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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

A PRESENÇA DO ROMANESCO NO CINEMA ITALIANO DO PÓS-GUERRA

LUCIANA DE GENOVA

RIO DE JANEIRO

(2)

A PRESENÇA DO ROMANESCO NO CINEMA ITALIANO DO PÓS-GUERRA

LUCIANA DE GENOVA

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos; opção: Língua Italiana).

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

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FICHA CATALOGRÁFICA

De Genova, Luciana.

A presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra /Luciana De Genova. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2015.

173f. : 30 cm

Orientadora: Annita Gullo

Dissertação (mestrado) – Faculdade de Letras, Departamento de Letras Neolatinas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016.

Referências Bibliográficas: f. 167-173.

1. Romanesco. 2. Variação diafásica. 3. Roma città aperta. 4. Il sorpasso. 5. Viaggi di nozze. 6. Cinema italiano do pós-guerra. I. Gullo, Annita. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. A presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra.

(4)

A PRESENÇA DO ROMANESCO NO CINEMA ITALIANO DO PÓS-GUERRA

LUCIANA DE GENOVA

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos; opção: Língua Italiana).

Examinada por:

___________________________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Annita Gullo - FL/UFRJ

__________________________________________________________________________ Professora Doutora Maria Lizete dos Santos - FL/UFRJ

______________________________________________________________________ Professor Doutor Rafael Ferreira da Silva - UFC

______________________________________________________________________ Professor Doutor Carlos da Silva Sobral - FL/UFRJ

______________________________________________________________________ Professor Doutor William Soares dos Santos - FE/UFRJ

(5)

RESUMO

A presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra.

Luciana de Genova

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos; opção: Língua Italiana).

Esta dissertação propõe observar a presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra. O corpus a ser examinado é constituído por recortes de diálogos transcritos de três filmes italianos de diferentes períodos: Roma città aperta (1945), de Roberto Rossellini; Il sorpasso

(1962), de Dino Risi;e Viaggi di nozze (1995), de Carlo Verdone. A escolha deste corpus tem como objetivo geral observar as mudanças e a evolução do uso desta variedade linguística no cinema, tendo como base teórica os estudos de Sergio Raffaelli (1992) e Eusebio Cicotti (2001). Quanto ao aspecto metodológico, Fabio Rossi (1999) nos dá apoio para a identificação do critério de coleta e tratamento dos dados. Com base nesses estudos, o critério de seleção será a escolha dos fenômenos fonéticos, considerados reveladores da variação diafásica; a frequência de tais traços permitirá identificar o nível de formalidade/informalidade dos diálogos dos atores (fala fílmica) de cada filme e verificar se há a presença do continuum linguístico romano. Para o estudo sobre as características e a evolução do romanesco, temos ainda as contribuições de Tullio De Mauro (1993) e Pietro Trifone (1992, 2008), que nos auxiliarão na identificação dos traços fonéticos desta variedade presentes nas falas fílmicas, objeto principal de nossa pesquisa.

Palavras-chave: romanesco, variação diafásica, Roma città aperta, Il sorpasso, Viaggi di nozze, cinema italiano do pós-guerra.

(6)

RIASSUNTO

A presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra.

Luciana de Genova

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Riassunto da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos; opção: Língua Italiana).

Questo studio propone di osservare la presenza del romanesco nel cinema italiano post-guerra. Il corpus che verrà esaminato è costituito da ritagli di dialoghi trascritti di tre film italiani di differenti periodi: Roma città aperta (1945), di Roberto Rossellini, Il sorpasso

(1962), di Dino Risi e Viaggi di nozze (1995), di Carlo Verdone. La scelta di questo corpus ha l‘obbiettivo generale di osservare le variazioni e l‘evoluzione dell‘uso di questa varietà linguistica nel cinema, avendo come base teorica gli studi di Sergio Raffaelli (1992) e di Eusebio Cicotti (2001). Per quanto riguarda l‘aspetto metodologico, Fabio Rossi (1999) ci supporta nella identificazione del criterio di raccolta e trattamento dei dati. Sulla base di questi studi, il criterio di selezione sarà la scelta di fenomeni fonetici considerati rivelatori della variazione diafasica; la frequenza di tali tratti permetterà di identificare il livello di formalità/informalità dei dialoghi degli attori (parlato fílmico) di ogni film e di verificare se siamo in presenza di continuum linguistico romano. Per quanto riguarda lo studio sulle caratteristiche e l‘evoluzione del romanesco, possiamo contare sui contributi di Tullio De Mauro (1993) e Pietro Trifone (1992, 2008), che ci aiuteranno nel processo di identificazione dei tratti fonetici di questa varietà linguistica presenti nel linguaggio filmico, oggetto principale della nostra ricerca.

Parole-chiave: romanesco, variazione diafasica, Roma città aperta, Il sorpasso, Viaggi di nozze, cinema italiano post-guerra.

(7)

ABSTRACT

A presença do romanesco no cinema italiano do pós-guerra.

Luciana de Genova

Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos;

opção: Língua Italiana).

This study aims to observe the presence of the ―Romanesco‖ (Romanesque) in the Italian cinema from the Second World War to the present day. The corpus under examination

consists of transcribed dialogues clippings of three Italian films from different periods: Roma città aperta (1945) by Roberto Rossellini, Il sorpasso (1962), by Dino Risi and Viaggi di nozze (1995), by Carlo Verdone. The choice of this corpus has the general objective of observing the changes and developments in the use of this linguistic variety in the movies,

having as theoretical basis the studies of Sergio Raffaelli (1992) and Eusebio Cicotti (2001).

For the methodological aspect, Fabio Rossi (1999) gives us support in the identification of

criteria for the data collection and data processing. Based on these studies, the selection

criteria will be the choice of phonetic phenomena, that could be considered useful for

revealing the diaphasic variation; the frequency of such traits will allow to identify the level of formality / informality of the dialogue of the actors (―fala fílmica‖: movie speaking) of each film and to verify if there is the presence of the Roman linguistic continuum. For the study of the characteristics and evolution of the ―Romanesco‖, we still have the contributions of Tullio De Mauro (1993) and Pietro Trifone (1992, 2008), which will assist us in identifying

the phonetic features of this variety present in the movie speaking, main object of our

research.

Keywords: romanesco, diaphasic variation, Roma città aperta, Il sorpasso, Viaggi di nozze, postwar italian cinema.

(8)

AGRADECIMENTOS

A meus pais, por terem sempre feito de tudo para me dar a possibilidade de estudar.

À minha mãe Janete, que sempre acreditou em mim, apoiando-me sempre, mais do que qualquer pessoa, apesar da distância que nos separava.

À minha saudosa avó Irene Leão, que sempre me deu lições de doçura e bondade.

À Annita Gullo, que me acolheu tão bem e me aceitou como sua orientanda. Pela paciência, pelo auxílio e pelas ideias e sugestões valiosas que direcionaram esta pesquisa.

Ao meu marido e companheiro, Marco, por ter entendido os meus momentos de ausência, pelas horas dedicadas à revisão das transcrições dos filmes, pelos incentivos e pela paciência nos momentos de desabafo.

Aos meus filhos Felipe e Henrique, que compreenderam a minha ausência como mãe e me ajudaram nos momentos mais difíceis.

À Leyda, por ser mais que uma amiga, imprescindível para a realização das edições dos três filmes do corpus.

À Professora Doutora Maria Lizete dos Santos, ao Professor Doutor Rafael Ferreira da Silva e ao Professor Doutor William Soares dos Santos, que aceitaram gentilmente participar desta banca.

A todos os Professores que me ajudaram a refletir sobre os rumos desta pesquisa, mas em especial à Professora Doutora Maria Lizete dos Santos, pelo auxílio intelectual e pela disponibilidade nestes dois anos de Mestrado.

