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Sinópse de Viaggi di nozze

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 139-157)

4.3 Viaggi di nozze

4.3.2 Sinópse de Viaggi di nozze

Viaggi di nozze é um filme de 1995, dirigido por Carlo Verdone, que conta as histórias de três casais recém-casados, seguindo-os da cerimônia de matrimônio à viagem de núpcias.

Ivano, jovem arrogante de família enriquecida, casa-se com Jessica, sua cópia exata. Depois da cerimônia, os dois partem para uma viagem on the road entre hotéis, discotecas e sexo em todos os lugares, com Ivano provocando a esposa com a famosa pergunta "O famo strano?". Depois de uma relação sexual fracassada, os dois entram em crise e, depois de tentar resolvê-la, sem sucesso, o casal se encontra com um casal de amigos romanos e discute no carro, constatando que não há mais nada de original no mundo do consumismo.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Monotongação de uo Aférese vocálica nos artigos indefinidos ‗n, ‗no, ‗na Aférese nos pronomes demonstrativos:

‗sto, ‗sta, sti

Lex Porena Palatalização de gl a j

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O médico Raniero Cotti Borroni pensa em trabalho 24 horas por dia, a ponto de nunca desligar o celular – nem no altar. Casa-se com a jovem e frágil Fosca, que, logo após o matrimônio, percebe que cometeu um grande erro. Durante a viagem de núpcias, que Raniero organizou para que fosse exatamente igual à que tivera com sua primeira esposa, Scilla, Fosca tenta de todo modo fugir do marido opressor, que, por sua vez, a entedia com suas pieguices – chega a ponto de programar a posição dos caixões onde os dois serão sepultados na capela da família. No final, desesperada, Fosca acaba por suicidar-se jogando-se da varanda do hotel em Veneza, a mesma que o marido e Scilla haviam ocupado na precedente viagem de núpcias.

Já Giovannino e sua esposa, Valeriana, após um interminável sermão do padre (também interpretado por Verdone) que celebra seu matrimônio, embarcam finalmente em um cruzeiro no Mediterrâneo, mas, pouco antes de o navio partir, um telefonema inesperado obriga Giovannino a deixar Valeriana e voltar a Roma: o pai é, de repente, abandonado pela enfermeira albanesa e Giovannino tem que encontrar um lugar para ele. Enquanto isso, Valeriana é avisada sobre uma tentativa de suicídio da irmã e também desembarca para entender o que aconteceu. Giovannino é o único que consegue salvar o próprio matrimônio com Valeriana, embora os familiares façam de tudo para destruí-lo.

4.3.2 Comentário linguístico

Como ressaltado por Fabio Rossi (2006, p. 393) no item 1.2.2.4, a partir dos anos 1980 o cinema italiano vai mudar muito do ponto de vista linguístico, com a volta da gravação ao vivo e o uso sempre mais frequente de dialeto não estereotipado pelos cineastas. Também alguns atores/diretores, considerados os ―novos cômicos‖, como Roberto Benigni, Massimo Troisi, Francesco Nuti, Carlo Verdone, entre outros, revitalizaram as inserções dialetais no cinema, que, todavia, nunca renunciou à caracterização dialetal no gênero cômico, sobretudo nos produtos de consumo.

Com relação aos filmes de Carlo Verdone nos anos 1990, Brunetta (2010, p. 398-99) afirma que é nesses anos que o ator/diretor fará alguns filmes como Stasera a casa di Alice (1990), Maledetto il giorno che ti ho incontrato (1992), Al lupo, al lupo (1992) e Perdiamoci di vista (1994), em que se distanciou de algumas figuras caricaturiais e do uso do romanesco – presentes em seus primeiros filmes – elementos que serão retomados em Viaggi di nozze (1995).

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Para Montini (1997, p. 98), essa volta ao passado é também uma retomada do transformismo 94 e da estrutura episódica dos filmes de estreia.

De fato, assim como em Un sacco bello (1980) e Bianco, rosso e Verdone (1981), Viaggi di nozze baseia-se em três histórias paralelas. Neste último, temos como protagonistas três diferentes casais de esposos, sendo que cada marido é interpretado por Verdone, que também faz uma quarta aparição no papel de um logorroico padre.

Os três protagonistas verdonianos, de acordo com Montini (1997, p. 98), são modelados nos outros personagens dos dois filmes estreantes: Ivano, homem de periferia, é a versão atualizada de Enzo, o valentão de Un sacco bello; o professor Raniero Cotti Borroni é uma variação de Furio, o insuportável marido de Magda em Bianco, rosso e Verdone; o tímido Giovannino é, enfim, um ―irmão‖ de Leo e de Mimmo, os dois bons rapazes dos outros dois filmes antes citados.

Todavia, Montini (1997, p. 98) afirma que, com relação aos dois filmes precedentes, em Viaggi percebe-se uma maior maturidade cinematográfica: enquanto Un sacco bello e Bianco, rosso e Verdone conservavam algo de teatral, eram monólogos divertidos, Viaggi di nozze:

mostra um maior esforço em articular as histórias, tem uma estrutura mais coral, e nos três episódios emergem prepotentemente os personagens femininos, interpretados por três jovens atrizes descobertas pelo diretor: Claudia Gerini, Veronica Pivetti e Cinzia Mascoli. [...] Viaggi di nozze é uma colagem de três pequenos filmes que se cruzam. 95

Levando em conta tais premissas, começaremos a comentar o último filme do nosso corpus.

Segundo Montini (1997, p. 98-99), os três personagens masculinos (Ivano, Raniero e Giovannino) são três personagens simbólicos, três faces da Itália dos anos 1990. Partindo da visão e transcrição do presente filme, percebemos que, de um ponto de vista linguístico, Carlo Verdone caracterizou diastraticamente cada um dos protagonistas. Raniero Cotti Boroni, médico, é a encarnação da Itália cínica, satisfeita, cheia de si, que vai utilizar sempre e somente a variedade mais alta do continuum linguístico romano, o italiano standard, independentemente da situação, seja ela formal, como quando fala com um paciente no celular, no altar da igreja:

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Em italiano, tal prática é chamada fregolismo, termo vindo do nome de L. Fregoli (1867-1936), ator famoso

transformista e ilusionista. http://www.treccani.it/vocabolario/fregolismo/ (Acesso em 02/12/15).

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Viaggi di nozze mostra uno sforzo maggiore nell‘articolare le storie, ha una struttura più corale, ed emergono

prepotentemente in tutti e tre gli episodi i personaggi femminili, affidati a tre giovani attrici scoperte dal regista: Claudia Gerini, Veronica Pivetti e Cinzia Mascoli. [...] Viaggi di nozze è un collage di tre piccoli film che si intersecano.

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(Personagens: *R: Raniero, *F: Fosca)

*R: Pronto? No/ non mi disturba affatto/ mi dica!

Ou informal, na noite de núpcias com a esposa Fosca:

*R: Amore Fosca/ ti sei già lavata i denti? *F: Sì/ Raniero/

*R: Guarda che sul tavolinetto bianco/ accanto al deodorante analcolico/ troverai un rocchetto di filo interdentale/ zigrinato non cerato/ che è l'ideale per togliere i residui// D'altro canto hai mangiato quell'insalata di pollo/ che è quanto di più deleterio per la placca dentaria//

Partindo, portanto, da constatação de que nas falas de Raniero estão ausentes traços fonéticos do romanesco, voltaremos nossa atenção principalmente às falas de Giovannino e Ivano, uma vez que verificamos a diversa utilização do romanesco nos dois personagens.

Giovannino é o pequeno burguês compreensivo, de índole dócil e boa, caracterizado como um romano pertencente à classe média que, diferentemente de Raniero e Ivano 96, vai utilizar principalmente um italiano neostandard, revezando com traços fonéticos do romanesco de acordo com a situação e o interlocutor. Na cena inicial do casamento, no momento do sermão infinito do padre, quando os esposos exprimem nervosismo por correrem o risco de perder o navio que os levaria à viagem de núpcias pelo Mediterrâneo, podemos observar que Giovannino responde exasperado ao pedido de Valeriana, utilizando traços fonéticos pertencentes à variedade média, como a passagem de gl a j (je/gli ‗lhe‘), a e protônica no clítico ti (te/ti ‗te‘), a aférese do artigo indefinido un („n/un ‗um‘) e a apócope do infinitivo (3 casos de fà/fare ‗fazer‘):

Cena 4 (Personagens: *Gi: Giovannino, *V: Valeriana) 83*V: Tra due ore parte la nave e non ce la faremo mai/ eh!

