• Nenhum resultado encontrado

O par signo-imagem e os enunciados que circulam na semiótica e na semiologia

Esquema 4 Esquema referente ao discurso epistemológico

2.2 O par signo-imagem e os enunciados que circulam na semiótica e na semiologia

O signo e a representação ao longo da história têm provocado uma eterna discussão que envolve diretamente a imagem, e a partir deste fato, verificam-se em diferentes épocas e em diversos estudos, os conceitos de signo e de representação relacionados a toda e qualquer noção de imagem. Na escolástica medieval e, sobretudo, a partir da Gramática de Port-Royal, no século XVII, com a intenção de definir o signo como mediador, através do qual o homem expressa o seu pensamento podendo,assim, representar de maneira geral as coisas do mundo social, ganharam repercussão as teorias de Arnauld e Lancelot (2001) ao dizerem que:

[...] tendo os homens necessidade de signos para exteriorizar tudo o que se passa em seu espírito, é indispensável que a discussão mais geral seja que uns signifiquem os objetos dos pensamentos e outros a forma e o modo de nossos pensamentos, embora esses signos não estabeleçam só a maneira, mais também o objeto [...] (ARNAULD; LANCELOT, 2001, p. 31).

Desde que compreendido como representação, a função sígnica certamente não é dada pela natureza, é, portanto, fruto da capacidade humana de criar e reproduzir sistemas de representação. Assim, desde a trilha narrada pelos filósofos gregos, arrastando-se às discussões mais contemporâneas, as linguagens, apresentadas em sistemas verbais ou não verbais, oferecem um arcabouço de signos capazes, não somente de representar, mas de favorecer ao homem as condições de diversas realizações, a exemplo de se comunicarem, organizarem-se em grupos, deslocarem-se, educarem-se, entre outras capacidades que fazem parte do modus vivendi societário.

A noção de signo como representação, até certo ponto, tem acompanhado a história da cultura humana e particularmente no domínio escolar, devido à importância do signo na vida social, para a organização das ideias e, sobretudo, como garantia, de certo modo, de assegurar a sobrevivência das relações que o homem estabelece com tudo que o entorna. Como prova disso, verifica-se que, explorando ao máximo a sua inteligência, o homem não cessa de procurar compreender a criação e a organização dos seus sistemas sígnicos, para desse modo,

igualmente, compreender o seu imaginário, pensamentos, representações e também as formas de organizar certas condições caóticas de sua própria existência.

A partir do conceito ontológico de representação do signo-imagem, salta aos olhos uma espécie de jogo antigo, mas sempre atual, cujas regras deixam claro seus limites, mesmo que situados no interior dos seus próprios conceitos. O fato é que, para compreender os enunciados sobre o signo-imagem enquanto pura representação pode-se igualmente acioná-los para contradizer qualquer tentativa de se tomar como realidade aquilo que é pura similitude. É fato que o ato do pensar como uma prática essencialmente muito rápida, que se multiplicando por si mesma, pode tomar por semelhantes as coisas justamente por elas possuírem ou não condições de aparências comuns. Assim sendo, não é raro perceber que as coisas são o que parece para alguém que lhes atribui similitude, mediadas pela imagem.

Para mostrar essa equivalência entre semelhança e afirmação da realidade, Foucault (1988) discute acerca do que parece, evoca, sugere, operando com o que é próprio da imagem, ou seja, a representação. Aloja-se muito bem nesta discussão o exemplo do enunciado formado pelo jogo de signos verbais e não verbais encontrados na obra do pintor belga René Magritte, Ceci n`est pas une pipe (1928-1929) - [Isto não é um cachimbo], obra que faz parte da série La thraison des images - [A traição das imagens]. Ao desfazer a equivalência entre as palavras não afirmativas e as coisas que se apresentam como semelhantes, o citado autor escreve inspirado pela imagem:

Imagem 5 - Ceci n`est pas une pipe

Fonte: FOUCAULT, 1988, p. 7.