Aos colegas Maria Lucilene Moreira Alves, Vitor da Cunha Gomes, Jefferson Evaristo e Larissa Arruda, pelo suporte e companheirismo.

(9)

Dedico esta Dissertação de Mestrado:

aos meus pais, João de Genova e Janete Luiza da Silva,

aos meus filhos, Felipe Ristuccia e Henrique Ristuccia,

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela Página

Tabela 1: Diferenças entre comunicação escrita, falada e fílmica 87

Tabela 2: Traços fonéticos do personagem Pina no filme Roma Città Aperta 108

Tabela 3: Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Roma

città aperta 112

Tabela 4: Comparação das ocorrências da presença e ausência dos traços fonéticos

do filme Roma città aperta 114

Tabela 5: Traços fonéticos do personagem Bruno no filme Il sorpasso 132

Tabela 6: Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Il

sorpasso 134

Tabela 7: Comparação das ocorrências da presença e ausência dos traços fonéticos

no filme Il sorpasso 137

Tabela 8: Traços fonéticos do personagem Ivano do filme Viaggi di nozze 152

Tabela 9: Traços fonéticos do personagem Giovannino no filme Viaggi di nozze 153

Tabela 10: Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Viaggi

di nozze 157

Tabela 11: Comparação das ocorrências da presença e ausência dos traços

(11)

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

Figura Página

Figura 1: Exemplo do uso do programa AntConc 3.4 4w 95

Gráfico Página

Gráfico 1: Uso de traços fonéticos por parte de Pina (filme Roma città aperta) – 1 110

Gráfico 2: Uso de traços fonéticos por parte de Pina (filme Roma città aperta) – 2 111

Gráfico 3: Uso de traços fonéticos por parte de Pina (filme Roma città aperta) – 3 111

Gráfico 4: Uso de traços fonéticos no filme Roma città aperta– 1 115

Gráfico 5: Uso de traços fonéticos no filme Roma città aperta – 2 115

Gráfico 6: Uso de traços fonéticos no filme Roma città aperta – 3 116

Gráfico 7: Uso de traços fonéticos por parte de Bruno (filme Il sorpasso)– 1 133

Gráfico 8: Uso de traços fonéticos por parte de Bruno (filme Il sorpasso) – 2 134

Gráfico 9: Uso de traços fonéticos por parte de Bruno (filme Il sorpasso) – 3 134

Gráfico 10: Uso de traços fonéticos no filme Il sorpasso– 1 138

Gráfico 11: Uso de traços fonéticos no filme Il sorpasso– 2 138

Gráfico 12: Uso de traços fonéticos no filme Il sorpasso – 3 139

Gráfico 13: Comparação do uso de traços fonéticos dos personagens do filme

Viaggi di nozze– 1 155

Gráfico 14: Comparação do uso de traços fonéticos dos personagens do filme

Viaggi di nozze– 2 156

Gráfico 15: Comparação do uso de traços fonéticos dos personagens do filme

Viaggi di nozze – 3 156

Gráfico 16: Uso de traços fonéticos no filme Viaggi di nozze – 1 160

Gráfico 17: Uso de traços fonéticos no filme Viaggi di nozze– 2 161

(12)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 LÍNGUA E CINEMA ITALIANO A PARTIR DO PÓS-GUERRA... 17

1.1 Alguns conceitos fundamentais ... 17

1.2 A relação da língua com o cinema italiano ... 30

1.2.1 Língua italiana e dialetos antes do Neorrealismo ... 31

1.2.1.1 Os anos de ―Freddi‖ ... 33

1.2.1.2 Os anos de guerra ... 34

1.2.2 Língua italiana e dialeto no cinema italiano do pós-guerra ... 35

1.2.2.1 Dialetalidade imitativa – Neorrealismo (1945-1952) ... 35

1.2.2.2 Dialetalidade estereotipada – Neorrealismo rosa (1952-1962) ... 45

1.2.2.3 Dialetalidade expressiva e reflexa (1962–final dos anos 1980) ... 49

1.2.2.4 Os últimos anos ... 54

2 O ROMANESCO E SUA EVOLUÇÃO ... 61

2.1 Das origens ao século XIV ... 62

2.2 Séculos XV E XVI ... 65

2.2.1 A toscanização do século XV ... 65

2.2.2 A variação de registro e de classe na Roma do século XV ... 66

2.2.3 A ―língua cortesã‖ ... 69

2.2.4 Os efeitos linguísticos do Saque de 1527 ... 69

2.3 Do século XVII à unificação ... 70

2.3.1 Língua e dialeto no teatro romanesco do século XVII ... 71

2.3.2 Os romanos Peresio, Berneri e Micheli ... 72

2.3.3 Giuseppe Gioachino Belli ... 72

2.4 Da unificação até os dias atuais ... 73

2.4.1 Um modelo de língua burguesa ... 74

2.4.2 As principais variedades do repertório romano de hoje ... 77

2.4.3 O neorromanesco juvenil ... 81

3 METODOLOGIA DA PESQUISA ... 83

3.1 Aspectos teórico-metodológicos ... 83

3.1.1 Observações sobre as transcrições e citações dos filmes ... 90

(13)

4 ANÁLISE DO CORPUS ... 97

4.1 Roma città aperta ... 97

4.1.1 Ficha técnica ... 97

4.1.2 Sinópse de Roma città aperta ... 97

4.1.3 Comentário linguístico ... 98

4.1.4 Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Roma città aperta ... 112

4.2 Il sorpasso ... 116

4.2.1 Ficha técnica ... 116

4.2.2 Sinópse de Il sorpasso ... 116

4.2.3 Comentário linguístico ... 117

4.2.4 Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Il sorpasso ... 134

4.3 Viaggi di nozze ... 139

4.3.1 Ficha técnica ... 139

4.3.2 Sinópse de Viaggi di nozze ... 139

4.3.2 Comentário linguístico ... 140

4.3.4 Ocorrências, frequências dos traços fonéticos presentes no filme Viaggi di nozze ... 157

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 162

(14)

14

INTRODUÇÃO

O principal interesse deste estudo é observar a presença do romanesco, a variedade dialetal urbana de Roma, no cinema italiano a partir da Segunda Guerra Mundial até os dias

atuais. Tal observação será feita através da análise de uma seleção de falas fílmicas (diálogos

dos atores) em romanesco extraídas de três filmes italianos de diferentes períodos históricos:

Roma città aperta (1945), de Roberto Rossellini; Il sorpasso (1962), de Dino Risi; e Viaggi di nozze (1995), de Carlo Verdone.

O desejo de estudar a relação existente entre o romanesco e o cinema do pós-guerra surgiu a partir da nossa experiência em Roma, onde, ao longo dos treze anos de nossa

permanência, pudemos ter contato com as diferentes variedades que compõem o repertório

linguístico romano.

Essa longa permanência em Roma sempre foi marcada por interrogações no que se

refere à complexa realidade linguística italiana. Neste contexto, pudemos nos deparar com

vários dialetos, que se diferenciam conforme a região, compondo um quadro de grande

riqueza cultural, reflexo da mosaica identidade italiana. Ao mesmo tempo, surgia uma questão

intrigante: a questão do emprego de muitas variedades linguísticas no cinema italiano, com a

predominância do romanesco.

Todas estas interrogações traduziram-se no interesse ainda maior pela cultura italiana

e pelos seus aspectos linguísticos, consolidando-se, anos depois, em um estudo sobre a

identidade italiana que fizemos com nossa orientadora, a Profª Drª Annita Gullo, através da

disciplina Papel da língua na constituição da identidade, cursada como aluna especial no ano 2013.

