• Nenhum resultado encontrado

Sinópse de Il sorpasso

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 116-134)

4.2 Il sorpasso

4.2.2 Sinópse de Il sorpasso

O início da estória se passa em Roma, em pleno feriado de agosto (ferragosto), com o personagem Bruno Cortona à procura de um telefone público e de cigarros pela cidade. Na primeira cena, Bruno, depois de rodar com o seu carro pelas ruas desertas, depara-se com o estudante de Direito Roberto Mariani na janela de sua casa e lhe pergunta se pode fazer uma ligação para ele. Roberto, contra a vontade, deixa-o entrar. Depois do telefonema, Bruno convida o dono da casa para um passeio, e Roberto logo é persuadido a acompanhá-lo na sua Lancia conversível. A partir deste momento, a vida do estudante mudará radicalmente e para sempre.

Os dois personagens começam, assim, uma longa viagem, percorrendo a via Aurelia, estrada que os levará a vários lugares, entre os quais a casa dos parentes de Roberto, o mar e até a casa da ex-mulher e da filha de Bruno. Para o estudante, esta experiência o fará perder a visão ingênua sobre a vida, rever alguns conceitos morais e analisar suas relações familiares e

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Monotongação de uo Aférese vocálica nos artigos indefinidos ‗n, ‗no, ‗na Aférese nos pronomes demonstrativos:

‗sto, ‗sta, sti

Lex Porena Palatalização de gl a j

117

amorosas, quase como uma autoanálise, até chegar o trágico final: depois de uma das dezenas de ultrapassagens arriscadas, para evitar a colisão com um caminhão, o carro acaba caindo de um precipício. Bruno se joga do carro e consegue, assim, se salvar, enquanto que Roberto não escapa e morre.

4.2.3 Comentário linguístico

Il sorpasso (no Brasil, ―Aquele que sabe viver‖) é um filme italiano de 1962 dirigido por Dino Risi e considerado um clássico da comédia à italiana, gênero caracterizado por um humorismo doce-amargo, geralmente mordaz e crítico no que diz respeito a alguns valores da pequena e média burguesias italiana. Os temas preferidos deste gênero são a ambição, a corrupção, a traição, o contraste entre a cultura conformista e os desejos modernistas (ROSSI, 2007, p. 48). Lembramos ainda o que já foi dito por Rossi (2007, p. 48) no capítulo 2 desse trabalho: na comédia à italiana, o estilo linguístico era ligado quase sempre ao uso dos italianos regionais, principalmente do romanesco; de fato, podemos perceber que em Il sorpasso há o uso de um italiano marcado por traços dialetais, como veremos a partir dos exemplos da transcrição do filme.

Mas, antes de iniciarmos a análise das falas fílmicas, ressaltamos que, de todos os personagens principais, Bruno Cortona será o único a utilizar o romanesco; os outros (Roberto, Lilli, Bibì, Gianna, zio Michele, zia Enrica), não sendo romanos, falarão um italiano standard, conforme as normas gramaticais. A análise, portanto, será centrada principalmente nas falas de Bruno, com o objetivo de observar qual a frequência da utilização dessa variedade romana e de verificar o grau de formalidade/informalidade.

A partir da transcrição do filme, percebemos o desejo dos autores de construir um personagem cuja fala representasse as características sociais de uma classe emergente em pleno boom econômico. Bruno Cortona é, segundo Brunetta (2010 [1991], p. 322-23), «o protótipo do italiano novo produzido pelo milagre econômico; é hiperativo, hipermóvel, hiperloquaz e agressivo» 90 e encarna a ignorância, o desejo de sucesso a qualquer custo e a vitória do mito do bem-estar, representados pelo automóvel como força motriz econômica e social de uma nação.

Percebemos também uma caracterização mais psicológica do que social do uso da língua pelos personagens Bruno e Roberto. Do lado de Bruno, temos uma mistura de italiano

90il prototipo dell‘italiano nuovo prodotto dal miracolo economico. Un personaggio in stato di eretismo perenne,

118

neostandard e romanesco, que vai refletir bem o seu caráter extrovertido, brincalhão: ele utiliza todo o repertório linguístico do continuum linguístico romano, de acordo com a situação, seja formal e/ou informal. Podemos constatar isso já a partir das primeiras falas fílmicas: apesar de a situação inicial pedir um diálogo formal (situação típica italiana), uma vez que os personagens em cena não se conhecem, os diálogos de Bruno oscilam na direção da variedade média – embora ele utilize a forma de cortesia Lei ‗o Senhor‘, combinando-a com os verbos na 3ª pessoa do singular senta ‗escute‘, me lo fa un piacere ‗me faz um favor‘, se lo recorda ‗se lembra‘, chiede di ‗pergunta de‘, mi fa ‗me faz‘, e use também o imperativo Le dica ‗Diga-lhe‘,notamos a presença de traços fonéticos do romanesco, como nos diálogos iniciais entre os dois:

Cena 1 (Personagens: *B: Bruno, *R: Roberto)

1*B: Ei Lei/ dica un po‘... Ahó/ ma che fa/ scappa? Senta/ qui tutto chiuso/ che c‘ha il telefono?

2*R: Sì//

3*B: Me lo fa un piacere? 4*R: Sì/ certo...

5*B: Mi fa il 1326624// Chiede di Marcella// Grazie/ eh// Le dica che arivo subito ... aspetti// Cosí passiamo a prendere gli altri// Se lo ricorda il numero? È facile: 13/ raddoppia 26/ inverte 62 e ci ammolla il 4//

6*R: 1326624// Chiedo di Marcella/ le dico che arriva// Chi arriva/ ma non mi ha neanche detto il suo nome// Sent /Senta!

7*B: Ha già chiamato?

8*R: No/ pensavo che/ se vuole salire su/ così chiama Lei stesso// 9*B: Buona idea/ che interno è?

10*R: Quattro//

11*B: Arivo// Senta/ mi dia ‘n’occhiata alla macchina/ che qui a feragosto co tutta ‘sta gente in giro... che ha detto/ interno 4? Vengo/ vengo ... ―con le pinne il fucile e gli occhiali‖ .... Arivo!

Notamos alguns traços fonéticos pertencentes à variedade média, ou italiano ―de‖ Roma (TRIFONE, 2008, p. 108), do continuum linguístico romano:

a) a passagem de rr a r: 3 casos de arivo/arrivo ‗estou indo‘, e 1 caso de feragosto/ferragosto ‗feriado nacional‘;

119

b) a aférese do artigo indefinido „n‟/una ‗uma;

c) a apócope da preposição con: co ‗com‘ (pertencente à variedade baixa).

Tudo isso faz com que essas falas se aproximem de um registro mais informal. De fato, quando Roberto convida Bruno a subir e telefonar ele mesmo à sua amiga, Bruno começa a cantar uma famosa música daquela época (―con le pinne il fucile e gli occhiali‖), sinal evidente de informalidade.

Por outro lado, Roberto encarna o rapaz de família tradicional, ingênuo, tímido e, portanto, muito formal, ou seja, o oposto de Bruno. Nesse sentido, os autores contrapõem o italiano standard de Roberto, formal, ao italiano neostandard de Bruno, recheado de traços regionais locais com tendência à informalidade:

14*B: Scusi tanto// Ma da mezz‘ora che giro/ tutto chiuso/ Roma sembra ‘n cimitero// Permette/ Bruno Cortona//

15*R: Roberto Mariani//

16*B: Guardi che l‘ho sporcata/ tutto zozzo... Faccio in un momento eh/ abbia pazienza... studente eh? ―La risoluzione di un atto per eccessiva onerosità‖// Ma che robba è? Procedura civile// Ai/ un bel mattone... che fa/ studia legge?

17*R: Si/ sono al 4° anno// 18*B: Chi è ‘sta cicciona? 19*R: È mia mamma//

20*B: Ah/ perbacco/ bella donna! Guarda ‘sta burina/ è già uscita! Porco giuda/ sti cornuti/ l‘appuntamento era alle 11 e a mezzogiorno già andati via! Se lo sapevo restavo ad Amalfi invece di famme‘sta scarpinata... Due ore e mezza de macchina...

21*R: Da Amalfi a qui 2 ore e mezza?

