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Oficina 09 Discussão sobre o

3.4. CATEGORIAS DE ANÁLISE

3.4.1. Progressão tópica

Retomando a definição de metarregra da progressão, apresentada no segundo capítulo desta dissertação - “Para que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que haja no seu desenvolvimento uma contribuição semântica constantemente renovada.” (CHAROLLES, 2002, p. 58) -, atentamos para a questão da renovação semântica. Essa renovação pode se dar de maneiras distintas, por isso Koch (2014b) apresenta a divisão de três tipos de progressão – referencial, temática e tópica.

Propomos um trabalho com o último tipo, pois a questão da organização tópica comumente está associada aos estudos de materiais linguísticos de natureza oral, sendo, inclusive, a elaboração da categoria de tópico discursivo, pensada com objetivo demonstrar que a interação oral não é desorganizada, uma vez que apresenta estratégias de organização própria. Jubran et al. (2002) e Jubran (2015) defendem o tópico discursivo como uma categoria analítica, já que “possibilita a identificação de unidades que comportam em si as características textuais de coesão e coerência, dadas pela integração dos elementos de um segmento tópico em um conjunto relevante de referências” (JUBRAN, 2015, p. 112). Essa identificação estabelecer-se-á a partir de duas propriedades específicas: centração e organicidade.

A primeira propriedade, centração, abrange traços de concernência40, relevância41 e pontualização42, que “conferem à categoria de tópico discursivo critérios para o reconhecimento do estatuto tópico de um fragmento textual” (JUBRAN, 2015, p. 87, grifo da autora). Além de possibilitar o reconhecimento de segmentos tópicos, a centração diz respeito ao conteúdo.

A fim de exemplificar esses traços, transcreveremos um trecho do inquérito D2 SP 360, apresentado e comentado por Jubran (2015), cujo tópico discursivo é “Atividade profissionais do marido de L1”. Assim como a autora, identificamos a documentadora por “Doc.” e as locutoras por “L1” e “L2”:

40 “[...] relação de interdependência entre elementos textuais, firmada por mecanismos coesivos de sequenciação e referenciação, que promovem a integração desses elementos em um conjunto específico de referentes (objetos do discurso) explícitos ou inferíveis, instaurado no texto como alvo da interação.” (JUBRAN, 2015, p. 87). 41

“[...] proeminência de elementos textuais na constituição desse conjunto referencial, que são projetados como focais, tendo em vista o processo interativo.” (op. cit.).

42 “[...] localização desse conjunto referencial em determinado momento do texto falado, fundamentada na integração (concernência) e na proeminência (relevância) de seus elementos, internacionalmente instauradas.” (op. cit.).

Doc. - o seu marido sempre exerceu essa profissão que ele tem agora?

L1 - não ele teve escritório no início da carreira ... teve escritório durante ... oito anos:: mais ou menos ... depois ... ainda com escritório ... e como ele tinha liberdade de

advogar ele também ... exercia a:: a profi/ o a advocacia do Estado né? ... e::

... depois ... é que ele começou a lecionar quando houve ... a necessidade do regime de dedicação exclusiva ... pela posição de DENtro da carreira ... ele precisava optar pela::

L2 - dedicação [

L1 - dedicação exclusiva L2 - ahn ahn

L1 - sabe? ... então:: ... ele::: ... começou a lecionar foi convidado e:: L2 - ele leciona onde?

L1 - e:: ele leciona nas FMU L2 - ahn ahn

L1 - certo? [ L2 - ( )

L1 - e::: e deu-se muito bem no magistério ... ele se realiza sabe? Fica feliz da vida ... em poder transmitir ... o que ele sabe ... e os processos também ... que ele ... recebe ou ... e eu não eu sou leiga eu não entendo ... mas ... pelo que a gente ... ouve falar são muito bem estudados ... têm pareceres muito bem dados ... não é? Ele se dedica MUItíssimo à ... tanto à ... carreira de procurador como de professor (tá?) ...

L2 - ele gosta (dela) L1 - gosta MUIto ( )

Fonte: Jubran (2015, p. 88, grifos nossos)

Conforme Jubran (2015), a centração pode ser observada a partir de vocábulos do mesmo campo semântico e da articulação textual (concernência), que, inclusive, grifamos na transcrição. Além disso, os referentes que são projetados como focais dizem respeito a “marido”, como o pronome “ele” (relevância).

Além da centração, o tópico discursivo apresenta uma segunda propriedade, a organicidade, a qual:

[...] é manifesta por relações de interdependência que se estabelecem simultaneamente em dois planos: no plano hierárquico, conforme as dependências de superordenação e subordenação entre tópicos que se implicam pelo grau de abrangência do assunto; no plano sequencial, de acordo com as articulações intertópicas em termos de adjacências ou interposições na linha discursiva. (JUBRAN et al., 2002, p. 345).

Isto é, no plano hierárquico, os tópicos podem assumir diferentes status na medida em que se relacionam. Assim, teremos supertópicos (ST), tópico abrangente que recobre e delimita a porção do texto em que ele é focal, e subtópicos (SbT), divisão do ST em tópicos coconstituintes43, que se situam em um mesmo nível. Cada relação de interdependência ST-

SbT, seja ela entre os níveis 1º e 2º ou entre 2º e 3º, dá origem a Quadros Tópicos (QTs), que nos auxiliarão, posteriormente, na análise da qualidade da progressão, na medida em que observaremos o tipo de relação estabelecida.

