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m 1961, o Governo brasileiro decidiu promover uma reforma do Código Penal brasi-

leiro. Foi confiada a Nélson Hungria a tarefa de elaborar um anteprojeto, que veio, afinal, a ser apresentado em 1963, dando-se-lhe ampla divulgação.

Em 1964, o Ministro da Justiça, Milton Campos, designou comissão revisora, da qual fizeram parte não só o autor, mas também os professores Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso. O trabalho desta comissão não chegou a ser divulgado.

O anteprojeto foi, então, submetido a nova comissão, desta feita composta por Benjamin Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragoso e Ivo D’Aquino, dada a necessidade de uniformizar os textos dos projetos de Código Penal e de Código Penal Militar.

O projeto foi promulgado pelo Decreto-Lei no 1.004, de 21/10/1969, para que entrasse

em vigor em 01/08/1970. O prazo de vacância foi, entretanto, sucessivamente prorro- gado, sob o argumento de que dever-se-ia aguardar a aprovação do novo Código de Processo Penal, de autoria do Professor José Frederico Marques. Afirmava-se pretender que ambos os Estatutos Penais entrassem em vigor juntos.

Já em 31/12/1973, pela Lei no 6.016, em atendimento às inúmeras críticas formuladas

ao Código, foram feitas mudanças no modelo original.

Após quase dez anos de vacância, em 11/11/1978, a Lei no 6.578 finalmente revogou

o Código Penal de 1969, por já não mais corresponder às necessidades do país.40

Ressalte-se que, após a deposição do Presidente João Goulart, fechamento do Congresso, cassação de políticos, juízes, catedráticos, perseguição de estudantes e repressão de opositores, os militares que tomaram o poder, escorados na ideologia da segurança nacional, impuseram um novo modelo punitivo ao País. Reservaram para o Direito Penal a crucial missão: servir de repressão política, por meio do instrumental que compreendia desde espionagem e polícia secreta até a Justiça Penal Militar.

Assim, a prisão funcionou não só como privação da liberdade, mas, particularmente, lugar de suplícios, torturas e mortes. Lá, onde estavam – ou jamais saíram – os rotulados presos comuns, foram também lançados os presos políticos, isto é, os enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Além da pena privativa de liberdade, assistiu-se ao retorno da pena capital, bem como da pena de banimento, ambas destinadas aos chamados sub- versivos, tudo secundado por Atos Institucionais com força de normas constitucionais. Paralelamente a isso, a já referida superpopulação carcerária atingia níveis alar- mantes. Diante do estado geral das prisões do País, foram propostas ou efetivadas

algumas alterações legislativas. Introduziram-se as figuras de regimes prisionais: fechado, semiaberto e aberto.

A partir de 1980, o Ministério da Justiça instituiu Comissão comandada por Francisco de Assis Toledo para examinar e emitir parecer sobre projetos nessa área. Outra Comissão ficou incumbida da compatibilização do estatuto processual com o Anteprojeto de Código de Execuções, elaborado pelo então Conselho Nacional de Política Penitenciária. Estendido ao Código Penal, o trabalho daquelas comissões, que contaram com colaborações de inúmeros profissionais do Direito, originou uma nova Comissão, composta por diversos professores e presidida por Francisco de Assis Toledo.

A reforma da Parte Geral do Código Penal foi extensa e realizada em clima de ampla discussão teórica e democrática.41 Além de mudanças na Teoria do Delito, especialmente

no tocante à culpabilidade, a reforma penal foi bastante expressiva. Aboliram-se as penas acessórias, embora algumas passassem a figurar como efeitos da condenação. Aboliu-se também o sistema do duplo binário, sendo substituído pelo sistema vicariante: pena ou medida de segurança, a última destinada aos inimputáveis ou, excepcional- mente, aos semirresponsáveis que necessitem de especial tratamento curativo.

Manteve-se o sistema progressivo de cumprimento de pena, com os três está- gios: regime fechado, semiaberto, aberto. O livramento condicional e a suspensão condicional da pena foram igualmente revigorados, aquele sendo possível após o cumprimento de 1/3 ou 1/2 da pena, se primário ou reincidente, conforme o caso, e este cabível, em regra, para o condenado primário com pena de até dois anos. Agregue-se que foram estabelecidas três espécies de penas (1) privativas de liber- dade, persistindo-se na disjuntiva “reclusão e detenção”; (2) restritivas de direito, subdivididas em prestação de serviços à comunidade, limitação de final de semana e interdição temporária de direito; e (3) multa, retomando o modelo de dias-multa do Código Criminal do Império.

