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Os atores envolvidos na política industrial entre 1964 e

Capítulo 2. A história do processo de industrialização no Brasil e os atores envolvidos na política industrial

2.3. O Panorama da Indústria no Brasil no período de 1964 a

2.3.1. Os atores envolvidos na política industrial entre 1964 e

Diante dos desafios de coordenação política, decorrentes da pulverização de atores institucionais e dos mecanismos participação, esse segundo período é caracterizado pelo protagonismo do Estado nos processos de tomada de decisão, em detrimento da atuação da iniciativa privada. No que se refere à política industrial, os governos militares dão continuidade ao complexo arranjo de atores institucionais já existentes. Todavia, paralelamente é observada a consolidação de duas estratégias complementares de planejamento político – uma mais abrangente e outra setorial. Por um lado, a prática de formulação de políticas setoriais é induzida pelo Estado, fortalecendo a atuação das diversas instâncias institucionais, vinculadas aos Ministérios envolvidos na política industrial, e de seus respectivos mecanismos de participação. É nesse contexto que, em 1964, a CDI é recriada com a finalidade de auxiliar o Estado na coordenação política e na articulação dos diversos atores institucionais envolvidos nas discussões setoriais. Por outro lado, o Estado cada vez mais centraliza os processos de formulação dos grandes projetos de desenvolvimento nacional, que se tornam norteadores das políticas públicas como um todo, mas em especial da política industrial.

À medida que essa prática de planejamento integral se solidifica junto ao poder Executivo, ela é normatizada pelo Ato Complementar 43, de 29 de janeiro de 1969, e atualizado pelo Ato Complementar 76 desse mesmo ano, que determinam a sua formulação para o período de igual duração ao mandato presidencial e a sua aprovação pelo poder Legislativo. Desse modo, o poder Legislativo se insere no arranjo de atores institucionais envolvidos na formulação dos planos nacionais de desenvolvimento e também da política industrial, o que até então era de competência exclusiva do poder Executivo.

Ainda ao final da década de 1960, quando se inicia o período conhecido como milagre econômico, esse arranjo de atores institucionais da política industrial passa por mais uma reconfiguração, com a entrada de novos atores vinculados ao poder Executivo. Esse momento é caracterizado por um acelerado crescimento da economia nacional, o que oportuniza a criação de novas instituições públicas de apoio ao desenvolvimento produtivo do País. Assim como ocorrido anteriormente, essas novas instituições são formadas por sobreposição ou adição de camadas, sem que as antigas instituições sejam substituídas ou

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extintas, e também passam a integrar o complexo arranjo de atores envolvidos na política industrial.

Nesse sentido, pode-se citar instituições como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)46, criada em 1967, e a Secretaria de Tecnologia Industrial, em 1972, ambas vinculadas ao Ministério do Planejamento; o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), criado em 1970 junto ao Ministério de Indústria e Comércio; o Instituto de Pesquisas Espaciais, criado em 1971, de início vinculado ao CNPq47; o INMETRO, constituído em 1973 em substituição ao INPM; e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, em 1976. Concebidas no contexto de uma economia fechada e com forte presença de um Estado autoritário, essas instituições apresentam em comum a característica de amparar o desenvolvimento tecnológico e o financiamento da pesquisa aplicada no País.

Outra importante instituição que se consolida como um ator estratégico no desenvolvimento da indústria brasileira e, consequentemente, também na política industrial é o BNDE. Desde sua criação, o BNDE atua como formulador e executor dos principais projetos de investimento em infraestrutura econômica, com ênfase nos projetos de transportes, geração de energia elétrica e urbanização. Porém, a partir da década de 1960, com o desaquecimento da economia industrial no País e o agravamento da crise econômica, o Banco passa a diversificar seus investimentos para atender também as demandas da indústria de base, de bens de capital e de bens intermediários, além das iniciativas de desenvolvimento tecnológico associadas à estratégia de substituição de importações. Desse modo, a atuação do Banco se expande também para os setores de petroquímica, siderurgia e metalurgia, papel e celulose, mecânica e elétrica, e comunicações, seja para a formação de empresas estatais ou para o financiamento da iniciativa privada.

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Originalmente a FINEP é concebida como uma linha de investimento do BNDE. Em 1967, a FINEP é constituída como empresa pública por meio do Decreto 61.056, de 24 de julho de 1967, denominada Financiadora de Estudos de Projetos S.A., e passa a se vincular ao Ministério do Planejamento e Coordenação Geral. Como grande parte dos projetos financiados culmina ser relativo ao aperfeiçoamento da tecnologia nacional, em março de 1985 a FINEP passa a se vincular ao recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

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Em 1985, com a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia, o INPE deixa de se vincular ao CNPq e se torna um órgão autônomo subordinado ao MCT.

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Remete também a esse período a criação do Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena e Média Empresa (Cebrae), criado em 1967 no âmbito do BNDE. Especificamente concebido para atender as demandas e especificidades das micro e pequenas empresas em formação no País, o Cebrae posteriormente se torna uma entidade privada sem fins lucrativos, passando a se chamar SEBRAE (1972). Por fim, cabe destacar a formação do Sistema BNDE, composto por subsidiárias a exemplo da FINAME, transformado em autarquia em 1966; da Embramec, Fibase e Ibrasa48, criadas em 1974 para atuar no mercado de capitais e cuja fusão, em 1982, resulta na criação do BNDES Participações S.A.; e da Comissão de Valores Mobiliários (1976). Ou seja, mesmo estando vinculado ao Ministério da Fazenda, o BNDE cria suas próprias camadas hierárquicas e assume um papel estratégico no processo de industrialização do País.

Com a eclosão do primeiro choque da crise internacional do petróleo, em 1973, o período conhecido como milagre econômico apresenta seus primeiros sinais de desgaste e, uma vez mais, sinaliza o desaquecimento da economia brasileira. Com o objetivo de atrair novos investimentos privados para o País, o Estado institui a Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe acerca da sociedade por ações. Essa Lei se configura como um importante marco legal, uma vez que autoriza a divisão do capital em ações e possibilita a abertura da empresa para investimentos externos, sem que necessariamente seja perdido o seu controle acionário. A partir desse marco legal, o comportamento dos atores institucionais é alterado e impacta em uma profunda modificação na distribuição de poder no âmbito da economia industrial do País.

Por um lado, o BNDE passa a atuar como um investidor minoritário em diversos empreendimentos, públicos e privados. Ademais, o Estado dá início à criação de holdings estatais concebidas para a coordenação e regulação de diversos segmentos industriais considerados estratégicos ou nos quais a participação estatal é majoritária. Por outro lado, o capital estrangeiro aumenta sua participação acionária junto às empresas nacionais, reforçando a dependência econômica e tecnológica da indústria brasileira frente ao mercado internacional. Dito de outra forma, a legislação acerca da sociedade por ações sinaliza o início de uma abertura econômica do País, atrai novos investimentos externos

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Em 1974, o BNDE cria a Mecânica Brasileira SA (Embramec), a Insumos Básicos SA Financiamentos e Participações (Fibase) e a Investimentos Brasileiros SA (Ibrasa), como resultado do crescimento do mercado brasileiro de capitais.

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para o setor produtivo, e altera o equilíbrio da frágil aliança entre o Estado e o segmento industrial brasileiro. Frente a essa situação, a tendência de ruptura da aliança público- privada fica evidenciada por meio da insatisfação expressa na IV Conferência Nacional das Classes Produtoras, ocorrida em 1977, e posteriormente é consolidada pela adesão da CNI ao Movimento Diretas Já, em 1983.