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3.3 Liberdade Religiosa

3.3.2 Tolerância Religiosa

Pois bem, após as análises precedentes a respeito da secularização, laicidade e laicismo, já se concluiu ser não religioso não significa para o Estado que ele deva ser antirreligioso.299

Então qual deve ser a postura de um Estado Laico em relação à religião de modo geral?

O Estado laico, não confessional, além de não poder associar-se com quaisquer igrejas ou associações religiosas, deve também garantir a tolerância e respeito entre religiões e entre cidadãos de diferentes crenças, inclusive a crença na inexistência de Deus, zelando pela cooperação entre todos para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e solidária.

Na verdade, em sua origem, a palavra tolerância estava estritamente relacionada com a transigência em relação a outras confissões religiosas, passando a ser termo jurídico quando alguns governos, no decorrer dos séculos XVI e XVII, começam a redigir documentos neste sentido, exigindo da população ortodoxa, o trato respeitoso com as minorias religiosas. Foi o que ocorreu na França, quando Henrique IV publicou o Edito de Nantes300.

297 BLAIR, Tony. O papel da fé para o êxito da globalização. adaptação de uma palestra feita por ele, na Universidade de Yale. Artigo extraído do periódico Estado de São Paulo de 20 de dezembro de 2008. (Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-papel-da-fe-para-o-exito-da- globalizacao,297203,0.htm – Acesso em 27-02-2014).

298 RAWLS, John. O liberalismo político. Tradução Dinah de Abreu Azevedo, 2ª. Edição, São Paulo: Ática, 2000, p. 255.

299ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Tradução Alfredo Bosi: Martins Fontes, São Paulo:

2007, p. 692-693.

300 O Edito de Nantes foi promulgado em 13 de abril de 1598 e concedeu, ainda que de maneira limitada, aos protestantes da França, os huguenotes, direitos religiosos, civis e políticos, pois vinham sendo duramente reprimidos pelas autoridades seculares e eclesiásticas daquele país.

Posteriormente, o instituto foi sendo englobado em outras normas de outras nações. Essas normas determinavam um comportamento indulgente com membros de uma comunidade religiosa até então acuada.301

Entretanto, quando hoje se fala em tolerância, o que vem à mente é um conceito mais generalizado para a questão da convivência com as minorias ou os

que são chamados de “diferentes” como negros, homossexuais e deficientes.302

Vale trazer a diferenciação aduzida por Norberto Bobbio entre a ideia de tolerância geral e a específica em relação às religiões, pois as razões de defesa de um tipo e de outro são diferentes.

No primeiro caso, trata-se de verdadeiro preconceito por motivos físicos ou sociais, que deságuam na inevitável discriminação dessas minorias. Já o segundo deriva da convicção de que se está com a verdade. E, nesse caso, como seria possível compatibilizar duas verdades opostas?

Bobbio se ocupa das razões da tolerância religiosa, da convivência de confissões religiosas diversas, problema que nasceu com a reforma e a consequente divisão da cristandade. Bastante perspicaz a observação do jurista italiano:

Da acusação que o tolerante faz ao intolerante, isto é, de ser um fanático, o intolerante se defende acusando-o de, por sua vez, ser um cético ou, pelo menos, um indiferente, alguém que não tem convicções fortes e que considera não existir nenhuma verdade pela qual valha a pena lutar.303

Recorda ele a posição de Benedetto Croce segundo quem a tolerância seria mera fórmula prática e contingente e não um princípio universal. Portanto, não poderia ser um critério de julgamento da história, que teria critérios a ela própria inerentes. Ainda, segundo Benedetto Croce, os tolerantes nem sempre foram os espíritos mais combativos e vigorosos e sim os indiferentes e retóricos (termo utilizado de modo pejorativo). Significa dizer que os tolerantes não eram assim devido a boas razões, mas por não dar a menor importância à verdade.

301HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno

Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 279.

302 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 187.

303 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 187.

Contudo, Bobbio analisa as razões práticas e teóricas da tolerância, por não estar convencido disso.304

O que é mais interessante na análise de Bobbio é que ele reconhece que a tolerância pode ter um sentido negativo ou indulgência com o mal, seja por comodismo, cegueira ou falta de princípios. Infelizmente, alguns usariam este sentido negativo para denegrir a tolerância como um todo.

