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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.8 Resultados da combinação de racionalidade limitada com oportunismo

Os conceitos da Nova Economia Institucional (NEI), notadamente no que concerne à Economia do Custo das Transações (ECT) e suas aplicações ao agronegócio, constituem o marco teórico que sustenta as linhas mestras desta dissertação. Sobre essa vertente da economia Willianson (1982, p.1, tradução nossa) diz:

Os economistas têm desenvolvido nos últimos anos interesse pela “nova economia institucional”. Aspectos das principais linhas da microteoria, história econômica, economia dos direitos de propriedade, sistemas comparativos, economia do trabalho e organização industrial têm avançado nessa renascença. Os pontos comuns que ligam esses vários estudos são: (1) consenso no sentido de que a microteoria recebida, tão útil e poderosa para muitos objetivos, opera num nível de abstração muito alto para permitir a adaptação de muitos fenômenos importantes de micro-economia; e (2) a impressão de que o estudo das “transações” que era o foco dos institucionalistas há quarenta anos atrás é realmente a matriz (econômica) e merece redobrada atenção. Diferente dos antigos institucionalistas, no entanto, o grupo atual está inclinado a ser eclético. Os novos economistas institucionalistas utilizam a microteoria sem substituir a análise convencional da qual não prescindem, mas a utilizam de forma complementar.

A contribuição de muitos economistas que precederam à Nova Economia Institucional (NEI) é exposta com tal coerência em sua obra que a lógica do encadeamento dessa evolução conceitual acaba por emergir, até culminar nas etapas acrescentadas pelo próprio Willianson (1982) nessa jornada. Na construção de seu raciocínio toma emprestado, inicialmente, o conceito de transação como a menor unidade econômica objeto de pesquisa (Commons, 1934 apud Willianson, 1982) ressaltando a importância do controle legal e da eficiência dos contratos.

Em seguida, assinala que na opinião geral dos economistas o tratamento convencional atribuído às firmas e mercados não deriva de bases conceituais sólidas e dá crédito à Coase (1937) pelo fato de ter introduzido os conceitos de transação (e dos custos a ela associados) e de incerteza, além de ter revelado que o foco da análise deve ser, na verdade, o custo das transações quando efetuadas no âmbito da própria firma ou diretamente no mercado. Ao tecer elogios a Coase (1937) pelo “uncommonly insightful treatment” resume o cerne do artigo seminal no qual se apóia e cujo mérito, em sua opinião, foi ter revelado a utilidade da firma para se economizar custos de transação em dois aspectos: ao forçar a revelação de todos os custos

embutidos em um bem ou serviço; e na substituição da necessidade de se firmar muitos contratos, em geral incompletos e de alto custo (WILLIANSON, 1982, p.4).

Toma por fundamento de seu trabalho, igualmente, parte da discussão da ordem econômica racional, notadamente no que concerne ao planejamento central como alternativa que se contrapõe ao sistema de mercado competitivo (Hayek, 1945, p. 521 apud Willianson, 1982, p.4). Em seguida, ao abordar as falhas de mercado, apóia-se na literatura do pós-guerra cujos estudos sobre problemas de seguros (Arrow, 1971 pp. 134-43 apud Willianson, 1982, p.5) tornaram-se paradigma para outros estudos acerca das relações de emprego, integração vertical e competição no mercado de capitais, e até mesmo sobre bens públicos.

