• Nenhum resultado encontrado

A maioria dos doutrinadores, entretanto, manifesta entendimento favorável à sociedade em conta de participação, a começar por aqueles que, ante a ausência de burocracia e de formalidades legais, quer em razão de negócios urgentes e de ocasião, quer para as hipóteses de empreitadas incipientes, em que uma experimentação inicial tem grande importância, vêem que ela é sempre chamada a preencher o vazio jurídico, para reger situações novas decorrentes da contínua evolução das atividades mercantis.142

Carvalho de Mendonça alinha significativos aspectos pelos quais considera o fato econômico da sociedade em conta de participação “um dos mais conhecidos e valiosos no círculo do comércio”: a) o interesse de amparar os riscos que oferecem certas empresas; b) o desejo ou a necessidade de ocultar o próprio nome nas negociações ou operações mercantis; c) a conveniência de poupar despesas com a organização de uma das espécies de sociedade dotada com personalidade; d) a urgência da operação, que não permite o cumprimento de múltiplas e demoradas formalidades; e) a natureza do negócio, que exige total reserva.143

Em realidade, “hoje, dadas as condições econômicas reinantes, as sociedades em conta de participação estão revivendo. Capitalistas emprestam seus capitais a empresários para aplicação em determinadas operações, repartindo-se o lucro ao final. É comum nos negócios momentâneos de importação, ou quaisquer outros negócios que envolvam aplicação imediata de expressivos capitais... Como se vê, a sociedade em conta de participação constitui moderno instrumento de captação de recursos financeiros para o desenvolvimento econômico, tendo, além disso, amplas e úteis aplicações, dentro do moderno campo do direito comercial.”144

142 Cf. ALMEIDA, Carlos Guimarães de, A virtuosidade da sociedade em conta de participação, cit., p. 5. 143 Cf. MENDONÇA, Jose Xavier Carvalho de, Tratado de direito commercial brasileiro, cit., v. 4, livro II, p.

223.

144 REQUIÃO. Rubens. Curso de direito comercial. 23. ed. atual. por Rubens Edmundo Requião. São Paulo:

Vale dizer: “a velha e vetusta e muitas vezes esquecida sociedade em conta de participação é, portanto, um filão rico que a imaginação e a engenhosidade dos juristas podem explorar para resolver e reger tantos negócios jurídicos novos, que a revolução econômica dos últimos tempos vem impondo. Seus característicos principais que, afinal, se traduzem numa típica sociedade intra partes e oculta, para todos os efeitos, em relação a terceiros, têm resistido e persistido através dos séculos. E é isso, sem dúvida, que lhe dá a virtuosidade necessária para ser aplicada à extensa gama de atividades mercantis, no sofisticado mundo de negócios que caracteriza a época atual”.145

Os atributos que lhe são próprios e alguns questionamentos acerca de sua natureza – como a ausência de forma rígida para sua constituição, a ausência de patrimônio autônomo, o anonimato, a ausência de personalidade – nada disso obsta “a que seja, como de fato é, vera sociedade. Pouco importam as deficiências, pois também as antigas sociedades de comércio existiam e se comportavam do mesmo modo, apresentando, quando muito, indicação vaga do ente coletivo (...). O conceito de sociedade é completamente distinto do de personalidade jurídica, o que explica que as sociedades irregulares não deixam de ser reconhecidas como sociedades, mesmo por aqueles que lhe recusam a personalidade jurídica”.146

Quanto à própria acusação de que lhe faltam requisitos essenciais, rebate-se com o argumento de que “não falta à sociedade em conta de participação a concorrência dos pressupostos legais do contrato de sociedade, como: a) o concurso de vontade de duas ou mais pessoas; b) a contribuição de cada uma delas, em bens ou serviços, como base econômica para a realização de um fim comum; c) a divisão dos ganhos e das perdas”, além do que a sociedade “independe, realmente, da personalidade jurídica”. Ressalte-se, apenas, que, em face da inexistência de personalidade jurídica, de um patrimônio próprio, de firma ou razão social, essa espécie de sociedade “só existe como sociedade para os sócios que a integram – nunca para terceiros, no que se distancia fundamentalmente das demais espécies de sociedade”.147

145 MORAES, Francisco Chagas de. A equiparação da sociedade em conta de participação à pessoa jurídica.

Suplemento Tributário da Revista LTr, São Paulo, n. 65, p. 363-364, 1987.

146 ACETI JÚNIOR, Luiz Carlos; REIS, Maria Flávia Curtolo, Sociedade em conta de participação, cit., p. 736. 147 Ibidem, p. 738.

Em verdade, uma análise histórica aponta para a importância que, em todos os tempos, tem tido a sociedade em conta de participação, tantas as modalidades de que ela se reveste148. E hoje, mais do que nunca.

9.8 Conclusão

O Código Civil de 2002 trouxe inovações interessantes a algumas sociedades consideradas inativas por alguns doutrinadores desde a entrada em vigor do Decreto n. 3.708, de 10.01.1919, que instituiu a sociedade por quotas de responsabilidade limitada. Pode-se afirmar, além disso, sem medo de erro, que a sociedade em conta de participação é a menos conhecida, sendo, todavia, a mais utilizada das sociedades extravagantes, embora, curiosamente, não venha recebendo a devida menção e atenção nos meios acadêmicos ou mercantis149. Uma de suas maiores vantagens é que ela preserva a identidade do investidor e

lhe confere segurança legal, já que não lhe acarreta qualquer responsabilidade para com terceiros. Possibilita, ademais, a manutenção de segredos de negócios e estratégias de crescimento, além da preservação de patrimônios pessoais vultosos ou nomes célebres vinculados a tais negócios, em virtude da ausência de obrigatoriedade de registro e conseqüente publicidade do contrato constitutivo, onde se identificam os sócios.

Além disso, nos dias atuais, ante as dificuldades para obtenção de capital, sobretudo como resultado da elevada taxa dos juros, que teimam em manter-se em níveis estratosféricos no país, o crédito figura como principal objeto de desejo de um grande número de empresas. Em razão da própria lei da oferta e da procura, o que acaba sendo muito procurado costuma ter seu acesso dificultado, senão inviabilizado. Num quadro como esse, muitas empresas acabam fechando suas portas por inviabilização do crédito. E uma das alternativas de destaque para a capitalização das empresas, que também é verdadeiro método alternativo de investimento, reside na formação de uma sociedade em conta de participação.

148 Cf. BULGARELLI, Waldirio, Sociedades, empresa e estabelecimento, cit., p. 135.

149 PIRES, Antonio Cecílio Moreira; WIEGERINCK, João Antonio, O direito societário e as alterações

10 USO E ABUSO DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO