• Nenhum resultado encontrado

Um lugar para o mercado de escravos

Até meados do século XVIII a compra e a venda dos escravos desem- barcados no porto da cidade era feita nos armazéns de escravos localiza- dos em sua maioria na rua Direita, próximo à Alfândega. As mais conheci- das casas de comércio ficavam no trecho entre a Casa de Contos e a ladeira do Mosteiro de São Bento. A rua Direita era a principal via da cidade que corria paralela ao porto, e ali ficavam o Palácio do Governador, depois do vice rei, a Alfândega, a Catedral, a Mesa do Bem Comum (depois Junta do Comércio), várias repartições públicas e mais armazéns e moradias. Os conflitos entre os diversos agentes do comércio de escravos na cidade tiveram relação direta com a decisão do Senado da Câmara de transferir o comércio de escravos novos para a periferia da cidade. A perpetuação do 15 AHU, Avulsos, Rio de Janeiro, cx. 84, doc. 19.

16 CAVALCANTI, Nireu. O comércio de escravos novos no Rio setecentista. In: FLORENTINO, Mano-

comércio de escravos na rua Direita era favorável aos compradores resi- dentes na cidade, em detrimento dos senhores de engenho e lavradores de cana do recôncavo que vinham de longe.

A manutenção ou transferência do mercado de escravos do centro para a periferia da cidade tornou-se um tema polêmico devido aos múltiplos interesses envolvidos. No intuito de buscar subsídios para a decisão – e provavelmente sob pressão –, a 14 de janeiro de 1758, sob a presidência do juiz de fora Antonio de Matos e Silva, os vereadores Frutuoso Pereira, José Pacheco Vasconcelos, Miguel Cabral de Melo e Tomé de Gouveia Sá Queiroga, convidaram os médicos Antonio Ferreira de Barros, Francisco Correia Leal e Mateus Saraiva e os cirurgiões Antonio Luiz de França, Antonio Mestre e Luiz Estevão para deliberarem sobre o “grande prejuízo que causavam nesta cidade os escravos que estavam à venda pública pelas principais ruas dela”, e ansiando por tomar alguma providência “que pu- desse caber na sua jurisdição”.

Essa questão de controle sanitário e uso do espaço urbano era antiga e foi mais uma vez reeditada. Argumentando “receio de contágio”, já em 1718, a Câmara requereu ao rei o privilégio de proceder a uma “visita da saúde” em todos os navios vindos de Angola, Costa da Mina e São Tomé que entravam no porto do Rio. Na ocasião, o rei concedeu tal privilégio e ponderou ainda que a experiência comprovava que também as embarca- ções que vinham da Bahia, Pernambuco e demais partes da Europa deve- riam ser vistoriadas, por receio do mesmo inconveniente, pois já havia sucedido em outras ocasiões introduzirem também elas vários “achan-

ques [sic] contagiosos”.17 Desse modo que, em 1758, em conjunto com

os vereadores, médicos e cirurgiões, foi reafirmada a preocupação com a saúde dos moradores da cidade por ser “veemente suspeito o comércio tão numeroso de negros que vinha em direitura da Costa da Guiné para este país. Acordou-se, finalmente que:

nenhuma pessoa de qualquer estado ou condição, que seja tenha no conti- nente desta Cidade tanto em casa como nas ruas, rocios e praças da mes- ma magotes de negros novos vindos das partes da Guiné ou outra região alguma em direitura a esta Cidade, o que se averiguara pela entrada da Alfândega, sob pena de os negros serem apreendidos até que seus proprie- tários ou administradores pagassem multa à câmara. 18

Acordou-se também a definição de uma nova área para localização do comércio dos africanos recém-chegados, chamados “pretos novos”. Os lu- gares então considerados mais indicados foram a região da orla marítima do Valongo, Saúde e Gamboa, ou mais para o interior, na zona do mangue 17 AHU, Rio de Janeiro, códice, 225.