De todo modo, a primeira razão prática para ser tolerante é a de que isto seria um mal menor. Desse modo, a tolerância não implicaria renunciar à própria verdade, mas apenas suportar erro alheio:

Mesmo nesse nível elementar, capta-se a diferença entre o tolerante e o cético: o cético é aquele para quem não importa que a fé triunfe; o tolerante por razões práticas dá muita importância ao triunfo de uma verdade, a sua, mas considera que, através da tolerância, o seu fim, que é combater o erro ou impedir que ele cause danos, é melhor alcançado do que mediante a intolerância.305

Uma segunda razão seria a escolha da persuasão como método de convivência e a recusa consciente da violência como método de triunfo das ideias. Este seria um traço dos regimes democráticos a diferenciá-los do despotismo.

A terceira razão aduzida por Bobbio tem cunho moral e não meramente utilitarista: é o respeito ao outro. Não significa, portanto, renunciar à própria verdade ou ser indiferente. É atitude que está intimamente ligada ao reconhecimento do direito de liberdade.

Ao lado dessas três razões práticas da tolerância há razões teóricas, segundo as quais “ a verdade tem muitas faces”. Segundo Bobbio são três posições filosóficas neste sentido: o sincretismo, o ecletismo e o historicismo relativista:

O sincretismo de que foi expressão, numa época de grandes controvérsias teológicas o humanismo cristão, e hoje, numa época de grandes conflitos ideológicos, as várias tentativas de conjugar cristianismo e marxismo; o ecletismo, ou filosofia do “justo meio”, que teve o seu breve momento de celebridade como filosofia da restauração, e, portanto, também numa perspectiva irênica, após período de choque violento entre revolução e reação, revivendo hoje nas várias propostas de “terceira via”, entre liberalismo e socialismo,

304 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 188.

305 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 189.

entre mundo ocidental e mundo oriental, entre capitalismo e coletivismo; e o historicismo relativista, segundo o qual, para retomar a famosa afirmação de Max Weber, numa era de politeísmo de valores, o único templo aberto deveria ser o panteão, um templo no qual cada um pode adorar seu próprio deus.306

Seja como for:

O núcleo da ideia de tolerância é o reconhecimento do igual direito a conviver, que é reconhecido a doutrinas opostas, bem como o reconhecimento, por parte de quem se considera depositário da verdade, do direito ao erro, pelo menos do direito ao erro de boa fé. A exigência da tolerância nasce no momento em que se toma consciência da irredutibilidade das opiniões e da necessidade de encontrar um modus vivendi (uma regra puramente formal, uma regra do jogo), que permita que todas as opiniões se expressem. Ou a tolerância, ou a perseguição: tertium non datur.307

De qualquer modo, a tolerância tem alcance dúplice, designando tanto a conduta condescendente entre cidadãos de confissões diversas, quanto a postura transigente do Estado em relação a todas as religiões:

É possível uma distinção mais nítida entre “tolerance” enquanto virtude ou disposição para o comportamento e “toleration”, que constitui um ato jurídico. Nós empregamos a mesma expressão “tolerância” (Toleranz) para designar ambas as coisas: tanto uma ordem jurídica que garante tolerância, como a virtude política do trato tolerante.308

Tolerância no sentido de não intervenção do Estado no âmbito privado de seus cidadãos, forçando-os a uma determinada crença religiosa foi bastante difundida pelo iluminista e burguês protestante John Locke. Ele afirmou categoricamente que não deve haver confusão entre a esfera religiosa e secular. Na ocasião, a religião católica ainda era imposta em alguns Estados.

Para o filósofo inglês, o Estado deve se preocupar com a proteção dos interesses materiais de seus cidadãos, mas não tem nenhum poder sobre o recesso íntimo das consciências individuais e, por conseguinte, sobre a fé que escolhem.

306 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 192.

307 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 194 (tertium non datur: expressão em latim que significa que há impossibilidade de uma terceira via).

308 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 280

Além disso, John Locke afirmava que o poder do soberano não era fundamentado na vontade divina, mas originado no pacto social, isto é, um acordo entre os indivíduos livres com intuito de utilizar sua força coletiva na execução das leis naturais, renunciando à executá-las pela força individual.

Em suas próprias palavras:

Denomino de bens civis a vida, a liberdade, a saúde física e a libertação da dor, e a posse de coisas externas, tais como terra, dinheiro, móveis, etc.

É dever do magistrado civil [...] assegurar para o povo em geral e para cada súdito em particular a posse justa dessas coisas que pertencem a esta vida [...] o magistrado reveste-se de força, ou seja, com toda a força de seus súditos, a fim de punir os que infringiram quaisquer direitos de outros homens.[...]

