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4. ESTUDO DE CASO: SISTEMA DE BICICLETAS PÚBLICAS NO RECIFE

4.1 METODOLOGIA DA PESQUISA

Partindo do pressuposto de que um SBP seria uma alternativa viável para a mobilidade urbana no Recife, utilizou-se a metodologia qualitativa Estudo de Caso ou Método Monográfico, como descreve Lakatos e Marconi (2006) para identificar a veracidade dessa afirmação. Sabe-se que o Estudo de Caso caracteriza-se por dar uma atenção maior a questões que podem ser obtidas por meio de casos e grupos. Esse método refere-se a um levantamento mais aprofundado de um caso ou grupo humano sob seus aspectos, embora se entenda que é limitado, pois se detém ao grupo que é estudado, ou seja, realiza-se a análise de um único grupo específico, não podendo ser representativo de uma população.

Para Triviños (1987 apud Lakatos e Marconi, 2006), o Estudo de Caso consiste em um tipo de pesquisa cujo objeto é um elemento único que se analisa profundamente. Nessa metodologia, a observação, a entrevista e a história de vida são importantes técnicas de coleta de dados. Busca-se reunir o maior número de informações detalhadas, a partir de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de compreender uma determinada situação e descrever a complexidade dos fatos (LAKATOS e MARCONI, 2006).

4.1.1 Levantamento dos dados

Primeiramente, buscou-se a consolidação dos conceitos e fundamentos teóricos por meio de uma revisão bibliográfica a respeito do SBP. Foram coletadas informações primárias através de plantas,

fotografias e livros, na base de dados de instituições técnicas, como a Prefeitura da Cidade do Recife e a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), e informações secundárias em artigos e periódicos do Portal Capes, websites oficiais de sistemas de bicicletas no mundo, manuais e guias de instituições internacionais como, por exemplo, o instituto espanhol IDAE e a União Europeia, além de publicações das agências de transporte de cidades europeias, americanas e canadenses. Essa etapa de levantamento dos dados durou até o mês de fevereiro de 2013.

A partir deste levantamento, diversos sistemas foram identificados em todo o mundo, refletindo no fenômeno crescente dessa ferramenta como alternativa na mobilidade urbana sustentável das cidades. Eles foram catalogados em uma planilha, disponível no apêndice A deste trabalho. Nela, foram preenchidos outros dados, como por exemplo, a frota de bicicletas e o número de estações, o ano de lançamento e/ou encerramento e a empresa ou instituição operadora do serviço. Estabeleceu-se uma classificação dos programas por continente e de acordo com seu estado atual – se estão em funcionamento, se encerraram, ou se estão em projeto aguardando decisões para implantação.

Desta planilha foram extraídos inúmeros dados, dentre eles, destacam-se a distribuição dos sistemas entre os continentes, os dez países com maior número de sistemas em funcionamento, a distribuição dos sistemas de acordo com o porte das cidades, os maiores operadores que atuam no mercado das bicicletas públicas e os dez maiores sistemas do mundo. A planilha pode servir como instrumento para outras pesquisas relacionadas a esse tema.

Em seguida ao processamento dos dados levantados, como parte da metodologia utilizada, foi escolhido um grupo específico para constituir-se no estudo de caso desta dissertação. Foram realizadas entrevistas com profissionais e técnicos da gestão pública nas três esferas de governo que interagem com o município de Recife – municipal, estadual e federal, todos ligados à área do planejamento urbano, do trânsito e do transporte, além dos operadores e financiadores do SBP que atuam no mercado brasileiro. As entrevistas ocorreram no período de seis meses, onde foram aplicados questionários com o objetivo de identificar a viabilidade da implantação do SBP no Recife diante de condicionantes físicos, políticos, econômicos e sociais da cidade na visão desse grupo decisório. O grupo de profissionais entrevistados participou da gestão pública no período de 2000 ao primeiro semestre de 2013.

4.1.2 Limitações da pesquisa empírica

Antes de iniciar a análise do estudo de caso, é fundamental contextualizar alguns acontecimentos que ocorreram no município do Recife ao longo do desenvolvimento desta pesquisa. A apresentação dessas considerações visa a auxiliar a compreensão do cenário existente na cidade em relação ao uso da bicicleta, pois alguns desses eventos podem, de alguma forma, terem contribuído para os resultados da pesquisa que serão apresentados.

Inicialmente, é importante destacar que, durante a realização das entrevistas, houve uma mudança na gestão municipal, com as eleições em outubro de 2012. Embora os antigos gestores tenham sido aliados políticos da gestão estadual, a nova gestão municipal, que assumiu em janeiro de 2013 é do mesmo partido político da gestão estadual. Isso pode ocasionar uma convergência no pensamento de determinadas políticas, podendo influenciar em algumas respostas dos questionários.

Além disso, nos dois últimos anos da gestão municipal anterior, embora tenha sido dada uma atenção maior à questão dos modos de transporte não motorizados, através da criação de um binário na zona norte da cidade, por exemplo, houve uma crescente inquietação da população do Recife quanto aos problemas da mobilidade, colocando esse tema na pauta diária da imprensa local.

Como a cidade tem uma dinâmica própria, em setembro de 2012, começou a ser divulgada na imprensa a implantação de um projeto, promovido pelo Porto Digital que consistia na implantação de serviços tecnológicos no Bairro do Recife, dentre eles a instalação de um projeto-piloto de bicicletas públicas chamado Porto Leve (CAMINHO..., 2012). Por questões de aprovação de projeto junto a prefeitura do Recife, o sistema foi implantado em janeiro de 2013.

No mês de fevereiro de 2013, houve a divulgação de outro SBP metropolitano que contemplará a cidade de Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes (CARVALHO, 2013). Atualmente, ele está sendo promovido pelo Governo do Estado, através da Secretaria das Cidades, em parceria com o Banco Itaú e a Serttel: o sistema BikePE.

Atrelado a isso, a nova gestão municipal começou várias atividades relacionadas ao uso da bicicleta, dentre elas, a criação da Ciclofaixa Móvel de Turismo e Lazer, aos domingos e feriados, inaugurada em 24 de março de 2013. Entretanto, por questões metodológicas, algumas dessas atividades, realizadas após o mês de março de 2013, não entraram no levantamento para discussão deste trabalho.

Portanto, ao longo da pesquisa, o trabalho necessitou de algumas modificações e os objetivos tiveram que ser reajustados. No início, a cidade do Recife apresentava certos condicionantes que, talvez hoje, não apresentem mais ou vice-versa, talvez apresente novos condicionantes que antes não eram identificados no município. Ou seja, a realidade mudou e a pesquisa teve que se ajustar a dinâmica de mudança intensa da cidade.