18 Para se considerar magotes ou ranchos dos ditos negros, bastava que se encontrassem juntos cin-

de São Diogo. O local escolhido foi o Valongo por ter acesso por mar e por terra através do Caminho do Valongo (atual rua Camerino) que ia da

praia ao centro da cidade.19 Vencia a corrente que pretendia eliminar o

comércio de escravos no interior da cidade. Além disso, passou a haver também maior controle sobre o movimento dos escravos na própria ci- dade, especialmente no que toca aos comerciantes e atravessadores com negócios em Minas Gerais. Os donos de escravos novos que desejassem enviá-los para serem vendidos ou despachados mediante encomenda para Minas Gerais, deveriam informar suas intenções ao Senado da Câmara no prazo de 24 horas, após a compra; e no prazo de oito dias obrigatoriamen- te retirá-los da cidade. Acrescia-se a essas medidas a proibição de levar os escravos do Valongo para serem lavados no chafariz da Carioca, no centro da cidade, alegando os distúrbios que provocavam e o perigo de contami-

nação dos usuários do chafariz e da própria água.20

A reação dos negociantes foi imediata. Entraram com recurso contes- tando o edital e os argumentos da questão sanitária, tida como “falsa e contrária à verdade” e, ignorando as determinações régias que datavam de 1718, alegavam que tal comércio no centro da cidade era muito anti- go: ali “sempre desembarcaram e venderam escravos novos, às portas dos comerciantes sem que por esse motivo originasse moléstia alguma, nem achaque contagioso”. Assim argumentam:

Porque da postura e Acórdão embargando que manda extrair os escravos para fora da cidade não resulta utilidade aos e mesmo às que na contrarie- dade se alega, pois que o suposto na mesma contrariedade se diga que da extração para fora da cidade [...], e contra a verdade por ficarem na mesma cidade outros muitos escravos ladinos, de que andam cheias as Ruas pois esta qualidade a maior parte de gente que fazem por esta cidade, que como o maior tráfico dela e o comércio de escravos, não pode haver maior formo- sura que o aumento do mesmo tráfico, e comércio o qual infalivelmente se destruiria se se partisse a postura embargando que da mesma forma não recebe a cidade detrimento em corrupção alguma nos ares de existirem nela vários escravos novos, porque o comércio destes é tão antigo como a mesma cidade sem em algum tempo nem moléstia alguma por causa dos mesmos escravos ocasionada, e é contra a verdade o que [ilegível] alega. Que na mesma falcidade [sic] labora o que se alega de que da multidão de escravos resultam cólera e outros maus, por que os mesmos escravos se

19 CAVALCANTI, Nireu. O comércio de escravos novos no Rio setecentista. In: FLORENTINO, Mano-

lo (Org.). Tráfico, cativeiro e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 43.

20 AHU, Avulsos, Rio de Janeiro, cx. 84, doc. 19. Acórdão do Senado da Câmara do Rio de Janeiro,

de 14 de janeiro de 1758, e edital publicado e mandado fixar nas ruas mais publicas a cidade a 28 de janeiro do mesmo ano. Ver BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: o Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 242-244. Agradeço a professora Maria Fernanda Bicalho e ao professor Mauricio de Abreu que gentilmente cederam cópia dos documen- tos AHU sobre o acórdão de 1758 e editais da Câmara sobre vendas de escravos nas vias públicas da cidade – 1766.

lavam todos os dias, e não estão nos armazéns senão de noite, pois de dia estão ao ar e por isso, não resulta cheiro, mas e menos que deles nocivos seja, pois as mesmas pessoas que com eles tratam dos mesmos (escravos) nunca tiveram achanque [sic] algum contagioso que não sucedeu se este dos ditos escravos e se gerasse que também vê contra verdade o que se alega que os escravos novos causam distúrbios, porque tal [ilegível] estão muito quietos, e assentados às portas de seus donos pelo muito medo que tendo estes, não levantando sem que primeiro os mandem houvesse a cor- rupção dos ares, que os comerciantes dos escravos estão quase todos situ- ados na rua Direita que fica junto do mar e por isso com mais comodidade para os despejos, e se lavarem os escravos e fazerem as mais operações na- turais, o que, não sucederia indo para fora da cidade pôr que então fica em maior distância da praia. E sem dúvida que os comerciantes dos escravos recebessem gravíssimo prejuízo em serem extraídos os mesmos escravos para fora da cidade pois não podem largar as sua casas, ainda que muitos ai não tinham próprias, não podem desterrar os mais comércios que tem para fora da cidade.