22*B: Eh sì/ mi sono fermato dieci minuti per cambiare le candele/ guarda come me sò

ridotto/ faccio schifo/ mannaggia... Oh scusi/ ho sporcato// Diceva qualcosa? 23*R: Io? Sì/ se vuole... darsi una lavatina...

24*B: Ah/ magari/ grazie// Una sigaretta non ce l‘ha? 25*R: No/ io non fumo//

26*B: Male!

27*R: Guardi il bagno sta....

28*B: Non si preoccupi/ lo trovo da me... sicchè Lei non fuma/ eh? Attento/ le può far male/ sa? Accidenti che bel bagnetto.... che è/ Vietri?

120 29*R: <―La nullità di un atto processuale .... si distingue dall‘annullabilità perché quella può essere rilevata dal giudice mentre... mentre l‘annullabilità può essere rilevata solo su istanza della parte interessata...‖>

30*B: <“Guarda come dondolo...‖>

31*R: Ah/ lo devo avvertire di non toccare la mensola .... l‘ha toccata// 32*B: Porc ... ho rotto la mensolina//

33*R: Non si preoccupi...

34*B: Sono veramente sorry.... mi dispiace/ ma stava proprio appiccicata con lo sputo// Che c‘ ?

35*R: Ma l c‘ qualcuno... 36*B: Embè?

37*R: No/ è la portiera// Siccome sapevo che erano partiti.... 38*B: Che amici suoi?

39*R: No/ no/ li conosco così di vista// 40*B: Ah// Abita solo qua?

41*R: Sì/ i miei genitori stanno a Rieti//

42*B: Porca miseria... quando vedo la città deserta così/ co le strade vote/ co i negozi chiusi/ io m‘avvilisco... Lei no?

43*R: Beh/ no/ per studiare è meglio!

44*B: Ah sì/ per studiare sì// Beh/ Le ho fatto perdere tempo/ eh? È ora che me ne vada// Me

sa che me tocca passà il ferragosto co mamma... Grazie di tutto e buona procedura// Non studi troppo!

45*B: Senta un po‘/ ma Lei/ che fa? Sta tutto il giorno chiuso in casa a studià? 46*R: Sì/ ho gli esami a settembre e sono ancora indietro//

47*B: Vabbé/ ma oggi è feragosto// Mamma dice che il lavoro dei giorni festivi non rende// 48*R: Deve essere vero/ oggi non ho combinato niente oggi/ infatti//

49*B: Pe colpa mia/ lasci almeno che Le offra un aperitivo/ sempre che troviamo un bar aperto/ naturalmente! <Vieni/ andiamo/ forza!>

50*R: <Non posso! Ma non insista!> 51*B: Ma come non può/ per carità! 52*R: Le chiavi!

53*B: Eccole... le ho prese io/ stavano attaccate allo stipite della porta.... dai cammina/ lo sai chi ho visto ad Amalfi? Jaqueline Kennedy!

121

a) apócope vocálica das preposições con e per: 2 casos de co/con ‗com‘, e 1 de pe/per ‗por‘;

b) aférese dos pronomes demonstrativos: 3 casos de „sta/questa ‗esta‘, e 1 de sti/questi ‗estes‘;

c) passagem de rr a r: feragosto, mas com oscilação em ferragosto;

d) apócope do infinitivo: 2 casos – passà/passare ‗passar‘, studià/studiare ‗estudar‘; e) monotongação: 1 caso – vote/vuote ‗vazias‘;

f) e protônica nos clíticos – 2 casos de me/mi ‗me‘ – e na preposição de/di ‗de‘; g) assimilação progressiva de rm a mm: famme/fammi ‗fazer-me‘.

Mais uma vez, observamos a oposição diafásica entre os dois personagens: sempre de um ponto de vista fonético, Bruno modula, reveza fenômenos dialetais típicos romanos com o italiano standard – Ah si/ per studiare si// Beh/ Le ho fatto perdere tempo/ eh? È ora che me ne vada// Grazie di tutto e buona procedura// Non studi troppo! ‗Ah, sim/ para estudar, sim/ Bom/ Eu lhe fiz perder tempo, né? Está na hora de ir embora// Obrigado por tudo e bom procedimento// Não estude demais!‘. Temos os verbos no infinitivo sem apócope; o emprego da forma de cortesia Lei; o uso do subjuntivo (è ora che me ne vada).

