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6. As tutelas de urgência no Projeto do novo Código de Processo Civil

6.5 Tutelas de urgência típicas

6.5.2 Produção antecipada de prova

A nova legislação prevê a produção antecipada de prova em caso de urgência, ou seja, quando houver fundado receio de que sua produção se torne impossível ou muito difícil

em momento posterior no processo principal (art. 367, inciso I, do PL n° 8.046/2010)176.

Assim como no CPC, há maior ênfase do requisito de periculum in mora para cabimento da produção antecipada, já que a parte deve justificar sumariamente a necessidade da antecipação (art. 368, caput, do PL n° 8.046/2010). Por isso, pode-se dispensar a indicação da lide e do fundamento do processo principal (art. 368, caput, do PL n° 8.046/2010), devendo-se apenas mencionar “com precisão os fatos sobre os quais há de recair a prova” (art. 368, caput, do PL

n° 8.046/2010)177.

Assim como na legislação vigente, não há produção da prova no sentido técnico, pois a finalidade é colher os fatos em juízo, mas a admissão, produção e valoração serão feitas

apenas no processo principal pelo juízo competente178.

Podemos adotar o mesmo entendimento doutrinário quanto ao juízo competente para

apreciar a produção antecipada de prova179. O processo sumário não precisa ser

necessariamente proposto perante o juízo competente para apreciar o processo principal, como determina a disciplina geral das tutelas de urgência, mas pode ser proposto perante o

176 Houve ainda inovação em relação à legislação vigente para se admitir a produção antecipada de prova para

possibilitar a tentativa de conciliação ou prevenir litígio com o conhecimento prévio dos fatos (art. 367, incisos II e III, do PL n° 8.046/2010), mas não trataremos destas duas hipóteses porque não se trata de tutela de urgência.

177 Entendimento doutrinário quanto ao CPC vigente (BUENO, Cassio Scarpinella, Curso sistematizado de

direito processual civil, cit., p. 283-284) que pode ser aplicado aos dispositivos similares do PL n° 8.046/2010.

178 Idem, p. 281. 179 Idem, p. 289-290.

juízo mais conveniente para a colheita da prova. Assim, por exemplo, o procedimento para a produção de prova testemunhal pode ser ajuizado no juízo do domicílio da testemunha para facilitar a sua colheita. Nesse caso, o juízo não se torna prevento, podendo a ação principal ser proposta no juízo competente, de acordo com as regras gerais do Projeto.

As provas que podem ser antecipadas são interrogatório, inquirição de testemunhas, exame pericial e arrolamento de bens quando visar a realização de documentação (art. 367, do PL n° 8.046/2010), ampliando a atual medida cautelar de produção antecipada, que não prevê a produção antecipada do arrolamento (art. 846, do CPC). Os interessados na produção da prova são citados, caso haja caráter contencioso (art. 368, § 1°, do PL n° 8.046/2010). A produção das provas deve observar o procedimento previsto para cada prova típica.

No interrogatório da parte deve ser adotado o procedimento do depoimento pessoal (arts. 371 a 374, do PL n° 8.046/2010), mas não se aplica a pena de confissão no caso de omissão (art. 371, § 1°, do PL n° 8.046/2010) porque sua finalidade é apenas a documentação de fatos perante o juiz. A ausência ou omissão de resposta a perguntas deve ser documentada e pode ser valorada pelo juízo do processo principal de maneira negativa (art. 372, do PL n° 8.046/2010).

A inquirição de testemunhas deve observar o procedimento da prova testemunhal (arts. 428 a 448, do PL n° 8.046/2010), com as adaptações necessárias. Não será cabível a substituição das testemunhas prevista no artigo 437 do PL n° 8.046/2010, devendo o processo ser extinto sem julgamento do mérito em razão da impossibilidade de produção da prova. Também não se pode contraditar a testemunha (art. 443, § 1°, do PL n° 8.046/2010), inquirir outras testemunhas mencionadas no depoimento ou realizar acareação (art. 447, incisos I e II, do PL n° 8.046/2010) porque a valoração das provas deve ser feita no processo principal.

Assim como na legislação vigente, o exame pericial pode ser compreendido como o

exame, a vistoria e a avaliação180. O procedimento a ser adotado é a disciplina prevista para

produção de prova pericial (arts. 449 a 467, do PL n° 8.046/2010), com as devidas adequações, tal como a não aplicação do prazo para conclusão da perícia até a audiência de instrução e julgamento (art. 461, do PL n° 8.046/2010), devendo ser fixado outro prazo pelo juiz porque não há audiência na produção antecipada de prova.

180 O exame consiste na inspeção feita pelo perito para averiguar a existência de determinado fato ou

circunstância em coisa móvel, semovente, livros comerciais, documentos em geral e até mesmo em pessoas, enquanto a vistoria é a perícia feita em bem imóvel. A avaliação visa averiguar o valor em dinheiro de determinada coisa ou obrigação, e o arbitramento busca estimar o valor de um serviço ou cálculo abstrato de indenização (Idem, p. 244).

As provas podem ser requeridas pelas partes ou até mesmo por terceiros juridicamente interessados no processo principal nos casos de chamamento ao processo (arts. 319 a 321, do PL n° 8.046/2010) e denunciação da lide (arts. 314 a 318, do PL n° 8.046/2010), pois podem ser responsabilizados em caso de condenação. É cabível ainda que os referidos terceiros integrem o processo sumário de produção antecipada de prova como assistentes para que a prova lhes seja oponível no processo principal.

De outro lado, os interessados citados no processo de produção antecipada poderão requerer outra prova relacionada com o mesmo fato, desde que não cause excessiva demora ao processo (art. 368, § 3°, do PL n° 8.046/2010). Nesse aspecto, o Projeto evoluiu em relação à legislação vigente ao admitir a ampliação da produção probatória no mesmo processo por meio de um pedido contraposto.

Não é cabível recurso contra a decisão que indeferir a prova pleiteada pelo interessado, mas apenas pelo requerente originário (art. 368, § 4°, do PL n° 8.046/2010). No entanto, o tratamento diferenciado das partes não é justificável, devendo ser aplicada a disciplina geral da tutela de urgência para admitir agravo de instrumento contra decisão que defere ou indefere a medida (art. 271, par. único, do PL n° 8.046/2010), seja ela requerida pelo autor, pelo réu ou terceiro interessado. Portanto, não deve prevalecer o referido dispositivo legal que veda a interposição de recurso pelo interessado, especialmente para se insurgir contra o indeferimento de prova por ele requerida.

O juiz não pode apreciar a ocorrência ou inocorrência dos fatos com base nas provas produzidas (art. 368, § 2°, do PL n° 8.046/2010), pois a apreciação deve ser feita no processo principal em conjunto com as demais provas.

Depois da produção da prova, os autos permanecerão em cartório por um mês, podendo ser solicitada a extração de cópias e certidões pelos interessados (art. 369, caput, do PL n° 8.046/2010). Decorrido esse prazo, os autos serão devolvidos ao requerente da medida (art. 369, par. único, do PL n° 8.046/2010). O Projeto é diferente da atual disciplina legal, que determina que os autos permanecem em cartório (art. 851, do CPC), pois se entende que a prova é para o juízo, enquanto prevalece no projeto o entendimento de que as partes são as principais destinatárias da prova.