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E MENDA C ONSTITUCIONAL Nº 45/

3. P APEL DAS S ÚMULAS V INCULANTES NO E STADO B RASILEIRO

3.2 E MENDA C ONSTITUCIONAL Nº 45/

A Emenda Constitucional nº 45, da relatora Zulaiê Cobra, de 30 de dezembro de 2004, alterou e acrescentou artigos da Carta Magna, conforme possibilita o art. 60, § 3º da mesma, instituindo as Súmulas Vinculantes. Depois de 12 anos de tramitação do projeto inicial, de 26 de março de 1992, proposta pelo Deputado Federal Hélio Bicudo, com a PEC 96/92, a alteração investida pela Emenda Constitucional 45/04 dispõe sobre a competência do Supremo Tribunal Federal e reveste a Súmula Vinculante de um efeito normativo que, na realidade, ela não possui.

Além dessas disposições, a Emenda Constitucional nº 45/2004 modificou as estruturas e algumas competências do Judiciário Brasileiro, além de tratar de outros temas estruturais como o Conselho Nacional de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho, alterando disposições anteriores e acrescentando outras.

Conforme estudado ao longo deste trabalho, através das análises históricas, pode-se afirmar que as Súmulas Vinculantes passaram, assim como as edicta pretorianas, a ser entendimentos petrificados do STF sobre determinada matéria. Mesmo com o respaldo da Emenda Constitucional Nº 45/2004, o conceito de separação e harmonização das Três Funções passou a ficar ameaçado, assim como a autonomia do magistrado. A singularidade de cada caso, portanto, ficou condicionada a uma decisão única, não respeitando as suas especificidades nem a análise aprofundada do tema.

Ademais, a sobrecitada Emenda Constitucional nº 45/2004 que acrescentou o Art. 103-A referente às Súmulas Vinculantes é uma determinação aberta, no qual necessitou de posterior regulamentação, feita pela Lei 11.417, de 19 de dezembro de 2006306, que precisou ser promulgada para preencher lacunas deixadas por um dispositivo da Constituição Federal que foi criado com o intuito de evitar lacunas. Parece irônico, mas a questão é extremamente séria.

De acordo com a redação da Lei 11.417/2006, a vigência da Súmula Vinculante é imediata, isto é, ocorre logo após a sua publicação na imprensa oficial. Não apenas isso: a própria Lei confere ao Supremo Tribunal Federal possibilitar que o efeito

III - a separação dos Poderes;

306 BRASIL. Lei 11.417, de 19 de dezembro de 2006. Fonte: Planalto.

Regulamenta o art. 103-A da Constituição Federal e altera a Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999,

disciplinando a edição, a revisão e o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal, e dá outras providências.

vinculante seja ex tunc ou ex nunc, além de poder fixar uma data específica para a sua validade, por força do seu Art. 4º.

Art. 4o A súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3 (dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público.307

As Súmulas Vinculantes surgiram com o fito de proporcionar maior segurança jurídica ao fragilizado ordenamento jurídico brasileiro, além de possibilitar a celeridade nos julgamentos, com a diminuição de casos “repetidos” nas instâncias inferiores, fazendo com que outras demandas recebam a atenção devida.

A alegação de segurança jurídica não encontra respaldo nas determinações legais de fundamentação e regulamentação das Súmulas Vinculantes, isto porque ao barrar o acesso de processos considerados “idênticos”, se criará um ambiente de insegurança jurídica e a análise do caso será sempre superficial, isso se realmente ocorrer alguma análise por parte das instâncias inferiores, vez que basta “bater” a Súmula Vinculante com o caso pleiteado para se verificar que não há respaldo para sua continuidade, pois já se sabe o resultado do julgamento antes mesmo de qualquer aprofundamento.

Ademais, em caso de descumprimento da súmula vinculante cabe reclamação para o Supremo Tribunal Federal. Segundo o Art. 7º, da Lei 11.417/2006308, redação repetida no Art. 103-A, § 3º, da Constituição Federal, qualquer decisão judicial ou ato administrativo que contrarie dispositivo contido em Súmula Vinculante, a decisão poderá ser cassada ou o ato administrativo anulado.

De acordo com a redação dada ao Art. 103-A da Constituição Federal de 1988 conferida pela Emenda Constitucional Nº 45/2004, as decisões do Supremo Tribunal Federal ficam vinculadas normativamente, para cumprimento estrito do Judiciário e da Administração Pública. Não sendo leis, agem com força normativa e pairam sobre as decisões futuras, não abrindo margem para diferenças, seja de determinado caso ou

307 BRASIL. Ob. Cit. 19 de dezembro de 2006. Fonte: Planalto. 308 BRASIL. Ob. Cit. 19 de dezembro de 2006. Fonte: Planalto.

Art. 7º Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação

[...]

§ 2º Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo Tribunal Federal anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso.

sentença proferida por um magistrado competente, que não possui a liberdade necessária à produção judicial.

Tal liberdade pode ser verificada na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, em que o juiz possui como uma de suas funções decidir de acordo com os princípios gerais do direito, analogia ou costumes caso a lei se mostre omissa. Embora o Art. 4º da lei disponha sobre analogia309, a mesma está atrelada a sua liberdade decisória, não respeitada pelas Súmulas Vinculantes, uma vez que seu entendimento e sua analogia são de observância obrigatória ao magistrado.

Mitiga-se, neste ponto, a liberdade do magistrado e até mesmo o princípio constitucional do livre convencimento do juiz, que deverá observar e se moldar ao preceituado pela Súmula Vinculante antes mesmo de analisar se o caso em concreto guarda ou não relação com o texto sumulado, que acaba ferindo outro direito constitucional fundamental que é o livre acesso ao Judiciário.

É bom ressaltar que as Súmulas Vinculantes agem também sobre os Atos Administrativos, de modo que mesmo tendo a previsão constitucional de fundamentação legal dos atos, por meio dos princípios da legalidade e da motivação, estes atos devem ficar adstritos ao conteúdo das Súmulas Vinculantes, gerando uma força sobre esferas do Poder Público além dos casos particulares.