Como podemos verificar nos últimos exemplos, são poucos os casos de fenômenos fonéticos do romanesco (15 no total), o que nos leva a crer que havia um desejo por parte dos autores de caracterizar diastraticamente o personagem Bruno como um italiano de classe média, que tem à disposição todo o leque do repertório linguístico e que tem a capacidade de escolher a variedade diafásica que mais lhe serve em determinado momento.

No caso dessa cena, Bruno não só é linguisticamente capaz de transformar uma situação formal em informal (a partir da presença dos traços fonéticos; da passagem do tratamento formal – Ma come non può/ per carità! ‗Mas como não pode, por favor!‘ – para o informal; do imperativo na 2ª pessoa do singular tu ‗você‘ – dai cammina/ lo sai chi ho visto ad Amalfi? Jaqueline Kennedy! ‗vamos, anda, você sabe quem eu vi em Amalfi? Jaqueline Kennedy!‘), como consegue, com o seu jeito desinibido e intrusivo, convencer Roberto a sair com ele para um aperitivo.

Já no que tange aos personagens romanos secundários, é relevante ressaltar como os autores quiseram caracterizá-los diastraticamente, a exemplo da dona do restaurante romano, que se exprime utilizando muitos traços fonéticos do romanesco no momento em que Bruno lhe pergunta se o local estava fechado:

122

64*B: Ma che fate/ avete chiuso? 65*D.R: Nunse magna [...] 66*B: Perché?

67*D.R: Pure noi c‘avemo er diritto de fà vacanza un giorno/ che ve credete// 68*B: Ma quale diritto?

69*D.R: Er diritto de li mortacci tua...ede tu’ nonno!!

70*B: ‘Sto bidone! Beh/ peggio per lei/ ha perso un cliente// Io qua non ci vengo più/ davero// Nas falas da dona do restaurante, percebemos uma maior frequência dos fenômenos fonéticos característicos da variedade mais baixa do continuum linguístico romano:

a) rotacismo de l pré-consonântica no artigo masculino singular: er/il ‗o‘; b) mudança do grupo ng para gn: magna/mangia ‗come‘;

c) apócope do verbo no infinitivo fà/fare ‗fazer‘ e do pronome possessivo tu‟/tuo ‗seu‘; d) e protônica: 3 casos na preposição de/di ‗de‘ e 2 nos clíticos se/si ‗se‘, ve/vi;

e) u protônica no lugar de o em non: nun/non: 1 caso.

Nesse sentido, segundo Rossi (1999, p. 84-85), uma das características do uso fílmico do dialeto é a proporção inversa existente entre a importância do personagem e a frequência dos fenômenos dialetais. De fato, em Il sorpasso, as formas mais dialetais, de um ponto de vista fonético, estão mais presentes nos personagens secundários (dona do restaurante) do que no protagonista Bruno que, muitas vezes, utiliza um italiano mais próximo do neostandard: andiamo em vez de annamo ‗vamos‘; cambiare em vez de cambià ‗trocar‘.

Tal prática sempre esteve presente no cinema italiano, tanto que, na maioria das vezes, o dialeto teve a função de ―colorir‖, e não de sustentar o discurso narrativo, não sendo também autenticamente mimetizado – com exceção dos filmes neorrealistas, em que o dialeto era falado também pelos protagonistas. Segundo Rossi (2006, p. 169), muitos cineastas eram simpatizantes dessa prática, como, por exemplo, Mario Mattoli, o qual afirmava: «Eu sempre fui um promotor do dialeto no personagem secundário, porque acredito que dê vida à história».91

Para concluir sobre o uso do dialeto fílmico, não podemos deixar de lado a questão da distribuição de alguns fenômenos linguísticos entre homens e mulheres. Com relação aos fenômenos fonéticos, podemos verificar que, com exceção da dona do restaurante e de algumas mulheres da estação rodoviária de Civitavecchia, o traço dialetal é quase sempre

91

Io sono stato sempre un fautore del dialetto nel personaggio secondario, perché credo che dia vita alla vicenda

123

limitado aos homens. Para confirmar o fato – muito conhecido em sociolinguística – de que as formas diafásica e diastraticamente mais baixas geralmente não se encontram nas mulheres, as quais adotam variedades de maior prestígio, trazemos a citação de Berruto (1993b, p. 69): «Diferenças entre homens e mulheres são vistas em comportamentos sociolinguísticos: parece que as mulheres são, de fato, mais propensas do que os homens a adotar as variantes normativas ou dotadas de maior prestígio» 92.

