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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.6 Simon e a teoria da conduta da racionalidade limitada

“Reason and Human Affairs”, o livro de autoria de Simon (1983) publicado pela Universidade de Stanford e, posteriormente, traduzido e publicado no México, em 1989, pela Editora Fondo de Cultura Econômica, é um dos pontos de sustentação sobre o qual se apóia esta dissertação. Simon integra o seleto clube de economistas que vêm construindo a Nova Economia Institucional (NEI) ao longo das três últimas décadas, ao lado de North (1990), Willianson (1982), Demsetz (1967) e outros.

Economista norte americano nascido em Milwaukee, Wisconsin, em 1916, Simon concluiu o curso de doutorado em 1943 em Ciências Políticas, na Universidade de Chicago, onde foi assistente da cadeira de Investimento entre os anos de 1936 e 1938, época em que colaborou com a Universidade da Califórnia. Lecionou no Instituto Tecnológico de Illinois, de 1942 a 1949. Em 1949 se transferiu para a Universidade de Carnegie-Mellon, em Pittsburg, onde foi titular da cadeira de Administração e Psicologia até 1965 e regente da cátedra de Informação e Psicologia. Simon foi colaborador da Rand Corporation, consultor do Governo dos EUA, da NASA e ex-diretor do conselho de pesquisas em Ciências Sociais. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1978, pelas suas pesquisas realizadas na área de "tomada de decisões no interior das organizações econômicas". Foi membro da Academia Nacional de Ciências dos EUA e da Sociedade Norte-Americana de Economia.

No prefácio da obra que escolhemos para fundamentar esta dissertação ele torna claro qual é o tema que focaliza em seus estudos, quando confessa: “A natureza da razão humana – seus mecanismos, efeitos e conseqüências para a condição humana – tem sido minha preocupação principal durante aproximadamente cinqüenta anos.”. (SIMON, 1989, p.9, tradução nossa). Além disso, fornece pistas instigantes sobre a razão pela qual, independente da elegância de suas formulações, as modelagens propostas pelos economistas neoclássicos, algumas vezes, pairam em um nível muito alto de abstração dissociado da vida real.

No capítulo denominado “As Visões Alternativas da Racionalidade” expõe os mecanismos da racionalidade limitada dizendo que vivemos num mundo quase vazio em que embora haja milhões de variáveis que poderiam afetar-se, reciprocamente, na maior parte do tempo, não o fazem. Daí por que, em relação às necessidades intermitentes, de maneira geral, “atuamos como animais que avançam passo a passo, fazendo apenas ‘uma coisa de cada vez’” (SIMON, 1989, p.33). Destaca a capacidade de obtermos dados acerca do ambiente em que nos encontramos, de extrairmos inferências desses dados e como os mecanismos emotivos são

importantes para elegermos alternativas que garantem a sobrevivência de nossa espécie. Para exemplificar a íntima conexão que existe entre a emoção e a atenção, diz:

Porque Silent Spring de Rachel Carson teve tanta influência?8Os problemas

que descrevia já eram conhecidos pelos ecólogos e outros biólogos daquela época. Mas os descrevia de uma forma que despertava emoção, que fixava nossa atenção no problema que discutia. Essa emoção, uma vez despertada, nos impedia de desconsiderá-lo e preocuparmos com outros problemas enquanto não se fizesse algo a respeito. Pelo menos a emoção mantinha o problema no fundo de nossa mente, como uma questão insistente e inescusável.

De fato, em junho de 1962 o livro Silent spring (Carson, 1962, apud Watson, 2005, p.151) causou sensação ao ser publicado em capítulos na revista The New Yorker. Segundo Watson (2005,) o livro trazia a advertência “aterrorizadora de que os pesticidas estavam envenenando o meio ambiente e contaminando até mesmo os nossos alimentos”.

Simon (1989) desenvolveu a teoria da conduta da racionalidade limitada. Essa teoria descreve a forma como as pessoas tomam decisões e resolvem problemas e explica o fato de que permaneçam vivas e, inclusive, prosperem apesar de suas modestas capacidades de cálculo em comparação com a complexidade do mundo que as rodeia. A emoção, diz ele, tem grande importância pela sua função seletiva entre as escolhas que devemos fazer, embora nem sempre oriente nossa atenção para metas desejáveis. As conseqüências da teoria da racionalidade limitada demonstram que as decisões tomadas sob a ótica desse modelo, não são perfeitas e nem consistentes do ponto de vista lógico.

Na construção da sua teoria, Simon (1989) faz uma comparação entre a racionalidade individual e a racionalidade institucional. Os seres humanos dependem da estabilidade de seu meio para fazerem cálculos destinados a avaliar as decorrências de suas condutas. Daí a importância das instituições que, por pior que sejam, proporcionam um meio estável e um mínimo de racionalidade possível. O meio institucional, da mesma forma que o meio ambiente, nos cerca com um padrão de acontecimentos perceptíveis e confiáveis. Os limites da racionalidade institucional são similares aos limites da racionalidade individual de cada ser humano que se defronta com limitações de atenção, e incerteza. Nesse contexto, demonstra a importância relativa do mercado sustentando ser apenas um dos mecanismos que permite aos atores operarem com certa confiança por reduzir a necessidade de coleta de informações e se constituir, portanto, em uma força que atua para o fortalecimento da racionalidade institucional.

8Rachel Carson depôs em 1962 perante uma subcomissão do Congresso dos Estados Unidos formada para

investigar as advertências que fez em seu livro Silent Spring sobre os perigos dos pesticidas. Antes de suas denúncias o DDT (Dichloro Diphenyl Trichlorethane) era tido como inócuo à saúde do homem.

É enfático quando afirma que só quando se entendem as limitações da racionalidade humana é possível idealizar procedimentos para usá-la com eficácia.

No último capítulo trata da aplicação dos processos racionais nas questões sociais. Diz ser ilusória a percepção de cada indivíduo possuir uma função de utilidade independente interagindo com seus congêneres por meio dos preços de mercado. Essa noção latente na teoria neoclássica é equivocada diz ele, por que nossos valores e preferências, bem como as alternativas de que dispomos derivam da interação com o meio social. Nesse sentido, destaca a importância das crenças e valores disseminados entre as pessoas e entre as gerações de uma dada sociedade. Embora atribua importância aos mercados, discorre sobre a impossibilidade de os mesmos operarem no vazio social e demonstra como, ao contrário, fazem parte de uma estrutura mais ampla integrada pelas instituições sociais. Daí a necessidade de se compreender o papel das instituições em determinada sociedade, dada à sua influência sobre o mercado.

Além disso, Simon (1987) usa o conceito de externalidade que embora tenha profundo impacto sobre os preços de mercado, em geral não é considerado pelos economistas neoclássicos, fato que distorce a representação que fazem da realidade. Externalidades são fatores que não se coíbem, embora possam ter efeitos negativos e pelos quais não se paga, embora possam ter efeitos positivos. São fatores que não entram nas modelagens construídas pelos economistas por não serem mensuráveis e, às vezes, sequer passíveis de identificação.

No estudo da racionalidade das ações humanas o autor, em síntese, aborda três vertentes: a relação entre razão e emoção; a analogia entre adaptação racional e evolução; e as implicações da racionalidade limitada para o funcionamento das instituições políticas e sociais. Esta última vertente merece especial atenção nesta dissertação por dar embasamento teórico a uma das hipóteses que sustentamos - a de que a legislação que rege a biossegurança de OGMs pode ser um dos fatores a criar obstáculos no Brasil à pesquisa e liberação comercial de OGMs voltados ao complexo agro-industrial, como tentaremos demonstrar no Capítulo 3.