Que também se segue outros prejuízos irrevogável da negociação de escra- vos ser para fora da cidade desterradas por que sendo a do maior cabedal que há na mesma cidade, não pode estar fora dela expostos dos contínuos latrocínios que e se experimentado.

Que nenhum dos [comerciantes de atacados de escravos] nisso não estão a pagar os [ilegível] dos mesmos atravessadores estes se extinguirem sendo o comércio de escravos para fora da cidade exterminados, mas [ilegível] traz muitos meios [jurídicos] determinados para se adquirirem, e castiga- rem os atravessadores sem perseguição e embargo.

Que nestes termos e nos de ditos no embargo [movido] [ilegível] jul- gar a prova dos declarando-se de nenhum efeito o Acórdão e postura embargada.21

Além de uma grande polêmica sobre o comércio de escravos africanos no centro da cidade envolvendo grandes negociantes, senhores de enge- nhos, médicos e cirurgiões, vereadores, este últimos, legisladores e ad- ministradores do espaço urbano. A análise desse documento revela reais preocupações no controle das doenças e epidemias no espaço da cidade, tanto por parte das autoridades como por membros da população, uma tentativa de controle da saúde pública. Foi possível também conhecermos os cuidados dispensados à saúde dos escravos, assim como seu contro- le na exposição para a venda, o que possivelmente gerava algum castigo para aqueles que por qualquer motivo descumpriam as regras estabele- cidas. Os negociantes de escravos novos alegavam que seus prejuízos se- riam enormes com a transferência de seu comércio para o Valongo e que 21 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, doravante AGCRJ - códice 6.1.9 – Autos de homens de

o então local de comercialização era o ideal e não oferecia perigo algum de contágio para os moradores da cidade. Além disso, alegavam que as em- barcações sempre receberam a visita do médico da saúde, para a vistoria rotineira, sem a qual o desembarque não era permitido, e que somente es- cravos sem doença contagiosa eram autorizados a desembarcar. É possí- vel que a tentativa de transferência do comércio de escravos novos para o Valongo tenha relação direta com o objetivo de se extinguir o negócio dos atravessadores, pois em meio a seus protestos os negociantes alegavam que havia outras formas jurídicas de se punirem os atravessadores sem com isso prejudicar os seus negócios. Uma parcela dos negociantes obe- deceu às determinações do edital e transferiu suas lojas para o Valongo; outros permaneceram, confiantes na decisão dos juízes do Tribunal da Relação, favorável a seu recurso.

Em 1765, o Senado republicou o edital, dando com isso a entender que a venda de escravos nas principais ruas da cidade continuaria, sendo que o novo edital incluía também os negros pertencentes às companhias (que vinham de Pernambuco, Bahia e Maranhão). Alguns negociantes de mé- dio e grosso trato saíram em defesa do Edital, mas tal iniciativa não deu resultado, pois a maioria dos desembargadores do Tribunal da Relação votou a favor da permanência do comércio de escravos nas ruas centrais da cidade. A decisão do Tribunal estaria supostamente baseada em de- poimentos de médicos e cirurgiões que, de acordo com o Marquês do Lavradio talvez tivessem sido subornados pelos negociantes. Na segunda consulta declararam não ter o comércio de negros novos nenhuma relação com as epidemias. Resta, portanto a suspeita de que esses profissionais tenham dado seu parecer sob influência dos interesses dos comerciantes, com a complacência do Tribunal da Relação. Essa suspeita baseia-se no fato de que boa parte dos profissionais ouvidos – e que deram parecer favorável aos negociantes – havia concordado com os vereadores sobre o acórdão em 1758, através do qual ficou deliberado que o comércio de escravos na área central da cidade era prejudicial à saúde pública e devia

