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8. ANÁLISE DOS RESULTADOS

9.6 Novas linhas de investigação

Na última seção deste capítulo há espaço para discorrer sobre novas linhas de investigação que se descortinam a partir deste trabalho. A primeira delas, que pode levar a alguns resultados surpreendentes, é executar uma pesquisa sobre as Organizações Não Governamentais (ONGs). Não se propõe um levantamento completo, mas apenas do universo daquelas que figuram como signatárias do documento “Por um Brasil Livre de Transgênicos”. E a pesquisa poderia adotar como ponto de corte temporal, a atuação dessas ONGs a partir de 2000, com foco no levantamento de suas principais fontes de financiamento - se é que tais dados encontram-se disponíveis para análise e estudo, com o objetivo de tentar entender os fundamentos do combate que infringem de forma indiscriminada contra qualquer OGM com aplicação agro-industrial.

A segunda linha de pesquisa que se propõe é averiguar as decorrências do contrabando de sementes, multiplicação e comercialização da soja maradona isto é, a soja rr no período em que o registro de suas cultivares esteve suspenso no país por força da decisão judicial acima referida. O objetivo da pesquisa seria estudar o impacto do contrabando e suas decorrências sobre o segmento das indústrias de sementes sediadas no país. O universo a se considerar seriam as empresas de semente de soja e o corte temporal a partir de 2000. Os dados poderiam ser levantados junto às empresas de semente existentes à época, para se apurar quantas dessas empresas sobreviveram à crise, quantas

15Como antígenos contra o câncer, hormônios de crescimento, insulina, etc. 16Ação que visa a reparação de desastres ambientais.

fecharam a partir de então, bem como a oscilação de seu faturamento e o número de empregados demitidos.

A terceira linha de pesquisa que se propõe efetuar é sobre o levantamento das fitopatologias da soja que ocorreram no território nacional a partir de 2000. O objetivo seria estabelecer a existência de uma relação entre o aparecimento das doenças da soja com o descumprimento em massa das normas fitossanitárias em decorrência do contrabando de sementes e da vulgarização da bolsa blanca ocorrida, principalmente, no Estado do Rio Grande do Sul. A região geográfica a ser considerada seria a soma das regiões de plantio da soja maradona e o objetivo final estaria direcionado a levantar o montante dos prejuízos causados.

A quarta linha de pesquisa que se propõe é a seguinte: averiguar o que aconteceu na Embrapa no período 2003 - 2007 em termos de inovação tecnológica, isto é, identificar as tecnologias protegidas pela estatal no país e no exterior a partir de então e efetuar uma comparação com o período imediatamente anterior 1998 - 2002, além de efetuar um levantamento sobre os antigos parceiros privados da estatal e a constituição de novos. O objetivo seria verificar a evolução do modelo Embrapa de inovação tecnológica, com especial ênfase na renovação dos contratos de cooperação com parceiros públicos e privados e os resultados alcançados.

10. CONCLUSÕES

10.1 Apresentação

Este capítulo decorre do anterior, onde foram efetuadas as discussões dos resultados obtidos com a pesquisa, e por meio dele se pretende fornecer uma resposta aos objetivos específicos e, em conseqüência, ao problema formulado no Capítulo 1.

A pesquisa é agora confrontada com os objetivos específicos inicialmente delineados destacando-se, ao final, a contribuição deste estudo. O capítulo encontra-se organizado em quatro seções: apresentação; retrospectiva; objetivos específicos versus resultados alcançados pela pesquisa; e conclusões finais.

10.2 Retrospectiva

É recomendável recordar o contexto em que este trabalho se insere, o problema objeto da pesquisa e as hipóteses suscitadas, antes de confrontar os objetivos específicos com os resultados obtidos.

Dissemos no Capítulo 1 que o agronegócio, entendido como a soma da indústria de insumos, da produção agrícola, e da indústria de primeira e segunda transformação, vem sendo responsável, desde 1990, pela geração de parte expressiva da riqueza do país, como demonstram os indicadores que medem a economia. Tem proporcionado o superávit da balança comercial decorrente das exportações de commodities agrícolas que asseguram o ingresso de riqueza sob a forma de divisas. Além disso, contribui com o aumento da receita da população de baixa renda porque vem garantindo comida barata no mercado interno. Mas, paradoxalmente, o setor não goza de prestígio. O crescimento do movimento ambientalista e o aumento da consciência da sociedade sobre a necessidade da preservação do meio ambiente levam ao constante questionamento do agronegócio. Além disso, e na esteira da imagem negativa do agronegócio, há restrições da sociedade, no Brasil, ao uso de OGMs pelo complexo agro-alimentar, quer pelo temor de não serem seguros à saúde humana e animal, quer pela desconfiança de não serem inócuos ao meio ambiente.