Magritte liga os signos verbais e os elementos plásticos, mas sem se outorgar, previamente, uma isotopia; esquiva o fundo de discurso afirmativo,

sobre o qual repousava tranquilamente a semelhança; e coloca em jogo puras similitudes e enunciados verbais não afirmativos, na instabilidade de um volume sem referência e de um espaço sem plano. Operação que Isto não é um cachimbo dá, de certo modo, o formulário (FOUCAULT, 1988, p. 76). Certamente, o referido pintor não intencionava mentir e, para isso usou o texto linguístico, pois se assim não o fizesse, possivelmente não causaria polêmicas. Não obstante, quase um século após este acontecimento, as imagens continuam se oferecendo como representação em meio a um mundo onde compreender criticamente o texto visual não deve se constituir mais um privilégio para alguns, como em tempos passados, em que poucos indivíduos, entre eles os artistas, tinham a chave ou o código de passagem para este mundo fabuloso. Mas, em tempos atuais, espera-se que este saber seja mais uma possibilidade de conhecimento para todos. Carlos (2010) ao refletir sobre este assunto, ao mesmo tempo em que cunha o enunciado “Pedagogia crítica da visualidade”, se posiciona frente a esta problemática e, recorrendo ao terreno da condição de proximidade entre a imagem e a educação, diz:

No atual estado de desenvolvimento do interesse pela relação educação- imagem, diríamos que pensar, dizer ou escrever „pedagogia crítica da visualidade‟ seria o mesmo que anunciar a possibilidade concreta de um modo singular de abordar essa espécie de conexão. A „pedagogia crítica da visualidade‟ anuncia um campo possível de reflexão, problematização e exercício de uma prática pedagógica específica, fundada no entendimento de que a imagem pode funcionar como uma estratégia mediadora entre o ato de ensinar e o de aprender, entre o indivíduo que aprende e sua constituição como sujeito social (CARLOS, 2010, p. 21, grifo do autor).

Ao trazer para reflexão este modo particular de enunciado que a um só tempo envolve a imagem, sua possibilidade de representação e a pedagogia, merece relevo a imagem posta em LD, que, buscando sentido sobre o seu sistema de representação sígnica, recorre também à similitude. Tratando-se de uma prática que acontece na sala de aula, em meio ao uso do LD, onde o texto visual, ao assumir uma função mediadora do processo ensino-aprendizagem, faz parte constitutiva do discurso didático-pedagógico.

No entanto, ainda é preciso situar este texto, na condição de enunciados no interior da discussão do signo-imagem e trazer à luz projetos que dedicam estudos ontológicos, mobilizando outros campos do conhecimento e oferecendo possibilidades de entendimento, apropriação e utilização enunciativas. Desse modo, ao produzir práticas discursivas, o signo- imagem pode ser configurado em suportes pedagógicos, a exemplo das imagens organizadas e encontradas nos livros didáticos da EJA.

Santaella e Nöth (2012) ao discutirem a noção de imagem a partir dos “[...] conceitos unificadores [...]”, remontam ao par signo/representação e, a partir do conceito de representação, logo, organizam o conceito de signo. Para este par, cabe ressaltar o enunciado que diz: “O substantivo abstrato representação caracteriza também uma função sígnica ou um processo de utilização sígnica. Seu âmbito conceitual se estende de semiose até relação de objeto ou ainda até função referencial sígnica” (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p.17, grifos dos autores). Por seu turno, há uma polaridade presente no conceito imagem, uma vez que “[...] o mundo das imagens se dividem em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais [...]”, aquelas encontradas no mundo material, que são as imagens concretas, são signos que representam o contexto da visualidade, da realidade natural e cultural, entre elas a fotografia, a imagem em movimento, a televisiva, a pintura, o desenho, a charge, a imagem cinematográfica, a de síntese, as impressas em geral, entre outras que têm a sua natureza objetiva. E, aquelas que fazem parte de outro domínio: “O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente” (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 15-17). Fazem parte deste domínio as imagens de ordem abstrata, mental que são produtos da mente humana, são signos que representam o pensamento, a fantasia, a imaginação, o sonho, o esquema, o projeto mental e tudo que faz parte da criação de natureza mental.

Nessa discussão, os citados autores esclarecem também que não há imagem concreta que não tenha sido em um determinado momento construto da mente que a idealizou, bem como, não há imagem imaterial que não tenha sido fundada a partir do mundo das representações materiais.