A partir desta experiência, fundamental para a escolha do tema da nossa pesquisa, o

nosso olhar voltou-se sempre mais para a possibilidade de reunir todas as nossas indagações e

tentar elucidá-las através do cinema italiano, dada a sua particular relevância como

propagador da língua italiana na Itália pós-unitária, além de sua efetiva contribuição para a

consciência da presença dos dialetos no país, como atestado por Tullio De Mauro (1995).

No que diz respeito à frequência do romanesco no cinema italiano, pudemos notar a presença dessa variedade com tendência a tornar-se predominante na cinematografia italiana,

já na primeira metade do século XX, através da popularidade dos atores Aldo Fabrizi e Anna

Magnani, seguidos por Alberto Sordi, dentre outros. De fato, em certas situações

comunicativas, quase sempre informais, não nos foi raro ouvir de amigos romanos, e também

(15)

15

Carlo Verdone, o que pode comprovar que tais códigos linguísticos tenderam sempre mais

para a projeção nacional, superando as barreiras geográficas.

Partindo desses pressupostos, caminhamos para a descrição do nosso trabalho, que

será dividido em cinco capítulos. No primeiro capítulo, apresentaremos alguns dos conceitos

que serão tratados nesta dissertação, a partir da sociolinguística, tais como: variedades

linguísticas, língua, dialeto, língua standard, língua neostandard ou italiano médio, continuum

linguístico, entre outros fundamentais para o entendimento da realidade sociolinguística

italiana. Para isso, contaremos com as contribuições de Gaetano Berruto (1995, 2015), Ugo

Vignuzzi (1994), Tullio Telmon (1993), Michele Cortelazzo (1992). Também examinaremos

algumas relações existentes entre língua italiana, dialeto e o cinema do pós-guerra, com foco

no romanesco, tendo como suporte teórico os estudos de Tullio De Mauro (1989, 1995), Sergio Raffaelli (1985, 1986, 1992), Gian Piero Brunetta (2001), Fabio Rossi (1999, 2006,

2007), Antonella Stefinlongo (2012), Eusebio Ciccotti (2001), entre outros.

No segundo capítulo abordaremos os pontos principais da história linguística de

Roma, assim como da evolução do romanesco. Como base teórica, utilizaremos os trabalhos de Tullio De Mauro (1989, 1995), Pietro Trifone (1992, 2008), Paolo D‘Achille (2012), Antonella Stefinlongo (2012), entre outros estudiosos do tema. Além disso, trataremos da

questão das variedades que compõem o continuum linguístico romano, que será relevante para a identificação do grau de formalidade/informalidade das falas fílmicas (diálogos dos atores).

No terceiro capítulo, trataremos dos aspectos metodológicos que servirão de base

para a análise do nosso corpus. Partiremos das contribuições de Fabio Rossi (1999), no que se refere à definição de fala fílmica, bem como das suas características com relação à fala espontânea e à fala escrita. O método utilizado pelo estudioso na análise dos filmes consiste

na identificação da frequência de alguns fenômenos fonéticos, morfossintáticos e lexicais, de

um ponto de vista linguístico, e não semiológico, nem estético.

Convém destacar que, para o presente trabalho optamos por fazer um recorte da

metodologia proposta por Rossi, focando, assim, somente na identificação dos traços

fonéticos para a identificação do grau de formalidade/informalidade da língua usada, ou seja,

a variação diafásica.

Além dos estudos acima nominados, que servirão de alicerce para a metodologia, buscaremos, nas obras de Pietro Trifone (2008), Paolo D‘Achille (2012) e Antonella Stefinlongo (2012), os traços fonéticos indicadores de informalidade, fundamentais para a

(16)

16

No Capítulo 4 analisaremos as transcrições das cenas dos filmes que compõem o

nosso corpus. Primeiramente, reportaremos a ficha técnica com algumas informações relativas a cada filme. Sucessivamente, apresentaremos a sinópse do filme, seguida pelos

nossos comentários, com exemplos de trechos transcritos, além de um quadro relativo a cada

filme com os traços fonéticos identificados e o seu número de ocorrências, seguido de outro

quadro comparativo em que são evidenciadas a presença e/ou a ausência de cada traço

fonético. Por último, apresentaremos alguns gráficos ilustrativos dos traços relevados e

comentados.

Passemos, então, ao desenvolvimento desta tese, que não têm a pretensão de ser

conclusiva ou de emitir juízo, mas, sim, objetiva ressaltar os aspectos mais relevantes das

análises das falas fílmicas, e assim, quem sabe, auxiliar novos caminhos de pesquisa na área

de língua italiana.

(17)

17

1 LÍNGUA E CINEMA ITALIANO A PARTIR DO PÓS-GUERRA

Tendo em vista o foco principal de nossa dissertação - a observação da presença do

romanesco no cinema italiano a partir do segundo pós-guerra até os dias mais recentes -, proporemos, na primeira parte deste capítulo (1.1), a definição de alguns conceitos referentes

à situação sociolinguística italiana, haja vista a realidade multicultural e plurilíngue da

península italiana. Na segunda parte (1.2), introduziremos a relação do cinema com a língua

italiana e os dialetos, e destacaremos a sua importância para a unificação linguística

pós-unitária: no subitem 1.2.1, apresentaremos esta relação desde o nascimento do cinema sonoro

até o período de guerra, como introdução ao 1.2.2 quando abordaremos o período do

pós-guerra, que coincide com toda a produção do Neorrealismo, passando pelo Neorrealismo rosa,

pela comédia à italiana, até o início do século XXI.

1.1 Alguns conceitos fundamentais

Apresentamos, a seguir, alguns conceitos que se referem à realidade sociolinguística

italiana. Para tanto, começaremos pela noção de sociolinguística, disciplina que estuda a diversidade e a variedade da língua (das línguas), que fundamenta nosso discurso sobre a

presença do romanesco no cinema italiano. Esclareceremos, também, os objetivos dessa ciência e a concepção de língua adotada pelas pesquisas nessa área.

Sendo assim, trazemos a definição de sociolinguística por Berruto (1994, p. 4-5):

[...] a sociolinguística é a disciplina que estuda a diversidade e a variedade da língua (das línguas); e dado que as possíveis classes de variação da língua (das línguas) são essencialmente quatro, dependem, isto é, de quatro variáveis fundamentais, ela estudará principalmente como a língua (as línguas) é diversificada e muda (são diversificadas e mudam): 1) através do tempo; 2) através do espaço; 3) através das classes sociais; 4) através das situações sociais. Se quisermos privilegiar a visão sincrônica, e excluirmos, então, o ponto 1), teremos que o objetivo da sociolinguística é, em suma, segundo uma feliz fórmula ―jornalística‖ de Fishman, procurar determinar quem fala qual variedade de qual língua, quando, com qual propósito e com quais interlocutores. E podemos adicionar como, por que e onde. 1

1

(18)

18

Para o Gaetano Berruto, o assunto fundamental que levou ao desenvolvimento da

perspectiva sociolinguística sobre os fatos da língua foi a constatação de que a linguagem

verbal, além de ser uma das capacidades inatas dos seres humanos, formada por uma

estruturação autônoma, ao mesmo tempo é inerente à vida social e aos comportamentos

interacionais dos indivíduos.