Não cabe ao magistrado civil o cuidado das almas [...] Isso não lhe foi outorgado por Deus, porque não parece que Deus jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre o outro para induzir outros homens a aceitar sua religião [...] Mesmo se alguém quisesse, não poderia jamais crer por imposição de outrem. É a fé que dá força e eficácia à verdadeira religião que a gente professa [...] Mas a religião verdadeira e salvadora consiste na persuasão interior do espírito.309

Para ele a religião é escolha individual, segundo a consciência de cada um, sendo impossível sua imposição por meio da força coercitiva, que caberia ao poder civil. No entanto, para Locke aos ateus não caberia nenhum tipo de tolerância.

A causa disto, segundo Norberto Bobbio era a certeza de que um ateu não teria razão para cumprir uma promessa ou observar um juramento, e, portanto, não seriam pessoas confiáveis. 310

Da mesma maneira, mesmo que um príncipe seja cristão não pode favorecer sua igreja em detrimento de outras ou de um ateu. Às igrejas, por seu turno, seria razoável excomungar os que transgridem seus preceitos, desde que de modo não ofensivo.

Continua Locke afirmando que faz parte da missão do que professa determinada fé, a manifestação pública, o ensino de sua doutrina, o testemunho de sua vida, não cabendo à religião um lugar apenas privado:

309 LOCKE, John. Carta acerca da tolerância. Trad. Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. 3ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p.5.

310 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, 13ª. reimpressão, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 193.

Libertamos, assim, todos os homens de se dominarem mutuamente em assuntos religiosos. Portanto, o que é que devem fazer? Todos nós sabemos e reconhecemos que temos que cultuar Deus publicamente; por que devemos nos reunir em assembleias públicas? Porque os homens dotados dessa liberdade devem fazer parte de certa sociedade religiosa para manter serviços públicos, não apenas para mútua edificação, como também para testemunhar ao mundo que são cultores de Deus [...] e, finalmente, pela pureza de sua doutrina, santidade de sua vida, e forma decente de culto, estimam encorajar outros a amar a religião e a verdade, e a executarem esses serviços religiosos que não podem ser realizados pelos homens isoladamente.311

Resulta daí que, ao Estado não caberia proibir os cultos religiosos, mas garantir sua segurança e proteção.

Nem pessoas, nem igrejas, segundo Locke devem se atacar ou prejudicar mutuamente em seus bens civis por professarem religiões diversas.

Locke assim ensinou por ter concluído que a intolerância religiosa teria sido a razão da maioria das disputas e guerras que se tem manifestado no mundo cristão, pois os líderes religiosos estavam imbuídos de avareza e desejo de domínio.312

Essa concepção subjetiva de tolerância também é reconhecida em autores contemporâneos como Jürgen Habermas e Norberto Bobbio.

Para o primeiro:

Devemos continuar respeitando no outro o co-cidadão, mesmo quando avaliamos sua fé ou seu pensamento como falsos ou rejeitamos a correspondente conduta de vida como ruim. A tolerância preserva uma comunidade política pluralista de se dilacerar em meio a conflitos oriundos de visões de mundo diferentes.313

Assim, a tolerância em seu aspecto social exige o igual respeito e o reconhecimento recíproco da liberdade religiosa como regras da atitude condescendente, que requer a ausência de qualquer tipo de coação, seja política, seja moral, a fim de fazer prevalecer verdades de fé:

311 LOCKE, John. Carta acerca da tolerância. Trad. Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. 3ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 14.

312 LOCKE, John. Carta acerca da tolerância. Trad. Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. 3ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 27.

313 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 286.

A tolerância religiosa pode ser garantida de modo transigente pelas condições sob as quais os cidadãos de uma comunidade democrática se concedem mutuamente liberdade de religião. Desta maneira, é possível solucionar o aparente paradoxo [...] pelo direito ao livre exercício da própria religião e pela correspondente liberdade negativa de não ser molestado pela religião dos outros.314

Observe-se que tolerar não significa ser indiferente, mas ter respeito à liberdade de escolha do outro, admitindo-se a presença de outras cosmovisões lado a lado com a que foi por si escolhida. Não pode estar presente, portanto, o preconceito, nem, por outro lado, a ideia de que todas as concepções de mundo devem ser aceitas por todos como igualmente verdadeiras.

