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1. MOBILIDADE URBANA E O TRANSPORTE NÃO MOTORIZADO

1.4 VANTAGENS NO USO DA BICICLETA

Recentes estudos apontam que a escolha por um meio de transporte como a bicicleta depende tanto de fatores subjetivos, como por exemplo, o sentimento de insegurança e a aceitação social, quanto de fatores objetivos, como rapidez, clima, topografia (ibid.).

É importante ressaltar que a bicicleta representa um modo de transporte essencial para mobilidade sustentável e segura nas cidades. Ela combina as vantagens de um veículo privado – rapidez, liberdade e versatilidade – com as vantagens sociais, econômicas e ambientais do transporte público – é apta praticamente para todas as idades, tem um custo muito acessível, não consume combustíveis fósseis, não contamina o ambiente nem emite ruído. Pode-se afirmar que a bicicleta é o único veículo que tem externalidades positivas, uma vez que melhora a saúde das pessoas que a utilizam (IDAE, 2009).

Dificilmente, a lista de benefícios potenciais ou comprovados poderá ser estabelecida de modo exaustivo, pois são benefícios de diversas naturezas (COMISSÃO EUROPEIA, 2000):

Econômica, como a redução das horas de trabalho perdidas em congestionamentos e redução das despesas médicas graças ao exercício físico;

Política, por exemplo, redução da dependência energética para alguns países;

Social, como a democratização da mobilidade com a equidade do espaço urbano e melhor autonomia e acessibilidade a todos os equipamentos urbanos;

Ecológica, como por exemplo, a redução da emissão de poluentes na atmosfera. 1.4.1 Benefícios energéticos

Todo veículo utiliza energia para prover o transporte de pessoas e mercadorias no mundo. Atualmente, a maioria da energia utilizada nos transportes motorizados é originária de combustíveis fósseis, não se limitando ao petróleo (96% da energia usada são de seus derivados). Outras fontes de energia, como carvão, gás natural e álcool, são importantes em momentos e locais específicos, porém são frações mínimas se comparadas com o todo (WBCSD, 2009 apud SILVEIRA, 2010).

No caso da bicicleta, é necessário um consumo muito pequeno de energia para sua utilização, pois é um veículo de propulsão humana. Segundo o Instituto para la Diversificación y Ahorro de la Energía – IDAE (2009), a bicicleta é o meio de transporte mais eficaz energeticamente, sendo de três a quatro vezes mais eficiente que a caminhada (gráfico 2).

Gráfico 2: comparação do consumo de energia (MJ) entre modos de transporte.

Fonte: elaborado pela autora, baseado em IDAE (2009). 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 B ic ic le ta P e d e st re M ic ro ô n ib u s Ô n ib u s u rb a n o C a rr o a g a so lin a ( < 1 ,4 L ) A v iã o B o e in g 7 2 7 E n e rg ia ( M J) Modos de transporte

Essa afirmação baseia-se no ciclo de vida da bicicleta, ou seja, a energia necessária para sua fabricação, manutenção e posterior eliminação (gestão dos resíduos). A energia empregada em um automóvel permitiria a fabricação de 70 a 100 bicicletas (SANZ, 1999 apud IDAE, 2009).

1.4.2 Benefícios ambientais

Entre 1990 e 1997, as emissões de CO2 diminuíram em todos os setores da sociedade, com exceção

dos transportes, onde aumentou 15% (COMISSÃO EUROPEIA, 2000). A contaminação atmosférica, o aquecimento global e o ruído são alguns dos problemas ambientais que estão reduzindo a qualidade de vida nas cidades e, é nesse sentido, que a bicicleta pode ajudar a melhorar como meio de deslocamento sustentável.

É importante ressaltar que os benefícios ambientais estão diretamente relacionados aos benefícios energéticos. Como a bicicleta é um veículo de propulsão humana, praticamente não emite poluentes ao ser comparado aos outros modos (tabela 1). É um transporte limpo, não emite gases e, portanto, não gera impactos ambientais, além de ocupar menos espaço urbano em relação aos outros modos.