Assim, para atendermos ao objetivo que estabelecemos nesta investigação, observaremos, no plano hierárquico, como o sujeito de pesquisa organiza sua produção textual a partir da(s) relação(ões) de unidades tópicas menores com unidade(s) maior(es) a que estão relacionadas (ST-SbT). Esse primeiro parâmetro de análise auxiliar-nos-á a verificar se a produção do aluno progride à medida que estabeleceremos até qual nível ela atingiu. Após essa verificação, deter-nos-emos em analisar como o texto progride, a partir do critério de análise que será apresentado na seção seguinte.

Quadro 8 - Categorias para análise da organização tópica

PLANO NÍVEL ASSERTIVAS

H IE RÁRQ U ICO SUPERO RD E NA ÇÃO - > < -SUB O RD E NA ÇÃO 44 SUB O RD E NAÇ ÃO

A produção é organizada a partir de um tópico abrangente (supertópico - ST) que recobre e delimita a porção do texto em que ele é focal (JUBRAN et al., 2002; JUBRAN, 2015).

1.A) A produção organiza-se a partir do tópico definido

pelo comando da atividade.

1.B) A produção organiza-se a partir de um tópico

específico, que não o definido no comando da atividade, mas a ele relacionado.

1.C) A produção organiza-se a partir de um tópico

específico, que não o definido no comando da atividade, nem a ele relacionado.

Na organização da produção textual, constitui-se uma relação ST-SbT: o ST é dividido em tópicos coconstituintes (subtópicos, SbT), que se situam no mesmo nível na organização tópica (JUBRAN et al., 2002; JUBRAN, 2015).

2.A) O supertópico, a partir do qual a produção é

organizada, é dividido em um tópico a ele relacionado.

2.B) O supertópico, a partir do qual a produção é

organizada, é dividido em dois tópicos a ele relacionados.

2.C) O supertópico, a partir do qual a produção é

organizada, é dividido em três ou mais tópicos a ele relacionados.

Na organização da produção textual, constitui-se mais uma relação ST-SbT: o(s) tópico(s) coconstituintes do nível 2 são subdivididos em subtópicos (JUBRAN et al., 2002; JUBRAN, 2015).

3.A) Um tópico é, ainda, desenvolvido em um

subtópico a ele relacionado.

3.B) Um tópico é, ainda, desenvolvido em dois

subtópicos a ele relacionados.

3.C) Um tópico é, ainda, desenvolvido em três ou mais

subtópicos a ele relacionados.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Como é possível notar, no Quadro 8, dividimos o plano hierárquico em três níveis, que mantêm relação de superordenação e subordenação entre si. Essa organização é definida pelo grau de abrangência do assunto em foco: enquanto, no primeiro nível, está o plano suficientemente abrangente para não ser recoberto por outro nível, no segundo, há relações de subordinação e de superordenação; já no terceiro, está o plano mais específico45.

Para cada um dos níveis, elaboramos três assertivas a serem observadas na análise do texto. Em relação ao primeiro, prevemos três situações, a centração (1.A) ou não (1.B e 1.C) no tema proposto pela atividade de produção textual. Quanto ao não atendimento, prevemos ainda o tangenciamento (1.B) e a fuga ao tema (1.C).

44

Termo usado pelos autores Jubran et al. (2002) e Jubran (2015).

45 Sabemos que podem se atingidos outros níveis, porém, para esta pesquisa, julgamos pertinente e suficiente estabelecermos critérios até o terceiro nível, pois, em primeiro lugar, os alunos tinham apenas três minutos para a produção textual e, em segundo lugar, porque, ao olharmos os textos, percebemos que nenhuma produção avançou além do 3º nível.

Em relação aos dois níveis seguintes, organizamos assertivas que preveem o desdobramento de um tópico em um, dois, três ou mais subtópicos. O segundo nível apresenta uma particularidade, pois, a partir de cada relação, esse nível pode estar subordinado ao nível superior (1º nível), constituindo um subtópico, ou superordenado ao nível inferior (3º nível), constituindo um supertópico. Isso fica mais claro a partir da construção, conforme a Figura 6, do que Jubran et al. (2002) chamam de pirâmides tópica. Esse tipo de diagrama permite a visualização das relações entre os tópicos que constituem o texto46 e, em decorrência disso, propomos sua construção a partir do Quadro 8.

Apesar de já termos comentado anteriormente, no modelo de pirâmide tópica que apresentamos nesta seção, optamos por sinalizar os planos e os Quadros Tópicos para que esses elementos fiquem mais claros ao leitor.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Passaremos, na seção a seguir, a apresentar os critérios para analisarmos, no plano hierárquico, as relações estabelecidas nos Quadros Tópicos (QTs) e, no plano linear, a organização dos tópicos que constituem o mesmo nível.

46 Pela razão mencionada, propomos a confecção de tais diagramas na análise de produções textuais que os alunos realizaram na Oficina 07. Atentamos que os critérios de análise utilizados neste encontro estavam de acordo com aqueles que propomos aqui, seguindo, inclusive, o mesmo esquema de cores (Apêndice G, p. 195).

SUPERTÓPICO (ST) SUBTÓPICO /\ SUPERTÓPICO \/ SUBTÓPICO /\ SUPERTÓPICO \/ SUBTÓPICO /\ SUPERTÓPICO \/ SUBTÓPICO (SbT) SUBTÓPICO (SbT) SUBTÓPICO (SbT) SUBTÓPICO (SbT) SUBTÓPICO (SbT) QUADROS TÓPICOS (QTs) P LANO HIERÁRQ UICO PLANO LINEAR Gráfico 1 – Modelo de pirâmide tópica