Os conceitos unificadores dos dois domínios da imagem são os conceitos de signo e de representação. É na definição desses dois conceitos que reencontramos os dois domínios da imagem, a saber, o seu lado perceptível e o seu lado mental, unificados estes em algo terceiro, que é o signo ou representação (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 15).

Diante do posto, signo e representação, tomados como conceitos unificadores para se falar da imagem, posiciona os autores citados valendo-se da premissa enunciativa que ambos os conceitos estão presentes nos dois domínios sígnicos. No entanto, considerando especificamente o mundo das imagens materiais, Santaella (2005) a partir das bases teóricas da semiótica peirciana, apresenta ferramentas atuais para o estudo e a análise do signo- imagem.

As escrituras de Santaella e Nöth (2012) oferecem um arcabouço teórico vasto ao abordar a semiótica como uma ciência dos signos, da representação, da significação e da

cultura de determinada sociedade, cujos correlatos epistêmicos estão nos domínios da filosofia, da psicanálise e do marxismo. No correlato da filosofia, falam da semiótica como uma disciplina de natureza filosófica, que “[...] tem a tarefa de desenvolver instrumentos de análise [...]”, capazes de entender e discutir os distintos objetos postos na vida societária. (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 145). Ao se referir à psicanálise, posicionam-se dizendo: “O imaginário é, sem dúvida, o registro que mais proximamente se localiza os problemas da imagem. Esse é basicamente o registro psíquico correspondente ao ego (ao eu) do sujeito, cujo investimento libidinal foi denominado por Freud de narcisismo” (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 195). E sobre o correlato marxista, os citados autores organizam um modo particular de falar sobre este correlato da semiótica:

De acordo com a epistemologia marxista-leninista, cada ato de cognição tem uma imagem mental como resultado. Essa cópia mental é um tipo de cópia da realidade. Tais cópias vigoram como resultados dos ideais de um processo de espelhamento no qual o homem adquire mentalmente uma „realidade objetiva‟ (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 30, grifos dos autores).

Ao olhar para a tradição dos estudos sígnicos, vê-se que seus conteúdos abrangem duas principais teorias que apontam para duas grandes escolas denominadas semiótica e semiologia. Assim, remontando às primeiras décadas do século XX, período no qual ocorreram as contribuições advindas de diversas áreas, tais como a filosofia da linguagem, a antropologia, a psicanálise e a linguística, os enunciados em torno do signo-imagem situados nos campos da semiótica e da semiologia, são mobilizados para falarem sobre os estudos dos signos. Todavia, tais escolas não rejeitam a tradição do termo grego semiotiké e recorrem a este para falarem e evidenciar os estudos sobre a vida dos signos no meio social, pretendendo ser uma teoria geral dos modos de representar e significar, de ser uma doutrina geral dos signos.

No que concerne à teoria semiótica, nas palavras de Peirce (2012), apreendem-se enunciados que falam de “[...] relações triádicas [...]” nos quais são mobilizados alguns conceitos, entre estes, o conceito de signo é um conceito chave, sobretudo, porque confere sustentação para se relacionar e conceituar as coisas: “Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido”. E acrescenta ao já enunciado: “Um representâmen é o Primeiro Correlato de uma relação triádica sendo o Segundo denominado seu objeto e o possível Terceiro Correlato sendo denominado seu Interpretante [...]”. É a partir dessas relações que o citado autor apresenta as

três tricotomias dos signos22, sendo também triádicas: a primeira sob a base do qualissigno, sinsigno, legissigno; a segunda tríade denominada de índice, ícone, símbolo; e a terceira denominada de rema, dicente, argumento. Nesse sentido, percebe-se que, para a organização do conjunto da teoria sígnica peirciana é recorrente a noção de o signo ser segundo aquilo que lhe dá fundamento, isto é, como descrito, as “[...] três categorias fenomenológicas [...]” (PEIRCE, 2012, p. 45-51, grifos do autor).

Santaella (2005), a partir da teoria semiótica, aciona as três categorias fenomenológicas peirciana para fazer análise de imagens, e utilizando esta abordagem, recorre a seus conceitos, e fala sobre o signo: “Ora, essas qualidades são comuns a todas as coisas”. Sobre a qualidade: “Pela qualidade, tudo pode ser signo; sobre a existência: “[...] pela existência, tudo é signo [...]”; e sobre a lei: “[...] pela lei, tudo deve ser signo.” E acrescenta: “É por isso que tudo pode ser signo, sem deixar de ter suas outras propriedades” (SANTAELLA, 2005, p. 12).

