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3 RETROSPECTIVA E PANORAMA DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

3.4 AÇÕES AFIRMATIVAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

3.4.3 O sistema de reservas de vagas da UFBA

A UFBA foi a terceira universidade pública federal do país a implantar um sistemas de cotas para ingresso de estudantes pertencentes a grupos minoritários. Esta política de reserva de vagas é ancorada na Resolução n. 01/04 do Consepe da UFBA, que estabeleceu o limite de 10 anos para sua vigência.60

O objetivo desta política é acelerar a inclusão de grupos sociais, econômicos e étnicos em desvantagem até que se torne desnecessária esta reserva

(ALMEIDA FILHO et al., 2010).

O sistema de reserva de vagas da UFBA começou a vigorar a partir do processo seletivo de 2005, reservando 43% das vagas, de todos os cursos de graduação, para alunos oriundos de escolas públicas61

, sendo que, deste universo, 85% são destinados aos autodeclarados negros (pretos e pardos) e 15% para não negros. As vagas reservadas e não preenchidas são ocupadas por estudantes negros provenientes de escolas particulares. Caso ainda não sejam ocupadas todas as vagas reservadas para negros elas são preenchidas pelos demais candidatos. Um percentual de 2% foi destinado aos descendentes de índios oriundos de escolas públicas e uma reserva de duas vagas em cada curso para índios aldeados62 e estudantes vindos de comunidades quilombolas, sendo necessária a comprovação da origem da FUNAI e da Fundação Palmares no momento da matrícula (UFBA, 2004). Segundo

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Antes dos 10 anos se completarem em 2014, foi promulgada pela Presidenta a Lei n. 12.711/12 que reserva 50% das vagas de todas as universidades públicas federais.

61 Para a UFBA, um aluno é considerado oriundo de escola pública se tiver cursado os três anos do ensino

médio e pelo menos um ano do ensino fundamental no sistema público de ensino. Os artigos 19 e 20 da Lei n. 9.394/96 (LDB) define que escolas públicas são aquelas “criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo poder público”. As escolas filantrópicas, comunitárias e confessionais, mesmos as gratuitas não são consideradas escolas públicas.

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Acatando o argumento do ministro da Educação, Cristovam Buarque, em função da baixa densidade demográfica da população indígena, o acesso desta categoria às universidades deveria ser automático e não seguindo critérios de cotas (SANTOS; QUEIROZ, 2012).

Santos e Queiroz (2012), a inclusão de reserva de vagas para alunos não negros oriundos do ensino público foi estratégica e objetivou uma maior adesão dos conselhos superiores levando em consideração que a UFBA é uma instituição pública.

O processo seletivo da Instituição utiliza o mesmo sistema de avaliação para ingresso de estudantes cotistas e não cotistas em seus cursos de graduação, com o objetivo de evitar qualquer tipo de diferenciação entre estudantes classificados no processo seletivo. A UFBA utiliza o sistema de padronização de notas, que objetiva tornar a seleção mais justa, na medida em que pressupõe distintos graus de dificuldades entre as diferentes provas. O sistema padronizado converte a pontuação obtida com os acertos parciais ou totais dos candidatos em uma escala que permite determinar a posição de cada candidato, considerando-se a média e o desvio padrão do grupo de candidatos presentes em cada prova. Essa pontuação é denominada de escore ponderado. A partir do escore ponderado é calculado o escore padronizado através da multiplicação do escore ponderado pelo peso de cada prova. O escore parcial é a soma dos escores ponderados de cada exame. O ponto de corte é um limite mínimo de desempenho nas provas, determinado estatisticamente pela média aritmética e desvio padrão dos escores parciais de todos os candidatos não eliminados por ausência ou zero (ALMEIDA FILHO et al., 2005). As exigências são mantidas para todos os candidatos que se submetem as mesmas provas e precisam obter uma pontuação acima do ponto de corte Dessa maneira, a concorrência se estabelece em faixas mais equilibradas.

O objetivo inicial do sistema de cotas da UFBA foi o de alcançar, no prazo de cinco anos, uma participação mínima de 40% de negros em todos os cursos. Segundo Almeida Filho (2005), as cotas da UFBA contemplam fatores sociais e raciais, pois priorizam o acesso de estudantes egressos de escolas públicas, dos afro-brasileiros pobres sem excluir os estudantes brancos sem recursos.

