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Parte III – Princípios

Capítulo 6 Regularização fundiária

6.6. Regiões metropolitanas

Ao tratar da organização do Estado, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 25, § 3º, prevê que “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”. Trata-se de uma nova modalidade de atribuição de poderes administrativos, apta a responder às necessidades institucionais decorrentes da vida moderna.

Segundo o Prof. Alôr Caffé53, a repartição de competências no Estado Brasileiro visa ao atendimento de uma amplitude de interesses públicos, não se podendo cogitar de rigidez tal que prejudique tal atendimento, fazendo-se necessária a atribuição de competências legislativas e materiais aptas a conferir agilidade ao Poder Público. É o chamado federalismo de integração. Na Constituição, não há vazios de competência. Se a responsabilidade não for atribuída à União ou aos Municípios, ela será atribuída aos Estados, detentores da competência residual. A questão metropolitana é redefinida, sendo posta sob integral responsabilidade do Estado.

Deve-se destacar, contudo, que a região metropolitana não será um novo ente político-administrativo, entre o Estado e o Município, com poder de legislar sobre matéria regional. Os poderes da região metropolitana são apenas administrativos. As normas jurídicas de seu interesse serão editadas pela Assembléia Legislativa do Estado.

53 ALVES, Alaôr Caffé. Regiões Metropolitanas, Aglomerações Urbanas e Microrregiões: Novas Dimensões

Constitucionais da Organização do Estado Brasileiro. In FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Temas de Direito

A instituição de região metropolitana se presta a integrar funções públicas de interesse comum dos Municípios e do Estado. Ela pressupõe multiplicidade institucional que exige coordenação, planejamento e integração na execução de funções públicas de interesse comum. Constituída a região metropolitana, a integração dos Municípios será compulsória, não podendo eles deixar de integrá-las. As funções públicas de interesse comum são de competência conjunta dos Municípios e do Estado. Os Municípios não poderão exercê-las de modo isolado, devendo fazê-lo em conjunto. É possível instituir uma forma de administração regional, sem personalidade política, com competência para as funções de interesse comum, onde deverá haver representantes do Estado e dos Municípios, de forma paritária.

A região metropolitana não é associação voluntária de Municípios, mediante convênio ou consórcio, que podem ser desfeitos. No caso da região metropolitana, presente o interesse comum que justifique sua criação pelo Estado, o agrupamento se torna compulsório ao Município, que não pode deixar de fazer parte. Ele não pode ser obrigado a participar ativamente, contudo é obrigado a tolerar a execução das funções públicas de interesse comum em seu território. Tampouco pode o Estado impedir a participação dos Municípios nas decisões metropolitanas.

Não há conflito entre autonomia municipal e constituição de região metropolitana. A autonomia municipal refere-se aos assuntos de interesse local. Quando a repercussão do problema ultrapassa o limite do Município, ele deixa de ser assunto de interesse local e sua resolução deixa de ser competência do Município, e passa a ser do Estado. Não é correta a noção de que os Municípios metropolitanos detivessem autonomia ampla antes da criação da região metropolitana e que tal autonomia passe a ser restringida após a instituição. Para o Prof. Alaôr Caffé, a idéia de função pública de interesse comum implica em “cooperação mútua entre os níveis de governo, considerados horizontal (entre Municípios da mesma região) e

verticalmente (entre Estado e Municípios)54”.

Conforme dito acima, a administração metropolitana não tem a faculdade de legislar, sendo imperativo articular as autonomias legislativas do Estado e

dos Municípios para evitar problemas de coordenação e gestão das funções públicas de interesse comum. A função pública implica a execução de serviços públicos, a normatização, o estabelecimento de políticas públicas e os controles, tais como licenças e fiscalização. O interesse comum implica vínculo simultâneo de ações dentro do espaço territorial. É possível que atividades antes consideradas de interesse exclusivo do Município passem para a esfera regional.

Na definição das funções públicas de interesse comum, há que se considerar que as funções públicas metropolitanas diferem das funções estaduais; elas compreendem o interesse local dos Municípios metropolitanos; a integração entre governos; e abrangem planejamento, coordenação, controle, fiscalização e execução.

No que tange à questão das áreas de proteção aos mananciais, é evidente o interesse metropolitano na questão. Assim, o Estado editou, nos anos setenta, as normas necessárias. Contudo, as medidas de controle não foram exercidas de forma articulada. Basta observar os quadros com a análise dos roteiros de inquéritos civis e ações civis públicas, no capítulo 4, para observar que a fiscalização dos loteamentos era feita de modo independente pelo Estado e pelos Municípios, tanto que, em alguns casos, apenas um deles fiscalizou o impôs penalidade. É claro que a ocupação existente se deve a diversos fatores, inclusive de ordem econômica, mas é inegável que os mecanismos de controle não tiveram êxito em frear a ocupação.

Outro fator que concorreu para a expansão da ocupação foi a ideologia da autonomia municipal, incapaz de perceber que o interesse local do município integrante de região metropolitana deve se identificar com o interesse regional e os Municípios devem participar das decisões e da implementação da política regional.

Quanto à regularização dos parcelamentos irregulares existentes nas áreas de mananciais, a revisão da legislação, com a previsão de leis específicas para cada bacia, deverá prever as hipóteses de cabimento e como ela deverá ocorrer.