Como leciona John Rawls, cada religião é uma doutrina compreensiva, ou seja, é uma imagem de mundo que envolve integralmente e conduz a vida de seus membros. Deste modo, a tolerância é necessária para evitar a ânsia de impor-se sobre os demais e consequentemente evitar conflitos intermináveis para fazer prevalecer apenas uma visão de mundo. As religiões, neste sentido, tem que compreender que a vida política se diferencia da vida religiosa.

De outro lado, os cidadãos seculares devem compreender que essa diferenciação não implica na exclusão da religião da vida política, mas na aceitação de que as motivações de religiosos na esfera pública são invariavelmente religiosas: “A necessária diferenciação dos papéis de membro de uma comunidade e de cidadão da sociedade precisa ser fundamentada, convincentemente, na visão da

própria religião. Caso contrário, os conflitos de lealdade aprofundar-se-ão”. 315

Isso quer dizer que, a tolerância é uma exigência pacificadora a ser posta em prática pelos cidadãos religiosos entre si, sem que nenhum deles seja obrigado a reconhecer como verdadeira uma concepção diversa, mas é, de outra maneira, uma imputação também aos não crentes:

Porquanto, em sociedades pluralistas constituídas de modo liberal, a compreensão da tolerância não exige apenas dos crentes, no seu trato com crentes de crenças diferentes, que levem na conta, de modo razoável, a devida permanência de um dissenso. Já que a mesma compreensão é exigida dos não-crentes no seu trato com crentes em geral. Para a consciência secular isso implica, contudo, a

314 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 282.

315 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 291.

exigência de determinar, de modo autocrítico, a relação entre fé e saber.316

Habermas afirma isto porque entende que o saber deve conceder à fé um “status epistêmico”, deixando de olhá-la como se fosse uma simples irracionalidade. Ele perfilha que a verdadeira tolerância a ser garantida pelo Estado secular deve assegurar que as cosmovisões se desenvolvam sobre a base do respeito mútuo, “sem regulamentações preconceituosas” de parte a parte.

É imperativo reconhecer que, em assuntos polêmicos, que envolvam questões éticas, como aborto e manipulação genética; as opiniões políticas baseadas em visões de mundo religiosas podem “abrir os olhos de outros cidadãos para um aspecto até então negligenciado, de tal sorte que eles podem influenciar a formação da maioria”.317

O direito de livre escolha religiosa e sua manifestação exige do Estado a pacificação do pluralismo das visões de mundo:

Somente o exercício de um poder secular estruturado num Estado de direito, neutro do ponto de vista das imagens de mundo, está preparado para garantir a convivência tolerante, e com igualdade de direitos de comunidades de fé diferentes que, na substância de suas doutrinas e visões de mundo continuam irreconciliáveis. A secularização do poder do Estado e as liberdades positivas e negativas do exercício da religião constituem que dois lados de uma mesma medalha. No passado, elas protegeram comunidades religiosas, não somente das consequências destrutivas resultantes de conflitos sangrentos que irromperam entre elas, mas também de um modo de pensar, inimigo da religião, difundido numa sociedade secular.318

Por outro lado,

O direito fundamental da liberdade de consciência e de religião constitui a resposta política adequada aos desafios do pluralismo religioso. Isso permite desarmar, no contexto do trato social dos cidadãos, o potencial conflituoso que continua permeando, no nível

316 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 293.

317 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 294.

318 HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Tradução Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 9.

cognitivo, as convicções existenciais de crentes, de não-crentes e de crentes de outras denominações.319

Significa dizer que num Estado constitucional que garante a liberdade de culto e consciência, tolerância e laicidade se entrelaçam:

Onde a história destes últimos séculos não parece ambígua é quando mostra a interdependência entre a teoria e a prática da tolerância, por um lado, e o espírito laico, por outro, entendido este como a formação daquela mentalidade que confia a sorte do regnum

hominis mais às razões da razão que une todos os homens do que

aos impulsos da fé. 320

E, enfim:

Esse espírito deu origem, por um lado, aos Estados não confessionais, ou neutros em matéria religiosa, e ao mesmo tempo liberais, ou neutros em matéria política; e por outro, à chamada sociedade aberta, na qual a superação dos contrataste de fé, de crenças, de doutrinas, de opiniões, deve-se ao império da áurea regra segundo a qual minha liberdade se estende até o ponto em que não invada a liberdade dos outros, ou, para usar as palavras de Kant, “a liberdade do arbítrio de um pode subsistir com a liberdade de todos os outros segundo uma lei universal” (que é a lei da razão).321