Inicialmente, o sistema de reserva de vagas da UFBA não permitia aos candidatos optar em concorrer ou não às vagas reservadas para negros ou índios. A partir das informações preenchidas no formulário de inscrição do vestibular referentes à origem escolar (escola pública ou privada) e a autodeclaração de pertencimento a um dos grupos priorizados pelo sistema de cotas da UFBA, o sistema determinava a categoria pela qual o candidato disputava uma vaga na instituição. Mesmo sendo mantida em sigilo a categoria de classificação pela qual os estudantes ingressam na UFBA, no processo seletivo de 2010, foi permitido aos candidatos optarem por concorrer como cotista ou não, mesmo pertencendo a um dos grupos beneficiários dessa política na instituição. Este fato pode ser percebido como uma tentativa de minimizar o fenômeno do estigma de incompetência associado aos

indivíduos priorizados pelas políticas de ações afirmativas nos EUA. É importante pontuar que existe uma rejeição ao sistema de cotas nas universidades brasileiras, que desqualifica e estigmatiza o estudante cotista no universo acadêmico. O sistema de reserva de vagas utilizado na UFBA, no período de 2005 a 2012, apresentou as categorias abaixo para o preenchimento das vagas nos diversos cursos oferecidos pela instituição (UFBA, 2013):

 Categoria A (36,55%): candidatos de escola pública que se declararam pretos ou pardos.

 Categoria B (6,45%): candidatos de escola pública de qualquer etnia ou cor.

 Categoria C: candidatos de escola particular que se declararam pretos ou pardos. Esta categoria é utilizada quando as vagas das categorias A e B não são totalmente preenchidas.

 Categoria D (2%): candidatos de escola pública que se declararam indiodescendentes63.

 Categoria E (55%): todos os candidatos, qualquer que seja a procedência escolar e a etnia ou cor (não cotistas).

 Categoria F: candidatos de escola pública que se declararam índios aldeados64 ou moradores das comunidades remanescentes dos quilombos. Para este grupo é reservado em todos os cursos, até duas vagas extras, além do total oferecido para atender a população.

A Resolução n. 01/04 do Consepe previu, para os vestibulares deste período, uma permuta de vagas entre as categorias de um mesmo curso. Não sendo preenchidas todas as vagas das Categorias A e B, elas são prioritariamente preenchidas por candidatos da categoria C do mesmo curso. Permanecendo vagas abertas, elas são preenchidas por candidatos com inscrição da Categoria E. Não sendo preenchidas todas as vagas da Categoria D, elas são preenchidas por candidatos com inscrição da Categoria E (UFBA, 2004).

Segundo Queiroz e Santos (2006b), o sistema de reserva de vagas (cotas) da UFBA provocou mudanças significativas no acesso de estudantes à instituição, pois promoveu o

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Indiodescendente é a pessoa que, a partir de uma base genética ou fenotípica real ou presumida, se declara descendente de índios, se interessa pela temática indígena e pela defesa dos índios ou realiza esforços no sentido de reafirmar sua indiodescendência ( FONSECA, 2006).

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Possuem uma relação intrínseca com o mundo indígena, por viverem em comunidades que se identificam e são identificadas como tal -sendo o processo de territorialização um suporte imprescindível, mas não o único ( FONSECA, 2006).

aumento do número de estudantes oriundos do sistema público de ensino, priorizados pela cor ou raça. Antes da implantação do sistema de reserva de vagas, a UFBA utilizava apenas o desempenho dos alunos como critério de classificação nas duas etapas do processo seletivo. O sistema de cotas introduziu a ponderação das variáveis: cor ou raça, renda familiar ou origem escolar no ingresso da instituição (QUEIROZ; SANTOS, 2006b).

O sistema de reserva de vagas da UFBA foi modificado em 12 de novembro de 2012, através da Resolução n. 03/2012 do Consepe, para o processo seletivo de 2013, com objetivo de se adequar a Lei n. 12.711 sancionada pela presidente da República Dilma Rousseff em 29 de agosto de 2012. Esta lei determina a reserva de 50% de todas as vagas das universidades públicas federais para estudantes provenientes de escolas públicas e estabelece critérios complementares de renda familiar e étnico-raciais (UFBA, 2012). Além da inclusão de três novas categorias e mudança nos percentuais, a primeira etapa do processo seletivo da UFBA foi substituída pela pontuação obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).