Portanto, segundo o supracitado estudioso, torna-se necessário, para uma melhor

compreensão global dos fenômenos linguísticos, levar em conta as inter-relações entre a

língua e o ambiente social em que esta é empregada. Sendo assim, a língua é considerada pela

sociolinguística

[...] um sistema construído segundo os próprios princípios, mas é afetado também pelas características dos usuários e das situações de uso. De alguma maneira, a língua reflete dentro de si também os seu falantes, se assim quisermos dizer (BERRUTO, 2005, p. 37). 2

Ainda para língua, podemos usar três definições de Berruto (1995, p. 215): uma linguística – «é todo sistema linguístico, organizado em paradigmas e regras, com suas

peculiaridades em termos de características estruturais» 3 –; uma variacionista – «é a soma de

variedades de língua, que formam um diassistema» 4 –; e uma tipicamente sociolinguística:

é todo sistema linguístico socialmente desenvolvido, que seja uma língua oficial ou nacional em qualquer país, que desenvolva muitas funções na sociedade, que seja padronizado e que esteja em um nível superior com relação a outros sistemas linguísticos subordinados presentes no uso da comunidade (que se são emparentados com esta serão os seus dialetos). 5

A partir dessa definição, faz-se necessário, antes de tudo, a distinção entre dois

conceitos: o de língua e o de dialeto. Isso porque, ao pensarmos na realidade linguística italiana, deparamo-nos com outras línguas que se diferem da língua oficial nos planos

morfológico, sintático, lexical e fonológico, embora não sejam reconhecidas como línguas,

sendo chamadas de dialetos.

2

[...] la lingua è un sistema costruito secondo i propri principi, ma risente anche delle caratteristiche degli utenti e delle situazioni d‘uso. In qualche modo, la lingua riflette dentro di sé anche i parlanti, se vogliamo dire così.

3

è grosso modo ogni sistema linguistico (insieme di forme, paradigmi, regole, organizzato in numerosi sottosistemi a diversi livelli d‘analisi) con una sua peculiarità in termini di caratteristiche strutturali.

4

è una somma di varietà di lingua, formanti un diassistema.

5

(19)

19

Para Berruto (1995, p. 222-23), os dialetos são:

as variedades linguísticas definidas na dimensão diatópica (geográfica), típicas e tradicionais de uma região, área ou localidade. Como tais, os dialetos não são nunca uma variedade standard (embora possam gozar de certo grau de padronização e codificação), mas são subordinados a uma língua standard. Para estabelecer se um sistema linguístico X é um dialeto da língua Y, são necessárias três condições: a) que X tenha uma estrutura próxima da Y; b) que X tenha Y como língua-teto; c) que X tenha parentesco genético com Y6.

Partindo do fato de que os dialetos são sempre subordinados a uma língua standard, apresentamos a definição a seguir, também de Berruto (1995, p. 215-16), segundo o qual

língua standard é "uma variedade de língua sujeita à codificação normativa e que vale como modelo de referência para o uso correto da língua e para o ensino escolar. Toda língua que

tiver uma reconhecida variedade standard é uma língua standard."7

O autor (1995, p. 220) utiliza ainda as definições de Ammon (1986), que qualificam

uma língua ou variedade de língua standard: «a) deve ser codificada, b) ―supra regional

(sic)‖, c) elaborada, d) própria das classes médio-altas, e) invariante, f) escrita)».8

Levando-se em conta as noções de língua, dialeto e língua standard ou padrão, podemos afirmar que estas e outras variedades compõem um repertório linguístico, definido por Berruto (1995, p. 72) como «o conjunto dos recursos linguísticos possuídos pelos

membros de uma comunidade linguística, ou seja, a soma de variedades de uma língua ou de

mais línguas empregadas em uma certa comunidade social» 9. A este propósito, Berruto

(1995, p. 73) afirma que tal soma de variedades não deve ser entendida como uma soma

linear, mas como uma relação de hierarquia e normas de emprego, que, nas palavras de

Coseriu (1981b), será chamada de «arquitetura da língua».

Partindo, então, da ideia de que o repertório linguístico é uma soma de variedades,

Berruto, em Fondamenti della sociolinguistica (1995, p. 75-76), define o termo variedade

6

sono le varietà linguistiche definite nella dimensione diatopica (geografica), tipiche e tradizionali di una certa regione, area o località. In quanto tali, i dialetti non sono mai una varietà standard (anche se possono godere di un certo grado di standardizzazione e codificazione); ma sono subordinati ad una lingua standard. Per stabilire che un certo sistema linguistico X è un dialetto della lingua Y sono quindi necessarie tre condizioni: a) che X abbia una buona vicinanza strutturale con Y; b) che X abbia Y come lingua tetto; c) che X abbia parentela genetica con Y.

7

varietà di lingua soggetta a codificazione normativa e che vale come modello di riferimento per l‘uso corretto della lingua e per l‘insegnamento scolastico. Ogni lingua che abbia una riconosciuta varietà standard è una lingua standard. [...].

8

lo standard è tale in quanto è: (a) codificato, (b) sovraregionale, (c) elaborato, (d) proprio dei ceti alti, (e) invariante, (f) scritto.

9

(20)

20

como «um conjunto de traços congruentes de um sistema linguístico que co-ocorrem com um

certo conjunto de traços sociais, caracterizando os falantes ou as situações de uso» 10.

Neste sentido, as variedades de uma língua podem ser divididas em cinco dimensões:

diacronia, diatopia, diastratia, diamesia e diafasia.

As variedades diacrônicas – do grego khrónos: tempo – são aquelas que se diferenciam ao longo do tempo em uma determinda comunidade linguística. Como exemplo,

tem-se a comparação entre o italiano contemporâneo e o italiano do início do século XX.

As variedades diatópicas ou geográficas – do grego tópos: lugar – se diferenciam com base nos lugares onde são faladas, como, por exemplo, o italiano de Roma e o italiano de

Milão.

As variedades diastráticas acontecem no âmbito das diferentes classes sociais – do

grego dia: através de, e do latim stratum: camada, estrato. Elas ocorrem na relação do locutor para com o interlocutor, em decorrência dos seguintes aspectos: faixa etária, sexo,

escolaridade, profissão, meio de convivência e classe social.

Já o plano diamésico – do grego mésos: meio (de comunicação) – diz respeito às variedades que se diferenciam com base no meio ou canal da comunicação, como, por

exemplo, língua falada e língua escrita. Com o nascimento dos meios de comunicação, tem-se

uma terceira modalidade, que se coloca em uma posição intermediária entre a escrita e a fala,

denominada língua transmitida (SABATINI, 1997), ou seja, o italiano empregado nas

transmissões radiofônicas, nas conversas telefônicas, nas transmissões televisivas, no cinema

e, mais recentemente, na comunicação digital (e-mails, SMS, chat, redes sociais, entre outros)

11

.

Finalmente, na dimensão diafásica – do grego phásis: expressão, modo de falar – temos as variedades que se manifestam através das diferentes situações comunicativas, que

consistem nos diferentes modos pelos quais são realizadas as mensagens linguísticas em

relação ao contexto presente na situação. O falante faz um uso diferenciado da língua de acordo com o grau de monitoramento, formalidade, que será necessário no ato da

comunicação oral.

10

un insieme di tratti congruenti di un sistema linguistico che co-occorrono con un certo insieme di tratti sociali, caratterizanti i parlanti o le situazioni d‘uso.

11

(21)

21

Dentro da dimensão diafásica, existem dois tipos de variedade: a primeira é ligada à

finalidade do ato comunicativo, gerando as línguas especiais (língua da matemática, dos

meios de comunicação etc.); a segunda vai depender do maior ou menor grau de intimidade

entre os falantes e do nível de formalidade estabelecido entre eles, os chamados registros.

Os registros podem ser de caráter formal e informal. Dada a impossibilidade de se

dissociar completamente esses dois registros e de identificar os limites que os separam,

torna-se necessário colocá-los dentro de um continuum linguístico, que nos permitirá o entendimento da relação entre as variedades a partir dos dois polos nos quais se encontram as

duas variedades mais distinguíveis, como explicado anteriormente.

Apresentaremos aqui as características gerais dos registros formal e informal, uma

vez que se encontram nos pontos extremos desse continuum e nos ajudarão na identificação do grau de formalidade/informalidade nas falas fílmicas.