84*Gi: Che te devo io/eh? Che je devo ? Che posso io/eh? È ‘n pazzo/ è ... 85*V: Vabbè... o glielo dici te/ o glielo dico io...

86*Gi: Eh... zio... scusa tanto/ tra due ore ci parte la nave/ quindi... 87*V: S / c‘ il rischio di perderla....

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O primeiro vai se exprimir sempre com um italiano standard, e o segundo, com a variedade mais baixa do

143 88*Gi: C‘ il rischio di perderla// Eh eh eh... grazie di tutto perché sei stato di cuore/ ci hai detto delle frasi veramente belle/ noi te ringraziamo tantissimo!!!

Depois (diálogos 86, 88), com o padre, Giovannino utiliza um italiano neostandard tendendo ao informal: usa a 2ª pessoa do singular tu em vez da 3ª pessoa Lei – o que poderia indicar intimidade entre os dois, uma vez que eram parentes ([...] zio... scusa tanto [...] ‗tio... desculpa mesmo...‘) –, com um único caso de e protônica (te/ti ‗te‘), que indicaria a intenção de Giovannino de se exprimir com veemência: noi te ringraziamo tantissimo!!! ‗nós te agradecemos muitíssimo!!!‘.

De fato, a caracterização do personagem Giovannino é a de um italiano instruído que, ao enfrentar momentos de tensão, oscila muitas vezes no continuum, descendo da variedade média para a variedade baixa, mas com poucas incursões. Vejamos um desses momentos: quando Giovannino procura o irmão, Ugo (que trabalha como caixa nos Correios), o qual se recusa a ficar com o pai:

Cena 6 (Personagens: *Gi: Giovannino, *U: Ugo, *S e *S2: senhores que estão na fila, [...]: vozes de outras pessoas)

210*Gi: Ugo! Ugo! Scusate sono il fratello//

211*S: <Dica signore/ dove va? Per favore/ fate la fila!>

212*Gi:< ... è una questione famigliare importante/ scusate... un minuto solo!> Ugo scusa! Signora/ per favore/ un minuto solo! Ugo/ si tratta di una cosa importante/ ti devo parlare di papà// Ti chiedo un minuto//

213*S2: Mica vorrà fare il furbo? [...]

214*Gi: No/no.... su Cristo in croce/ non sono un furbo... Ti chiedo un minuto soltanto per parlarti...

215*U: Si metta in fila...

216*Gi: Guarda/ è una cosa urgente/ riguarda lui/ è un minuto solo... 217*U: Le ho detto di mettersi in fila...

218*Gi: Mi metto in fila! 224*U: Dica?

225*Gi: Ugo/ papà sta solo/ l‘infermiera albanese se n‘ andata... ‘na tragedia! 226*U: E cercane un‘altra...

227*Gi: E come faccio? Cioè/ sto in viaggio di nozze... Ho lasciato Valeriana sola sulla nave/

è ‘na tragedia!

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229*Gi: Ma per dieci giorni/ dai... in fin dei conti papà me ne sono sempre occupato io/ no? 230*U: Eh/ no... tu non te ne sei occupato/ bello... Tu te lo sei oliato per benino!

231*Gi: Ma che dici?

232*U: Sennò mica te la regalava la casa/ e manco il viaggio di nozze ti pagava... A proposito/ dov‘ che vai/ eh?

233*Gi: Ma dove vado .... Faccio il giretto che fanno tutti/ Tunisi/ Cairo/ Luxor...

234*U: Ah/ Cairo... Santa Marinella/ io! A casa de mi’ socera me lo fatto il viaggio di nozze/ io!

Nesta cena, quando Giovannino tenta passar na frente das pessoas que estão na fila para falar com Ugo, há a sobreposição de vozes dessas pessoas, barulhos, partes de turno pouco compreensíveis, todas estas características que indicariam uma conversação ao vivo. Ugo, por sua vez, utiliza um italiano muito formal com o irmão (Si metta in fila ‗Coloque-se em fila‘; Le ho detto di mettersi in fila... ‗Eu lhe disse para se colocar em fila‘; dica ‗diga‘), o que demonstra a sua vontade de manter uma relação impessoal, de distância, com Giovannino.

