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6. As tutelas de urgência no Projeto do novo Código de Processo Civil

6.4 Modalidades: antecedente e incidental

A tutela de urgência pode ser requerida em processo sumário antecedente169 ao

processo principal ou em caráter incidental no curso do processo principal. Veremos separadamente os procedimentos.

6.4.1 Antecedente

O juízo competente para apreciar a tutela de urgência requerida em caráter antecedente é o mesmo competente para apreciar o processo principal (art. 272, caput, do PL n° 8.046/2010).

O requerido deve ser citado para apresentar contestação no prazo de cinco dias, contados a partir da juntada do mandado de citação ou intimação da efetivação da medida (art.

167 A estabilização aproxima a tutela de urgência da référé-provision do direito francês, em que as decisões de

urgência fundadas em juízo de cognição sumária podem se estabilizar se não forem impugnadas, mas não atendeu proposta anterior de alteração da disciplina do artigo 273 do CPC, que previa que a decisão não impugnada fazia coisa julgada (Idem, p. 672-679).

168 BARBOSA, Andrea Carla. Direito em expectativa: as tutelas de urgência e evidência no Projeto de novo

Código de Processo Civil. Revista de Processo, vol. 36, n° 194, abr./2011, São Paulo, p. 267.

169 Verificamos lapso do legislador na seção I das medidas de urgência antecedente porque prevê no título “Das

medidas de urgência requeridas em caráter antecedente”, mas no dispositivo legal menciona “medida cautelar requerida em caráter antecedente” (art. 279, caput, do PL n° 8.046/2010). No entanto, parece que é mero erro de redação, pois no PL n° 166/2010 do Senado consta “medida de urgência requerida em caráter antecedente” (art. 279, caput).

280, § 2°, do PL n° 8.046/2010). No mandado de citação deve constar o prazo para contestação, bem como a possibilidade de estabilização dos efeitos da tutela de urgência caso não haja contestação (art. 280, § 1°, do PL n° 8.046/2010).

Se o requerido não apresenta contestação, o juiz presume os fatos verdadeiros e deve decidir sobre a tutela de urgência no prazo de cinco dias (art. 281, caput, do PL n° 8.046/2010), assim como na atual legislação de medida cautelar antecedente (art. 803, caput, do CPC). Caso seja apresentada contestação, o juiz designa audiência de instrução e julgamento se for necessário produzir prova (art. 281, § 1°, do PL n° 8.046/2010).

Se for concedida medida liminar e não houver impugnação após a sua efetivação, o juiz extingue o processo, e a eficácia da decisão é mantida (art. 281, § 2°, do PL n° 8.046/2010) independentemente da apresentação do pedido principal. O processo principal pode ser proposto pelas partes (art. 282, § 4°, do PL n° 8.046/2010) no prazo prescricional ou decadencial da legislação civil, conforme explicado no item anterior sobre a estabilização dos efeitos da tutela de urgência.

Se a medida for impugnada, o pedido principal deverá ser requerido no prazo de trinta dias ou outro que o juiz fixar (art. 282, caput, do PL n° 8.046/2010), sob pena de perder a eficácia (art. 284, inciso I, do PL n° 8.046/2010). Todavia, há obscuridade se a impugnação a ser apresentada pelo requerido é contestação ou agravo de instrumento contra a decisão liminar. Por isso, pode-se interpretar que o requerido pode apresentar contestação, mas nada

impede que também interponha agravo de instrumento170. Outra questão que também não está

clara é se deve prevalecer a decisão do agravo de instrumento ou a sentença no processo

sumário se o requerido interpuser o recurso contra a medida liminar171.

Ao contrário da legislação vigente, não é necessário ajuizar outro processo para apresentar o pedido principal, já que o projeto determina que o pedido é apresentado nos autos do processo sumário antecedente. Além desta simplificação, não se exige o recolhimento de novas custas nem mesmo que haja nova citação do requerido, bastando a intimação por meio de seu advogado constituído nos autos (art. 282, §§ 1° e 2°, do PL n° 8.046/2010).

A efetivação da tutela de urgência deve observar o “parâmetro operativo” do cumprimento da sentença definitivo ou provisório (art. 273, do PL n° 8.046/2010), ou seja, não há mais limitação à aplicação do procedimento do cumprimento de sentença provisória como na legislação vigente da antecipação de tutela (art. 273, § 3°, do CPC).

