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Primeiras considerações

No documento Anais III Colóquio Festas e Socialidades (páginas 178-181)

A cidade de Couto de Magalhães não faz parte oficialmente da Estrada Real, mas devido à proximidade de Diamantina e da informação sobre a existência na cidade de dois grupos, um de marujada e outro folclórico. Lá não existe irmandade do Rosário. A festa é sempre realizada no segundo fim de semana de setembro, em três dias, o auge é no domingo quando recebem visitas de guardas da região. Para o Sr. Raimundo Ramos da Silva, patrão da Marujada, ela mantém a mesma tradição dos antigos, “não tem nada de

diferente”. O grupo se constitui de mais ou menos 40 gajeiros, somente homens. O outro

grupo de congado Nossa Senhora da Conceição não se trata de um grupo religioso e sim, de um grupo folclórico. Foi fundado em 1999 por Geraldo Roberto Alves Pereira com a ajuda de Geraldo Celestino de Paula. O primeiro é diretor de uma escola e viu no congado uma possibilidade de articular a música e a dança como atividade ocupacional para os jovens de modo a despertar neles outros interesses. O grupo não tem sua própria festa. Ele faz apresentações, sempre que são convidados, em outras festas na própria cidade e nas vizinhas como Carbonita, Serro, Diamantina e no distrito Sopa. O grupo é diversificado, canta cantigas de roda, músicas de raiz e também de santo, daí a existência de conflitos

com o grupo de marujada. Em relação a Estrada Real tanto o representante da marujada quanto o do congado do grupo folclórico afirmam que o turismo aumenta na cidade no período da festa de Nossa Senhora do Rosário. Mas, destacam que a festa do Coutense Ausente disputa com as religiosas, pois ambas são realizadas em meses muito próximos (julho e setembro) e enfraquece a visitação na época da marujada. (Dados da pesquisa, 2010).

Em Diamantina, primeira cidade do circuito da Estrada Real, existia vários grupos de marujos, desativados com a morte dos integrantes mais velhos. Há poucos anos atrás um grupo de senhores resolveu reativar a marujada Senhora rainha da Paz. Este grupo participa de festas em outras localidades, quando convidados e com disponibilização de transporte, como Jaguaraçu, Timóteo, perto de Nova Lima. São no total trinta e dois componentes, só homens. O grupo ainda não organiza uma festa, mas participamos das festas religiosas da cidade quando são convidados. Na cidade existem várias irmandades, inclusive a de Nossa Senhora do Rosário. (Dados da pesquisa, 2010).

Milho Verde possui dois grupos de congado, sendo eles a Marujada e o Catopê, tendo o Sr. Ivo Silvério da Rocha como o seu maior representante, Mestre dos Catopês da Guarda de Congado de Nossa Senhora do Rosário, integrante do grupo há mais de 50 anos. Desde pequeno sentia o interesse quando via os negros tocando, cantando e dançando, apesar do medo que sentia. Seu pai não participava da tradição, mas seus tios eram da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, sendo um deles o chefe do catopê. A cultura da irmandade do Rosário trazida pelos negros é muito forte no distrito. No Baú e no Ausente, povoados cerca de Milho Verde, também existe a irmandade e grande parte da população dos dois pertencem a esta. Atualmente o grupo de catopê tem entre vinte a trinta integrantes, mas antigamente era mais numeroso. Entre os instrumentos tocados estão a sanfona, as caixas de folia, pandeiros e reco-recos. A farda é composta por um lenço nos ombros, um saiote e um capacete feito de espelhos e penas coloridas. A festa acontece sempre no mês de setembro. Apesar da dificuldade encontrada para manter as tradições negras, O Sr. Ivo sempre que possível leva seu grupo nas festas de Nossa Senhora do Rosário da região e se mostra muito preocupado com a preservação destas. Diz que os velhos preservavam a cultura e que “hoje os meninos não querem saber de mais nada”. Em sua época o aprendizado era de ouvir, não havia lápis e borracha a serem levados para a sala para aprender e acredita que é assim que deve ser. O conhecimento era passado de uns para os outros e dessa forma aprendeu o conhecimento africano. Existe ainda um grupo

de marujada que por motivos de doenças não participou das festas dos últimos dois anos. (Dados da pesquisa, 2010 e 2011).

A cidade do Serro é onde encontramos as festas de congado mais tradicionais da região. Existente há mais de trezentos anos, todo mês de julho recebe várias guardas e ternos vindos de diferentes localidades inclusive da capital. Lá encontramos três grupos, inclusive um de marujada mirim. (Dados da pesquisa, 2010)

Na cidade de Alvorada de Minas foram localizadas uma guarda de caboclo, uma marujada masculina e outra feminina recém-retomada. Não existe irmandade e segundo uma das entrevistadas, os participantes estão organizando os registros.

Itapanhoacanga é um distrito pequeno, com poucos moradores, próximo a Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro. Possui apenas uma igreja, no alto do morro, logo na entrada do distrito. Simônia Rodrigues de Carvalho lembra que quando tinha apenas nove anos de idade e estudava na antiga terceira série, sua professora fez uma festa folclórica na escola. Solicitou aos alunos que representassem a marujada. Desde então, o grupo se formou e não parou mais de dançar o congado. Simônia afirma que a festa do Rosário na cidade tem trezentos e treze anos. Antes tinha o Reinado com um grupo de caboclo e uma marujada masculina. Com a morte dos mais velhos não encontraram ninguém que pudesse responsabilizar pelo congado. Quando ela assumiu todos já haviam parado. Hoje existe também o grupo masculino. A festa acontece sempre durante três dias em julho. Simônia acredita que a festa contribui pra ampliar o turismo local, pois o número de pessoas na cidade aumente muito e a Estrada Real tem um papel muito importante para o congado. (Dados da pesquisa, 2011).

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Esperamos dar prosseguimento a pesquisa que se encontra em fase de conclusão da coleta de dados. Em outra oportunidade esperamos disponibilizar os resultados finais e as análises possibilitadas pelo estudo. Esperamos ainda realizar a pesquisa no restante do percurso da Estrada Real de modo a compreender a constituição dessa manifestação, do povo mineiro e de sua religiosidade.

SALVE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO! SALVE MARIA!

Referências bibliográficas

Alves da Silva, Rubens. Chico Rei Congo do Brasil. 2007. Vagner Gonçalves da Silva. (org.). Imaginário, cotidiano e poder. Memória afro-brasileira. São Paulo, Selo Negro.

Alves, Vânia de Fátima Noronha. Os festejos do Reinado de Nossa Senhora do rosário em Belo Horizonte/MG: práticas simbólicas e educativas. 2008.Tese de doutorado, USP.

Gomes, Christianne L. e Amaral, Maria Teresa M. Metodologia da pesquisa aplicada ao lazer. 2005. Brasília, SESI/DN.

Gomes, Christianne L.. Inserção do lazer nos currículos dos cursos de graduação em

No documento Anais III Colóquio Festas e Socialidades (páginas 178-181)