Mas, na fala de Ugo, verificamos também a descida na direção de uma variedade médio-baixa: Ah/ Cairo... Santa Marinella/ io! A ca sa de mi’ socera me lo sò fatto il viaggio di nozze/ io! ‗Ah/ Cairo.... em Santa Marinella eu! Na casa da minha sogra eu fiz a viagem de núpcias‘; neste caso, a utilização de traços fonéticos dialetais, como a e protônica em de/di ‗de‘, a apócope pós-vocálica do possessivo mi‟/mia ‗minha‘, a monotongação de socera/suocera ‗sogra‘, indica a intenção do personagem Ugo de enfatizar com veemência que tinha passado a sua viagem de núpcias na casa da sogra, e não como Giovannino, o qual faria uma viagem de navio pelo mediterrâneo paga pelo pai.

Como resposta à provocação do irmão, Giovannino também utiliza a variedade dialetal, embora com oscilações que, de acordo Rossi (1999, p. 196), são inerentes a um típico romano de classe média:

a) 3 casos de verbos apocopados (ricordà/ricordare ‗lembrar‘; mangià/mangiare ‗comer‘; cenà/cenare ‗jantar‘) e um não apocopado (rinfacciare ‗jogar na cara‘); b) 3 casos de e protônica (1 em de/di ‗de‘; 2 no clítico te/ti ‗te‘), mas não no clítico mi

‗me‘;

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Todos estes traços pertencem à variedade média ou ao italiano ―de‖ Roma; somente um traço fonético da variedade mais baixa está presente: a apócope da preposição pe/per ‗por‘:

235*Gi: Ma perché devi sempre rinfacciare! Ma perché... perché allora io mi dovrei ricordà de quella sera/ che ero andato a mangià‘na pizza/ e tu sei arrivato a casa mia/ quatto/ quatto/ te sei staccato tr ... due quadri/ due quadri/ te sei portato via sei sedie su otto/ dico/ sei su otto! Roba che ci ha fatto cenà a turno pe ‘na settimana a tutti! Ma è giusto? Non ho finito!

Na cena 12, Giovannino procura a mãe, que vivia separada do pai, para pedir-lhe que fique com ele, já que não havia obtido nenhum tipo de ajuda por parte dos irmãos. Mais uma vez, vemos o uso de um italiano neostandard com tendência para a coloquialidade (presença de palavrões: figlia di puttana ‗filha da puta‘; stronzisimi ‗idiotas‘), com poucos traços fonéticos do romanesco (somente alguns casos de e protônica):

(Personagens: *Gi: Giovannino, *M: Mãe de Giovannino, *A: advogado) 309*M: Eh... hai litigato con Valeriana?

310*Gi: Ancora no/ ma se va avanti così me divorzio in viaggio di nozze// Mi fai entrare che ti devo parlare un attimo? È urgentissimo!

311*Gi: Mamma/ guarda/ sto in un‘emergenza che se chiama emergenza rossa/ c‘ho papà

solo qua sulle scale// 312*M: Oddio mio!

313*Gi: Non lo vuole nessuno/ stato abbandonato dall‘infermiera albanese/ questa figlia di puttana... Sono stato da Ugo/ da Loredana/ da zia Clelia/ dai quei tuoi stronzissimi cugini Goccialati/ dai Sessa/ dai Saporito// Mamma/ non ci sei rimasta che te/ perciò/ mamma/ fai la mamma/ salvami il matrimonio!

314*M: Ma Giovanni/ ma cosa ti viene in mente? Sono venticinque anni che siamo separati/ dopo vent‘anni di litigi e di tradimenti! Ormai io per tuo padre sono solo una che lui odia!

Mas, à medida que Giovannino percebe que a mãe não tem intenção nenhuma de cuidar do pai enquanto ele faz a viagem de núpcias, vai ficando cada vez mais nervoso, e isso se reflete no aumento da presença do romanesco em suas falas, a partir da utilização também do traço pertencente à variedade mais baixa do continuum (rotacismo do l: sarvà/salvare ‗salvar‘):

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336*Gi: Allora/ dove lo mando io/ in uno ospizio? Lo porto in una comunità? Che devo ? Io pure me devo sarvà mamma/ dai/ eh?

