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Panorama Histórico Geral das Relações Estado-Igreja no Brasil

4 A LAICIDADE NO BRASIL: QUESTÕES POLEMICAS

4.1. Panorama Histórico Geral das Relações Estado-Igreja no Brasil

O embate entre modernidade e religião existe, mas é diferente, de acordo com a história e cultura do país. O tema em tela leva a interessantes reflexões. A questão das relações entre Estado e Igreja está estreitamente conectada com a história de cada nação.

No caso do Brasil, a religião católica está na raiz da fundação de suas cidades e desenvolvimento de seu povo.

Como se sabe, a colonização do Brasil se deu por Portugal, um país eminentemente católico.

Duas correntes disputavam a razão que inspirou as conquistas marítimas portuguesas. A primeira sustenta que teria sido por razões espirituais precipuamente e somente em segundo plano ficariam as razões comerciais. A segunda afirma exatamente o oposto.412

Neste sentido, segundo a primeira corrente, D. Manuel I, rei de Portugal à época do descobrimento do Brasil, teria o objetivo de disseminar o cristianismo entre todos os povos, tomado do “espírito de cruzada”.

A corrente que afirma a prevalência de motivação espiritual sobre a comercial parece bastante razoável no que tange à colonização do Brasil, pois segundo estudiosos, Portugal, durante anos, não auferiu lucros. Além da vastidão do território, havia populações nativas bastante hostis, cujos hábitos horrorizavam os colonizadores, tais como a antropofagia413.

Assim, os jesuítas que vieram ao Brasil com a frota de Tomé de Souza estavam investidos, pelo rei Dom João III, dos poderes necessários para a heroica tarefa de evangelizar os nativos gentios.

412GALLEGO, Roberto de Almeida. O sagrado na esfera pública: religião, direito e Estado Laico.

Dissertação de Mestrado em Filosofia do Direito apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010, p. 58.

413 Pederastas, incestuosos, sodomitas, bestiais, compraziam-se em banquetes de carne humana. Devoravam não só os europeus, mas os próprios compatriotas, costumando engordá-los antes do festim, para o que davam à vítima tratamento requintado, que incluía o prazer de uma moça à escolha dele. Às vezes, estas fêmeas engravidavam do sentenciado, e, se, quando ele era comido, ficava filho dos seus últimos contatos, era a própria mulher que, depois de o parir e cozinhar, dele comia em primeiro lugar. Neste caminho iam tão longe que chegavam a rasgar o ventre das mulheres prenhas para lhes devorarem os filhos, depois de assados (BROCHADO, Costa. A lição do Brasil, Lisboa: Portugália Editora, 1949 apud GALLEGO, op. cit., p. 58)

Mas a Igreja nesta empreitada estava sob a ascensão do Estado que se aperfeiçoava de três maneiras: o padroado, o beneplácito e o recurso à coroa.414

Os privilégios do padroado (direito de conferir benefícios eclesiásticos) e do beneplácito ( necessidade de licença imperial para se publicarem atos na Cúria) são empregados amplamente como consequências do regalismo.

O padroado era o recurso oferecido aos que proviam materialmente a fundação de alguma igreja de poder indicar os bispos e arcebispos à Igreja Católica.

O beneplácito ou exequatur era a “chancela” necessária do Estado para a entrada

em vigor de qualquer ato eclesiástico. E, por fim, o recurso à coroa, instituído pela Lei 231 de 1841, que autorizava o recurso à Coroa portuguesa aos que não aceitassem as decisões proferidas pelos tribunais eclesiásticos:

Como afirma Caio Prado Junior:

Aqui como alhures, no passado como no presente, a organização clerical é em substância a mesma. Lembremos unicamente o padroado, concedido ao rei de Portugal e nas suas possessões ultramarinas, o que lhe permitia larga ingerência nos negócios eclesiásticos, inclusive e sobretudo a criação e provimento dos bispados; ereção de igrejas, e delimitação de jurisdições territoriais ; autorização para estabelecimento de Ordens religiosas, conventos ou mosteiros. Cabia ainda ao monarca, por concessão, como vimos à Ordem de Cristo, a percepção dos dízimos, que é um tributo eclesiástico destinado originalmente à manutenção do clero. Em compensação, competia à coroa prover a esta manutenção e tal é o objeto das côngruas, isto é, subvenções pecuniárias aos membros do clero.415

As relações entre Estado e Igreja no Brasil colônia foram norteados em grande medida pelos preceitos das Ordenações Filipinas (que sucedeu as Ordenações Afonsinas de 1446-1447 e as ordenações manuelinas de 1521, já que Portugal estava sob domínio da Espanha de 1580 a 1640), cujo segundo livro dos cinco existentes era totalmente dedicado ao tema.