Diante desse cenário, o PROBLEMA da pesquisa foi descobrir quais são os entraves, no Brasil, à obtenção e uso de OGMs destinados ao complexo agro-alimentar. Considerando que no período de dez anos a contar da vigência da Lei n° 8.974, de 1995, que regia a biossegurança de OGMs no País até ser revogada e substituída pela Lei n º 11.105, de 2005, apenas a soja rr recebeu autorização governamental para cultivo e, recentemente em 2006 o algodão rr(sem considerar o milho que em 2007 ainda sofre restrições decorrentes de ações judiciais) sustenta-se a HIPÓTESE de que os principais obstáculos com que se defrontam as universidades, institutos de pesquisa e empresas para pesquisarem e disponibilizarem o uso comercial de OGMs destinados ao complexo agro-alimentar no país, sejam os seguintes:

 As exigências da legislação nacional de biossegurança de OGMs.

 As dificuldades das entidades de pesquisa pública para negociarem os direitos de propriedade intelectual.

 A existência incipiente de cooperação técnica e financeira entre as entidades de pesquisa pública e as empresas privadas.

Os dados secundários levantados pela pesquisa apontam que a lei de biossegurança vigente decorreu de uma tentativa frustrada de duas ONGs (IDEC e Greenpeace) para criar obstáculos ao desenvolvimento da biotecnologia no país, por meio da interpretação equivocada da lei anterior e, concomitante interposição de uma ação judicial.

A nova lei resultante dessa disputa cria obstáculos ao desenvolvimento da biotecnologia impondo dificuldades à pesquisa e à liberação comercial dos organismos geneticamente modificados (OGMs).

Identificados pelos dados secundários levantados e analisados todos os entraves à pesquisa e à liberação comercial de OGMs por força da Lei de Biossegurança vigente, foi cumprido um dos objetivos específicos deste estudo.

O texto da lei vigente, discutido no Capítulo 3, reflete a concepção contrária ao desenvolvimento da biotecnologia no país defendida por uma parcela da sociedade civil organizada que conseguiu reunir apoio político nas duas Casas do Congresso Nacional e, principalmente, junto ao Poder Executivo para aprová-la. É forçoso reconhecer que as ONGs signatárias do movimento "Por Um Brasil Livre de Transgênicos" conseguiram influenciar os tomadores de decisão introduzindo novas instâncias e procedimentos no processo administrativo delineado pela nova lei, e dessa forma, criaram mais restrições ao setor

produtivo e ao setor público e privado de pesquisa por meio de limitações e freios ao desenvolvimento da biotecnologia no país.

Por outro lado, o generalizado desconhecimento no país sobre os direitos de propriedade intelectual e sobre as prerrogativas por eles asseguradas, alinha-se entre as demais hipóteses suscitadas (Capítulo 4) que agravam o problema. Os dados secundários levantados, com destaque para a Lei de Inovação (Lei nº 10.973, de 2004), instituída justamente para criar estímulos ao estudo, busca e aplicação desses direitos pelo setor público de pesquisa, reforça nossa explicação. E a percepção dos especialistas consultados acerca desse tema não destoa dessa impressão preliminar, como já foi discutido no Capítulo 7.

Por fim, a terceira hipótese concernente à cooperação entre a pesquisa pública e as empresas privadas foi considerada altamente desejável pelos especialistas consultados. A sua ausência ou existência incipiente no país pode ser considerado como o terceiro fator que contribui para retardar o desenvolvimento da biotecnologia. A justificação passa pela insuficiência de recursos públicos destinados à pesquisa em geral e à biotecnologia em particular, fato que aponta para a cooperação técnica entre a pesquisa pública e as empresas privadas como alternativa viável para suprir essa lacuna. Nesse sentido, a política implantada pela Embrapa em 1998 pode motivar outras entidades públicas de pesquisa a reforçarem a captação de recursos privados mediante a concessão de incentivos.