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3 RETROSPECTIVA E PANORAMA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

3.3 AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL

3.3.2 Programas do governo federal voltados para inclusão no ensino superior

A educação superior brasileira é caracterizada pelo predomínio do setor privado, tanto em quantidade de instituições como de matrículas. Segundo dados do Inep (2011), em 2011, do universo de 2.365 IES, 88% (2.081) eram instituições privadas e apenas 12% (284) eram públicas. O setor privado foi responsável por 73,7% (4.966.374) das matrículas de graduação e as instituições públicas contavam com 26,3% (1.773.315). Observa-se que as instituições federais correspondem a 36,3% das IES públicas e são responsáveis por 58,3% das matrículas nas instituições públicas. Atualmente, o setor privado da educação superior vive um momento de concentração através de aquisições e fusões, além da ofensiva abertura ao capital internacional. A tendência de crescimento é demonstrada no Gráfico 2.

Neste cenário, o governo brasileiro adotou medidas tanto no âmbito do ensino público como privado, no intuito de ampliar a oferta de vagas, democratizar o acesso e fomentar a permanência no ensino superior. Foram criados programas como Universidade para Todos (Prouni)39, Fundo de Financiamento Estudantil (Fies)40, Plano Nacional de Assistência

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O Programa do Ministério da Educação (Prouni), criado em 2004, com a finalidade de melhorar o acesso da população de baixa renda ao estudo universitário, através da concessão de bolsas de estudo integrais (100%) e parciais (50% e 25%) em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior, para estudantes de baixa renda, sem diploma de nível superior, segundo critérios que levam em consideração a renda do grupo familiar do candidato (BRASIL, 2009). As instituições privadas de educação superior que aderem ao programa recebem isenção de tributos (ANDRADE, 2012).

Estudantil (PNAES)41 e Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) (PEREIRA; SILVA, 2010).

Gráfico 2 - Evolução da matricula na educação superior de graduação por dependência administrativa, Brasil 1980-2011

Fonte: elaborado por Luiz Cláudio Costa com base em INEP (2011).

Observa-se que alguns destes programas destinam-se às instituições públicas (Reuni e PNAES) enquanto outros são destinados ao setor privado (Prouni e Fies). O público alvo do Prouni são estudantes egressos do ensino médio da rede pública ou bolsistas da rede particular, que concorrem a bolsas integrais desde que comprovem uma renda familiar per capita inferior a 1½ salário mínimo ou a bolsas de 50% para aqueles com renda familiar até 3 salários mínimos per capita. Além disso, o Prouni possui um sistema de cotas racial que prioriza estudantes negros (pretos e pardos) e indígenas, de acordo com a distribuição percentual desses indivíduos nos estados, a partir do censo populacional realizado pelo IBGE (BRASIL, 2009). Segundo a Sinopse das Ações do Ministério da Educação (2011), de 2005 a 2011 foram ocupadas 912.204 bolsas do Prouni, sendo: 48% dos bolsistas afrodescendentes, 67% das bolsas integrais e 88% dos cursos presenciais, sendo destes 74% noturnos (BRASIL,

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O Fies – Programa do Ministério da Educação (MEC) foi criado, pela Lei 10.260 de 12 de julho de 2001, com o objetivo de financiar a graduação de estudantes economicamente mais vulneráveis, em instituições não gratuitas, cadastradas no Programa e com avaliação positiva no MEC. Em 2010, o FIES foi modificado, com a redução dos juros em 3,4% e a possibilidade de financiamento em qualquer período do ano (BRASIL, 2009).

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O PNAES – apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação presencial das instituições federais de ensino superior (Ifes). O objetivo é viabilizar a igualdade de oportunidades entre os estudantes e melhorar o desempenho acadêmico, através de medidas que combatem a repetência e evasão (http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=607&id=12302&option=com_content).

2011). A Figura 3 demonstra a evolução da ocupação de bolsas do Prouni no período de 2005 a 2011.