Voltando à análise do protagonista Bruno Cortona, observamos também como ele passará, continuamente, da variedade média à variedade mais baixa e vice-versa, utilizando um italiano neostandard quando trata de argumentos mais sérios, como trabalho:

(Personagens: *R: Roberto, *B: Bruno) 135*R: Ma è vero che sei nei frigider?

136*B: Sì/ come no? È il ramo mio/ per ora vanno bene// Se domani cambia il mercato/ è saturo/ io mi cambio/ eh figurati.... Ho fatto una decina di mestieri/ non so... domani vanno i mobili antichi e io mi metto a battere la campagna e ti scopro la cassapanca del Settecento// Va forte la pittura e io t‘aggancio Guttuso e cos via...

Repentinamente, o personagem passa para uma situação mais engraçada e informal, como na cena com o ciclista, utilizando muitos traços da variedade dialetal:

139*B: Fatte ‘na vespa! Vuoi ‘na spinta? E daje! Te voiattaccà? Ahó/ fa‘ come te pare! Non

rientrà tardi!

Neste exemplo, temos 2 casos de infinitivo apocopado: attaccà/attaccare ‗pendurar‘ e rientrà/rientrare ‗volte‘; 3 casos de e protônica nos clíticos: 1 em fatte/fatti ‗compre‘ e 2 em te/ti ‗se‘; 2 casos de aférese nos artigos indefinidos „na/una ‗uma‘; e 1 caso de monotongação de uo: voi/vuoi ‗quer‘.

Logo a seguir, Roberto pergunta a Bruno o motivo de estar errando tudo na vida, e Bruno volta a utilizar o italiano mais formal, com ausência de traços fonéticos, usando, por exemplo, os verbos no infinitivo sem apócope silábica (salire ‗subir‘, studiare ‗estudar‘, lotizzare ‗lotear‘); pode ser observada também a ausência da e protônica nos clíticos (mi ‗me‘, si ‗se‘, ci ‗nos‘) e na preposição (di ‗de‘). O retorno do romanesco ocorrerá somente no final desta cena, quando Bruno exclama, feliz, que poderá fumar, passando, automaticamente, a

92

Differenze tra uomini e donne sono da vedere in atteggiamenti sociolinguistici: pare che le donne siano infatti

124

uma situação mais informal (apócope do alocutivo: Robè/Roberto; assimilação de nd a nn: annamo/andiano ‗vamos‘; e protônica no clítico: se/si ‗se‘):

Cena 3 (Personagens: *R: Roberto, *B: Bruno)

146*R: Senti/ perché hai detto che sto sbagliando tutto?

147*B: Ah/ beh niente/ così... Ecco/ per esempio/ quando mi hai fatto salire a casa tua/ che stavi studiando?

148*R: Io ti ho fatto salire? Nullità e annubilità degli atti processuali// 149*B: Ecco lo vedi/ a che serve? Scusa/ sarà roba di cent‘anni fa! 150*R: Anche di mille!

151*B: Meglio ancora! Io capirei/ non so/ studiare diritto spaziale! 152*R: Diritto spaziale?

153*B: Certo! Due astronavi si scontrano... chi è che paga/ no? Oppure... i terreni sulla luna si possono lotizzare? Hai capito? Vabbé che quando arriva Krushow... già ci trovano le palazzine delle immobiliarie// AnnamoRobè/ se fuma!

