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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.9 North e a teoria do custo das transações

A teoria do custo das transações nas trocas (NORTH, 1990) nos leva a entender porque as instituições existem e o papel que desempenham no funcionamento das sociedades e de suas economias. A informação, segundo essa teoria, é a pedra angular do custo das transações que consiste na soma do custo de mensuração dos atributos do produto objeto da transação, com o custo dos direitos de propriedade e de outros ligados ao acompanhamento e garantia da efetividade dos contratos. Esses custos de mensuração e de execução encontram-se na base das instituições sociais, políticas e econômicas.

Em 1986 foram medidos os custos de transação que permeiam o mercado na economia dos Estados Unidos e concluíram que parte substancial da renda nacional é gasta com transações que incluem custos bancários, seguros, finanças, vendas no atacado e comércio a varejo, advogados, contadores, etc., (North; Wallis, 1986 apud North, 1990, p.12, p.30). O autor utiliza o vocábulo transacionar como o ato de proteger e tornar eficaz o direito de propriedade dos produtos, isto é, o direito de usar, fruir, e trocar, como também o direito de excluir terceiros.

Caso se reconheça que os custos totais de produção consistem nos recursos de terra, trabalho e capital envolvidos na transformação dos atributos físicos de um produto, somados aos custos de transação, North (1990) defende a necessidade de uma nova estrutura analítica da teoria microeconômica. Na sua tentativa de estabelecer a razão pela qual o ato de transacionar tem um custo tão elevado, explora o custo de mensuração dos atributos do produto e os custos de efetividade dos contratos. Ensina que, em geral, é possível extrair utilidade de diversos atributos de um produto em vista do que o valor de uma aquisição corresponde ao valor dos diferentes atributos acumulados no produto ou serviço. A mensuração desses atributos se dá mediante o uso de recursos além de outros recursos adicionais despendidos para definir e medir os direitos que são transferidos. Nesse sentido, alerta sobre os custos gerados numa troca decorrentes de ambas as partes tentando determinar quais são os atributos de valor do objeto da troca. Muitas vezes os atributos desse patrimônio permanecem pouco delineados em razão dos custos proibitivos de sua mensuração. Os custos de transação envolvidos na aquisição da informação necessária sobre o nível dos atributos de cada unidade de troca, e sobre os atores e características da própria troca sempre existem, em relação a qualquer troca. As assimetrias de informação entre os diversos atores produzem implicações radicais para a teoria econômica e para o estudo das instituições.

Em determinada transação, ensina, não apenas uma parte tem mais conhecimento sobre o valor de um atributo do que a outra parte, como também pode obter ganhos escondendo essa informação.

Para explicar o conceito de mensuração North (1990) se contrapõe ao modelo neoclássico de equilíbrio geral onde os produtos são idênticos, o mercado é concentrado num único ponto no espaço, as trocas são instantâneas, os indivíduos detêm informações completas sobre o produto e os termos da negociação comercial são conhecidos por ambas as partes. Nesse modelo, nenhum esforço é necessário para efetivar a troca, a não ser dispor da soma apropriada de dinheiro. Os preços, nessas condições idealizadas, tornam-se instrumentos suficientes para realizar o mais alto valor de uso.

Mas já foi sustentado, recentemente, que, em geral, as coisas não ocorrem dessa forma porque esforços substanciais são feitos para medir, garantir e policiar os contratos (NORTH, 2005). A mensuração e a garantia de execução dos contratos encontram-se presentes na maior parte das transações, considerando-se a existência de seguros, garantias, marcas comerciais, recursos voltados para remunerar o uso do sistema judiciário, etc. Em geral, quanto mais facilmente seja possível apropriar-se dos ganhos do patrimônio de alguém sem avançar nos custos completos de sua ação, tanto mais baixo é o valor do patrimônio. A maximização do valor de um patrimônio envolve a estrutura de propriedade em que as partes podem influenciar a variabilidade do valor dos atributos particulares dos bens e se apropriarem dos atributos residuais.