Segundo Berruto (2015, p. 171), o registro formal coincide com o italiano standard e o italiano neostandard, sendo usado pelos falantes quando não se conhecem, ou quando não têm intimidade, ou, ainda, quando há a necessidade de expressar respeito ou posição

hierárquica.

Ainda de acordo com Berruto (2015, p. 171-72), a formalidade é um caráter

extrínseco de uma situação comunicativa, determinado por fatores sociais e culturais: uma

situação é mais formal quando é mais baseada no respeito e nas normas de comportamento

vigentes na comunidade; e é mais informal quando, ao contrário, essas normas de

comportamento são menos respeitadas.

Nesse sentido, o grau de formalidade de cada ocasião se situa em um continuum que vai do máximo formal ao máximo informal e depende também de como a situação é ―construída‖ pelos participantes. Isso vai se refletir no comportamento linguístico através do controle e do cuidado ao se falar e escrever.

Já no que diz respeito ao registro informal, Berruto (2015, p. 173) afirma que ele é

usado quando há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou em situações

descontraídas, ou quando o grau de planificação é mínimo. Também é usado em situações em

que há um forte envolvimento emocional ou quando quem está falando está cansado; enfim,

(22)

22

Para Berruto (2015, p. 175), nos registros informais a velocidade de elocução é

normalmente mais alta do que nos registros formais e vai se realizar em vários níveis (lexical,

morfossintático, fonético). A seguir, optamos por apresentar somente os fenômenos ligados ao

nível fonético, uma vez que este é o recorte utilizado no presente trabalho:

a) alta tendência a apócopes, especialmente na primeira e terceira pessoa do plural

(sò/sono ‗sou‘; sò/sono ‘somos‘) e no infinitivo dos verbos (fà/fare ‗fazer‘), com

queda da vogal final quando é precedida por uma nasal ou vibrante (fan/fanno

‗fazem‘);

b) tendência à simplificação de nexos consonânticos ―difíceis‖, através da assimilação

(arimmetica/aritmetica ‗aritmética‘), da inserção de vogais de transição epentéticas (in Isvizzera/ in Svizzera ‗na Suíça‘) e do cancelamento de consoantes (propio para

proprio‗mesmo‘).

Para Berruto (2015, p. 175), ainda no que diz respeito à pronúncia, nos registros

informais é mais evidente a interferência de um substrato dialetal: devido a uma menor

atenção e a um menor cuidado no momento da fala, além de um menor controle da

enunciação, os falantes bilíngues produzem mais traços dialetais do que os que se exprimem

em um registro mais formal; e, no italiano regional de falantes monolíngues, tende-se a

eliminar menos elementos e traços localmente marcados.

Tendo em vista que essas cinco dimensões são variações da língua, passaremos agora

ao conceito de variação, partindo de uma ótica sociolinguística.

Segundo Berruto (Enciclopedia Treccani, 2011) 12, variação linguística é o caráter mutável das línguas, apresentando-se através das diferentes formas de comportamento dos

falantes. Para o estudioso, as línguas e as variedades de língua presentes no repertório de uma

comunidade não estão igualmente à disposição, ao mesmo tempo que não são possuídas na

mesma medida por todos os membros da comunidade. Nesse sentido, a variação se manifesta

nos comportamentos linguísticos não somente no uso de formas diferentes da língua, mas

também através do acesso diferenciado às variedades de língua e à escolha da variedade a ser

utilizada em uma certa interação verbal, o que é fortemente condicionado pela faixa social à

qual o falante pertence, como também pelo seu grau de instrução e, por último, pelas

características da comunidade deste falante.

12

http://www.treccani.it/enciclopedia/variazione-linguistica_(Enciclopedia_dell'Italiano)/ (Acesso em

(23)

23

Partindo desses conceitos-chave da sociolinguística, apresentaremos, a seguir, a

noção de continuum, com exemplos do continuum linguístico romano. Para o enquadramento das falas fílmicas nas respectivas variedades linguísticas, faremos uma breve descrição dessas

variedades, fundamental para a apresentação da cronologia do cinema italiano que será feita

na segunda parte deste capítulo. Para tanto, contaremos com as contribuições de Gaetano

Berruto (2015), Tullio Telmon (1993), Michele Cortelazzo (1992), Francesco Sabatini (1985a, 1990), Paolo D‘Achille (1990, 2010), Alberto Sobrero (1992), Antonella Stefinlongo (2012), entre outros.

Berruto (2015, p. 19-27), em Sociolinguistica dell‟italiano contemporaneo, afirma que

as variedades de língua, classificadas conforme as dimensões vistas anteriormente, se dispõem

hierarquicamente em um certo espaço linguístico segundo uma rede de relações, constituindo

a «arquitetura da língua», assim denominada por Eugenio Coseriu (1981b).

Neste sentido, para entendermos estas relações existentes entre as variedades da

arquitetura do italiano, utilizaremos a noção de continuum, que poderá ser útil também para a compreensão da situação linguística não só italiana, como também romana, uma vez que o

foco da nossa pesquisa é o romanesco.

Para uma noção inicial de continuum, Berruto (2015, p. 30-33) faz referência à coexistência de diferentes variedades, entre as quais não há confins nítidos e drásticos, mas

graduais e esfumaçados, com pontos focais bem distintos e com margens sobrepostas. Na

situação linguística italiana, a língua-padrão, ou standard, e o dialeto local poderiam constituir os extremos do continuum, entre os quais existem variedades intermediárias. Essas duas variedades situadas nos extremos do continuum representariam, dessa maneira, a variedade ―alta‖ e a variedade ―baixa‖ em uma situação de diglossia. Nesse sentido, Sgroi (1981, p. 214-5) identifica uma situação de diglossia toda vez que um idioma (dialeto, língua

etc.) do repertório de uma comunidade goza de um status social diferente, superior com relação aos outros, ou seja, toda vez que esse idioma tem um maior prestígio social.

Voltando o nosso olhar para a situação linguística romana, Antonella Stefinlongo

(2012, p. 22) afirma que, ao contrário de outras metrópoles italianas, onde coexistem pelo

menos dois códigos linguísticos estruturalmente muito distantes (o italiano standard e os dialetos locais), o panorama linguístico de Roma é muito homogêneo e compacto, devido a

dois fatores: a) Uma forte coincidência de traços em todas as variedades do repertório; b) A

forte interação e parcial sobreposição de cada variedade do continuum com as variedades imediatamente adjacentes.

(24)

24

Contudo, apesar dessa relativa homogeneidade, Stefinlongo (2012, p. 22) ressalta

que os polos do continuum se diferenciam: de um lado, tem-se a variedade alta (ou ―de prestígio‖), representada pelo italiano (muito próximo ao standard); de outro, a variedade baixa (ou ―de menor prestígio‖), muito próxima do dialeto. Consequentemente, as

condensações desse continuum coincidem com as faixas intermediárias, nas quais standard, variedades e dialeto se misturam consideravelmente.

A variedade alta, ou ―de prestígio‖, é, segundo Stefinlongo (2012, p. 22-23), aquela

de língua falada na cidade pelas classes médio-altas, já no século XVIII, sendo muito próxima

do toscano. Apesar de ter a maioria dos traços em comum com o standard, esta parte do

continuum não está totalmente isenta dos traços marcados regionalmente e de intrusões das variedades do continuum, que podem manifestar-se no léxico, nas estruturas morfossintáticas e especialmente na fonética.

No extremo oposto da variedade alta, encontra-se a variedade baixa ou ―de menor prestígio‖, considerada por Stefinlongo (2012, p. 23) a variedade dialetal. A esse respeito, a autora observa que a interpretação dessa parte do continuum por alguns estudiosos é incerta e discordante. Sendo assim, optamos, neste trabalho, pela denominação utilizada por

Stefinlongo, variedade dialetal urbana, obviamente sem deixar de lado a visão que alguns estudiosos têm do romanesco como um dialeto e/ou italiano regional.

