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5 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

5.2 COLETA DE DADOS

5.2.2 Perguntas Narrativas e Perguntas Externas

A seguir, após a indicação do narrador que a história acabou, instaura-se o estágio das investigações da narrativa, no qual são complementados os fragmentos que, eventualmente, não tenham sido esgotados durante a narrativa principal ou que tenham ficado ambíguos ou ainda que

pareçam passagens implausíveis. Surgem então as ‘perguntas narrativas ou imanentes’, as quais

pretendem gerar o esclarecimento, fazendo com que o conteúdo do trecho pouco compreendido seja uma nova questão gerativa narrativa. A título de exemplo, pode-se ilustrar com a seguinte

estrutura: “Você me comentou o que houve para desencadear a situação X, entretanto não

compreendi bem como isto aconteceu. Você poderia me explicar com mais detalhes esta

A título de exemplo desta etapa, pode-se retratar a entrevista realizada pelas pesquisadoras Michaela Köttig e Bettina Völter com o próprio Fritz Schütze em 21 de fevereiro de 2013. Köttig e Völter utilizaram o método da entrevista narrativa com duração de oito horas

com o objetivo de “dar tanto espaço quanto possível às recordações e narrativas complexas do sociólogo sobre sua trajetória científica” (KÖTTIG; VÖLTER, 2014, p. 207). As autoras

descrevem desta forma a transição entre o término da apresentação inicial e o início das peguntas narrativas:

Neste ponto termina a apresentação inicial autoestruturada. Ou, usando as palavras de Fritz Schütze: termina a narrativa espontânea com um marcador final, que introduz o ato de passar a palavra adiante e, neste caso, também a fase das perguntas subsequentes. No início da fase das perguntas subsequentes, as entrevistadoras voltam deliberadamente ao início da entrevista. Os temas abordados são retomados agora, um após o outro. Pergunta-se narrativamente sobre cada um dos temas (KÖTTIG; VÖLTER, 2014, p. 216).

Rosenthal (1993) coloca que a fase de perguntas narrativas atém-se exclusivamente aos temas já mencionados pelo entrevistado sendo apenas na fase seguinte que se formulam as perguntas externas em que o pesquisador poderá fazer alusão a questões que não foram abordadas durante a narrativa principal, mas que são do interesse da pesquisa. O entrevistador poderá proceder a perguntas descritivas sobre situações vividas, sobre outras pessoas, sobre relações

sociais e assim por diante (Ex: “Como as pessoas faziam para [...] naquela época/meio?”; “Me diga como as pessoas lidavam com a situação X”; “de que forma você experimentou/sentiu-se no episódio Y?”, “como eram as relações entre [...] naquela circunstância/ambiente?”.

Como etapa final, têm-se a ‘fase de equilíbrio’ em que se torna possível a busca de relatos teóricos através da execução de perguntas sobre o que aconteceu, gerando, com isso, uma argumentação ou síntese da história. Neste momento, o entrevistador pára a gravação e faz

‘perguntas exmanentes’, contendo “por quê?”. As respostas a esta indagação, via de regra, geram

racionalização e teorização por parte do informante sobre suas motivações ou razões para proceder de tal modo. Como o interesse do pesquisador reside na teoria que o informante tem dele mesmo, essa é a oportunidade de elucidar o processo de construção de tais teorias.

Os narradores costumam revelar suas teorias a respeito do que lhes aconteceu sob a forma de comentários argumentativos, os quais emergem principalmente ao fim de uma unidade narrativa. É franqueado ainda ao entrevistador a possibilidade de perguntar sobre as razões pelas

quais os eventos seguiram tal cursoe porque o informante comportou-se da forma como relatou (SCHÜTZE, 1983).

Voltando-se ao exemplo da entrevista com Schütze (KÖTTIG; VÖLTER, 2014, p. 222), as pesquisadoras relatam a terceira etapa com o seguinte trecho:

Após esses breves excertos da parte interna das perguntas subsequentes, que durou muitas horas, reproduzimos ainda as perguntas e respostas que encerraram a conversa. Estas não são mais perguntas que visem produzir narrações. Pois o que nos interessa, como no final de qualquer entrevista, é dar espaço ao entrevistado para rever sua história. Visa-se dar a ele a possibilidade de sair narrativamente do passado e voltar para a comunicação na linguagem do cotidiano no presente.

Para o término da entrevista devem-se tomar alguns cuidados como nunca terminar com uma abordagem de uma época difícil ou traumática da vida da pessoa, ao contrário, deve-se

buscar “lugares seguros” de sua biografia, aqueles em que o entrevistado se sente

emocionalmente estável. Como garantia de que a entrevista termine assim, é possível realizar

perguntas como “há mais alguma coisa que você gostaria de me contar?”, sem também deixar de

indagá-lo sobre o que ele achou da entrevista e se teria alguma pergunta ou pedido a fazer (ROSENTHAL, 2014b).

Após a coleta de todo o material o qual foi gravado em arquivo de áudio, o mesmo deve ser transcrito em sua integralidade. A transcrição ou transformação do registro falado em um texto escrito no qual estão reproduzidas todas as declarações e alusões que constituem o material, incluindo pausas, interrupções e ênfases deve ser feita desconsiderando qualquer norma ou regra da linguagem escrita, cuidando-se para que as expressões sejam reproduzidas exatamente como foram ditas (ROSENTHAL, 2014b).

A seguir, demonstra-se no quadro 4, os códigos de transcrição desenvolvidos por Rosenthal com base na padronização de Bergmann (1976; 1988 apud ROSENTHAL, 2014b, p. 112):

Quadro 4 - Códigos de transcrição

(Continua)

Códigos Significado do Código

, Pausa breve

(4) Duração da pausa em segundos É: Extensão da vogal

(Conclusão)

Significado do Código

((rindo)) Comentário do realizador da transcrição / Inserção do fenômeno comentado

Não Ênfase

NÃO Falando mais alto

talv- Interrupção de uma palavra ou de uma declaração 'não' Falando mais baixo

( ) Conteúdo da expressão incompreensível; comprimento dos parênteses corresponde mais ou menos à duração da declaração

(disse ele) Sem certeza com relação a algum aspecto do conteúdo de um registro Sim=sim Rápida sequência de palavras

Sim, eu fiz

Não, ele Falas simultâneas a partir do "eu" Fonte: Rosenthal (2014b, p. 112)

Em continuidade, abordam-se os aspectos relativos ao memorando o qual deverá ser elaborado ao final de cada entrevista narrativa.