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Observações sobre as transcrições e citações dos filmes

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 90-94)

3.1 Aspectos teórico-metodológicos

3.1.1 Observações sobre as transcrições e citações dos filmes

A primeira etapa de nossa análise consistiu na transcrição dos diálogos dos três filmes escolhidos (Roma città aperta, Il sorpasso, Viaggi di nozze) em que se verifica a presença do romanesco, o que permitirá a avaliação da frequência dos fenômenos fonéticos. Ressaltamos que, pelo fato de não se encontrarem disponíveis os roteiros dos filmes, foi necessário assistir aos mesmos para que então pudéssemos transcrevê-los, contando com o apoio de uma segunda pessoa, nativa romana.

Rossi (1999, p. 21) afirma que o único modo de analisar diálogos de filmes é transcrevendo-os, levando-se em conta a impossibilidade de uma fidelidade absoluta. Nesse sentido, o estudioso baseou-se em Halliday (1992, p. 71), o qual ressalta a importância da transcrição afirmando que «enquanto a língua falada não for transcrita, permanecemos inconscientes dela» 83 e sugere também que, devido à impossibilidade de reproduzir todos os

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Il cinema ha interessato gli studiosi di semiologia e gli strutturalisti, ma sempre rimasto un po‘ estraneo all‘interesse dei linguisti.

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detalhes, o que se deve fazer é «[...] decidir quais características são importantes para o nosso objetivo e deixar de lado as outras» 84.

Para uma maior legibilidade do texto, adotaremos o alfabeto standard no lugar do alfabeto fonético. Além disso, ressaltamos que foram abandonados alguns sinais de pontuação tradicionais (pontos e vírgulas para a descrição das pausas e das entonações da fala), sempre de acordo com a metodologia de Rossi (1999).

A seguir, apresentaremos de modo esquemático os sinais de transcrição que utilizaremos com base em Rossi (1999, p. 22-31), que, por sua vez, se fundamentou nos estudos de Pagliaro (1970), Voghera (1992c), Bazzanella (1994, p. 84-92) e MacWhinney (1995):

a) *: indica os personagens do filme. O nome do locutor é escrito com letras maiúsculas, seguido por dois pontos e pelo texto do turno;

b) ?: indica o fim de um enunciado concluído com uma entonação interrogativa (ascendente ou descendente-ascendente);

c) !: indica o fim de um enunciado concluído com uma entonação exclamativa (ascendente-descendente);

d) ?!: indica o fim de um enunciado concluído com uma entonação intermédia entre pergunta e exclamação (antes ascendente e de repente descendente no final do enunciado);

e) //: substitui o ponto-final. Indica o fim de um enunciado concluído com uma entonação de tipo assertivo;

f) /: substitui a vírgula. A barra simples indica o fim de uma unidade tonal, não necessariamente acompanhada de pausa;

g) ...: indica o fim de um enunciado, ou de parte de um enunciado incompleto, deixado no ar ou pronunciado em tom de hesitação (ascendente), seja por interrupção por parte de um interlocutor, seja por outro motivo. Os três pontos somente assinalam o fim de um enunciado se seguidos pela inicial maiúscula (com exceção dos nomes próprios) ou por outro turno ou por outra cena. Caso contrário, indicam hesitação no âmbito do mesmo enunciado;

h) #: indica pausa prolongada, de cinco a quinze segundos; e ##: indica pausa mais longa que quinze segundos. Não são indicadas as pausas com menos de cinco segundos;

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i) [ ]: serve para indicar as porções de texto parcialmente incompreensíveis (seja devido ao mau estado da trilha sonora, seja por efeitos de sobreposições de vozes e de sons criados pelo diretor) e não reconstruídas totalmente;

j) [...]: indica texto totalmente incompreensível; k) < >: indica o fenômeno da sobreposição de turno;

l) « »: indica os trechos de texto somente escritos, e não recitados; m) ― ‖: indica os trechos de textos lidos, recitados ou cantados;

n) inicial maiúscula: usada no início de cada turno e de cada enunciado, para os nomes próprios e para os títulos (de canções, livros etc., e em todos os casos previstos pela norma linguística italiana);