Figura 3 – Bolsas ocupadas do PROUNI no período de 2005 a 2011, Brasil

Fonte: BRASIL, 2011.

O Relatório de Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), no período de 2000 a 2006, constata a existência de uma demanda social para o ensino superior muito maior do que a oferta de vagas. No entanto, foi percebida uma elevada sobra42 de vagas no ensino superior (vagas oferecidas e não ocupadas), principalmente nas instituições privadas, onde quase a metade das vagas oferecidas não foi ocupada (BRASIL, 2009). O não preenchimento das vagas nas instituições privadas deve-se, em parte, à aprovação simultânea em instituição pública e gratuita ou pela impossibilidade de arcar com os custos de uma instituição privada (ANDRÉS, 2008 apud BRASIL, 2009).

Em 2001, o Plano Nacional de Educação (PNE) fixou metas para a educação em todos os níveis e modalidades, para um período de dez anos. Uma das metas para o ensino superior foi atingir o atendimento de, no mínimo, 30% da população de 18 a 24 anos até 2011 nesse nível de ensino. Analisando o crescimento das taxas de escolarização alcançadas no período de 2001 a 2004, verificou-se que a meta estipulada pelo PNE para 2011 não seria alcançada, em função da atuação pontual e desarticulada das ações e da amplitude da meta fixada (BRASIL, 2009). Em 2007, foi implantado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com o objetivo de promover uma maior articulação entre os programas e ações na educação superior, incluindo o Prouni e o Fies, no intuito de melhorar os indicadores do ensino superior (BRASIL, 2009).

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O cálculo de sobra é feito a partir do número de vagas autorizadas, com base em solicitação das instituições de ensino. As instituições, normalmente, adotam uma prática preventiva de solicitar um número maior de vagas do que efetivamente ofertam, tentando se resguardar de alguma futura alteração de normas educacionais (BRASIL, 2009).

O Prouni e o Fies são programas importantes para o acesso e permanência da população ao ensino superior privado. No entanto, segundo o Relatório de Auditoria Operacional do Prouni e do Fies (BRASIL, 2009), esses programas não alteram a estrutura seletiva da educação superior brasileira apenas permitem o ingresso de estudantes pobres em universidades particulares. Além disso, a distribuição da oferta de bolsas do programa em termos regionais acompanha a tendência assimétrica da oferta de vagas no ensino superior (BRASIL, 2009). A Figura 4 demonstra o crescimento do número de contratos de financiamento do ensino superior no Brasil que saiu do patamar de 50.619 em 2003 para 519.544 em 2011.

Figura 4 – Evolução dos contratos do FIES, no período de 2003 a 2011, Brasil

Fonte: BRASIL, 2011.

No âmbito das IES públicas, o Reuni, criado em 2007, com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso e a permanência na educação superior pública, previu o aumento de vagas, ampliação ou abertura de cursos noturnos, aumento do número de alunos por professor, redução dos custos por aluno, flexibilização de currículos, elevação da taxa de conclusão das graduações presenciais e combate à evasão (BRASIL, 2011). Segundo a Sinopse das Ações do MEC (BRASIL, 2011), a interiorização foi uma das metas que nortearam o programa de expansão, com foco voltado para as necessidades e vocações econômicas de cada região. A Figura 5, a seguir, demonstra o impacto deste programa no setor público, com o evidente aumento do número de instituições e vagas oferecidas em instituições públicas federais.

Figura 5 – Expansão do número das instituições federais e das vagas em consequência do Reuni

(*) Municípios atendidos por mais de um campus foram contados somente uma vez.

(*) Dados preliminares. (**) Dados projetados.

Fonte: BRASIL, 2011.

Além dessas iniciativas, o governo brasileiro criou também o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), com o objetivo de permitir o desenvolvimento da modalidade de ensino à distância, cuja finalidade foi a de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País. Estes programas têm auxiliado a expansão de matrículas na educação superior brasileira.