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O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

Parte III – Princípios

Capítulo 5 Direito de Propriedade, Direito ao Meio Ambiente, Direito à

5.2. O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado

Para José Afonso da Silva, “meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”23.

O conceito legal de meio ambiente encontra-se na Lei Federal nº 6.938/81, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que, em seu art. 3º, inc. I, prevê que entende-se por “meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Tal conceito foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988 e verifica-se que o legislador optou por um conceito indeterminado, cabendo ao intérprete o preenchimento de seu conteúdo.

O meio ambiente pode ser enfocado em diferentes aspectos. Meio ambiente natural, constituído por solo, água, ar, flora e fauna, tutelado pelo art. 225, da Carta Magna. Meio ambiente artificial, integrado pelo espaço urbano construído, regulado no art. 182, da Constituição. Meio ambiente cultural, integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico, possuidor de um valor especial

e tutelado pelo art. 216, da Constituição. Meio ambiente do trabalho, que consiste no local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, remuneradas ou não, mencionado no art. 200, inc. VIII, da Lei Máxima.

A qualidade do meio ambiente influi na própria qualidade de vida, razão pela qual a qualidade do meio ambiente é um bem ou patrimônio que deve ser preservado ou recuperado pelo Poder Público. Na cultura ocidental, o desenvolvimento econômico visa à obtenção de lucro sob forma de dinheiro, e ter mais ou menos dinheiro é confundido com ter melhor ou pior qualidade de vida. Essa mesma cultura ocidental, apesar de preocupada com a qualidade de vida, vem destruindo a natureza em nome do desenvolvimento econômico, razão pela qual é imperativo buscar conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação da qualidade do meio ambiente, promovendo o chamado desenvolvimento sustentável, que consiste na exploração equilibrada dos recursos naturais, no limite da satisfação das necessidades da presente geração, assim como sua conservação no interesse das gerações futuras.

A tutela jurídica do meio ambiente é necessária para evitar sua degradação, que pode ocorrer pela destruição dos elementos que o compõe, como o desmatamento, ou pela contaminação por substâncias que alterem sua qualidade, como se dá com a poluição, que pode atingir o ar, as águas, o solo, a paisagem. Nem toda a poluição é condenável, já que ela é inevitável. Logo, somente se considera como poluição a atividade que influa de maneira nociva, direta ou indiretamente, sobre a vida, saúde, segurança e bem estar da população, sendo importante frisar que as atividades humanas alteram o meio ambiente e quando normais não merecem repressão, só exigindo combate quando prejudiciais.

O Direito Ambiental é o conjunto de normas e princípios editados objetivando a manutenção de um perfeito equilíbrio nas relações do homem com o meio ambiente. Princípios são o alicerce, o fundamento do Direito. Nem todos os autores costumam relacionar os mesmos princípios do Direito Ambiental, razão pela qual optamos por tratar dos princípios apresentados por Paulo Affonso Leme Machado24:

1 - Princípio do acesso eqüitativo aos recursos naturais - a eqüidade deve orientar a fruição ou o uso da água, do ar e do solo, propiciando oportunidades iguais a casos iguais ou semelhantes;

2 - Princípio do usuário-pagador – o utilizador do recurso deve suportar os custos destinados a tornar possível sua utilização, evitando que o Poder Público e terceiros paguem por ele;

3 - Princípio do poluidor-pagador - o poluidor deve pagar a poluição que pode ser ou que já foi causada; aquele que causar a deterioração paga os custos exigidos para prevenir ou corrigir, não significando, porém, que quem pagar está autorizado a causar dano;

4 – Princípio da precaução – enunciado no Princípio 15, da Declaração do Rio de Janeiro: “Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis (ao meio ambiente), a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Na dúvida acerca da produção do dano ambiental, deve-se optar pela solução que proteja o ser humano e conserve o meio ambiente;

5 – Princípio da prevenção – deve-se evitar a consumação dos danos ao meio ambiente;

6 – Princípio da reparação – o meio ambiente danificado deve ser reparado, não bastando a indenização das vítimas;

7 – Princípio da informação – cada indivíduo deve ter acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas. A informação ambiental deve ser transmitida sistematicamente, e não apenas nos acidentes ambientais;

8 – Princípio da participação – o melhor modo de tratar as questões do meio ambiente é assegurando a participação de todos os cidadãos interessados, no nível pertinente.

A evolução da legislação ambiental no Brasil compreende três fases distintas, relacionadas por Antônio Herman Benjamin25.

Do descobrimento, em 1500, até o início da segunda metade do século XX, pouca atenção recebeu a proteção ambiental no Brasil, à exceção de poucas normas isoladas, que não visavam resguardar o meio ambiente como tal. É a fase da exploração desregrada, caracterizada pela omissão legislativa, onde eventuais conflitos ambientais eram dirimidos com base nos direitos de vizinhança, em especial o art. 554, do Código Civil de 1916, que atribuía ao proprietário ou inquilino de um prédio o direito de impedir que o mau uso da propriedade vizinha prejudicasse a segurança, o sossego e a saúde dos seus habitantes.

Num segundo momento, surge a fase fragmentária, em que o legislador passa a se preocupar com categorias de recursos naturais, mas não com o meio ambiente como um todo. Somente se tutelava aquilo que tivesse interesse econômico – utilitarismo – havendo o reducionismo do objeto. Exemplos: Código Florestal (Lei Federal nº 4771/65), Código de Caça (Lei Federal nº 5197/67), Lei de Agrotóxicos (Lei Federal nº 7802/89).

Finalmente, indicando uma alteração na visão do legislador, passa- se à proteção integral do meio ambiente, como um sistema ecológico integrado, em que resguardam-se as partes a partir do todo. É a fase holística, que compreende a Lei Federal nº 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e a Lei Federal nº 9.605/98 (Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente).

Antes de 1988, não havia referências constitucionais expressas ao meio ambiente. Esse quadro de omissão constitucional mudou com a Carta de 1988, que dedicou um capítulo inteiro ao assunto, que vem tratado no art. 225, cujo caput dispõe que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Dentre os diversos parágrafos do art. 225, cumpre destacar o 3º, que prevê que as condutas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos. Isso significa que as responsabilidades penal, administrativa e civil são independentes entre si, ou seja, o fato de ter sofrido uma multa administrativa não impede que o infrator seja processado criminalmente ou seja condenado a indenizar o dano na esfera civil.

O art. 225 impõe ao Poder Público o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. A expressão Poder Público é genérica e abrange União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Logo, todos eles têm competência para a proteção ambiental.

Podem legislar em matéria de proteção ao meio ambiente a União, os Estados e o Distrito Federal, tratando-se de competência legislativa concorrente, prevista no art. 24, inc. VI, VII e VIII. A União estabelece normas gerais e os Estados, normas suplementares. O Município também poderá suplementar a legislação federal com fundamento no art. 30, inc. I, II e VIII, desde que se trate de matéria de caráter local ou para complementar as normas promulgadas pela União e pelos Estados.

Já a competência material para proteger o meio ambiente é comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A competência material abrange a proteção do meio ambiente, o combate à poluição em qualquer de suas formas e a preservação das florestas, fauna e flora (art. 23, inc. VI e VII, da CF).