A partir deste conjunto de conceitos, o filósofo Peirce (2012) confere sustentação à sua teoria, possibilitando condições para o entendimento das práticas analíticas que abordam em geral a teoria semiótica. Sobre este terreno são encontradas, sobretudo, as marcas de um contorno discursivo epistemológico, onde emergem enunciados sobre o signo considerando sua ontologia, incluindo-se neste rol, também, os de natureza visual. É, pois, sobre estes conceitos sistematizados que, em diversos e dispersos lugares e épocas, se encontram escrituras em livros que tratam deste tema, bem como em documentos de diferentes gêneros, que, para se referirem ao par signo-imagem e representação, em parte, ou mesmo absolutamente, se servem destes conceitos na organização do seu falar, escrever e construir visualmente suas composições.

Mas, ainda, é preciso remover o vasto terreno onde se encontram as camadas discursivas do signo-imagem e deixar aparecer os refinados conceitos desta teoria e, desse modo, chegar à clássica tricotomia dos signos peirciano, mais exatamente a segunda

22 De acordo com Peirce (2012) os signos são divisíveis a partir das três de tricotomias (qualidade, existente e

lei), onde a primeira se refere a: “Um Qualissigno é uma qualidade que é um signo.” Aquilo que faz uma coisa ser um signo pela sua qualidade; “Um Sinsigno [...] é uma coisa ou evento existente e real [...].” Aquilo que o faz se dirigir às suas referências e existir, e “Um Legissigno é uma lei que é um signo.” Aquilo que age no meio social como uma convenção sociocultural partilhado por uma comunidade. A segunda tricotomia encontra-se explicitada na página seguinte, em função desta tricotomia tratar “[...] a relação do signo para com seu objeto consistir no fato de o signo ter algum caráter em si mesmo, ou manter uma relação existencial”. E quanto à terceira tricotomia, o citado autor diz: “Um Rema é um signo que, para o seu interpretante, é um Signo de Possibilidade qualitativa, “[...] Aquilo que se pode comparar com outra coisa; “Um Dicente é um signo que, para o seu interpretante, é um Signo de existência real”. Aquilo que faz referência com o real e “Um Argumento é um signo que para o seu interpretante é signo de lei”. Aquilo que caracteriza o seu objeto simbolicamente (PEIRCE, 2012, p. 51-53, grifos do autor).

tricotomia, na qual o filósofo norte-americano mobiliza enunciados que vão percorrer diversas tramas discursivas em diferentes campos do saber e do conhecimento. Segundo Peirce (2012) um signo pode ser um “[...] Ícone, Índice ou Símbolo [...]” e oferecendo clareza para esta taxionomia, define estas possibilidades de ser do signo, dizendo: “Um Ícone é um signo que se refere ao Objeto que denota apenas em virtude de seus caracteres próprios, caracteres que ele igualmente possui quer um tal Objeto realmente exista ou não [...]”, uma vez que as suas qualidades podem apenas evocar, por similitude, ou até mesmo, através de outras qualidades de tal objeto. É o caso das imagens icônicas, aquelas que estabelecem relação de semelhança com o seu objeto, tão recorrente em materiais didáticos. Ao definir o Índice, o citado autor diz que “um Índice é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por este Objeto”. Neste caso, é a particularidade indicial que importa, trata-se de uma conexão entre um recorte específico do objeto em relação ao modo sígnico relacionado. Para este raciocínio, talvez a fotografia possua um poder mais consubstanciado de representar o seu objeto, capturando a imagem de certo existente, assim, não é estranho que os livros didáticos recorram a este modo sígnico. E quanto ao símbolo? “Um Símbolo é um signo que se refere ao Objeto que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de ideias gerais que opera no sentido de fazer com que o Símbolo seja interpretado como se referindo àquele Objeto” (PEIRCE, 2012, p. 52, grifos do autor).