o) cena: como unidade de medida e de referência para as citações, considerou-se, em primeiro lugar, o turno dialógico – entendido como o trecho de um texto recitado por um mesmo ator, ainda que endereçado a diferentes interlocutores – e, depois, a cena – entendida como uma porção de narração fílmica que contém unidade de tempo e de lugar (se os interlocutores passam de um lugar ao outro sem elipse temporal, a cena não muda; se na mudança de lugar tem-se uma mudança radical de todos os atores e da situação, a cena muda), demarcada por pausas longas e, sob uma perspectiva linguística, por mudança «relevante» de situação comunicativa (as elipses temporais e espaciais fazem com que o tema dos diálogos mude de uma cena para outra). Segundo Rossi (1999, p. 27), de um ponto de vista ligado à imagem fílmica, o conceito de cena é considerado impreciso e sujeito a interpretações subjetivas;

p) nas citações dos filmes do corpus, indicaremos sempre a cena e o turno de onde foi retirado o trecho: a abreviação c. indica a cena, seguida pelo número da cena. Cada filme do corpus foi citado de forma abreviada, com a primeira palavra do título (por exemplo: Roma = Roma città aperta).

Em seu trabalho, Rossi (1999, p. 28-31) indica alguns critérios de transcrição dos traços fonéticos em casos de distinção de palavras homófonas que serão adotados no presente trabalho, sendo compartilhados também por D‘Achille (2012) e Trifone (2008):

a) nos polissílabos apocopados, colocou-se sempre o acento (e nunca o apóstrofo: annà/andare ‗ir‘). Os monossílabos e as formas aferéticas não apresentam acento nem apóstrofo, a menos que não tenha sido útil distinguir os homófonos: 'o/lo ‗o‘ para diferenciar da conjunção o ‗ou‘; nu „o so/ non lo so ‗não sei‘; vo‘/vuole ‗quer‘ diferenciado da vo/vado ‗vou‘; „sto(a)/ questo(a) ‗este(a)‘ diferenciados da primeira e

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da terceira pessoa do presente do indicativo do verbo stare ‗estar‘, mas sti(e)/questi(e) ‗estes(as)‘ sem apóstrofo, já que não homófonos. Para fare ‗fazer‘ e stare ‗estar‘, foi necessário distinguir três homófonos: fa ‗faz‘ e sta ‗está‘ na terceira pessoa do presente indicativo; fa‟ ‗faça‘ e sta‟ ‗esteja‘ no imperativo; e fà ‗fazer‘ e stà ‗estar‘ no infinitivo apocopado. Para dare ‗dar‘ e dire ‗dizer‘, fizeram-se as seguintes distinções:

da‟ ‗dê‘ e di‟ ‗diga‘ no imperativo; e ‗dar‘ e di‟ ‗dizer‘ no infinitivo apocopado.

Neste segundo caso, é inevitável a homografia entre o imperativo e o infinito apocopado di‟, uma vez que a forma acentuada dì quer dizer giorno ‗dia‘. No caso de palavras constituídas por apenas uma consoante, como, por exemplo, as aféreses dos monossílabos no romanesco, o autor utilizou o apóstrofo ('l/ il ‗o‘; 'r [= er]/ il ‗o‘; 'n/ non ‗não‘ etc.) para facilitar o reconhecimento destas formas, nem sempre transparentes em uma leitura inicial. O autor utilizou acentos e apóstrofos todas as vezes em que havia a necessidade de desambiguar a leitura e a compreensão, mantendo um critério econômico e homogêneo 85;

b) utilizou-se o j para indicar a pronúncia semiconsonântica da lateral palatal (fijo, mejo); c) empregou-se š para a pronúncia da sibilante pré-consonântica e para a pronúncia fricativa da c palatal surda intervocálica: špinaši/spinaci ‗espinafre‘, prešiso/preciso ‗claro‘;

d) empregou-se z para a africação da sibilante: penzo/penso ‗penso‘, falzo/falso ‗falso‘; e gn para a palatalização de nğ: piagne/piange ‗chora‘ e para mostrar a típica pronúncia palatal romana de nj + vogal: gnente/niente ‗nada‘;

e) para finalizar, na transcrição de palavras estrangeiras, o autor preferiu manter a grafia da língua original, com exceção de alguns termos que entraram em uso no italiano e que já foram adaptados à sua pronúncia, como, por exemplo as palavras occhei ‗ok‘ e sciampo ‗shampoo‘. Além disso, o autor incluiu na transcrição e na análise somente os textos de músicas cantados pelos personagens dos filmes, sendo assim considerados parte integrante do texto fílmico e da trama, e não simples acompanhamento musical (ROSSI, 1999, p. 30-31).

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Para o uso do acento e do apóstrofo, o autor (ROSSI, 1999, p. 28) se baseou nos estudos de Serianni (1988, p.

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