Também no início da cena 4 (diálogo 202), quando Bruno conta a Roberto um episódio de quando era adolescente vivido com sua professora, observamos a utilização de um italiano muito próximo do neostandard (em vez do típico traço dialetal romano annavo, o personagem utiliza andavo; prendere no lugar de prénde; si, e não se etc.):

(Personagens: *B: Bruno, *R: Roberto)

202*B: Anch‘io ero timido quand‘ero ragazzino! C‘era un periodo che andavo a prendere ripetizioni da una maestrina/ Rosa Maltini si chiamava... Maltini eh/ non Maltoni// Una sera le misi una mano dentro la scollatura// Beh/ lei mi diede un‘occhiata/ ma un‘occhiata tale che diventai tutto rosso... come un peperone/ te lo giuro!

No diálogo seguinte (204), quando dá carona a um senhor camponês, o personagem passa automaticamente a usar a variedade dialetal, como podemos verificar a partir dos exemplos Raccojamo il rottame? Guarda com‟aranca il poraccio!, que contêm traços pertencentes à variedade médio-baixa: passagem de gl a j em raccojamo/raccogliamo ‗vamos pegar‘; e enfraquecimento de rr em aranca/arranca ‗caminha‘. Por outro lado, o senhor, assim como os outros personagens secundários, utilizará mais a variedade dialetal (imagina-se que ele não seja romano, e sim um camponês da região do Lácio; nota-se que alguns traços

125

correspondem ao romanesco, como, por exemplo: o clítico me/ mi ‗me‘; o possessivo

„sta/questa ‗esta‘; nun modificado para non ‗não‘:

(Personagens: *B: Bruno, *R: Roberto, *S: Senhor)

204*B: Raccojamoil rottame? Forza! Guarda com‘aranca il poraccio! 205*R: Ma/ ma scusa/ ma perché fai così? Si può sapere che gusto ci provi?

206*B: Beh/ così... pe rìde/ no? Per vederlo arancà! Vuoi che gli diamo un passaggio?

Annamo/ forza lavoratore della tera! Fallo salì/ va// ‘nnamo? Forza! Dai/ fallo séde in mezzo//

207*B: Che vai a vénde le ovanonnè? 208*S: No/ le ho comprate//

209*B: Ahahaha... È simpatico ervecchietto... c‘ha ‘n bel profilo...

210*R: Mi scusi/ ma non potrebbe buttarlo via questo sigaro? 211*S: Perché?

212*R: Non c‘ pi niente//

213*S: Sì/ questo me dura fino a stasera// 214*B: Tu/ le sigarette non ce l‘hai? 215*S: Le sigarette puzzano//

216*B: Mannaggia ahó/ pare ‘no scherzo/ ma qua è da stamatina che non se fuma! 217*S: Tiè//

218*B: Beh/ grazie/ famme accéndeRobè! Mejo che niente! 219*S: Ma come/ ‘sta macchina nun cure?

220*B: Ah/ voi córe? Manco accende questo! Mo te faccio vedé io! Attento nonno/ che te

perdi er borsalino! Te piace córe? Vuoi un po‘ de musica? A Robè/ metti ‘sto disco che divertiamo er villico/ è ‘n appassionato de musica moderna//

Na cena citada, percebe-se claramente a passagem de uma situação mais séria a uma situação informal nas falas de Bruno, levando-se em conta a quantidade de traços fonéticos dialetais encontrados. Além dos já citados no parágrafo anterior, temos:

a) a apócope em pe/per ‗para‘ e em todos os verbos no infinitvo: rìde/ridere ‗rir‘, arancà/arrancare ‗correr‘, salì/salire ‗subir‘, séde/sedere ‗sentar‘, vénde/vendere ‗vender‘, accénde/accendere ‗acender‘, córe/correre ‗correr‘, vedé/vedere ‗ver‘; b) 2 casos de assimilação de nd a nn: annamo/ andiamo ‗vamos‘;

c) 2 casos de monotongação: voi/vuoi ‗quer‘ (mas com oscilações do tipo vuoi) e ova/uova ‗ovos‘;

126

d) apócope em todos os alocutivos (2 casos de Robè/Roberto e nonnè/nonnetto ‗vovozinho‘);

e) a passagem de rr a r (tera/terra ‗terra‘), de tt a t (stamatina/stamattina ‗hoje de

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 116-134)