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Licenças ambientais: prévia, de instalação e de operação

7. Síntese conclusiva

11.4.1 Licenciamento ambiental

11.4.1.2 Licenças ambientais: prévia, de instalação e de operação

Durante o licenciamento, o órgão ambiental pode conceder, sucessivamente, licença prévia, de instalação e de operação.

A licença prévia deve ser concedida na fase preliminar de planejamento para atestar a viabilidade do empreendimento ou da atividade, bem como estabelecer os requisitos básicos e condições que devem ser atendidos na fase de implementação, cujo prazo de validade não

319 MILARÉ, Édis, Direito do ambiente, cit., p. 796.

320 MACHADO, Paulo Affonso , Direito ambiental brasileiro, cit., p. 326. 321 RODRIGUES, Marcelo Abelha, Direito ambiental esquematizado, cit., p. 130.

poderá exceder cinco anos (art. 8°, I, c/c art. 18, I e § 1°, ambos da Resolução CONAMA n° 237/97).

A licença de instalação permite a instalação do empreendimento ou atividade em consonância com os planos, programas e projetos aprovados. O prazo máximo da licença de instalação é de seis anos (art. 8°, II, c/c art. 18, II e § 1°, ambos da Resolução CONAMA n° 237/97).

A licença de operação autoriza o desenvolvimento da atividade ou empreendimento, desde que sejam observados os requisitos das licenças anteriores, cujo prazo, via de regra, deve ser de no mínimo quatro anos e no máximo dez, podendo ser modificado caso a atividade ou empreendimento estejam sujeitos a modificações em prazo inferior (art. 8°, III, c/c art. 18, III e § 2°, ambos da Resolução CONAMA n° 237/97). A sua renovação deve ser requerida com antecedência mínima de cento e vinte dias da expiração da validade, que fica prorrogada até a manifestação definitiva do órgão ambiental (art. 18, § 4°, da Resolução CONAMA n° 237/97). Na sua renovação, o órgão ambiental ainda pode aumentar ou diminuir motivadamente o prazo concedido no período de vigência anterior (art. 18, § 3°, da Resolução CONAMA n° 237/97).

A licença prévia deve abranger o empreendimento como um todo, porém a licença de instalação pode ser concedida por etapas se ainda faltar cumprimento de determinada condição da licença prévia. Por exemplo, na licença prévia para construção de hidrelétrica concedida com várias condicionantes, é possível conceder licença de instalação do canteiro de obras enquanto são atendidas as condições impostas pelo órgão licenciador. A licença parcial não obriga o órgão ambiental a conceder licença para as demais etapas. Ademais, ela só é cabível se as atividades forem independentes. Assim, não pode ser deferida licença de

terraplanagem separada do asfaltamento da estrada, por exemplo322.

Conforme vimos acima, a licença ambiental concedida no procedimento de licenciamento não tem caráter definitivo, comportando constante reavaliação pelo órgão ambiental da situação fática, que deve reexaminar os riscos ambientais conforme o avanço das pesquisas científicas, podendo impor novas condições para atender ao princípio da

precaução323. Caso o órgão ambiental conceda a licença ambiental sem fazer a reavaliação dos

riscos considerando as descobertas científicas mais recentes, é possível que os interessados requeiram a realização de novo estudo sobre a atividade ou empreendimento para que seja efetivamente observado o princípio da precaução.

322 TRENNEPOHL, Curt; TRENNEPOHL, op. cit., p. 61-62. 323 WOLFRUM, Rüdiger, op. cit., p. 20.

O órgão ambiental tem discricionariedade na concessão das licenças na medida em que pode impor requisitos para sua concessão. Também podem ser negociados os prazos, as etapas de implantação, o plano de recuperação, dentre outras possibilidades. É vedado apenas que o órgão licenciador imponha menos requisitos do que a lei prevê para o

empreendimento324.

O artigo 19 da Resolução CONAMA n° 237/97 prevê que o licenciador pode modificar as condições e as medidas de controle e adequação, bem como cancelar ou suspender a licença concedida. As referidas modificações podem ser feitas se for descumprido dispositivo legal ou condição estabelecida no licenciamento, se as informações fornecidas ao órgão ambiental não estiverem corretas, ou ocorrerem fatos não previstos anteriormente, e se houver superveniência de graves riscos ambientais e à saúde. No caso de informações

incorretas, a licença é nula, pois se fundamentou em dados falsos325. A licença também pode

ser modificada se surgir nova e acessível tecnologia que pode mitigar o impacto ambiental326.

As hipóteses previstas no artigo 19 da referida Resolução demonstram que a licença é precária, já que pode ser alterada por fatos posteriores à sua vigência. Assim, a licença não

consiste em direito subjetivo327. Por isso, tecnicamente a licença se aproxima mais de uma

autorização administrativa do que de uma licença328. Caso contrário, a licença não poderia ser

modificada se estivessem preenchidos os requisitos legais para sua concessão329.

A falta de exigência do licenciamento para atividades potencialmente poluidoras é crime, segundo o artigo 60 da Lei n° 9.605/98, assim como o obstáculo à fiscalização ambiental (art. 69 da mesma lei). Também é crime funcional a afirmação falsa, omissão ou sonegação de informações ou dados técnicos em procedimento de licenciamento por funcionário público (art. 66 da Lei n° 9.605/98).

Incumbe ao órgão competente para conceder a licença ambiental a lavratura de auto de infração ambiental para instaurar processo administrativo, a apuração da violação à legislação ambiental e a aplicação das penalidades cabíveis (art. 17, caput, da LC n° 140/2011). Os órgãos ambientais de outros entes federativos também têm competência para fiscalizar a violação da legislação ambiental, podendo inclusive adotar medidas necessárias para impedir ou mitigar dano ambiental, e depois comunicar o órgão competente para adotar

324 GRANZIERA, Maria Luiza Machado, op. cit., p. 413. 325 Idem, p. 414-415.

326 RODRIGUES, Marcelo Abelha, Direito ambiental esquematizado, cit., p. 623.

327 Édis Milaré tem entendimento contrário ao afirmar que a licença ambiental tem estabilidade jurídica, embora

tenha prazo de validade pré-determinado, não podendo ser revogada com base no critério discricionário do Poder Público (MILARÉ, Édis, Direito do ambiente, cit., p. 785).

328 MACHADO, Paulo Affonso Leme, Direito ambiental brasileiro, cit., p. 322-323. 329 GRANZIERA, Maria Luiza Machado, op. cit., p. 414-415.

as providências cabíveis (art. 17, §§ 2° e 3°, da LC n° 140/2011). Em caso de inércia do órgão competente, outro ente federativo pode lavrar auto de infração e adotar as demais medidas

legais para apurar e punir a violação às normas ambientais330.