Tabela 1: comparação entre modos de transporte do ponto de

vista ecológico. Base = 100 (automóvel particular sem catalisador).

Fonte: COMISSÃO EUROPEIA (2000).

No momento de utilização da bicicleta, sua perturbação é quase nula, pois o ruído provocado pelo seu mecanismo é inaudível e insignificante se comparado com os veículos motorizados. Nos centros urbanos, a poluição sonora não é somente um problema ambiental, mas um problema de saúde – na Alemanha, por exemplo, uma pesquisa mostrou que o barulho das ruas é o fator que mais incomoda cerca de 50% dos seus habitantes. Somado a essa característica, a bicicleta gera pouca quantidade de resíduos e seu ciclo de vida é mais sustentável que outros veículos. É amplamente recuperável e reutilizável. Existem projetos de reciclagem que se constroem bicicletas a partir de fragmentos de outras bicicletas (COMISSÃO EUROPEIA, 2010; IDAE, 2009).

1.4.3 Outras vantagens da bicicleta

Além dos benefícios energéticos e ambientais, a bicicleta apresenta muitas características favoráveis a sua utilização, como:

Equidade. A bicicleta possui fácil manejo, pois qualquer pessoa é capaz de aprender a utilizá- la em poucas horas. É acessível a praticamente todas as classes sociais e a pessoas de quase todas as idades e condições físicas. Além da equidade social, proporciona a equidade espacial, ao tornar o espaço urbano um local de circulação destinado aos diversos modos de transporte. • Baixo custo de aquisição e manutenção. A bicicleta possui um gasto muito inferior dentre

todos os veículos. Os modelos mais simples podem ser comprados por um valor inferior ao salário mínimo, atualmente, no valor de R$ 678,00 (CAMPOS e PAIVA, 2008).

Flexibilidade. A bicicleta não possui rotas e horários preestabelecidos. Além disso, permite a circulação em locais inacessíveis a outros modos de transporte e, nos congestionamentos, o ciclista pode continuar sua viagem pedalando ou empurrando seu veículo na calçada.

Rapidez. Ao comparar velocidades e distâncias percorridas entre bicicletas e outros modos de transportes, observa-se que ela pode ser tão rápida quanto o veículo motorizado em curtos deslocamentos, exemplificando sua importância na microacessibilidade. Normalmente, a bicicleta é três a quatro vezes mais veloz que a caminhada. Em alguns casos, o ciclista pode ser cinco minutos mais rápido que uma viagem que contempla caminhada e deslocamento por ônibus (gráfico 3). Em algumas condições, o ciclista pode desenvolver velocidades consideráveis em vias urbanas, como registrado na Holanda, velocidade média de 19 km/h (BRASIL, 2007b).

Gráfico 3: comparativo de tempo de viagem entre bicicleta e trajeto por caminhada e ônibus.

Fonte: elaborado pela autora, baseado em COMISSÃO EUROPEIA (2000).

Melhor rentabilidade do solo urbano. A bicicleta ocupa menor espaço tanto no deslocamento quanto no estacionamento. De acordo com o Ministério das Cidades (ibid.), em uma hora circulam cerca de 1.500 bicicletas por metro de largura de via. Em comparação com o automóvel, em uma faixa de 3m de largura trafegam aproximadamente 4.500 bicicletas contra

450 automóveis. Além disso, consegue-se acomodar muitas bicicletas com cerca folga em uma área equivalente a uma vaga de automóvel (figura 5).

Figura 5: comparação do espaço ocupado pelo automóvel e pela bicicleta.

Fonte: arquisofia.blogspot.com.br (2012).

Modo de transporte saudável. Melhora a saúde física e mental por ser uma atividade física moderada. Seu uso cotidiano é bom para o desenvolvimento físico do usuário, pois aprimora o condicionamento e os movimentos. Segundo a Comissão Europeia (2010), um percurso de menos de 3km por dia pode evitar doenças como insuficiência cardíaca, excesso de peso e artrite, fortalecendo o sistema imunológico.