ser removido.22

Nos depoimentos fornecidos em março de 1768, os médicos Antonio Ferreira de Barros, Francisco Correa Leal e os cirurgiões Luiz de França, Antonio Mestre, Francisco da Costa Brito e João da Silva Passos Cabral, admitiram que trabalhavam para os negociantes de escravos novos, mui- tos há 25 ou 30 anos, e por essa razão tinham experiência e vivência do problema. Tanto em 1758, quanto em 1765, o físico Mateus Saraiva, membro da Ordem de Cristo, cidadão da Cidade do Rio, físico-mor das tropas reais, médico da Câmara e Saúde e sócio da Real Sociedade de Ciência de Londres, se pronunciou contra os editais da Câmara e a favor dos negociantes de escravos novos. Em 1758, declarou que era morador 22 Para mapas mostrando detalhes do Valongo e da rua Direita ver BARREIROS, Eduardo Canabrava.

na rua Direita há 43 anos e que nunca havia chegado ao seu conhecimento “nenhuma epidemia, moléstia por contágio do mal de Luanda (ou escor- buto) introduzida na cidade por algum escravo vindo da costa da África, nem por outra doença, ou bexiga”. Disse ainda que o escorbuto e a bexiga não eram motivos de queixas dos “comboios no exame da visita da saú- de”, nem no hospital militar e nem mesmo em Pernambuco e nos outros principais portos do Brasil. Acrescentou ainda que nesses 43 anos jamais tomara conhecimento de um surto de enfermidade resultante do contá- gio oriundo dos escravos novos das casas de comércio da rua Direita. Em 1765 ele deu o seguinte depoimento:

Certifico que os escravos novos vindo da Costa da África e Guiné, antes que se desembarque para a Alfândega são primeiro visitados pela Visita da Saúde, a que eu vou como médico da saúde, por Provisão Real, para que, no caso que identificar algum mal contagioso, se ordena dar-se-lhe quarente- na e também mais que nas casas de minha vizinhança e onde há muitos anos se administram a venderem os negros escravos, nada se observa de epidemias, nem mal contagioso, por esses escravos, nem nas famílias das citadas casas, ou quaisquer outra casas aonde venho assistindo, com es- cravos novos.23

Foi, portanto, no meio de acirrados conflitos que, dez anos após a publicação do segundo edital, o Marquês do Lavradio ordenou que o co- mércio dos chamados “negros novos” passasse para o sítio do Valongo. Sua intervenção foi, portanto, o desdobramento de décadas de debates e iniciativas no sentido de tirar ou não o comércio de escravos africanos do centro da cidade do Rio de Janeiro. É importante mostrar como es- ses acontecimentos se desenvolveram porque a memorialística e a his- toriografia tendem a afirmar que o Marques de Lavradio foi o criador do mercado do Valongo quando na verdade ele foi responsável pela imple- mentação de uma antiga demanda tanto da população quanto da Câmara de Vereadores. Essa interpretação “fundacionista” dos acontecimentos resulta de uma leitura isolada do relatório deixado pelo Marquês a seu sucessor, Luis de Vasconcelos. O relatório fala na criação do Valongo, mas omite o debate anterior e os interesses envolvidos. Assim diz o referido relatório, datado de 19 de junho de 1779:

Havia mais n’esta cidade o terrível costume de que todos os negros que chegavam da costa d’África a este porto, logo que desembarcavam, entra- vam para a cidade, vinha para as ruas públicas e principais dela, não só cheios de infinitas moléstias [...] foi preciso ser eu muito constante na mi- nha resolução, para que logo que dessem a sua entrada na Alfândega [...] embarcassem para o sítio chamado Valongo, [...] ali se aproveitassem das

muitas casas e armazens que ali há para os terem; e que aqueles sitos [sic] fossem as pessoas que os quisessem comprar[...].24

