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7. Síntese conclusiva

11.4.5 Espaços territoriais especialmente protegidos

11.4.5.3 Unidades de conservação

As unidades de conservação podem ser instituídas pelos entes das três esferas da federação – federal, estadual e municipal – para proteger espaço territorial e seus recursos ambientais com características naturais relevantes por meio de regime especial de administração (art. 2°, I, da Lei n° 9.985/2000), devendo a sua criação ser precedida por

estudos técnicos391 e consulta pública para delimitar sua localização, dimensão e limites (art.

22, § 2°, da Lei n° 9.985/2000)392.

As unidades de conservação são divididas em unidades de proteção integral e de uso sustentável (art. 7°, da Lei n° 9.985/2000). Todas as unidades de conservação têm como características comuns: instituição por ato do Poder Público, regime jurídico diferenciado,

proteção do equilíbrio ecológico e delimitação territorial da sua extensão393. A finalidade é a

proteção do conteúdo ecológico, que abrange cobertura vegetal, biodiversidade, litosfera e hidrosfera394.

388 No Código Florestal revogado, a reserva florestal na Amazônia legal era de 80% (oitenta por cento),

independentemente da sua cobertura vegetal (art. 16, da revogada Lei n° 4.771/65). Na nova lei, o limite se aplica apenas para a floresta amazônica; assim, se a área da Amazônia legal for coberta por cerrado, por exemplo, deve manter apenas reserva legal de 35% da sua área.

389 O STJ entende que o referido dispositivo legal não pode ser aplicado para validar ato ilícito segundo o Código

Florestal revogado (STJ, 2ª Turma, AgRg no AREsp 327687/SP, rel. Min. Humberto Martins, j. 15/08/2013, DJe 26/08/2013).

390 RODRIGUES, Marcelo Abelha, Direito ambiental esquematizado, cit., p. 219-229.

391 Os estudos técnicos visam evitar arbitrariedade para que a área efetivamente tenha relevância ecológica

(MILARÉ, Édis, Direito do ambiente, cit., p. 1228).

392 A consulta pública é dispensável para estações ecológicas ou reservas biológicas (art. 22, § 4°, da Lei n°

9.985/2000).

393 RODRIGUES, Marcelo Abelha, Direito ambiental esquematizado, cit., p. 628-629. 394 MILARÉ, Édis, Direito do ambiente, cit., p. 1207.

As unidades de proteção integral são estação ecológica, reserva biológica, parque

nacional395, monumento natural e refúgio da vida silvestre396 (art. 8°, da Lei n° 9.985/2000).

Em todas elas se admite apenas o uso indireto dos recursos naturais, seja por meio da visitação pública com finalidade educacional, seja para pesquisa científica devidamente

autorizada pelo órgão ambiental397.

O Poder Público deve ser proprietário das seguintes áreas de proteção integral: estação ecológica (art. 9°, § 1°, da Lei n° 9.985/2000), reserva biológica (art. 10, § 1°, da Lei n° 9.985/2000) e parque nacional (art. 11, § 1°, da Lei n° 9.985/2000). Se elas forem de propriedade particular, o Poder Público deve desapropriá-las, já que a limitação imposta pela

proteção integral impossibilita a fruição do direito de propriedade398.

O monumento natural e o refúgio da vida silvestre, por sua vez, podem ser constituídos em propriedade particular, desde que a proteção dos recursos naturais seja compatível com o uso da terra pelo proprietário (art. 12, § 1°, e art. 13, § 1°, ambos da Lei n° 9.985/2000). Mas se elas forem incompatíveis com a propriedade particular ou o seu titular não concordar com as condições impostas pelo órgão ambiental competente, também devem ser desapropriadas (art. 12, § 2°, e art. 13, § 2°, ambos da Lei n° 9.985/2000).

As unidades de uso sustentável são área de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista, reserva da fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e reserva particular do patrimônio natural (art. 14, da Lei n° 9.985/2000). Elas podem ser constituídas em propriedade pública ou particular porque visam garantir o uso sustentável dos recursos naturais.

Observamos relevante omissão do legislador quanto à previsão da unidade de conservação inteiramente marítima, que deveria receber proteção especial em razão da relevância dos ecossistemas costeiros, larga extensão e diversidade ecológica do litoral brasileiro399.

395 O parque nacional é a unidade de conservação mais antiga e popular. Surgiu na França com a criação da

primeira reserva de Fointainebleau instituída por decreto de 1861 (ANTUNES, Paulo de Bessa, Direito

ambiental, cit., p. 932). Alguns anos depois foi criado o Parque Nacional de Yellowstone em 1872 nos Estados

Unidos. No Brasil, o primeiro parque foi o Parque Nacional de Itatiaia, criado em 1937 e instituído pelo Decreto 1.713 (Idem, p. 1214).

396 O monumento natural foi criado pela Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas

Naturais dos Países da América Latina (Washington, 1940), incorporada no direito brasileiro pelo Decreto 58.054/66. O refúgio da vida silvestre, por sua vez, foi novidade introduzida pela lei (Idem, p. 1216).

397 “Nas áreas sob domínio público, o órgão gestor da unidade deve estabelecer as condições para a realização da

pesquisa científica e visitação pública; nas áreas particulares, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais” (MILARÉ, Édis, Direito do

ambiente, cit., p. 1217).

398 SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 243.

As unidades de conservação de uso sustentável podem ser transformadas, total ou parcialmente, em unidades de proteção integral, desde que a modificação seja precedida de estudos técnicos e consulta pública e seja feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que a instituiu (art. 22, § 5°, da Lei n° 9.985/2000). Observando os mesmos requisitos, também é possível ampliar os limites da unidade de conservação (art. 22, § 6°, da Lei n° 9.985/2000). Todavia, a desafetação ou redução dos limites somente pode ser feita por lei específica (art. 22, § 7°, da Lei n° 9.985/2000).

Ressalvadas a área de proteção ambiental e a reserva particular do patrimônio natural, as demais unidades de conservação devem ter zona de amortecimento (art. 2°, XVIII, da Lei n° 9.985/2000) e, se necessário, corredores ecológicos (art. 2°, XIX, da Lei n° 9.985/2000), que devem ser estabelecidos pelo órgão que administra a unidade (art. 25, caput e § 1°, da Lei n° 9.985/2000).

Quando houver um conjunto de unidades de conservação próximas, justapostas ou sobrepostas, de domínio público ou privado, configurando um mosaico, “a gestão do conjunto deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação”, cuja finalidade é “compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional” (art. 26, caput, da Lei n° 9.985/2000).

A unidade de conservação deve ter plano de manejo, que consiste em documento técnico em que são estabelecidos o zoneamento e as normas sobre o uso da área e o manejo dos recursos naturais (art. 2°, XVII, da Lei n° 9.985/2000). Ele deve abranger a zona de amortecimento e corredores ecológicos para integrar a unidade de conservação com a vida econômica e social das comunidades vizinhas (art. 27, § 1°, da Lei n° 9.985/2000).