Essas informações devem expres- sar as diferentes características que evidenciam as condições de vida dessa população, sejam culturais, sociais, econômicas e epidemiológicas, e que são responsáveis pela geração de suas demandas de saúde.

(TANCREDI F.B; BARRIOS S.R.L; FERREIRA J.H.G. 1998)

A análise da situação de saúde consiste no processo de identificação, formulação, priori- zação e explicação de problemas de saúde da população que vive e/ou trabalha em um território. (ABDON C.; FERREIRA M.C.; TEIXEIRA C. 2002)

Após o conhecimento da situação de saúde e da oferta de serviços de saúde já existentes, devem elaborar-se propostas de intervenção, envolvendo reorientação da estrutura do sistema, modificação, ampliação ou criação de novos serviços, bem como de programas de saúde a serem desenvolvidos em cada região, abrangendo todos os níveis de atenção, atentando para as necessidades de otimizar custos, au- mentar a eficiência na realização dos atendimentos, com o objetivo final de melho- ria dos níveis de saúde da população e de seu bem estar:

Não devemos nos esquecer de que no setor da saúde gerenciamos recursos escassos para necessidades ilimitadas. Gerenciar esses recursos de forma adequada nos remete à responsabilidade de planejar adequadamente, de modo que os objetivos operacionais convirjam em direção à realidade sanitária dos cidadãos que utilizam esses serviços (TANCREDI F.B.; BARRIOS S.R.L.; FERREIRA J.H.G. 1998).

Feitas essas ressalvas, podemos apontar alguns aspectos da prestação de ser- viços de saúde que indicam a necessidade de ampliação da atenção de média e alta complexidade em uma dada região.

2.1.1 Problemas levantados junto aos serviços de saúde existentes e

à população

Os profissionais dos serviços de atenção básica – Unidades Básicas de Saúde (UBS), Programa de Saúde da Família (PSF), Pronto Atendimento (PA) e Pronto- Socorro (PS), entre outros – são importante fonte de detecção de necessidades de saúde não atendidas. Relatos dos pacientes de dificuldades na realização de exames diagnósticos, consultas de especialidade ou marcação para realização de procedi- mentos (diagnósticos ou terapêuticos) nas unidades de referência municipais ou regionais permitem às equipes de atenção básica em saúde mapear pontos de “es- trangulamento” no sistema.

O mesmo pode ser dito de queixas, diretas da população por meio de ouvi- dorias, centrais telefônicas de atendimento aos cidadãos, imprensa e mesmo nos próprios serviços de referência, sobre filas de espera prolongadas que detectam a demanda reprimida para os procedimentos.

Para o conhecimento da realidade da atenção em saúde, ainda se pode reali- zar inquéritos e pesquisas domiciliares periódicas.

2.1.2 Levantamento de necessidades por parâmetros estabelecidos

Outra maneira de avaliar as necessidades de atendimentos de saúde e a capa- cidade dos serviços instalados é pela utilização de parâmetros técnicos de necessi- dades de saúde da população e de produtividade de serviços de saúde. A dificuldade na utilização de parâmetros técnicos encontra-se, em muitos casos, na elaboração que é feita baseada em regiões ou serviços de saúde com realidades epidemiológicas e sociais bastante diferentes daquelas regiões em que são aplicadas, com resultados inadequados para orientar os planejadores.

Há que se ter aqui o bom senso de se utilizar os parâmetros como orientação geral, mas jamais como “camisa de força”, sempre buscando compará-los com o conhecimento que se tem da realidade de saúde local. Especificamente no Brasil, o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/MS n. 1.101/2002, que estabelece os

parâmetros de cobertura assistencial no âmbito do SUS, com o objetivo de analisar a necessidade de oferta de serviços assistenciais à população, auxílio na elaboração do planejamento de saúde e no acompanhamento, controle, avaliação e auditoria dos serviços de saúde prestados.

A portaria abrange um conjunto de parâmetros de cobertura para estimar as necessidades de atendimento a uma determinada população, em um determi- nado período, e parâmetros de produtividade destinados a estimar a capacidade de produção dos recursos, equipamentos e serviços de assistência à saúde, sejam eles humanos, materiais ou físicos. O processo de levantamento de necessidades de serviços e ações de saúde de uma dada região também deve levar em conta as recomendações desenvolvidas a partir da medicina baseada em evidências e buscar a elaboração de protocolos clínicos que indiquem os principais procedimentos diag- nósticos e terapêuticos para as doenças mais comuns.

Tal medida se destaca para os problemas de saúde crônico-degenerativos, que dependem freqüentemente de procedimentos de média e alta complexidade, evi- tando-se assim a ampliação dos custos do sistema, devido à falta de planejamento racional, a realização desnecessária e ineficiente de exames ou a utilização incorre- ta de medicamentos e procedimentos terapêuticos, que, além da elevação de custos para o sistema, pode ser prejudicial aos pacientes.

O Ministério da Saúde publicou, em 2006, as diretrizes para a Programação Pactuada e Integrada da Assistência à Saúde, que contém parâmetros assistenciais por área programática, com objetivo de subsidiar as Secretarias de Saúde no pro- cesso de elaboração da Programação Pactuada e Integrada.

Conforme aponta relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), existem investimentos equivocados em relação ao gerenciamento das condições crônicas, devido a múltiplos fatores, incluindo a influência indevida de grupos profissionais e da indústria privada. O relatório salienta, ainda, a falta de planejamento racional e as distorções provocadas: “as intervenções de cunho eminentemente biomédico, que quase sempre favorecem o uso de tecnologia médica e fármacos, são evidencia- das em detrimento de estratégias de baixa tecnologia” (OMS, 2002).

2.2 Diagnóstico da situação da rede assistencial de