Já Ivano e sua selvagem esposa, Jessica, são os representantes de uma Itália rica, vulgar e inculta. Para Montini (1997, p. 99), Verdone percebe bem a transformação do modelo coatto (pessoa arrogante, vulgar) no tempo, que vai se dar sobretudo através da linguagem:

Enzo falava sem parar, convencido de dominar a palavra e os seus significados. Ivano e Jessica comunicam por monossílabos, o vocabulário deles é de uma pobreza desconcertante; falam por slogans, incapazes de construir uma frase minimamente articulada. 97

É possível identificar essa pobreza de vocabulário logo na cena inicial, quando, a pedido dos convidados, os dois personagens tentam fazer um discurso:

(Personagens: *I: Ivano, *J: Jessica, *P: pai de Ivano, *C: convidados, *P2: pai de Jessica, *I: irmão de Ivano)

47*C: Discorso! Discorso!

48*I: E che ve devo di’? È trovasse sposatii... è ‘na sensazione nova... che te fa sentire come... come se può di’... te fa sentì proprio strano... eh/ te fa sentì strano... Aa salute! 49*C: Jessica! Jessica!

50*I: Dai/ dai/ dai!

51*J: V‘ha già detto tutto lui!!! Ma che ve devo di’ de più io... Niente... è ‘na sensazione... nova... che te fa.... strano.... cioè/ che te fa sentì proprio strana! Grazie a tutti comunque/ soprattutto dei regali!

52*I: Grazie veramente! 53*P2: Bella de papà! 54*P: Ammazza che oratori!

55*I: Ma chi ve i scrive i testi a Ivà?!

Se Ivano é incapaz de proferir um discurso articulado, Jessica será sua cópia, sendo incapaz de proferir um pensamento próprio; ela utilizará quase as mesmas palavras (sensazione ‗sensação‘, nova ‗nova‘, strana ‗estranha‘) e os mesmos traços fonéticos

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Enzo parlava in continuazione, convinto di dominare la parola e i suoi significati. Ivano e Jessica comunicano per monossillabi, il loro vocabolario è di una povertà sconcertante, parlano per slogan, incapaci di costruire una frase minimamente articolata.

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presentes na fala de Ivano (diálogos 48 e 51): a e protônica nos clíticos ve/vi ‗para você‘ e na preposição de/di ‗de‘; a apócope do verbo no infinitivo sentì/sentire ‗sentir‘; a montongação de uo em nova/nuova ‗nova‘.

Diferentemente de Giovannino, Ivano é caracterizado mais diastrática do que diafasicamente, uma vez que utiliza somente o romanesco de variedade mais baixa do continuum linguístico romano, como podemos constatar nos diálogos entre Ivano e Jessica:

Cena 14 (Personagens: *I: Ivano, *J: Jessica) 417*J: A Ivà?

418*I: Oh?

419*J: Viètte a prénde ‘na botta de sole che er cloro te sbianca/ eh? 420*I: Dichi?

421*I: Che me stavi a di’ prima? Perché te fa paura avé‘n fijo? Perché te cambia aa vita/ te

fa sentì più vecchia/ che è?

422*J: Beh/ la paura de sentì male... E pure l‘idea d’avecce ‘n’antra persona dentro...

423*I: Beh/ ma allora... tu’ madre/ mi’ madre/ er mondo... 424*J: Ah oo so/ ‘nfatti...

425*I: Se t‘uscisse fori ‘n maschio mi piacerebbe chiamallo... o Allan... o Kevin... mejo

Kevin//

426*J: Oo fai pe Kostner?

427*I: Ma più che pe Kostner... oo faccio perché è un nome che me‘n senso de rispetto/ capito? Oosenti come il nome c‘ha possenza/ capito? Kevin! Capito? Me piace!

428*J: Vabbè/ ma tutti maschi devono èsse?

429*I: Vabbè/ allora proponi/ daje! Proponi pure te! 430*J: A me me piacerebbe Maria!