Com efeito, o Estado intervinha em assuntos religiosos tais como a fiscalização do culto visando sua “decência”, mas a Igreja ficava responsável por

414GALLEGO, Roberto de Almeida. O sagrado na esfera pública: religião, direito e Estado Laico.

Dissertação de Mestrado em Filosofia do Direito apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010, p. 59.

415 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ª ed., São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 332.

assuntos como educação, saúde pública, obras assistenciais e registro de nascimentos, batismo, casamento e óbito.

O primeiro bispo do Brasil foi escolhido pessoalmente pelo rei, já denotando o fenômeno do regalismo, abordado anteriormente, isto é, a influência do poder dos governantes sobre a Igreja:

Decorre daí que as necessidades espirituais se colocam no mesmo plano que as exigências da vida civil. A participação nas atividades religiosas não é menos importante que nas daquela última. Poder frequentar os sacramentos, o culto, as cerimônias da Igreja, constitui urgência que nada fica a dever ao que se pede noutro setor: a justiça, a segurança, ou as demais providências da administração pública. O Estado não se podia furtar a ela. E nem jamais cogitou disto. Pelo contrário, disputou sempre à Igreja de Roma o direito de ministrar ele próprio, a seus súditos, o alimento espiritual que reclamavam. Nunca lhe escapou a importância política disto.416

Depois da expulsão dos jesuítas em 1759 os negócios eclesiásticos ficaram inteiramente entregues ao poder do soberano da coroa:

Aliás, o Papado, já muito enfraquecido e com as atenções ocupadas em outros setores mais importantes, não assume, relativamente ao Brasil e à sua metrópole, nenhuma atitude reivindicatória de seus direitos: abandona inteiramente nas mãos do Rei Fidelíssimo os assuntos religiosos da colônia. 417

Acrescenta, ainda, Prado Júnior: “A Igreja no Brasil se tornara em simples departamento da administração portuguesa e o clero secular e regular, seu funcionalismo”.418

A relação era de uma proteção imobilizadora, mesmo na época do Império em que a Constituição em 1824 declarou o Estado católico.

Segundo Rafael Llano Cifuentes, alguns constitucionalistas da época sustentavam que o Estado tinha o direito de polícia sobre o culto religioso, bem como direito de inspeção quanto à disciplina e atividade espiritual do clero, mas sobretudo que a nomeação dos bispos e os provimentos dos benefícios

416 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ª ed., São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 329.

417 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ª ed., São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 333.

418 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ª ed., São Paulo: Brasiliense, 2008, p. 333.

eclesiásticos eram privativos da soberania nacional, cabendo à Cúria somente a faculdade de confirmação.419

De qualquer maneira, a participação da Igreja Católica era notável nas questões sociais, como assistência social aos pobres, doentes, idosos e crianças desamparadas; o ensino, catequização dos índios e mesmo no setor da diversão pública, sendo responsável pelas festividades e comemorações populares.

Tendo em vista os estreitos laços existentes entre Portugal e a religião católica havia verdadeira prevalência desta religião em detrimento de outras. Já na tripulação das naus de Cabral chamava a atenção o predomínio da religião e até a existência de uma imagem de Nossa Senhora da Esperança entronizada num altar erguido no convés da capitania.420

Assim, os benefícios da coroa portuguesa eram somente concedidos aos católicos, somente estes eram contemplados com terras.

O sistema colonial consistiu inicialmente na divisão do território em capitanias hereditárias, totalmente independentes umas das outras, que, posteriormente, foram ligadas por meio do sistema de governadores-gerais, tendo Tomé de Souza como o primeiro deles, estabelecidos por meio dos Regimentos do Governador-Geral.421

Um desses regimentos, editado em 1677, que vigorou até 1806, estabelecia regras exaustivas para o trato das questões atinentes à Igreja, tais como o modo de remuneração dos quadros eclesiásticos, o controle eficaz do culto por meio de funcionário público, que se reportava ao rei, fornecimento das regras de comportamento necessárias à administração daquele local específico.422

O sistema dos governos-gerais se rompe em 1672 e vai aos poucos se descentralizando até chegar em centros autônomos subordinados a poderes político-administrativos regionais, subdivisões estas feitas a partir de interesses econômicos. Assim:

419LLANO CIFUENTES, Rafael. Relações entre Igreja e o Estado. 2ª ed. atualizada, Rio de Janeiro:

José Olympio, 1989, p. 239.