170 BARBOSA, Andrea Carla, op. cit., p. 267. 171 Idem, p. 269.

Por fim, cumpre esclarecer que não é cabível a concessão de tutela de urgência de ofício porque no Projeto do novo CPC também prevalece o princípio da demanda. Por isso, o Judiciário não pode deferir qualquer medida se não houver lide instaurada entre as partes (art. 2°, do PL n° 8.046/2010).

6.4.2 Incidental

A tutela de urgência pode ser requerida no curso do processo principal, nos mesmos autos e independentemente do recolhimento de novas custas. Aplicam-se ao seu procedimento os mesmos dispositivos da tutela de urgência requerida em caráter antecedente no que for cabível (art. 286, do PL n° 8.046/2010).

Assim, a medida de urgência pode ser requerida incidentalmente em qualquer fase do processo, devendo o juiz intimar a parte contrária, por meio de seu advogado constituído nos autos, para se manifestar no prazo de cinco dias (art. 280, caput, do PL n° 8.046/2010). O requerido pode se insurgir contra o pedido e requerer a produção de provas, podendo ser designada audiência de instrução para sua produção (art. 281, § 1°, do PL n° 8.046/2010). O juiz, então, decide pela concessão ou não da tutela de urgência, cabendo agravo de instrumento contra a sua decisão (art. 271, par. único, do PL n° 8.046/2010).

Se não houver tempo para a manifestação da parte contrária, o juiz pode conceder a tutela de urgência e depois intimá-la da concessão da medida. Nesse caso se repete a dúvida quanto à possível impugnação da parte contrária, se é cabível a impugnação por simples petição, com eventual pedido de produção de prova, ou a interposição do agravo de instrumento. Assim como na tutela de urgência antecedente, entendemos que podem ser apresentadas as duas impugnações. Se for interposto agravo de instrumento, a decisão do Tribunal tem vigência até que seja proferida a sentença, ou até que a medida seja revogada ou modificada em razão da alteração das circunstâncias. A medida impugnada por agravo de instrumento não pode ser revogada ou alterada depois da decisão do Tribunal sem alteração das circunstâncias e antes da sentença, pois violaria a competência do Tribunal.

Caso a parte contrária não apresente impugnação contra a concessão da tutela de urgência, ela continua produzindo efeitos até que seja proferida a sentença ou pode ser revogada ou modificada, de ofício ou por requerimento das partes, a qualquer momento se o pedido não for incontroverso (art. 283, caput, do PL n° 8.046/2010).

A tutela de urgência pode ser concedida na sentença para resguardar determinado bem ou direito, já que não é mais necessária a antecipação dos efeitos da sentença em razão da imediata produção de efeitos, que pode ser suspensa por decisão do Tribunal ao conhecer do recurso de apelação (art. 968, do PL n° 8.046/2010). A tutela de urgência de antecipação dos efeitos da sentença pode ser útil nos processos contra a Fazenda Pública em que foi mantido o reexame necessário com efeito suspensivo (art. 483, caput, do PL n°

8.046/2010)172.

A tutela de urgência pode se mostrar necessária entre a interposição do recurso de apelação e a remessa dos autos ao Tribunal, já que o processamento do recurso é feito pela primeira instância e depois os autos são remetidos à segunda instância para que se faça o juízo de admissibilidade do recurso (art. 966, do PL n° 8.046/2010). Se não for possível aguardar a remessa dos autos, o pedido de tutela urgente pode ser feito por simples petição ao

Tribunal173, devendo-se indicar o recurso pendente de julgamento.

O magistrado pode conceder a tutela de urgência de ofício, devendo intimar previamente as partes sobre a medida a ser concedida (art. 9°, do PL n° 8.046/2010). Se não for possível aguardar a manifestação das partes, o juiz pode conceder a tutela de urgência, intimando-as para apresentar impugnação nos próprios autos com pedido de produção de prova, podendo ser designada audiência de instrução se for necessária. Também será cabível agravo de instrumento contra a decisão (art. 271, par. único, do PL n° 8.046/2010).

Assim como a tutela de urgência antecedente, a efetivação da tutela incidental deve observar o procedimento do cumprimento de sentença definitivo ou provisório.