Stefinlongo (2012, p. 24) justifica a sua escolha por esse termo explicando que,

apesar do número relevante de traços fonomorfológicos que se contrapõem ao italiano, o

romanesco tem pouca autonomia no que diz respeito à sintaxe e ao léxico. Nesse sentido, segundo a autora, o problema não está tanto no fato de constatar-se, de um ponto de vista

estritamente linguístico, que existe um código diferente que se contrapõe àquele dominante. O

problema está em estabelecer se esse código possui autonomia funcional e cultural, além de

linguística, e se é reconhecido e sentido pela comunidade como próprio.

Neste último caso, a estudiosa afirma que as respostas são negativas, pois, além do

preconceito por parte da própria comunidade relacionado ao uso dessa variedade dialetal, há

todo um contexto cultural que diz respeito a costumes e tradições que foram desaparecendo, o

que acaba tornando difícil a sobrevivência do romanesco.

Já no que tange à sua funcionalidade, podemos antecipar que o fato de o romanesco

não constituir um código alternativo ao italiano – no caso, para o uso informal – mas ser

(25)

25

que o uso dessa variedade não é visto pelo viés da função, mas pelo conceito de valor social e

de prestígio. 13

Partindo, então, do conceito de continuum, com ênfase para a realidade sociolinguística romana, continuaremos com a descrição das outras variedades linguísticas,

importantes para o entendimento do nosso trabalho. Tal descrição se dará a partir do conceito

de língua standard ou padrão, uma vez que há a necessidade de elucidar alguns pontos fundamentais.

Primeiramente, Berruto (2015, p. 67) observa que nos últimos anos houve um

processo de repadronização do italiano, no sentido de que está se consolidando uma nova

norma que, em muitos aspectos, contrasta com a norma tradicional. Esse processo levou a

uma aproximação entre a escrita e a fala, visto que também a escrita típica está considerando e

acolhendo como normais traços até então tidos como peculiares da fala. De uma forma geral,

isso significa que também os traços substandard se aproximam da esfera do standard, dando lugar ao italiano neostandard, ou italiano médio (expressão criada por Sabatini), considerado a variedade-base na arquitetura do italiano contemporâneo.

No âmbito italiano dessa variedade, Francesco Sabatini (1985a) a nominou italiano dell'uso medio, enquanto que Gaetano Berruto (2015) falou de neostandard. Com tais escolhas terminológicas, os dois estudiosos tendem a enfatizar, respectivamente, a ampla

convergência da comunidade linguística sobre tal modalidade expressiva e a função de nova

referência normativa que esta assumiu.

Com relação a essa variedade, apresentamos o conceito de Alberto Sobrero (1992, p.

5), o qual, por sua vez, utilizou a terminologia de Berruto (1987):

O neostandard é difundido nas classes médio-altas e na parte mais culta da população e é realizado mais na fala oral do que na escrita. A etiqueta de neostandard refere-se ao fato de que neste nível, hoje em plena evolução, encontramos um grande número de formas que aos poucos ―vieram‖ dos níveis inferiores (substandard): antes relegadas à área das formas "coloquiais" (ou, como diziam os vocabulários, "triviais"), agora se difundem e são aceitas na língua nacional. O standard, assim, por sua vez, amplia os próprios confins. 14

Partindo, então, das noções de standard e neostandard, utilizaremos o critério de Ciccotti (2001, p. 296) para identificar essas duas variedades nas falas fílmicas: quando

13

Todos esses aspectos serão mais aprofundados no capítulo relativo à evolução do romanesco, mais precisamente no item 2.4.1.

14

(26)

26

ocorrem diálogos em italiano não fortemente regionalizado na direção da variedade alta, estes

estarão entre o neostandard e o standard. Sendo assim, chamaremos de standard as falas fílmicas que seguem uma gramática correta e têm uma sintaxe e fonologia de base florentina,

com pouquíssimas entonações regionais; de neostandard, em contraposição, chamaremos os diálogos com aberturas fonológicas para o regional mais marcadas, mas não tão fortes como o

italiano regional.

Ainda na visão de Berruto (2015, p. 26), o neosta ndard é, por um lado, um

conglomerado com o standard, mas sendo, por outro, sensível à diferenciação diatópica, correspondendo fundamentalmente, portanto, nos usos concretos dos falantes, com um italiano regional culto médio. As duas etiquetas são quase sinonímicas e são utilizáveis indistintamente de acordo com os aspectos que queremos colocar em evidência: com italiano neostandard, acentuamos os aspectos unitários, sobretudo morfossintáticos, que constituem a larga base comum dos empregos do italiano comum em falantes cultos (muito cultos ou mediamente cultos); com italiano regional culto médio, acentuamos a diferenciação geográfica queserá percebida na grande maioria dos utentes [...].15

Os italianos regionais, pertencentes às variedades diatópicas, na visão de Tullio Temon (1993, p. 100), são «sistemas dialetais intermédios, autônomos, coerentes, dinâmicos e dialetal ‗primário‘»16

. Michele Cortelazzo (1992, p. 269) completa essa definição afirmando

que é: «um subconjunto coerente de italiano fortemente influenciado, em todos os níveis,

pelo dialeto, ao ponto de que os traços identificadores desse italiano, que o diferenciam de um

(hipotético) italiano médio, são quase sempre traços locais». 17

Já a noção de italiano popular sempre foi muito debatida por vários linguistas 18, mas é com Tullio De Mauro (1970a) e com Cortelazzo (1972) que tal noção encontra a sua

primeira definição conceitual. Para o primeiro, configura-se como o «modo de se exprimir de

um inculto que tenta utilizar, sem muita intimidade, a língua ‗nacional‘, o italiano» e

representa «uma modalidade, [...] uma norma de uso da língua italiana que pode denominar-se

15

conglobato con lo standard da un lato, ma dall‘altro sensibile a differenziazione diatopica, e corrispondente quindi fondamentalmente nei concreti usi dei parlanti a un italiano regionale colto medio. Le due etichette sono quasi sinonimiche, e sono usabili intercambiabilmente a seconda degli aspetti che vogliamo mettere in rilievo: con italiano neostandard mettiamo l‘accento sugli aspett unitari, soprattutto morfossintattici, che constituiscono la larga base comune degli impieghi dell‘italiano da ritenere normali presso parlanti colti (molto colti o mediamente colti); con italiano regionale colto medio mettiamo l‘accento sull‘emergere della differenziazione geografica che sarà percepibile nella gran maggioranza degli utenti [...].

16

sistemi dialettali intermedi [...], autonomi, coerenti, dinamici, e relativamente strutturati, nei quali l‘interferenza di completamento è costituita dal sostrato dialettale primario.

17

un sottoinsieme coerente di italiano fortemente influito, a tutti i livelli, dal dialetto, al punto che i tratti identificanti di questo dialetto, quelli che lo differenziano da un (ipotetico) italiano medio, sono proprio, e quasi solo, quelli locali.

18

(27)

27

‗italiano popular unitário‘» 19

(DE MAURO, 1970a, p. 49). Posteriormente, o segundo

descreve o italiano popular como «o tipo de italiano imperfeitamente adquirido por quem tem como língua-mãe o dialeto» 20 (CORTELAZZO, 1972, p. 11).

Berruto (2015, p. 133) observa que as definições de De Mauro e Cortelazzo

fundaram duas diferentes linhas interpretativas do conceito: a primeira atenta aos impulsos

comunicativos e expressivos e à realização de uma tendência de o falante usar o italiano de

qualquer maneira; a segunda, mais voltada ao caráter do produto, que parece um produto anormal, ―imperfeito‖, derivante do contato direto com o dialeto. Berruto (2015, p. 157) afirma que, nos últimos anos, os debates sobre esse conceito e sobre sua sobrevivência continuam; neste sentido, o estudioso concorda com D‘Achille (1994, p. 45-6), quando este sublinha que italiano popular é a etiqueta que indica a produção linguística dos semicultos e acrescenta que esse conceito «não se refere somente à produção oral e escrita destes, mas

também àquela dos incultos quando falam em italiano e não em dialeto» 21, recuperando

também a dimensão social da variedade, que, ainda segundo o autor, muitas vezes é deixada

de lado pelos linguistas.

A respeito da sobrevivência do italiano popular unitário 22, D‘Achille (2010a) concorda com os autores que afirmam que há o enfraquecimento do italiano popular no repertório italiano atual; mas Berruto (2015, p. 158) se posiciona diversamente, argumentando

sobre a sua vitalidade e o reconhecimento da sua existência atual como variedade diastrática

baixa na arquitetura da língua.

Já para o conceito de italiano literário ou italiano standard literário, seguimos a definição de Berruto (2015, p. 26):

o italiano standard literário não quer dizer tout court ―língua das obras literárias‖ [...] mas, sim, ―língua de nível literário‖, apoiada na tradição literária. Trata-se da língua que é descrita e regulada pelos manuais de gramática; em princípio, não é marcada nem diatopicamente, nem socialmente. 23

19

modo di esprimersi di un incolto che, sotto la spinta di comunicare e senza addestramento, maneggia quella che ottimisticamente si chiama la lingua ‗nazionale‘, l‘italiano» e representa «una modalità, [...] una norma d‘uso della lingua italiana che può denominarsi ‗italiano popolare unitario.

20

il tipo di italiano imperfettamente acquisito da chi ha per madrelingua il dialetto.

21

non si riferisce solo alla produzione scritta e orale dei semicolti, ma anche a quella orale degli incolti quando parlano in italiano e non in dialetto.

22

O termo ―unitário‖, neste caso, indica o período pós-unitário.

23

(28)

28

Na realidade, segundo o autor, além de ser pouco representado na fala, o italiano

literário é levemente marcado diastraticamente, dado que, em virtude das características da

história linguística italiana, ele é verificável somente em pequenas elites intelectuais ou, mais

tipicamente, em grupos profissionais específicos (atores, speakers, falantes que fizeram curso de dicção).

A seguir, trazemos também a definição de fala dos jovens, uma vez que esta variedade também estará frequente na cinematografia italiana. Segundo Michele Cortelazzo

(1994, p. 292-93), a fala dos jovens, ou ―linguagem dos jovens‖ (termo utilizado pelo

estudioso), é o resultado da mistura de variedades: italiano coloquial, dialeto, gírias, língua da

publicidade e dos meios de comunicação e línguas estrangeiras.

Dada essa presença de muitas fontes linguísticas, o italiano dos jovens não pode ser

considerado uma única variedade, mas, sim, uma soma delas. Sendo assim, é considerado

unanimemente pelos estudiosos (COVERI, 1988; SOBRERO, 1992) uma variedade diafásica

do italiano: o uso da linguagem dos jovens não é condicionado somente pela adesão a um

grupo de jovens, mas, sim, pela situação comunicativa – dificilmente um jovem usará esta

variedade quando fala de política ou quando desenvolve alguma atividade escolar.

Segundo Cortelazzo (1994, p. 294), não podemos esquecer, no entanto, que a adesão

a um grupo é condição necessária para o uso desse tipo de linguagem, tornando-a também

uma variedade diastrática, uma vez que a análise sociológica mostra que a utilização dessa

linguagem caracteriza, em diferentes modos, os jovens pertencentes às classes sociais

médio-baixas, mas não os jovens da classe social alta.

Como esclarece o estudioso, a fala juvenil pode ser definida como a variedade de

língua oral usada por aqueles pertencentes aos grupos juvenis em determinadas situações

comunicativas (conversações espontâneas dentro do grupo e sobre temas centrais comuns a

todos, como a escola, o amor, o sexo, as amizades, as drogas etc.).

Dessa maneira, a colocação desta variedade pode ser representada no modelo

proposto por Berruto (2015, p. 24), situando-se, no eixo da dimensão diafásica, em um ponto

em que a dimensão diastrática está orientada para baixo e a dimensão diamésica, na direção

da escrita oral. Sua colocação resultaria, assim, contígua à das gírias.

O uso de uma forma particular de italiano pelos jovens teria três funções de acordo

com Cortelazzo (1994, p. 294-95): uma função identitária, que tem a finalidade de marcar a

adesão a um grupo; uma função lúdica, que se realiza através da deformação e hibridação de

outros sistemas linguísticos (dialeto, línguas estrangeiras); e uma função de autoafirmação

(29)

29

Os elementos dialetais são usados pela sua forte expressividade, especialmente são

utilizadas as áreas semânticas das palavras de baixo calão (incazzato ‗bravo‘; scazzato

entediado‘), das características físicas e morais consideradas negativas (ciospa ‗moça feia‘; pirla ‗estúpido‘) e do sexo (arrapato ‗excitado‘, frocio ‗homosexual‘). A linguagem dos

jovens goza também de uma dimensão internacional, com empréstimos linguísticos que

demonstram um conhecimento das línguas estrangeiras maior do que as gerações precedentes:

anglicismos ligados ao mundo da droga (trip, overdose, pusher…) e à música amada pelos

jovens (heavy metal, reggae, rap…). A influência anglo-americana se nota também nas interjeições expressivamente marcadas do mundo dos gibis (slurp, splash…) e no léxico da

informática (hardware ‗aspecto físico‘; è stato un floppy ‗foi um fracasso‘). Os hispanismos,

têm função lúdica através da cunhagem de pseudo-estrangeirismos (cucador ‗quem entende

de mulheres‘; arrapescion ‗excitação sexual‘; los dineros ‗o dinheiro‘). Devido à rápida substituição geracional, a linguagem dos jovens é extremamente mutável: cada geração tende

a se diferenciar da anterior e muitos neologismos caem em desuso, como, por exemplo, a

palavra matusa para indicar os pais, que era muito difundida nos anos 1960 (RADKE, 1993, p. 191-235).

Tendo em vista que a base da linguagem dos jovens é o italiano coloquial

(CORTELAZZO, 1994, p. 300), passaremos à apresentação dessa categoria.

O italiano coloquial constitui, juntamente com o italiano popular, o núcleo principal

do italiano substandard, uma vez que compartilham alguns traços, sendo até confundidos entre si. Segundo Berruto (2015, p. 163), o traço discriminante entre as duas variedades

consiste na correlação com a proveniência social dos falantes:

o italiano coloquial pode ser empregado independentemente da classe social, por falantes de todas as classes e com qualquer grau de instrução; tê-lo à disposição depende, em parte, da estratificação social, na medida em que os falantes culturalmente desfavorecidos têm acesso somente ao italiano popular, mas os traços que o caracterizam não o correlacionam com fatores diastráticos. 24

Ainda de acordo com Berruto (2015, p. 163-65), a sua manifestação se dá no âmbito

oral, mas pode aparecer em usos escritos não formais, como na correspondência familiar ou

em diários etc. Trata-se, portanto, de uma variedade situacional, ou diafásica, que se reveza

com outras variedades situacionais dependendo do grau de formalidade, do empenho e dos

interlocutores, necessários para a situação comunicativa que se deseja instaurar.