420 CHEHOUD, Heloisa Sanches Querino. A liberdade religiosa nos Estados modernos. São

Paulo: Almedina, 2012, p. 69.

421SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada.

São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 70.

422GALLEGO, Roberto de Almeida. O sagrado na esfera pública: religião, direito e Estado Laico.

Dissertação de Mestrado em Filosofia do Direito apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010, p. 61.

o governo-geral divide-se em governos regionais (estado do Maranhão e estado do Brasil), e estes, em várias capitanias gerais, subordinando capitanias secundárias, que, por sua vez, pouco a pouco, também se libertam das suas metrópoles, erigindo-se em capitanias autônomas. Cada capitania divide-se em comarcas, em distritos e em termos. 423

Então, formam-se pequenos governos locais, cuja autoridade máxima era representada pelo capitão-mor das aldeias, que acabavam sendo os próprios senhores de terra daquele local, cujas enormes fazendas acabavam se equiparando aos antigos feudos europeus, com seus castelos, cortes e súditos:

Nas zonas de exploração agrícola, floresceu uma organização municipal, que teve profunda influência no sistema de poderes da colônia. O Senado da Câmara ou Câmara Municipal constituiu-se no órgão do poder local. Era composto de vários “oficiais”, à imitação do sistema de Portugal. Seus membros eram eleitos dentre os “homens bons da terra”, que, na realidade, representavam os grandes proprietários rurais.424

Daí a origem da estrutura política do Estado Brasileiro que iria se constituir com a Independência. Ela se estendeu não só na fase imperial, mas também na republicana: a oligarquia dos coronéis.

A partir de 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil vai se alterando a condição política do país.

Sobre a liberdade religiosa na época:

Um dos primeiros documentos sobre liberdade religiosa no Brasil é o tratado do Comércio e Navegação, de 19 de fevereiro de 1810, celebrado entre Portugal e Inglaterra logo após a chegada da Coroa portuguesa na colônia em 1808. O artigo XIII desse tratado dispunha que os vassalos da Majestade Britânica residentes em territórios de domínio português não poderiam ser perturbados ou molestados por causa de sua religião, e teriam plena liberdade de consciência e licença para celebrarem seu culto. Porém, essa liberdade havia limites bem precisos, como, por exemplo, a proibição de que tais Igrejas ostentassem a religião britânica, pois deveriam se assemelhar às casas de habitação, sendo vedada inclusive a utilização dos sinos.425

423SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada.

São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 71.

424SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada.

São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 72.

425 CHEHOUD, Heloisa Sanches Querno. A liberdade religiosa nos Estados modernos. São Paulo: Almedina, 2012, p. 69.

Em 1815, o Brasil se torna Reino Unido a Portugal, pondo fim ao sistema colonial. Mais um passo à frente e se dá a Independência em 1822, da qual surge o Estado Brasileiro sob forma de Império, que perdurou até 1889.426

A sede do governo foi transferida para o Rio de Janeiro, mas essa organização de poder não teve influência no interior do país, onde ainda prevalecia a autoridade dos coronéis.

De outro lado, a esta altura, já se havia constituído uma elite burguesa e intelectual brasileira, que, formada nas grandes universidades europeias, começava a revolucionar os grandes centros intelectuais do país, como o Rio de Janeiro e Pernambuco, com novas teorias políticas que “agitavam o mundo europeu: o Liberalismo, o Parlamentarismo, o Constitucionalismo, o Federalismo, a Democracia, a República”427.

A grande preocupação dos defensores da Independência era a unidade do país, à época todo fragmentado em poderes locais. O constitucionalismo era, então, o princípio fundamental desta teoria, a fim de assegurar o liberalismo e a proteção dos direitos do homem, bem como a divisão de poderes.

Após inúmeras revoltas (Balaiadas, Cabanadas, Sabinadas, Inconfidência Mineira, República de Piratini), cujos estandartes surgem já na Assembleia Constituinte de 1823, chega-se finalmente à 1889, com a vitória das forças

republicanas que afirmavam como princípios: “o federalismo, como princípio

constitucional de estruturação do Estado, a democracia, como regime político que melhor assegura os direitos humanos fundamentais”.428

A vitória foi obtida, dentro dos limites havidos na época, com a Constituição de 1824, ainda na época imperial, que estabelece um poder centralizado, que, em poucas palavras se resumia no Poder Moderador do Imperador. Era na verdade um poder absoluto.