Em relação à exigibilidade, uma de suas interfaces é o policiamento dos agentes. A exigibilidade pode resultar de códigos internos de conduta, de sanções sociais, ou ainda da ação coercitiva do Estado. O comportamento de auto-interesse, na ausência de limitações institucionais, tende a se apropriar do complexo de trocas, em razão da incerteza. O custo de transação, nessa perspectiva, reflete a incerteza por meio da inclusão de um prêmio pelo risco, cujo tamanho é compatível à maior ou menor probabilidade de defecção da outra parte. A magnitude desse prêmio através da história tem se apropriado largamente do complexo de trocas e, em conseqüência, limitado as possibilidades de crescimento econômico em algumas sociedades.

Na última parte desse capítulo, North (1990) explora a relação entre os sistemas de comportamento, as características das transações e a estrutura institucional da sociedade. Define o direito de propriedade como o direito de cada indivíduo se apropriar do próprio trabalho e dos bens que possui. A apropriação seria uma função que possui normas legais, formas organizacionais, exigibilidade, e normas de comportamento, isto é, possui uma estrutura

institucional. Em razão de serem positivos os custos de qualquer transação que envolva a estrutura dos direitos de propriedade, esses direitos nunca são perfeitamente especificados e exeqüíveis porque alguns atributos valorados se encontram em domínio público e se paga a indivíduos para devotarem recursos destinados a capturá-los.

O exercício dos direitos de propriedade de um imóvel situado em Beirute, em 1980, é comparado com os mesmos direitos de propriedade de um imóvel situado em uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Por meio desse exemplo, North (1990) ilustra esses conceitos e demonstra que o custo das transações vem mudando radicalmente através da história em razão da variação considerável, em diferentes economias contemporâneas, das formas de proteção de direitos de propriedade, das tentativas individuais de capturar atributos que se encontram em domínio público, e dos recursos destinados a protegê-los.

No passado, diz North (1990), muitos direitos estavam em domínio público disponíveis a serem apossados por meio da violência potencial. Mais tarde, a estrutura legal definiu e garantiu grande quantidade de direitos que se encontrava em domínio público, e seus respectivos valores. A diferença entre cada uma dessas formas é a estrutura institucional. As instituições provêem a estrutura que determina o custo de transação das trocas. Onde há instituições mais aprimoradas os custos de transação são menores. Dessa forma, o grau de complexidade na economia de trocas é uma função compatível com o nível dos contratos necessários para garantirem a realização dessas trocas em vários graus de especialização.

As trocas no mundo moderno necessitam de confiabilidade institucional que emergiu, gradualmente, nas economias ocidentais. A troca mais usual na maior parte da história econômica tem sido a de pequena escala de produção destinada ao comércio local. Nesse tipo de troca os custos de transação são baixos em razão da repetição de negócios e da homogeneidade cultural. Quando as trocas se incrementam, um segundo tipo geral de troca tem sido invocado, que é a troca impessoal garantida por meio de códigos de conduta mercantis. Esses mecanismos institucionais tornam possível a amplitude dos mercados e North (1990) ressalta que na Europa moderna essas instituições, freqüentemente, estão à frente do Estado no papel de proteger os comerciantes. Considerando as dificuldades de se obter produtividade numa sociedade moderna em meio à anarquia, existe ainda uma terceira forma - a troca impessoal com garantia de execução - vinculada à existência de um poder coercitivo. No entanto, o maior dilema no estudo da evolução das instituições é a efetividade dos contratos e a existência de um sistema judicial efetivo que funcione.

O estudo de North (1990) dá embasamento teórico ao uso da propriedade intelectual como elemento essencial à constituição de cooperação técnica e financeira para a execução de

projetos complexos na área da biotecnologia. A articulação, negociação e formalização dos direitos de propriedade intelectual por meio de contratos cuja efetividade esteja acima de quaisquer disputas judiciais podem ser fatores importantes para diminuir o custo das transações que atualmente separam a pesquisa pública das empresas privadas na constituição de cooperação para executarem os projetos na área da biotecnologia. Caso a pesquisa pública aprenda a manejar esses instrumentos de modo a diminuir o grau de incerteza que esse tema, atualmente, vem acarretando, talvez haja possibilidade de a biotecnologia se desenvolver no país.