24

(30)

30

Berruto considera o italiano coloquial um ―superregistro‖, que cobre uma ampla gama de registros situados entre um extremo levemente informal e um extremo muito

informal (BERRUTO, 2015, p. 139). O nível que mais caracteriza o italiano coloquial é o do

léxico e o da fraseologia, com uso de termos genéricos e expressivos, como: far fuori ‗matar‘; fregare ‗enganar‘, ‗roubar‘; scocciare ‗importunar‘; pizza ‗coisa chata‘; rompiscatole

‗importuno‘. São também frequentes os diminutivos com valor atenuante na afirmação: un attimino ‗um segundinho‘; un filino ‗um pouquinho‘; un momentino ‗um momentinho‘.

1.2 A relação da língua com o cinema italiano

Antes de iniciarmos este excursus através do cinema italiano, cabe esclarecer, de pronto, que a relação entre cinema e língua italiana percorreu uma via de mão dupla, segundo

Rossi (Enciclopedia dell‟italiano, 2010): a língua escrita e oral sempre foram influenciadas,

seja no léxico, seja no estilo, pelo cinema, assim como este sempre teve que se confrontar

com o italiano escrito e falado para criar uma comunicação funcional e eficaz e, ao mesmo

tempo, aceitável e agradável, realista e compreensível para um vasto público cultural e

linguisticamente heterogêneo. Isso, nas palavras do estudioso, é um «objetivo nada fácil, dada

a história linguística do italiano, caracterizada pela fragmentação dialetal e pela tardia

realização de uma fala média nacional» 25.

Completando as observações de Rossi, De Mauro (1995, p. 120) sublinha a

relevância do cinema italiano para a unificação linguística italiana no período pós-unitário,

uma vez que ele foi responsável pela propagação de modelos linguísticos italianos em

ambientes regionais e sociais onde o dialeto dominava. Portanto, o estudioso afirma que o

cinema foi, para uma grande parte da população, «a primeira fonte de conhecimento da língua

nacional» 26, sobretudo a partir do nascimento do cinema sonoro, em 1930.

No que se refere aos dialetos, segundo Rossi (2007, p. 25), o seu uso também

acompanhou o cinema desde as suas origens. Mais especificamente, sobre o romanesco, Tullio De Mauro, em Storia linguistica dell‟Italia unita (1995, p. 124), sustenta que «o

romanesco do século XX, o que restava do velho dialeto de Roma, fortemente marcado por

25

Obiettivo tutt‘altro che facile, data la storia linguistica dell‘italiano, caratterizzata dalla frammentazione dialettale e dal tardivo conseguimento di un parlato medio nazionale.

http://www.treccani.it/enciclopedia/cinema-e-lingua_(Enciclopedia_dell'Italiano)/ (Acesso em 28/12/15).

26

(31)

31

meridionalismos, sempre foi muito usado pelo cinema para dar forma linguística a histórias de conteúdos populares ou popularizantes» 27.

Partindo destas últimas considerações, Anna Maria Boccafurni (2012, p. 131), em

seu ensaio Il romanesco nella cinematografia, afirma que o romanesco se faz ainda hoje muito presente na cinematografia italiana. Além de destacar sua ampla utilização, a autora

chama a atenção para a sua capacidade de exprimir-se de maneira ―colorida‖ e eficaz,

tendendo a levar para a tela situações da vida cotidiana, colocando-se numa dimensão

realística e fazendo com que os espectadores se identifiquem com as histórias contadas. A

autora afirma ainda que, depois dos personagens inesquecíveis de Alberto Sordi em Un americano a Roma, de Vittorio Gassman em I soliti ignoti e de Gigi Proietti em Febbre da cavalo, o romanesco encontrou lugar também nas falas de outros atores, como Montesano, Verdone, De Sica, Brignano, Tirabassi.

Mas, para compreendermos a presença do romanesco no contexto cinematográfico, descreveremos os acontecimentos históricos que fizeram de Roma uma realidade única, se

comparada às outras metrópoles, os quais serão comentados no Capítulo 2.

Na segunda parte deste item (1.2), traçaremos um panorama histórico geral do

cinema a partir da Segunda Guerra Mundial (1.2.2), que coincide com o movimento chamado

de Neorrealismo, até os dias mais recentes, com alguns exemplos de falas fílmicas e

comentários sobre alguns filmes, tendo como base os estudos de Sergio Raffaelli (1983, 1992,

1996) e Fabio Rossi (1999, 2006, 2007). Sobre o emprego do romanesco fílmico na cinematografia italiana, além dos autores já citados, utilizaremos as contribuições de Eusebio

Ciccotti (2001), o qual fez um panorama sobre a utilização dessa variedade linguística no

cinema no período que vai de 1943 a 1995.

Mas, antes, para um maior entendimento dos períodos em questão, não podemos

deixar de comentar brevemente o período que antecede o Neorrealismo e que coincidiu com o

nascimento do cinema italiano sonoro (1.2.1). Assim podemos trazer à luz a realidade italiana

daquela época, responsável por grandes transformações no cinema nacional.

1.2.1 Língua italiana e dialetos antes do Neorrealismo

Segundo Raffaelli (Enciclopedia del cinema, 2003) 28, o cinema sonoro (1930) impôs aos produtores a elaboração de soluções linguísticas que fossem adequadas tanto às situações

(32)

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comunicativas do filme quanto à capacidade receptiva dos espectadores. A Itália, ao contrário

dos outros países da Europa, possuía uma língua nacional elaborada e transmitida através da

escritura, sendo falada por poucos; ou seja, era uma língua privada de fluida coloquialidade,

fundamental na interação entre personagens fílmicos, o que acabou tornando obrigatória a

criação de uma linguagem fílmica adequada a essa necessidade.

Rossi (2006, p. 161) afirma que, na Itália, a língua escrita e a língua falada no filme

refletiam a real fragmentação geográfica e sociolinguística do país e, por outro lado,

respondiam à dupla natureza do cinema como meio de comunicação de massa: espelho e

escola de língua (SIMONE, 1987). Portanto, a tendência à normatização linguística de tipo

literário e a exigência de alcançar todo o público nacional contrapunham-se ao desejo de

despertar a identificação do público local através da adoção de expressões populares e

dialetais. Tal cruzamento de variedades linguísticas (dialeto, italiano standard, italiano regional, italiano literário, italiano popular, italiano médio) acompanhará a fala fílmica

durante toda a sua história.

Além disso, Rossi (2006, p. 162-63) esclarece que, quando se fala de dialeto

cinematográfico, na verdade se trata ora de italiano regional, ora de uma língua híbrida (criada pelo cinema e para o cinema), que combina, geralmente num mesmo diálogo,

fenômenos regionais com traços de italiano standard. Para o estudioso, são poucos os filmes em dialeto puro e, quando é utilizado, tem como principal função ―colorir‖ o filme: é mais falado por figurantes ou, no máximo, por personagens secundários; é mais falado por homens

do que por mulheres; mais por idosos do que por jovens; mais por pobres do que por ricos.

Voltando à cronologia delineada por Raffaelli (1992, p. 80), temos: de 1930 a 1945, a fase dos ―anos da Cines‖ (de 1929 a 1934, com traços fonéticos regionais nos primeiros filmes), a fase dos ―anos de Freddi‖ (de 1935 a 1939, rigorosamente dialetófobos) e a fase dos ―anos de guerra‖ (com um uso mais consistente dos dialetos, da caricatura ao realismo).

A seguir, para melhor compreensão desses diferentes momentos, comentaremos

brevemente sobre os anos que antecederam o Neorrealismo, principalmente a partir dos ―anos de Freddi‖ (de 1935 a 1940), marcados pelo fascismo, levando à proibição do uso do dialeto fílmico.

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Imagem

Tabela 1: Diferenças entre comunicação escrita, falada e fílmica
Figura 1: Exemplo do uso do programa AntConc 3.4 4w
Tabela 2: Traços fonéticos do personagem Pina do filme Roma Città Aperta
Gráfico 1: Uso de traços fonéticos por parte de Pina (filme Roma città aperta)  –  1
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Referências

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