Segundo Caio Prado Júnior, a maçonaria esteve por trás de toda a luta pela Independência do Brasil, não porque lhe interessasse a República tupiniquim,

426 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 72.

427 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 73.

428 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª. Edição, revista e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 77.

mas porque precisavam enfraquecer um grande centro de poder europeu, qual seja a monarquia portuguesa.429

Em Portugal, vale suscitar a questão, proclamou-se a República em meio a terrível conflito religioso, proveniente da reação do positivismo e do jacobinismo do partido republicano contra o sistema de união entre Igreja e Estado, tendo se difundido em alguns setores da população urbana o anticlericalismo:

A legislação dos primeiros meses de novo regime assumiu uma intenção vincadamente laicista e anticatólica e chegou a haver perseguições.

A Constituição de 1911 foi marcada por este espírito (embora dela não conste expressamente o princípio da separação decretada em 22 de abril desse ano pelo Governo Provisório). Por um lado, garantiu formalmente a liberdade de consciência e de crença e a igualdade política e civil de todos os cultos (art. 3º., ns. 4 e 5); por outro lado adoptou medidas restritivas da actividade das confissões religiosas, dirigidas especialmente contra a Igreja Católica.430

De qualquer maneira, de volta ao Brasil, a Constituição de 1824 declarava que o Império Brasileiro professava a religião católica, permitindo outros cultos, desde que não fossem ostensivos. Vale transcrever seu artigo 5º:

A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior de Templo.431

Outro dispositivo legal que tratava da liberdade era o parágrafo 5º do artigo 179, que determinava a proibição da perseguição religiosa, desde que não se ofendesse o culto oficial e a moral pública.432

Enfim, a religião católica permeava a vida civil, pois o Estado era religioso e os clérigos ficavam encarregados de atos de importância para ambas as esferas como registros de batismo, casamento e óbito. Este cenário perdurou até 15 de novembro de 1889 quando, por um golpe de Estado foi proclamada a República no

429 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ª ed.. São Paulo.

Brasiliense, 2008, p.370-377.

430 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. V. 4, 3. Ed., Coimbra: Coimbra Editora,

2000, p. 12.

431 CHEHOUD, Heloisa Sanches Querno. A liberdade religiosa nos Estados modernos. São Paulo: Almedina, 2012, p. 72-73.

432 CHEHOUD, Heloisa Sanches Querino. A liberdade religiosa nos Estados modernos. São Paulo: Almedina, 2012, p. 73.

Brasil por meio do Decreto n. 1 de 15 de novembro de 1889, redigido por Rui Barbosa.

Em seguida sobreveio a Constituição da República em 1891 pela qual a religião estava livre da ingerência do Estado e assim dispunha:

Art. 72 - A constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade nos termos seguintes

[...]

Parágrafo 3 – Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer publica e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum. Parágrafo 4 – A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita.

Parágrafo 5 – Os cemitérios terão caracter secular e serão administrados pela autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos a prática dos respectivos ritos em relação aos seus crentes, desde que não ofendam a moral pública e as leis.

Parágrafo 6 – Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.

Parágrafo 7 – Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência ou aliança com o Governo da União, ou o dos Estados.433

Nesta ocasião, portanto, o Estado Brasileiro se torna laico e a Igreja Católica não tem mais nenhum privilégio. Entretanto, o Império interferia tanto nas questões próprias da Igreja que a laicidade da nova Constituição também por ela foi comemorada, pois promovendo a separação entre Estado e Igreja permitiu sua liberdade de atuação no país, não obstante a atmosfera antirreligiosa e maçônica que prevalecia na elite intelectual na ocasião.

Ocorre que o povo continuava religioso, e muito. Daí ter-se seguido uma incongruência entre a realidade social e a jurídica, isto é, entre os sentimentos do povo brasileiro e a constituição que se tentava implantar. Pois bem, essa dissonância acabou levando a novas interpretações sobre a laicidade no Brasil, que repercutiram nas Constituições seguintes, como se exporá a seguir.

433 CHEHOUD, Heloisa Sanches Querino. A liberdade religiosa nos Estados modernos. São Paulo: Almedina, 2012, p. 77.

4.2 O Brasil e o Espaço para Deus: Breve Estudo Comparativo das