Na organização da atividade econômica considerando mercados e hierarquia há de se compreender a diferença entre esses dois conceitos. Enquanto as transações de mercado envolvem trocas entre entidades econômicas autônomas cujo estudo é familiar da análise microeconômica, as transações hierarquizadas são aquelas para as quais uma entidade administrativa singular se expande para os dois lados da transação e ocorre uma forma de predominância e de subordinação que passa a ser consolidada. Além disso, enquanto a microteoria geralmente olha a organização da atividade econômica entre firmas e mercados como um dado, o estudo de mercados e hierarquias expressamente cuida de acessar a eficiência do exercício da propriedade garantida por meio de diferentes formas de contratos. Por outro lado, enquanto a análise convencional se preocupa com a investigação do produto final no mercado, o estudo de mercados e hierarquias acarreta, adicionalmente, um exame intensivo do mercado de trabalho, do mercado de produtos intermediários e das transações do mercado de capitais. Nessa rota Willianson (1982) chega a afirmar que o aparato modelado da microteoria recebida é uma micro-análise insuficiente da transação e o que é referido como falhas estruturais da organização é repetidamente empregado na tentativa de acessar a eficácia de transações de mercado ou dentro da firma. A respeito da Nova Economia Institucional Willianson (1982) ressalta que o controle legal das transações e a eficácia dos contratos tornaram-se o foco de seus estudos.

As principais diferenças de sua construção intelectual quanto à antiga literatura sobre firma e mercado, são as seguintes: i) as ramificações da racionalidade limitada; ii) a noção de oportunismo; iii) a incerteza ou small numbers individualmente ou em conjunto acarretando falhas no mercado. Além disso, sustenta que a substituição das trocas mediadas no mercado pela organização interna (hierarquia) freqüentemente ocorre considerando a racionalidade limitada, a incerteza e a informação assimétrica.

As dificuldades nas trocas derivam, segundo ele, da conjugação de todos esses fatores com a racionalidade limitada de um lado, e com o oportunismo de outro. Nesse sentido, ressalta que a sua abordagem pode ser resumida da seguinte forma: i) mercados e firmas são instrumentos alternativos para completar seqüências de atividades relacionadas às transações; ii) uma seqüência de transações a ser executada no mercado ou no interior da firma depende da eficiência relativa de cada um desses modos de operação; iii) os custos de redigir e executar contratos complexos varia de acordo com as características dos tomadores de decisão que estão envolvidos na transação de um lado, e as propriedades objetivas do mercado, de outro; iiii) apesar dos fatores humanos e ambientais manifestarem-se de forma diferente dentro da firma, aplicam-se também no mercado e com a mesma freqüência.

Ao examinar as falhas na organização o autor aprofunda a análise dos conceitos de racionalidade limitada e de incerteza. Apesar do risco de simplificação, seus argumentos podem ser resumidos por dois pares que se associam: racionalidade limitada com incerteza de um lado, e oportunismo com relações de troca de outro lado. O autor destaca o impacto da informação como uma condição essencial nessa análise e o oportunismo como fator que aumenta o custo das transações. As principais contribuições de Willianson (1982, p.7) podem ser sintetizadas pela introdução dos conceitos de oportunismo, e racionalidade limitada, fatores que combinados com incertezaocasionam dificuldades nas transações e nos seus respectivos custos.

No Prefácio (Preface to the College Edition) de “Markets and Hierarchies” Willianson (1982, p.x, tradução nossa) diz:

Estudantes e professores que fazem análises institucionais comparativas freqüentemente descobrem aplicações que não tinham sido evidentes para mim quando Markets and Hierarchies foi escrito.

Assim, ao analisar as questões institucionais e organizacionais que criam obstáculos no país à pesquisa e ao uso comercial de OGMs voltados ao complexo agro-industrial, apontando o comportamento de ONGs e outros grupos sociais que vêm atuando no país nesse cenário, na última década, as incertezas decorrentes de uma base institucional ainda muito frágil, e a racionalidade limitada do governo, de algumas empresas e entidades públicas que atuam nessa arena, espera-se indicar outra aplicação possível a esse marco teórico ainda em processo de construção. Além disso, encontramos em seus estudos fundamentos robustos para justificar a importância dos contratos na lógica da constituição de parcerias entre a pesquisa pública e as empresas do setor privado de sementes visando incrementar recursos indispensáveis para a

pesquisa convencional voltada ao complexo agro-industrial, bem como para garantir o avanço da biotecnologia nos nichos que interessam ao país.