431*I: Ma è ‘n nome da presepio/ Maria/ dai! Ma chi se chiama più Maria? 432*J: A me me piace perché è semplice... È poi nun è vorgareIvà// 433*J: Che c‘hai ‘n mente Ivà?

434*I: Càricated‘ossigeno e bùttate ‘n acqua...

435*J: Ma che ovoi fà ‘n‘apnea?

436*I: Vojo fà Maria sott‘acqua... 437*J: Davero? DaveroIvà?

438*I: Va‘! Vai! Dentro aa piscina...

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Nesses diálogos verificamos a forte presença de traços fonéticos pertencentes tanto à variedade média quanto à variedade mais baixa:

Apresentamos os seguintes traços da variedade média:

a) todos os verbos no infinitivo são apocopados: di‟/dire ‗dizendo‘; prénde/prendere ‗tomar‘; sentì/sentire ‗sentir‘; èsse/essere ‗ser‘; avé/avere ‗ter‘; fà/fare ‗fazer‘ (3); b) 16 casos de e protônica: nos clíticos me/mi ‗me‘ (5); se/si ‗se‘ (1); bùttate/buttati ‗se

joga‘ (1); càricate/caricati ‗carregue-se‘ (1); viètte/ vieniti ‗vem‘ (1); te/ti ‗te‘ (4); e na preposição de/di ‗de‘ (3);

c) 6 casos de aférese dos artigos indefinidos: „un/uno ‗um‘ ( 4); „n‟/un‟ ‗uma‘ (1) e

„na/una ‗uma‘ (1);

d) palatalização de gli a j: vojo/voglio ‗quero‘ (2); mejo/meglio ‗melhor (1); fijo/figlio ‗filho‘ (1).

E para a variedade baixa temos:

a) 4 casos de apócope dos alocutivos: Ivà/ Ivano ‗Ivano‘;

b) 3 casos de rotacismo de l: 2 no artigo definido masculino er/il ‗o‘, e 1 caso no adjetivo vorgare/volgare ‗vulgar‘;

c) 8 casos de lex Porena dos quais: 6 casos nos pronomes diretos - oo so/lo so ‗eu sei‘;

oo fai/lo fai ‗você diz‘; oo faccio/lo faccio ‗eu digo‘; oo senti/lo senti ‗tá escutando‘; o voi/lo vuoi ‗você quer‘. aa vojo/la voglio ‗quero‘ . 1 caso no pronome demonstrativo quaa/quella ‗aquela‘. 1 caso nos artigos definidos aa/la ‗a‘ e 1 na preposição articulada aa/alla ‗da‘;

d) 2 casos de monotongação de uo em ò: voi/vuoi ‗quer‘ e fori/fuori ‗fora‘;

e) 2 casos de passagem de vv a v: davero/davvero ‗verdade‘;

f) 2 casos de apócope dos pronomes possessivos: tu‟/tua ‗sua‘ e mi‟/mia ‗minha‘;

g) 2 casos de apócope na preposição pe/per ‗para‘;

h) nun no lugar de non ‗não‘.

O único momento em que Ivano mudará para um registro mais alto será na cena 17, quando, já em crise, o casal decide inventar uma situação em que não se conhecem. Os dois se encontram em um restaurante e fingem ser duas pessoas diferentes, socialmente elevadas; esta nova realidade imaginária vai pedir uma nova relação com o código linguístico por parte deles. No caso de Ivano, verificamos que em seus diálogos há a tentativa de mudar o código na direção da variedade mais alta, como podemos ver pela mensagem que envia a Jessica convidando-a para se sentar à sua mesa: La trovo molto splendida// La posso invitare al mio

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tavolo? ‗Acho a senhora muito linda// Posso convidá-la para a minha mesa?‘. Jéssica, por sua vez, se esforça para personificar uma pessoa de classe social elevada utilizando um italiano standard com o garçom (Mi può dare la penna? ‗Pode me dar a caneta?‘, e Glielo porti pure ‗Entregue [a mensagem] a ele‘), mas entrega a sua origem de pessoa pouco instruída quando responde por escrito a Ivano: Grazie ma Lei core un po‟ troppo// ‗Obrigada, mas o Senhor

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 139-157)