Esta é, portanto, uma afirmação feita no momento em que o Marques de Lavradio presta contas de sua administração e enaltece seus próprios feitos: “como aquela qualidade de gente, em quanto não tem mais ensino, são o mesmo que qualquer outro bruto selvagem [...] Esta desordem que era conhecida a todos, custou infinito a evitar, e foi preciso ser eu muito

constante na minha resolução, para que ela pudesse ser executada [...]”.25

Assim diz o documento escrito pelo Marquês do Lavradio em 12 de abril de 1774, determinando que o comércio de escravos novos fosse definiti- vamente transferido para o Valongo:

Sendo-me presente os gravíssimos danos, que se tem seguido aos mora- dores desta cidade de se conservarem [...] dentro da mesma, imensos ne- gros novos que vêm dos portos de Guiné e Costa de África, infestados de gravíssimas enfermidades, [...] dos quais se acham sempre cheias a maior parte das ruas, e casas dos comerciantes, que os costumam vender [...] de que tem resultado contagiosas queixas epidêmicas, de que de anos a esta parte se acha infestado todo esse país, [...] a fim de que cessando os estragos que tem assolado e destruído a todo esse continente e se possa preservar a saúde dos povos tão recomendada por El Rei Meu Senhor, o que já em outro tempo foi ponderado pela Câmara dessa Cidade, que jus- tamente persuadida pelos professores. De que as contagiosas moléstias que se experimentavam eram causada da infecção dos negros novos, que se achavam a vender pelas ruas e praças da cidade, os mandou retirar logo para fora dela, o que não teve efeito, por passarem aqueles mesmos se- gundas certidões em contrárias as primeiras, talvez depois de subornados pelos comerciantes vendedores dos mesmos escravos as quais se acham juntas aos Autos de Litígio, [...] que finalmente se julgou a favor dos mes- mos comerciantes [...]. Me pareceu dizer a vós mercês haja que dar aquelas providencias que entenderem necessárias, a fim de que não sejam conser- vados nessa cidade os negros novos, que vem dos portos da Guiné e Costa da África, ordenando, que tanto os que se acham nela, como os que vierem chegando de novo daqueles portos, de bordo das mesmas embarcações que os conduzirem, depois de dada visita da saúde, sem saltarem em terra, sejam imediatamente levados ao sitio do Valongo, onde se conservarão, desde a Pedra da Prainha até a Gamboa e lá se lhes dará saída e se curarão os doentes e enterrarão os mortos [...] assim se haja de observar daqui

24 LAVRADIO, Marquês de. Relatório do Marques de Lavradio Vice-rei do Rio de Janeiro, entregando

o governo a Luiz de Vasconcelos e Souza, que o sucedeu no vice-reinado – 19 de jun. de 1779. Re- vista do IHGB, Rio de Janeiro, t. 4, v. 4, n. 16, p. 452-453, 1843.

em diante, enquanto El Rei Meu Senhor não mandar em contrário. Deus guarde a vós mercê. Rio de Janeiro, 12 de abril de 1774.26

Se levarmos em consideração o acórdão de 1758 e seus desdobramen- tos, podemos constatar que esse projeto é bem mais antigo e sua implan- tação resulta de uma longa e difícil disputa entre os interesses dos comer- ciantes, da administração e dos compradores de escravos da cidade. O fei- to do vice-rei , em 1774, foi fazer cumprir determinações cuja necessidade vinha sendo objeto de uma longa disputa que começara com uma postura da Câmara, acerca do comércio de escravos dentro da cidade, atendendo finalmente a uma demanda da população e de alguns médicos, cirurgiões e vereadores que começavam a se mobilizar no sentido de desencadear uma reflexão e um conjunto de ações que terminaram por representar o primeiro grande esforço de construção de uma saúde pública na cidade.