A Lei no 7.210 – Lei de Execução Penal –, publicada e em vigor junto com a nova

Parte Geral do Código Penal, retirou a execução das penas e medidas de segurança do “hiato de legalidade” apontado por Manoel Pedro Pimentel, consolidando a autonomia desse ramo do Direito. Com efeito, a sistemática introduzida pela Lei de Execução Penal – incorporadora, em larga medida, dos postulados contidos nas Regras Mínimas da ONU – possui como vetores, os princípios da legalidade, da jurisdicionalidade e da ressocialização do condenado. Por meio do primeiro, as penas catalogadas no Código Penal ou em leis extravagantes devem ser executadas de conformidade com a Lei, com o Regulamento e com a sentença condenatória respectiva.42

Também em 1984, veio a lume um anteprojeto de Parte Especial. Foi formada, então, comissão revisora do anteprojeto, formada por Francisco de Assis Toledo, Luiz Vicente

41. Cf. Shecaira, Sérgio Salomão; Corrêa Jr., Alceu. Op. cit., p. 45.

Cernicchiaro, Miguel Reale Júnior, René Ariel Dotti, Manoel Pedro Pimentel, Everardo da Cunha Luna, Jair Leonardo Lopes, Ricardo Nunes Andreucci, Sérgio de Morais Pitombo e José Bonifácio Diniz de Andrada. Do trabalho desta comissão, originou-se a Portaria no 790, de 27/10/1987, com a íntegra do anteprojeto.

Este projeto não chegou a ser objeto de discussão no Congresso Nacional. No governo seguinte, foi constituída nova Comissão, pelo Ministro da Justiça, à época, Maurício Corrêa, com o fito de promover a tão necessária reforma da Parte Especial do Código Penal.

A Comissão foi presidida pelo Ministro Evandro Lins e Silva e composta pelos seguintes juristas: Francisco de Assis Toledo, Luiz Vicente Cernicchiaro, Alberto Silva Franco, Luíza Eluf, Jair Leonardo Lopes, Hélio Bicudo, João Marcello de Araujo Junior, Juarez Tavares, René Ariel Dotti e Wandenkolk Moreira, tendo sido dividida em três subcomissões, cada qual encarregada de disciplinar os diversos ilícitos que constariam do ordenamento jurídico.

A terceira subcomissão, composta pelo Ministro Evandro Lins e Silva e pelos quatro últimos membros listados, recebeu a incumbência de incorporar a extensa legislação extravagante ao corpo do novo Código Penal.

Dos trabalhos das subcomissões, o Ministro Evandro Lins e Silva reuniu-os e criou um anteprojeto que foi entregue, em 1994, ao então Ministro da Justiça, Alexandre Dupeyrat, que não o submeteu ao Congresso Nacional.

Já durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Ministro da Justiça, Nelson Jobim, instituiu comissão integrada por Francisco de Assis Toledo, Elizabeth Sussekind, René Ariel Dotti, Vicente Greco Filho, Juarez Tavares, Miguel Reale Júnior, Antonio Lucho Ferrão e Alceu Loureiro Ortiz, de acordo com a Portaria 215, publicada no Diário Oficial da União, em 10/04/1995.

Esta comissão pretendia alterar alguns setores do Código Penal, seguindo a mesma experiência legislativa que deu causa às recentes alterações no Diploma Civil Adjetivo. Tal Comissão, entretanto, não chegou a levar a termo a sua tarefa, tendo o Ministro Íris Rezende acolhido também a ideia e, no final de 1997, constituído nova Comissão. Esta teve a peculiaridade de ter tido a indicação do Ministro Evandro Lins e Silva e do Professor Damásio Evangelista de Jesus como consultores. Era composta por Luiz Vicente Cernicchiaro (Presidente), Ney Moura Teles, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, Licínio Leal Barbosa, René Ariel Dotti, Miguel Reale Jr. e Juarez Tavares, sendo que os três últimos solicitaram desligamento no dia 02/03/1998.

Tendo em vista, de um lado, a necessidade de produção de um trabalho célere e, de outro, o consenso de que a Parte Geral, alterada por ocasião do movimento de reforma de 1984, não apresentava grandes problemas, a Comissão decidiu que a revisão da Parte Especial tomaria como ponto de partida o Esboço de 1994. Desta maneira e após intenso trabalho, que contou com a participação de diversos segmentos da sociedade civil, pôde trazer a lume o resultado publicado em 24/03/1998. De toda maneira, até aqui, segue vigente a Parte Especial de 1940, com alterações decorrentes de leis especiais.