Pode-se falar aqui em representação e convenção social que circulam como regra social, partilhada por certa comunidade que a utiliza. Igualmente, os símbolos são signos bem recorrentes como textos visuais em materiais didáticos. Ainda, sobre a especificidade presente na tricotomia sígnica peirciana, verifica-se que o signo icônico se divide “[...] em três níveis: imagem, diagrama e metáfora”. No que concerne à imagem, sua particularidade é dada, porque “[...] agem como tal em função de uma relação de semelhança com seu objeto puramente no nível da aparência” (SANTAELLA, 2005, p. 18).

No Brasil, em busca de compreender a natureza dos signos, da representação, da significação e da comunicação pela linguagem visual, estudiosos da semiótica falam sobre as suas produções científicas e dizem: “Nós nos aproximamos de uma semiótica explícita da imagem em cada trabalho que se inicia a reflexão sobre a relação entre o sistema de signos da linguagem e da imagem” (SANTAELLA; NÖTH, 2012, p. 36).

Certamente quando se trata do signo-imagem, outra verdade é tomá-lo no contexto dos estudos semióticos, também como pura representação, e para este alcance, a experiência

semiótica oferece uma teoria23, cujo âmbito chega a permitir uma prática analítica. Santaella (2005) faz a seguinte escritura:

Desse modo, a teoria semiótica nos permite penetrar no próprio movimento interno das mensagens, no modo como elas são engendradas, nos procedimentos e recursos nelas utilizados. Permite-nos também captar seus vetores de referencialidade não apenas a um contexto mais imediato, como também a um contexto estendido, pois em todo processo de signos ficam marcas deixadas pela história, pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas econômicas, pela técnica e pelo sujeito que as produz. Frente a esse potencial, não há nada mais natural, portanto, do que buscar, nas definições e classificações abstratas de signos, os princípios-guias para um método de análise a ser aplicado a processos existentes de signos e às mensagens que eles transmitem, tais como aparecem em poemas, músicas, pinturas, fotos, filmes, matérias de jornais, peças publicitárias, em qualquer meio em que essas peças possam aparecer: impresso, foto, cine ou videográfico etc. (SANTAELLA, 2005, p. 5-6, grifos nossos).

Logo, verifica-se que as regularidades enunciativas do texto visual em LD emergem discursivamente, produzindo enunciados cuja ordem de seus aparecimentos sucessivos, correlações e funcionamentos encontram-se tanto nos seus ditos e escritos, quanto em processos composicionais da imagem, na materialidade dos seus elementos. Nesta perspectiva, as análises realizadas pela citada autora recorrem mais acentuadamente às análises da imagem por meio dos seus elementos composicionais. Analisar imagens, neste caso, trata-se de um estudo analítico semiótico, organizado e apoiado pela teoria peirciana com base, na maioria das vezes, na segunda tricotomia sígnica.

As reflexões de Saussure (1995) recorrem ao termo semiologia como o estudo do signo no seio da vida social e abrangem possíveis aplicações no âmbito da linguística. Operando com os conceitos de signo, significante e significado como uma associação arbitrária entre o significante (imagem acústica) e o significado (conceito), ambos sendo correlatos psíquicos, ao nível de uma estrutura sonora, a qual somente é possível ser reconhecida devido ao domínio da estrutura da língua a que se relaciona o dado conceito, não fora desta. Oferece o conceito de signo: “Chamamos de signo a combinação do conceito e da imagem acústica [...]” (SAUSSURE, 1995, p. 81). Na ocasião da elaboração destes conceitos, o citado autor os organiza dizendo:

23 Na obra Semiótica aplicada, é abordado no capítulo 1 – “Bases teóricas para a Aplicação” e no capítulo 2 –

“Percurso para a aplicação” (SANTAELLA, 2005, p. 1-29). Nestes dois capítulos, a citada autora apresenta possibilidades de análise a partir do aporte teórico-metodológico da semiótica peirciana. Na obra a autora faz análise de diferentes objetos, demonstrando como se opera a partir do percurso analítico metodológico semiótico.

Propomo-nos conservar o têrmo signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante; êstes dois têrmos têm a vantagem de assinalar a oposição que os separa, quer entre si, quer do total de que fazem parte (SAUSSURE, 1995, p. 81, grifos nossos).

Assim, para a constituição interdiscursiva do signo-imagem, importa o enunciado “[...]